Capítulo 13 - Apaixonada

13

—E ESSE? —ROSE PERGUNTOU levantando um vestido preto decotado e com as costas nuas. Ele também tem fendas nas pernas.

Fiz uma careta.

—Se for para usar um vestido assim, eu vou de biquíni. —falei fazendo Rose rir.

—Tem razão, não é sua cara. —ela concluiu pondo o vestido de volta na arara.

Após algumas horas jogando na casa do Charles, me encontrei com Rose para comprarmos nossos vestidos para o baile.

—Eu tenho que escolher uma cor que fique bonita em um cosarge... —Rose falou buscando algum nas araras.

Observei um pouco a loja e reconheci alguns rostos da escola. Muitas garotas estão em grupos e soltam gritos animados ao verem algumas roupas.

Tudo aqui é lindo, mas é difícil escolher. Algumas pessoas estão usando roupas tão exageradas que parece que estão indo para o Met Gala.

Não quero nada extravagante, mas também nada muito simples. Quero me lembrar bem do meu primeiro baile.

Rodeei um pouco mais a loja e fui observar alguns vestidos vinho. Vi um e achei a cara de Rose. Sorri e fui até ela.

Ela vinha na minha direção com um lindo vestido azul. Quando nos vimos, sorrimos e estendemos os vestidos uma para a outra, falando ao mesmo tempo:

—É esse!

Rimos e eu peguei o vestido de suas mãos indo até a cabine, enquanto ela saiu correndo com seu vestido vinho.

Experimentei com cuidado e apreciei o vestido azul no meu corpo. Ele não é nada extravagante e eu me sinto...

Linda.

Sorri e saí do provador. Assim que pisei para fora da cabine, meu sorriso morre.

Caroline.

Ela e seu grupo de amigas líderes de torcida estão entrando e rindo. Vejo inclusive Cynthia, o par de Érick. Ela é a mais calada e entra olhando para o chão.

Me senti tremer um pouco. Tive que segurar fortemente as lágrimas. Eu não posso chorar só por vê-la.

E, para minha infelicidade e nenhuma surpresa, os olhos de Carol foram direto para mim. Ela abriu um sorriso surpreso e me analisou de cima abaixo.

Respirei fundo mais uma vez ao vê-la caminhando na minha direção. Escondi minhas mãos trêmulas atrás do meu corpo.

—Olha só quem está aqui... —ela chegou perto de mim sorrindo. Sorri fracamente tentando disfarçar meu medo— É um belo vestido, Allyzinha. —ela disse analisando meu vestido. Olhei para os meus pés, sem ter coragem para respondê-la— Mas ele te deixa um pouco gorda. Talvez o O'brian prefira algo mais... Sexy.

Assim que ela falou o nome dele, eu levantei meu olhos. Olhei em seu rosto e ele tinha uma expressão de deboche. Olhei discretamente para as pessoas atrás dela, vendo se Thomas estava por lá.

Mas não estava.

Eu me esqueci completamente de que eu "namoro". Não posso ficar tão emotiva todas as vezes que ela fala o nome dele.

—Eu não ligo para o que o O'brian prefere. —dei de ombros, tentando fazer uma expressão de desinteresse— Eu tenho namorado e tenho certeza que ele vai amar esse vestido.

Carol me olhou com certa satisfação e deu dois tapinhas no meu ombro, com um sorriso iluminado.

—Muito bem, Allyzinha. Muito bem.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, senti um braço rodeando meus ombros. Olhei pra o lado e vi Rose olhando pra Carol com fúria.

—O que você quer? —ela perguntou secamente. Carol apenas arqueou as sobrancelhas em divertimento.

—Quanta gentileza, Rosemary. Mas não consigo esperar menos que isso vindo de você. —Carol disse com um sorriso olhando Rose de cima abaixo— É um vestido bem bonito. Parece uma vadia. Ah, espera! Você é mesmo. —ela falou com deboche.

Rose apenas sorriu de lado.

