Capítulo 17 - Descanse em paz. Você merece.
17
EU VIVI A PERFEITA DELIBERAÇÃO entre sentir muita coisa e não sentir nada.
Eu não explodi e nem derramei nenhuma lágrima. Mas meu interior está sangrando. Sangrando toda vez que olho para o rosto sereno de minha mãe naquele caixão.
Foi tudo de repente. Foi tudo... Do nada. Sem aviso, sem preparação. Não tive uma chuva pela manhã para me avisar. Não recebi um sinal divino. Nada me avisou. Nada me preparou.
Depois da ligação eu apenas estava em choque. Rose se desesperou com o meu silêncio. Ela foi ao hospital junto comigo e chorou por mim. Escutei as palavras que o médico disse sem entender o que elas realmente significavam. Não me importava. Ainda não me importo.
Porque tudo aquilo era para dizer que minha mãe havia partido.
Ido embora. Mamãe me deixou. Ela disse que estaria sempre comigo, mas...
Ela mentiu. Bruscamente. Desnecessariamente, de fato.
Papai me abraçou. Chorou em meu ombro, mas eu estava apenas entorpecida.
Então eu fui para casa, enquanto James resolvia toda a burocracia. Morrer não deveria ter tantos documentos. Mas tudo nessa vida é burocrático e demorado. Nem para morrer a pessoa tem descanso; os que ficam sempre têm com o que se preocupar.
Rose esteve junto comigo o tempo todo. Fomos para minha casa juntas. Diferente do que pensei, não quis dispensar sua companhia. Muito pelo contrário, ela foi muito bem vinda. Não haviam palavras que pudessem ser ditas e Rose compreendeu isso. Apenas ficou ao meu lado.
E quando cheguei em meu quarto, vi o porta-retrato com a foto do piano. Claro, aquilo bastou.
Quando meu pai me avisou da morte de mamãe, eu não consegui sentir. Não chorei, não fui mal educada. Mas nas horas seguintes, ah, aquelas horas...
Eu fiz o que há muito tempo não fazia: eu gritei, chorei, rezei...
Mas Deus estava muito ocupado.
Mas Rose não estava. Ela me abraçou e chorou comigo. Sangramos juntas.
Descobri coisas que foram escondidas de mim. Papai me revelou que mamãe estava com uma infecção havia algum tempo. Ele descobriu isso no dia em que eu e Thomas brigamos, após ele me levar ao Clube da luta. Quando eu cheguei em casa naquele dia, Ann estava em um canto apavorada, papai havia quebrado um vaso, virado o sofá e depois ficou falando sozinho. E, alguns dias depois, na véspera do meu aniversário, ele surtou novamente, pois recebeu a notícia de que a expectativa de vida da minha mãe não poderia ser maior do que alguns meses.
Infelizmente a medicina estava correta.
No estado de minha mãe, uma infecção era o suficiente para tirar sua vida.
Mas papai omitiu isso de mim. Agora, eu só consigo odiá-lo. Não consigo olhar em seus olhos. Alguma parte de mim sabe que ele fez isso para me proteger, à mim e à Ann, mas nada me impede de deixar essa raiva crescer dentro de mim.
Não é como se eu estivesse ao menos tentando deixá-la mais suportável.
Me sinto péssima. É tudo o que consigo sentir.
Observo o padre, mas não escuto realmente suas palavras.
É um enterro mais do que simples.
Mamãe era uma mulher cheia de amigos na Inglaterra, mas depois de seu estado vegetativo, ela perdeu essas amizades. Se dispersaram. Pro grande final, nos mudamos de país. Não tem muita gente que pudesse comparecer.
No enterro de uma das mulheres mais angelicais do mundo tem apenas eu, papai, Ester com seu marido e sua filha, Rose e Ann, que não entende muito bem o que está acontecendo. E, claro, o padre, falando coisas bonitas sobre minha mãe. Palavras rasas, ele sequer a conhecia. Se conhecesse, estaria fazendo uma música, gritando em um alto falante as coisas maravilhosas sobre ela, e não aqui.
Mas ainda não consigo chorar. Não mais.
Estou quase anestesiada.
Meus olhos se dirigem devagar para minha irmãzinha.
Ela está no colo de papai. Sua expressão está nervosa.
Ann não pode entender perfeitamente o que está acontecendo. Não há como entender. Viu mamãe apenas umas poucas vezes em sua vida. E agora mamãe se foi. E meu coração se aperta ainda mais em meu peito quando me lembro que Ann nunca poderá sentir o amor dela. Não é justo.
Mas, alguma parte de mim que está sendo soterrada pela tristeza, está sussurrando fracamente que foi melhor assim.
Não para nós; Não, para nós não. Nós sentimos apenas tristeza.
Mas para mamãe.
Foram quatro anos. Quatro longos anos definhando em uma cama de hospital. Três por cento de chances de sobreviver. E, ainda assim, não teria uma vida normal. Mamãe não poderia ser feliz novamente.
De certa forma, -uma forma muito dolorosa- essa infecção foi seu grito de liberdade. Mamãe se libertou das correntes de seu tumor.
E agora está livre.
Mas, por enquanto, me permito deixar a razão ser esmagada pela emoção. Não há tempo para pensamentos positivos. Não agora, que não tenho mais minha mãe comigo.
O padre terminou seu discurso e meus ouvidos capitaram sua voz suave perguntando se alguém queria dizer algumas palavras.
Dessa vez eu olhei para o senhor de idade. Levantei minha mão.
Me encaminhei para o lugar que ele estava antes e respirei fundo. Evitei aqueles olhares de pena sobre mim..