—A única vadia aqui é você, que não consegue nem segurar seu próprio namorado. Fala para todos que estão namorando, mas no dia seguinte ele já está com a língua na goela de outra. Eu posso ser vadia, Carol. —Rose me soltou e ficou perto de Carol, a olhando de cima— Mas sou uma vadia com caráter e não carrego um belo par de chifres.

O sorriso de Carol vacilou e meus estilhaços se partiram em mais outros.

Preciso respirar muito profundamente para que meu corpo não demonstre o quanto as palavras de Rose me afetaram. Não quero ser ingrata porque, como sempre, ela está me defendendo. Por isso, tentei controlar minha expressão ao ouvir que Thomas está com várias.

Carol apenas olhou Rose com nojo e saiu andando, voltando para suas amigas. Rose sorriu e se voltou para mim, com um grande sorriso.

—E então? —perguntou animada, apontando para o próprio vestido, como se nada tivesse acontecido. Ele não é muito decotado e modela perfeitamente a cintura, além de brilhar como seda.

—Rose você está... —a olhei realmente surpresa, tentando encontrar a palavra certa— Extraordinária.

Ela sorriu e me deu um abraço animado.

—Isso! —ela disse empolgada. Acabei sorrindo junto com ela e demos pulinhos empolgados— E você, Ally... —ela começou, se afastando e segurando meus ombros— Está perfeita. Está linda e nada vulgar, como aquela cobra. Eu escutei o que ela falou, e, acredite, você está extraordinária. O Charles vai amar. —ela disse sorrindo com carinho. Meu sorriso vacilou um pouco. Até acredito em suas palavras, mas...

Não era ele quem eu queria impressionar.

—Obrigada, Rose. —ela sorriu.

Fomos alugar os vestidos e eles estariam prontos amanhã. Saímos da loja felizes da vida, mas ainda tinha algo me incomodando...

—Rose. —a chamei, sem me aguentar. Nos sentamos em uma mesa do lado de fora de um pequeno restaurante e ela desviou os olhos do cardápio, me olhando com curiosidade— Aquilo sobre o Thomas é verdade? —tentei falar o mais casualmente possível, sem deixar transparecer que essa era a única coisa que importava para mim no momento.

Ela revirou os olhos, parecendo se lembrar de algo.

—Você sabe como o O'brian é. —ela disse voltando a olhar para o cardápio— Está com Carol e com o resto da escola inteira. Ele só parou de rodar a escola inteira quando gostava de você.

Assim que ela falou isso meu coração falhou. Uma falhada gostosa e que me encheu de esperança. Tive que colocar o cardápio na frente do meu rosto para escondeu meu sorriso de orelha a orelha.

Ele realmente gostava de mim.

Pedimos nossos almoços e ficamos jogando conversa fora, até que de repente me lembrei do show dos meninos. Tem um tempo que Érick falou desse show, ele disse que seria no mês passado, mas, até agora, nada.

—E o show do Érick e do Thomas, Rose? —perguntei bebendo um gole do meu suco.

Ela arregalou os olhos, parecendo ter se lembrado de algo e bateu as mãos na mesa.

—Vai ser no sábado que vem! —ela falou empolgada— Foi adiado várias e várias vezes, a The Player não estava conseguindo encaixá-los, mas finalmente arrumaram um horário! —ela disse sorrindo— Eu esqueci de te avisar, desculpa.

Assenti e sorri com sua empolgação. Estou feliz por eles.

—Tem um tempo que eu não vejo o Érick... —comentei triste, mexendo na minha comida com meu garfo.

—Ele anda um pouco distante. —Rose completou— Ele está um pouco chateado, sabe... Por essa situação. —Rose disse desconfortável— Parece que ele escolheu um lado.

Não disse nada. Eu não tinha o que falar. Não existe situação, é tudo uma farsa.

—Não queria que fosse assim... —deixei escapar meu lamento. Eu falei baixo, mas Rose ouviu.

—Como assim? —ela perguntou confusa.

Arregalei um pouco os olhos e dei uma garfada na minha comida, para ganhar tempo.

—Eu... Eu não queria que eles se afastassem. Eles são meus amigos. —falei. E é realmente verdade.