—Eu lembro de ter procurado pelo nome da minha mãe no meu caderninho de nomes para bebês logo que ela foi internada, há quatro anos atrás. —sorri minimamente— E eu fiquei um pouco obcecada por isso. O caderninho tem nomes e os seus significados. —dessa vez olhei para todos— Rosemary significa Rosa pura. —Rose me olhou emocionada e vejo lágrimas escorrendo de seus olhos— Ester significa estrela. E está certo, pois você brilha, Teté. —ela colocou as mãos na boca e fechou os olhos fortemente, emocionada— Joaquina significa exaltada, ambiciosa... —olho para Jojo que apenas me olha com curiosidade— Cleber significa colador. —todos rimos. Lembro de ter olhado o significado do nome do marido de Ester antes de vir pra cá. Cleber me olha com os olhos divertidos— James pode significar superador. Eu acredito nisso, pois meu pai consegue superar qualquer coisa. —o olho com carinho, deixando de lado a raiva que está tentando me consumir. Lágrimas escorrem dos olhos dele— Ann tem vários significados lindos. —minha irmã me olha com curiosidade, assim como Jojo fez— Mas o meu preferido é cheia de graça. Ann é assim. —sorri minimamente e voltei a olhar para minha mãe— Eu não sei se é certo acreditar tanto assim nessas coisas, mas eu acredito, pois o significado do nome da minha mãe é guerreira. E é isso que ela sempre foi. —senti minha voz embargar pela primeira vez, mas não parei— Não gosto de ouvir que minha mãe não resistiu ao tumor. Ela resistiu, e como uma verdadeira guerreira. Uma lutadora. —senti lágrimas escorrendo— Hoje ela descansa. Depois de ter me ensinado tantas coisas bonitas, desejo poder ter a sabedoria dela um dia. Louise, descanse em paz. Você merece.
Após terminar meu pequeno discurso, jogo com carinho a orquídea que seguro em minhas mãos. A mesma flor que joguei na lápide de vovô. Eram as favoritas dos dois.
Levanto o rosto e vejo todos enxugando os olhos com as pontas dos dedos, inclusive o padre. Me sinto mais leve de repente. Me sinto em paz.
Respirei fundo e deixei que terminassem o processo. O caixão foi fechado, descido e teve terra jogada sobre si. A lápide já estava devidamente ajustada.
"Louise Carter
Você iluminou muitas vidas.
Descanse em paz"
Tão pouco. Tão vazio. Tão raso.
Ela era o próprio Sol. Ela era a felicidade encarnada. Nem quando sua pele bronzeada perdeu a cor, nem quando seus olhos brilhantes ficaram opacos, nem quando seus cabelos louros ficaram ralos e nem quando ela foi debilitada ela deixou de resistir.
Minha mãe não era nada menos do que alegria. Luz.
Recebi abraços gentis e retribuí no automático. Meu pai ficou para resolver mais e mais burocracias. Pedi para Teté levar Ann para sua casa. Ela aceitou e a família Grandford -e a pequena Carter- partiram em um carro vinho.
Rose me abraçou pelos ombros e ficamos observando a lápide de minha mãe em silêncio.
—Tem gente querendo te ver. —Rose disse gentilmente. A olhei confusa. Ela apontou com a cabeça para a saída do cemitério. No lado de fora, bem ao longe, pude ver quatro meninos de terno escuro, com as expressões sofridas.
Dei um sorriso mínimo e senti algo se aquecendo em mim.
Eles vieram até nós com passos vacilantes.
Os meninos me olharam apreensivos, mas não demoraram a vir até mim. Rose me soltou e o primeiro a vir em minha direção foi Nicolas, me abraçando forte.
—Eu sinto muito Allyzinha. Muito mesmo. —ele disse com a voz embargada. Senti um bolo em minha garganta e logo tratei de o engolir. Assenti sobre o peitoral de Nicolas e depois ele me soltou.
O próximo foi Érick.
—Você é uma guerreira, Ally Carter. —ele disse segurando minhas mãos, antes de beijar cada uma— Conte comigo.
Meu peito se encheu de carinho e eu abracei Érick fortemente. Ele devolveu devagar, como se não estivesse esperando, mas devolveu com a mesma intensidade.
—Obrigada, Érick.
Ele me soltou. O próximo foi Charles.
Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas. Senti vontade de chorar também.
—Eu te amo. —ele colocou as duas mãos ao redor do meu rosto fez carinho nas minhas bochechas com os polegares. Pus minhas mãos sobre as suas e fechei os olhos, me sentindo grata.
Charles não precisa falar muitas palavras. Apenas nessas três, eu sei tudo o que ele quer dizer. Está me dizendo que sente muito e que está comigo. Sei que se sente assim. Me sinto, mais uma vez, grata pelo seu toque gentil. Por mais um deles.
Ele me abraçou rapidamente e o último garoto veio em minha direção.
Thomas.
Toda a situação com ele parece, de repente, pequena demais. Tem tanta coisa ao meu redor agora.
Ele me olha com as sobrancelhas franzidas.
Sei que Thomas tem dificuldade de demonstrar afeto na frente de outras pessoas, como vi em meu aniversário. Eu esperava ouvir palavras de conforto, mas ele me surpreendeu.
Ele me puxou pelo braço e me abraçou. Firmemente. Repousei minha cabeça em seu peito e senti um beijo sendo depositado em minha cabeça, e um cafuné gostoso logo em seguida.
Ele não disse nenhuma única palavra. E não precisa.
No fim, é Thomas. Thomas O'brian sempre surpreende.
De repente sinto meus olhos molhando e soluços sôfregos saindo pela minha garganta. Thomas me abraça com ainda mais intensidade e deposita mais um beijo no topo da minha cabeça.
Saudade, dor, tristeza, tudo misturado.
Seu toque bastou para me fazer desabar.
E depois, senti vários braços ao nosso redor. Não foi necessária mais nenhuma palavra. Apenas agradeci ao conforto de meus amigos soluçando com o choro guardado por tanto tempo.
E todos choraram junto. Senti ombros balançando, algumas gotas e baixos suspiros. Todos nós estamos compartilhando a mesma dor.
E eu me sinto ainda mais grata por tê-los.
—Obrigada, gente. —digo com a voz embargada, entre soluços— Obrigada.
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Sentados na frente da lápide, meus amigos analisam a pequena foto da minha mãe.
—Vocês eram a cara uma da outra. —Nicolas diz.
—Ann tem os cabelos dela. —Rose completa com um pequeno sorriso.
Também sorri.
—Quem me dera esses fios loiros. —falei baixo.
—Pare, você é perfeita do jeito que é. —sorri carinhosamente para Érick.
—Você que é muito gentil.
Conversamos mais um pouco e eu me senti muito mais leve. Eles não tiravam o meu peso, mas o seguravam comigo. Todos sofremos juntos. Um por todos e todos por um.
Meu pai chegou pouco tempo depois e cumprimentou meus amigos. Todos nos levantamos.
Os meninos foram apertar a mão de meu pai e desejar condolências. Meu pai agradeceu, verdadeiramente grato.
—Obrigado por terem vindo. —ele disse mais uma vez.
Todos fomos para a saída. Thomas ia dar uma carona para todos, e eu fui embora com meu pai. Me despedi de todos e agradeci por tudo. Todos entraram na caminhonete, mas segurei a mão de Rose antes que ela fizesse o mesmo.
—Rose. —ela me olhou confusa. Senti meus olhos marejarem— Muito obrigada. Eu não tenho nem palavras para agradecer tudo o que você fez por mim. Eu te amo, Rosemary Hoover. Obrigada por ser minha melhor amiga. A minha irmã.
Rose me olhou com os olhos transbordando lágrimas e me puxou para um abraço, soltando soluços. Solucei também.
—Eu que te amo, Ally Carter, sua vaca! Me fez chorar muito. —ela disse e eu sorri, em meio às lágrimas.
Nos abraçamos mais um pouco e nos despedimos, limpando as lágrimas.
A caminhonete partiu e eu entrei no carro do meu pai.
Toda a leveza foi substituída por um clima pesado.
Há muita mágoa e muita tristeza aqui.
O caminho até minha casa foi silencioso.
Quando chegamos, entramos de cabeça baixa. Atena veio correndo em minha direção com o rabo abanando. Sorri um pouco com sua felicidade. Ela lambeu minha perna e depois foi pro cantinho da sala e se deitou.
Meu pai trancou a porta de casa e eu fiquei parada no meio da sala, o encarando. Pronta para a discussão que viria. Eu preciso confrontar ele.
Ele se virou para mim e de repente me senti desencorajada. Seu olhar é tão caído que dessa vez me vi obrigada a escutar a razão.
Meu pai é o que mais sofre em toda essa história. Ele escondeu coisas de mim, é inegável que omitiu mais do que deveria. Mas é o que mais sofreu. O mais machucado, sobretudo, o mais machucado.
Lidou com a doença da esposa e com a falta de vontade dela de se curar. Lidou com a rejeição da filha, mesmo que não tivesse quase nenhuma culpa -mas, obviamente, isso não inibe sua parcela catastrófica nessa situação. Ele largou à mim e à Ann- E, agora, depois de quatro anos de luta, ele perdeu. Dolorosamente.
Seria egoísmo da minha parte condenar meu pai por seus erros nesse momento. Ambos compartilhamos dores diferentes -eu perdi uma mãe e ele o amor de sua vida- mas igualmente intensas.
Então, não consigo confrontar meu pai. Claro, sinto um pouco de raiva, nem toda a razão conseguiria extingui-la.
Mas agora é hora de dividirmos nossa dor.
Corro para seus braços. Não seguro as lágrimas e muito menos meus soluços. Papai demora um pouco para reagir, mas não demora a devolver o abraço. Seus ombros balançam, o único indício de que também está chorando.
—Vamos superar isso, pai. —eu disse com a voz abafada, pois falo com a boca pressionada sobre seu peitoral— Vamos superar.
Ele me dá um beijo na testa.
—Eu te amo, bebeca.
E me debulho ainda mais em lágrimas.
Ficamos assim por um longo tempo. Tempo suficiente para a campainha tocar.
Não estávamos mais chorando, mas, ainda assim, preferi limpar o resto das lágrimas.
Papai foi até a porta a abriu. Ann entrou sorridente e pulou nos braços dele. Vi o rosto do jovem homem se iluminar com o carinho de sua filha.
Escuto uma buzina e vejo meu pai acenando, antes de fechar a porta.
Papai coloca Ann no chão e ela me olha lentamente.
Observo sua roupinha preta, e ela sequer entende o que está acontecendo.
Tão inocente.
Me abaixo no chão e Ann vem correndo até mim, me abraçando.
Sorri e, mais uma vez, meus olhos inundaram.
—Mamãe se foi, Ann. —eu disse suavemente, fazendo carinho em seus cabelos.
Ann se afastou e me olhou apreensiva.
—Pra sempe?
Dei um beijo em sua testa.
—Espero que não. Talvez um dia a gente a encontre. Mas ela está muito, muito, longe.
Ann assentiu devagar.
—Ela tá feliz?
Não pude segurar o bolo em minha garganta. Dói. Mas ainda encontro forças para sorrir minimamente e assentir.
—Está, irmã. Está.
Me levanto e estendo a mão para ela.
—Venha cá. Vamos fazer algo muito especial.
Ela segura minha mão com um sorriso.
—O quê?
Meu sorriso também se alargou. Meu peito se aqueceu.
—Bolinhos.
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Uma semana.
Se passou uma semana desde que minha mãe se foi.
A minha surpresa é a forma como papai está lidando com isso.
Calmo. Sem surtos, sem crises. Acho que a terapia e os remédios estão fazendo efeito.
Hoje é mais um sábado. Um sábado um pouco diferente, pois papai decidiu ficar em casa. Ann também está aqui.
Eles decidiram brincar com Atena no quintal, mas optei por ficar no meu quarto ouvindo música. Não estou no clima de brincadeiras.
Na verdade, não tenho estado no clima de nada. Não consigo mais sair de casa. Minhas cortinas estão sempre fechadas. Passo a maior parte do tempo deitada em minha cama e eu sei que estou comendo menos do que deveria.
Papai está vivendo um luto muito diferente do meu. Ele estava seguindo em frente. Reconquistando a confiança da filhinha e sendo super atencioso comigo. Ele disse que estou mais magra. Não sei se concordo, tem uma semana que não me olho no espelho.
Tudo que eu penso é na vida em cor-de-rosa. Penso em bolinhos. Eu prometi a mim mesma, há un tempo atrás, que eu ensinaria Ann a fazê-los. Por mais que ela não tenha aprendido ainda, é claro, tenho o leve sentimento de dever cumprido.
Suspirei.
Fiquei algum tempo executando minha ideia até que meu pai bate na porta.
—Pode entrar. —eu digo baixo sem tirar meus olhos do teto e escuto meu pai entrando. Apenas tiro um lado do fone.
—Seu amigo veio falar com você.
Fechei os olhos. Eu não quero ver ninguém agora. Mas o que sai da minha boca contradiz meus pensamentos.
—Está bem, pode pedir pra ele vir aqui.
Papai assentiu e deixou a porta aberta. Soltei um riso nasalado, pois Charles não apresenta perigo algum -apesar de ser meu "namorado".
Voltei a prestar atenção na música e escuto o moreno entrando.
—Hoje não estou muito afim de sair. —já adiantei.
—Eu não vim te levar para sair, convencida.
Arregalei os olhos e senti meu coração perder uma batida. Rapidamente desviei os olhos do meu celular e encarei o garoto com um sorriso divertido nos lábios.
—Thomas? —perguntei assustada.
Ele comprimiu os lábios e ficou sério novamente.
—Posso entrar?
Assenti rapidamente e ele se sentou na minha frente.
Vi que ele começou a olhar ao redor. Realmente, ele nunca esteve aqui.
—Bonito o seu quarto. —ele disse distraído encarando as plantas falsas penduradas em algumas partes.
—Obrigada.
Ficamos em silêncio. Eu não fiz nenhuma questão de quebra-lo, apesar de ter muitas dúvidas me rodeando.
Ele perdeu essa mini batalha de quem fala primeiro soltando um suspiro.
—Eu... Queria conversar com você. —ele disse, evitando me olhar nos olhos— Eu esperei um tempo para podermos falar sobre... Aquilo. Não queria encher mais a sua cabeça.
—Está tudo bem. —eu disse com um sorriso simples. Não está tudo bem. Eu não sei se quero falar sobre isso agora, mas...
Realmente.
Minha mãe tem ocupado boa parte do meus pensamentos, mas não consigo evitar a parte de mim que quer se resolver com Thomas. Tenho pensado nele também.
Entretanto, me sinto nervosa. Tem alguns dias que Carol não manda uma única mensagem e eu temo que Thomas tenha terminado com ela.
Tem tanta coisa na minha cabeça agora que eu sinto que meu cérebro pode inchar e explodir.
Ele me olhou antes de suspirar mais uma vez.
—Como você está? —ele perguntou segurando minha mão. Senti mil fagulhas no meu estômago e uma ansiedade um pouco exagerada para um único toque em minha mão.
—Estou bem, eu acho. —falei, encarando nossas mãos— "Bem" na medida do possível. Estou triste, mas em paz. Foi melhor assim.
—fui o mais sincera que pude.
Mas ainda tem a pequena parte de mim que grita bem alto que não foi melhor assim. Não é justo pensar assim. Eu sei que tenho apenas verbalizado o que eu gostaria de estar sentindo, dizendo que foi melhor ela ter partido. Mas não estou me sentindo assim. Melhor seria ela aqui comigo. Com Ann.
Balanço a cabeça, tentando espantar esses pensamentos.
Thomas assentiu.
—Fico feliz por você. —e soltou minha mão.
Imaginei que ele quisesse dizer mais coisas, mas ele se manteve calado. Acho que prefiro assim, por enquanto. Ainda está muito recente para falar de mamãe.
Fiquei encarando o nada me sentindo desconfortável.
—Ally. —ele me chamou e eu encarei seus olhos— Eu... Eu vou confessar pra você que fiquei bravo no dia do lago. Me desculpe pela minha reação. Mas eu precisei ir embora para não explodir. Não queria de forma alguma descontar em você a minha frustração. Eu já estava um pouco bravo, machuquei meu pulso na casa do Mike... —ele passou as mãos pelo rosto. Não vejo mais a munhequeira. Então era por isso... Ele estava lutando. É claro— Érick me explicou a situação e eu pude entender melhor o porquê de você não ter falado isso antes. Eu terminei o que sequer tinha com Caroline, mas fica tranquila, eu te preservei. Terminei tranquilamente com ela. Terminei do mesmo jeito que sempre terminamos. —ele suspirou— Me desculpe por ter te tratado daquela forma. Se eu soubesse... —ele abaixou a cabeça.
—Não tinha como você saber. —me apressei— Carol é a maior atriz de todos os tempos. Se não fosse tão hostil, poderia ser podre de rica.
Thomas riu um pouco.
—Então... —ele desviou o olhar do meu— Como ficamos?
Meu coração acelerou e meus olhos se arregalaram.
—O quê? —perguntei assustada. Ele sorriu de lado e me olhou.
—Érick me contou seu planinho. —ele disse com um sorriso convencido e eu senti meu rosto esquentar— Sempre soube que você era caidinha por mim.
Desviei o olhar completamente vermelha. Idiota.
—Falou o cara que me desenha antes de gostar de mim. —falei baixo.
Thomas engasgou e eu o encarei com uma sobrancelha erguida, me sentindo vitoriosa.
—Touché. —ele disse com a voz arrastada.
Acho que, pela primeira vez, posso dizer com certeza que meus estilhaços estão voando de encontro um ao outro e, finalmente, se grudando novamente.
Olhei Thomas com um sorriso curto. Que saudade.
—Senti sua falta. —falei.
Thomas arregalou os olhos por um segundo e depois soltou o ar devagar.
—E-eu também senti a sua.
Gaguejou. Thomas O'brian gaguejou.
Me sinto muito sortuda por vê-lo assim.
Desviei os olhos por um momento e senti certa preocupação me atingir. Senti muita vontade de pedir algo para ele. Não, não é nada justo. Mas eu não posso perder mais ninguém.
—Tom. —chamei. Ele me olhou— Posso... Posso te pedir algo?
Esperei que ele fizesse uma brincadeira, dizendo que acabei de pedir. Mas, ao ver meu olhar desesperado, ele parece ter desistido, pois apenas assente.
—Você... —desviei os olhos, me sentindo nervosa— Você... Poderia... —fechei os olhos fortemente, antes de olhar para seus olhos verdes novamente— Você poderia parar de lutar?
Ele arregalou os olhos por um momento.
—O quê? —perguntou, surpreso.
Precisei respirar bem fundo e ter muito autocontrole para conseguir dizer o que queria sem gaguejar ou chorar.
—Você uma vez me disse que não se garante nessas lutas. —eu disse séria, me lembrando de uma conversa que tivemos há algum tempo atrás— E tudo que eu preciso agora são garantias. Garantias de que vou ficar bem. De que vou superar... —minha voz falhou, então desviei o olhar— Garantias de que eu ainda te terei aqui por muito tempo.
Completei em voz baixa. Ele não falou nada e eu não levantei os olhos para conferir sua expressão.
Ficamos em silêncio por um tempo.
Então, ele segurou meu queixo e virou meu rosto delicadamente de encontro ao seu. Perto. Thomas está perto demais.
—Eu prometo.
Soltei um suspiro aliviado. Sim, eu acredito nele. Thomas está me prometendo que não vai mais se colocar em risco.
E acho que, pela primeira vez, eu não hesitei. Me aproximei devagar de Thomas com a intenção de fazer o que eu estou querendo há muito tempo.
Ele não demora a entender e sorri, se aproximando de mim.
Mas, é claro, antes que nossos lábios se toquem, uma vozinha estridente nos interrompe.
—Tio do cabelo de fogo!
Nos viramos rapidamente para a porta e encontramos uma Ann sorridente. Ela corre para os braços de Thomas e dá um abraço caloroso nele.
Ele me olha surpreso.
—Por que ela não falou "cabeio"? —ele perguntou com os olhos arregalados.
Dei de ombros.
—Ann está aprendendo a falar direitinho.
Ele sorriu e afagou os cabelos dela.
Me sinto bem e meu coração está -quase- inteiro de novo.
Eu sei que uma parte dele nunca mais vai voltar.
Mas, por enquanto, meus estilhaços estão voando com toda a força.
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Cinco dias se passaram desde minha reconciliação com Thomas.
Eu me senti ansiosa por todos esses dias, pois, além da ansiedade maravilhosa de estar falando com ele novamente, me sinto nervosa. Sentimentos realmente ruins.
Sinto medo. Carol desapareceu, simplesmente. Thomas me revelou por mensagem que a viu de longe na segunda-feira e tomou um susto ao vê-la, pois ela estava com um olho roxo e inchado. A raiva que Thomas estava dela foi muito maior que sua preocupação, pois ele não se aproximou para perguntar o que aconteceu.
Talvez seja melhor assim.
Mas, só por via das dúvidas, continuei saindo com Charles publicamente.
O último, inclusive, se esbarrou com ela no domingo. Ele disse que sentiu algo estranho, pois Carol ficou um longo tempo o encarando. E depois ele teve a impressão de ter visto os olhos dela marejados, mas ela desviou o olhar rapidamente.
Confesso que estou um pouco confusa com seu comportamento e seu desaparecimento repentino, mas não é como se eu pudesse reclamar. Não tinha me encontrado com Thomas ainda, mas me sentia bem e um pouco mais livre.
Hoje eu finalmente tomei coragem para fazer o que estava adiando havia um tempo.
Havia muito tempo.
Me sentei no sofá confortável da casa de Rose. Seus pais não estão aqui, achei a situação perfeita. Eles são maravilhosos, mas eu precisava ter essa conversa sozinha com ela.
—Agora pode me explicar o que era tão urgente assim? —Rose perguntou me entregando um copo de água e se sentando ao meu lado. Tomei um gole para me acalmar e deixei o copo na mesinha de centro.
—Eu preciso te contar uma coisa muito importante. —comecei nervosa.
—Oh, meu Deus! —ela pôs as mãos sobre a boca e depois gargalhou empolgada, colocando as mãos sobre meus ombros. Arregalei os olhos, confusa— Não acredito! Sua safada!
Senti meus olhos esbugalhados.
—O quê? —perguntei, realmente confusa.
—Sonsa! Você deu, não é?
Arregalei mais os olhos e engasguei.
—Não! —falei um pouco mais alto do que deveria, empurrando Rose levemente— É um assunto sério.
Mordi os lábios quando o sorriso de Rose murchou e ela me soltou lentamente, com as sobrancelhas franzidas.
—O que está... —sua voz falhou— O que está acontecendo?
Suspirei e me ajeitei no sofá, pegando a água e bebendo mais uma vez. Pus o copo sobre a mesa novamente.
Vou ter que repetir essa história mais uma vez.
—Você se lembra daquele dia em que Carol foi me pagar um sorvete?
Rose ficou com a expressão ainda mais confusa, mas assentiu.
—Ela foi te perguntar se tinha alguma garota interessada no O'brian, não foi?
Neguei com a cabeça.
—Na verdade, ela foi me ameaçar. —Rose arregalou os olhos completamente, mas não dei tempo para que ela falasse nada— Me mandou ficar longe do Tom. E eu não segui conselho. E no último dia de aula, ela começou a me ameaçar pra valer. Mandou várias fotos minhas de momentos com Thomas e tirou uma foto minha me trocando. —fechei os olhos por um momento sentindo a dor do medo me invadir mais uma vez— E... Eu fui me encontrar com ela. Ela me mostrou fotos da minha irmã e da minha mãe. —minha voz ameaçou falhar quando falei da minha mãe, mas me mantive firme— E eu me vi obrigada a afastar-me do Thomas. Esse encontro aconteceu na praça. E... Assim que ela foi embora, eu desabei. Comecei a chorar. Até que Charles me viu e me levou para o apartamento dele.
E, depois, continuei contando tudo para Rose. Contei de como Nicolas ficou sabendo, -após ter escutado minha conversa com Charles- de como tivemos a ideia do namoro falso, de quando Érick me encurralou na The Player... Contei tudo, dando o máximo de detalhes que pude.
E assim que terminei de falar do meu encontro com Thomas, no mesmo dia em que minha mãe morreu, esperei pela resposta de Rose.
Mas ela não veio.
A loira ficou em completo silêncio. As sobrancelhas franzidas e o olhar perdido. Não sei se ela ao menos ouviu tudo.
Pigarreei.
—Rose?
Ela me olhou e fiquei chocada.
Lágrimas.
Ela tem lágrimas nos olhos.
—P-por que você não me contou?
Arregalei os olhos.
Certamente, eu esperava que Rose fosse explodir de raiva, e não chorar.
—Achamos que seria melhor assim. Sabe, ficamos receosos de que você fosse enfrentar Carol, ainda mais depois de tudo que ela fez contra você.
Quando terminei de falar, aí sim pude ver raiva no olhar da minha amiga.
—Então é isso que vocês pensam de mim? —ela se levantou num pulo e começou a falar sobressaltada. Arregalei meus olhos sentindo meu coração falhar— Que eu sou uma puta louca e estourada? —ela apontou o dedo para si mesma— Claro que eu ficaria com raiva Ally, eu estou com raiva, mas eu ia entender! Eu iria te ajudar, você não precisaria ter passado por tudo isso tão sozinha! Você teria a mim!
Senti meus olhos transbordarem ao ouvir suas palavras duras.
—Rose, e-
—Eu pensei que você finalmente estivesse confiando em mim! —ela se sobressaltou mais uma vez, agora desviando o olhar— Que você confiava em mim. Mas vejo que não. Você nem me conhece.
—Para de falar essas coisas! —eu me levantei, me sentindo enfurecida— Eu não te contei para te proteger também! Sabe-se-lá do que Caroline é capaz!
—Porém você não hesitou em falar pro Charles! —ela devolveu, voltando a me encarar.
—Não foi minha escolha! O Charles me viu chorando! Ele me acolheu!
—Eu teria feito o mesmo!
—Mas ele que me viu, Rose! —gritei um pouco mais alto. Ela se calou e eu respirei fundo, normalizando meu tom— Eu não queria contar à ninguém. Eu não contei exatamente por escolha própria. Eu estava com medo. Eu sei, eu não deveria ter imaginado isso de você, mas achei que fosse melhor te preservar... O Érick me encurralou, Nicolas ouviu minha conversa e o Charles me encontrou chorando. Eu não contei por escolha, apenas aconteceu. —repeti.
Rose olhou pro chão e eu vi seu rosto molhando com lágrimas.
—Mas eu sou sua melhor amiga, Ally. Amigas confiam umas nas outras. Melhores amigas dividem a dor uma com a outra. Daríamos um jeito... Mas você não confiou em mim.
Arfei, sentindo meu peito doer.
Essa era a última reação que eu esperava de Rose.
Ela se retirou em silêncio e entrou em seu quarto, fechando a porta. Entendi o recado e deixei a casa dela.
Dessa vez eu não consigo evitar as lágrimas de caírem.
Fui seguindo sem rumo pelas ruas e, quando dei por mim, já estava apertando a campainha do apartamento 112. Charles abriu a porta vestindo apenas uma calça moletom.
—Ally? —ele pergunta totalmente surpreso— O que houve? Por que está chorando?
Ele segurou meus ombros e pela primeira vez consegui olhar em seus olhos. Estão preocupados.
Em um ato impulsivo, apenas o abraço. Choro em seu peito. Ele me puxa levemente para dentro do apartamento e fecha a porta, trancando-a. Depois me encaminha devagar para o sofá e fica abraçado comigo.
Após alguns minutos, finalmente me acalmo e limpo meu rosto. Me afasto de Charles e vejo ele me olhando com os olhos apreensivos.
—Obrigada. —respirei fundo.
Ele comprimiu os lábios e assentiu.
—Quer me contar o que aconteceu?
Suspirei me sentindo pesada.
—Hoje eu contei pra Rose o "caso Carol". Ela não reagiu bem. —comecei, me sentindo muito pior ao me lembrar da briga— Achei que ela fosse explodir de raiva por Carol, mas ela explodiu de raiva por mim. Por eu não ter contado à ela. —falei sentindo o bolo em minha garganta voltar— Não sei o que fazer para resolver.
Charles assentiu, parecendo compreender.
—Eu também não imaginava que ela fosse agir assim. —Charles disse desviando o olhar e coçando a cabeça— Vocês são Rose e Ally. Uma não combina sem outra.
Sorri minimamente com suas palavras, apesar de não acreditar nelas.
—Não sei o que fazer. —confessei.
—Dê um tempo pra ela. —Charles sugeriu— Ela precisa digerir tudo isso e lidar com a culpa.
—Culpa? —perguntei confusa.
—Claro! Ou você acha que ela não vai se sentir culpada por não ter percebido toda essa situação?
Desviei o olhar, me sentindo desconfortável. Se até Érick se sentiu assim, não duvido que Rose também se sinta.
Eu não aguento mais estar fazendo tantas pessoas sofrerem...
—Vamos levantar esse astral. —Charles disse colocando as mãos em meus ombros com carinho— Espera eu tomar um banho rapidinho e aí saímos para almoçar. Pode ser?
Sorri minimamente e assenti. Ele foi tomar banho.
Eu espero que essa situação se resolva, de verdade. Amanhã é o baile e eu esperava que nos arrumássemos juntas. Que nos resolvêssemos e pudéssemos tirar fotos bonitas.
Mas não vamos poder, porque Rose está com raiva e ela tem todos os motivos do mundo para se sentir assim.
Passei as mãos no cabelo, me sentindo ainda pior.
Dei uma olhada para ver se havia alguma mensagem de Thomas.
Nada.
Ele não falou muito comigo depois daquele dia. Ele foi embora da minha casa pouco tempo depois e não pudemos conversar.
Decidi não insistir. Ele falará comigo quando se sentir pronto, mas não posso negar que isso me machuca.
Também me permiti pensar em mamãe. O pensamento me deixou com lágrimas grossas nos olhos.
Que saudade.
Tem tido tanta coisa na minha cabeça que acho que não estou me permitindo pensar muito nela.
Parece irreal.
Foram tantos e tantos anos para nada. Apenas lhe causou dor e sofrimento.
E no fim ela se foi.
Respirei fundo limpando as minhas lágrimas rapidamente assim que ouvi Charles chegando.
—Vamos? —ele perguntou me estendendo a mão. Assenti e segurei.
—Vamos passar em um lugar antes.
.
.
.
Senti meu coração falhar ao chegar nas grades de ferro.
—Tudo bem? —Charles perguntou.
Não consegui desviar o olhar, senti meus olhos marejarem.
—Ally? —me chamou novamente.
—Eu não consigo. —respondi com a voz embargada.
—O que?! —seu tom é preocupado, mas ainda assim não consigo desviar os olhos da praça— Não consegue o quê?
Senti minhas mãos tremendo.
—Não consigo entrar aí. Foi o último lugar que eu estive antes da minha mãe morrer. Não consigo.
Charles ficou em silêncio e pareceu compreender.
—Deixa que eu entrego então.
Me virei para ele. Sua imagem está borrada por conta das minhas lágrimas.
—Sério? —perguntei me sentindo muito grata— Obrigada.
Ele assentiu rapidamente.
—Como ele é?
—Alto, branquinho, os cabelos curtos e bem loiros e os olhos azuis. —falei de tudo que me lembrava— E ele tem uma tatuagem no braço esquerdo.
—Ok.
Entreguei o casaco pro Charles e ele entrou na praça.
Respirei fundo, desviando o olhar daquele lugar.
Não sei se um dia conseguirei pisar aqui de novo.
Olhei para o outro lado da rua e meu coração acelerou quando observei o estabelecimento branco e verde.
Olhei para praça novamente e concluí que Charles deve demorar até achar o segurança.
Atravessei a rua e fui até o Amigos das Patas e Bicos com o coração acelerado.
Entrei e vi várias pessoas ali dentro. Todas estão ocupadas demais e nenhuma delas é Carol.
Estou com medo, é claro. Afinal, ela ainda pode fazer qualquer coisa.
Procurei o ruivo com os olhos e não demorei muito para achá-lo. Ele está em pé atendendo uma senhorinha que tem uma pinscher. A cadelinha está vestindo uma saia rosa e seria muito fofa se não fosse pelo ódio que tem em seus olhos. Ela está olhando Thomas pelo canto dos olhos e está mostrando os dentes, como se estivesse dando um sorriso muito macabro.
Sorri vendo o garoto engolindo em seco enquanto olha pro animal.
A senhora fica tagarelando no ouvido dele e ele apenas dá algumas respostas curtas com um sorriso no rosto. Eu adoro esse Thomas super gentil que usa um avental verde. É uma graça
A velhinha agradeceu Thomas e pôs a mão no ombro dele. A cadela latiu pra ele e ele arregalou os olhos.
Quando a moça saiu de perto, vi Thomas soltando o ar. Seus olhos miraram em mim e ele arregalou as orbes novamente.
Sorri minimamente e me aproximei devagar dele.
—Oi.
Ele franziu as sobrancelhas.
Tão lindo...
—Oi... —ele disse hesitante.
Respirei fundo controlando a vontade que eu estou de abraçar e agarrar ele. Afinal, ele está no trabalho.
—Eu... Quero conversar com você mais tarde. Tudo bem?
—Sobre o quê? —ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.
—Sobre nós.
Tive um sentimento de déjà-vu assim que terminamos de falar. Não pude evitar o sorriso, e ele também não. Lembramos ao mesmo tempo de quando ele se declarou pra mim.
Ele mordeu os lábios e desviou o olhar. Céus, deveria ser pecado uma pessoa ser tão linda assim.
—Ok, Ally. —ele me olhou— Que horas?
—Me avisa quando você sair do trabalho.
Ele assentiu e nos despedimos.
Voltei correndo para a entrada da praça. Charles ainda não tinha voltado. Me encostei na parede com um sorriso bobo nos lábios.
Charles não demorou a chegar.
—E aí? —perguntei quando Charles se aproximou.
—Consegui achar o cara. Ele se chama Matías.
—O que ele falou?
—Disse que não precisava e perguntou se você estava bem.
Assenti nervosa. Não contei pra mais ninguém do meu episódio no lago. Se Charles desconfiou de alguma coisa, preferiu ficar em silêncio.
Fomos andando até um restaurante e todos os meus ossos congelaram quando vi aquela figura ali.
Caroline.
Senti minha respiração falhar quando os olhos dela foram de encontro aos meus.
Engoli em seco quando ela veio em nossa direção. Reparei em seu olho levemente marcado, mas não mais tão inchado como Thomas descreveu.
—Oi, Carol. —falei assim que ela parou na nossa frente. Senti o braço de Charles rodeando os meus ombros.
Ela me olhou com certa amargura e eu me senti fraquejar. Será que ela me viu com Thomas?
Ela fez uma expressão raivosa.
—Oi. —foi tudo o que ela disse antes de nos contornar e sair pela porta do restaurante.
Soltei o ar que nem senti que estava segurando. Minhas mãos estão trêmulas.
—Viu como ela está esquisita? —Charles perguntou me conduzindo para uma mesa ao lado da janela. O lugar não está muito cheio.
Assenti em silêncio, extremamente preocupada. Talvez ela saiba que eu vou me encontrar com Thomas. Não posso nem suportar essa ideia.
Respira, Ally. Respira.
Quero chorar. Ela não deveria ter tamanho poder capaz de tirar minha paz, mas, caramba, ela tem.
Estou me sentindo fraquejar. Só mais um pouco, Ally. Aguenta só mais um pouco. Ela não pode saber que você vai se encontrar com Thomas, porque ela estava aqui.
Me acalmei, por fim.
Nos sentamos de frente um para o outro e Charles começou a falar das faculdades. Ele disse que também tentou algumas outras, por precaução, mas espera muito que consiga passar para Northwestern ou Yale.
Almoçamos e ele fez muita questão de pagar a conta, mesmo que eu tenha insistido. Antes de sairmos pedi para ele me deixar em casa. Nos despedimos na porta e ele foi embora.
Pedi para Thomas me encontrar aqui. É muito arriscado eu ir até ele. Ele respondeu dizendo que já estava vindo.
Me sentei nas escadinhas de madeira e fiquei esperando a caminhonete aparecer, o que não demorou a acontecer. Assim que ela apareceu, entrei nela, com o coração acelerado.
Bati a porta e fiquei virada pra frente, sem ter coragem de encara-lo.
Dessa vez, ele que quebrou o silêncio.
—Oi.
Respirei fundo e tomei coragem de olhar pra ele.
—Oi. —sorri minimamente.
Ele desligou o carro e olhou pra frente.
—E então? —voltar a me olhar com certo divertimento nos olhos— O que queria me di–
—Eu estou apaixonada por você.
Thomas arregalou completamente os olhos e recuou. O divertimento sumiu completamente de seu rosto e ele se encostou no banco lentamente, olhando pra frente.
Sim. Eu sei. Eu gostaria que esse momento fosse muito mais romântico, como nos filmes; o momento em que a protagonista finalmente se declara.
Mas eu senti que se não fosse assim, rápido e cirúrgico, eu não teria tido coragem.
Meu coração bate descompassado pelo nervosismo e ansiedade de uma reação.
Thomas volta seus olhos pra mim e tem a expressão apreensiva.
Meu coração começa a bater dolorosamente. E se ele... Deixou de gostar de mim?
Ele nunca disse que estava apaixonado. E depois de tanto tempo... E depois de tudo que eu fiz ele passar...
—Você... Tem certeza? —ele pergunta, desviando o olhar.
Senti meu coração acelerar, mas não contive o sorriso.
—Tenho. Tenho muita certeza, Thomas.
Então ele me olhou com o olhar diferente. Brilhante. Parecia uma criança.
E começou a rir surpreso. A gargalhar. Colocou as mãos no rosto e depois segurou o meu.
—É sério?! —ele perguntou com um grande sorriso. Me diverti com sua reação, assentindo— Porra!
Então ele me puxou para um beijo. Mantive meus olhos arregalados.
—Você está apaixonada por mim! —ele continuou sorrindo após o selinho— É melhor sair correndo agora, Ally Carter, porque eu vou te beijar.
Senti meu coração bater com alegria. Caramba! Eu não acredito.
Sorri. Alarguei meu sorriso. Eu esperei tanto por isso.
—O que está esperando? —perguntei com divertimento.
E ele sorriu. E me beijou.
E os lábios dele sãos a melhores coisas que encostaram nos meus.
*
|muito obrigada por ler até aqui. um pequeno mimo pra você: spoiler do próximo capítulo!
{Meu coração acelerou e meus olhos se encheram de lágrimas.
Qualquer um que ouvisse de fora, acharia que é apenas uma música com uma melodia bonita.
Mas é muito mais que isso.
É uma obra prima.
E e tenho o privilégio dela ter sido escrita para mim.
Ele escreveu uma música sobre como se sente sobre mim.
E eu não sei como me sinto sobre isso.}
até o próximo!! <3
obs.: MUITO obrigada pelas 200 views!💜|
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