Rose assentiu e bebeu um gole do seu suco.

—Eu também não queria... Mas, eu não posso dizer que não entendo, Ally. Foi tão... De repente. —suspirei, sabendo que ela tem razão— Não fala pra ninguém que eu te contei isso, mas... Eu soube que o O'brian não estava nem mais saindo de casa depois que você e o Charles começaram a namorar. —ela falou fazendo meu coração acelerar— Ele ficou confuso e... —Rose mordeu os lábios e desviou o olhar, parecia hesitante em continuar— Rasgou os seus desenhos.

Arfei baixo, me recostando na cadeira. Fechei meus olhos com força.

Não era, não era, não era pra ser assim...

—Eu...

—Tem mais, Ally. —Rose me cortou, agora me olhando nos olhos— Eu questionei ao Érick sobre a Jenny. Eu queria saber o que fez o O'brian beijá-la.

Arregalei os olhos.

—Você o quê?!

—Eu precisei! —disse Rose exaltada— Ela foi um dos motivos para você ter desistido dele, então eu precisei saber... —ela foi abaixando o tom e desviou novamente o olhar— E não era o que você estava pensando. Jenny o beijou, não ao contrário. Eles são amigos desde que o O'brian chegou na cidade e só naquele dia ele soube dos sentimentos dela. Ele deixou bem claro que...

—Que o que, Rose? —perguntei aflita.

—Que queria conquistar você. Que era você quem ele queria. —ela disse baixo, voltando a almoçar.

Respirei fundo, controlando as lágrimas.

—Licença. —falei rápido e levantei bruscamente da cadeira. Rose me chamou, mas eu praticamente corri para o banheiro do restaurante.

Tranquei a porta e me sentei na tampa da privada, sem conter as lágrimas.

Eu odeio a Carol. Eu a odeio. Odeio, odeio, odeio...

Eu sou apaixonada por aquele idiota desde ele me levou naquele clube. Desde que dançamos na praça, desde o nosso não-encontro... Eu sou apaixonada por ele desde o primeiro dia de aula, quando ele revirou os olhos para o meu sotaque. Eu sou apaixonada por aquele idiota desde que ele me chama de coisa inglesa, ou de garotinha. Não me restam mais dúvidas dos meus sentimentos por ele.

E agora esse idiota está com aquela sociopata.

Eu nunca vou conseguir me perdoar por fazê-lo sofrer.

Respirei fundo, limpando as lágrimas com um papel higiênico. Chega de chorar.

As coisas vão se resolver.

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Abri a porta do quarto 305.

Eu venho visitando minha mãe com bastante frequência nos últimos tempos. Eu só consigo conversar sobre meus sentimentos com ela, e, de certa forma, ela é única que me deixa confortável.

Eu vim algumas vezes com Ann e algumas poucas com meu pai. Ele não aguenta ficar muito tempo aqui.

—Oi, mãe. —falei me sentando na poltrona ao lado da maca e segurando sua mão— Hoje tenho novidades. —falei com um sorriso curto, observando seus cabelos tão loiros. Ann veio com os cabelos loiros da minha mãe, e eu com os castanhos do meu pai.

Soltei sua mão e retirei minha jaqueta. Minha não; de Thomas.

Não tive a oportunidade de devolver sua jaqueta de couro e nem fiz muita questão. É como andar com um pedaço dele.

Pus a jaqueta sobre minhas coxas e fiquei analisando-a com carinho.

—Hoje eu comprei meu vestido para a formatura. —falei com um sorriso, acariciando a jaqueta— Você iria amar. —senti minha visão embaçar e dessa vez eu não contive as lágrimas. Deixei que elas caíssem na jaqueta. Olhei para minha mãe sentindo as lágrimas escorrerem— Eu queria que você estivesse lá pra ver. Meu primeiro baile. Você tiraria uma foto e falaria coisas constrangedoras para o meu par. Quem sabe, se a senhora estivesse aqui, saberia o que fazer em toda essa situação... Eu poderia estar indo ao baile com o Tom. —dei um sorriso triste e me voltei para a jaqueta— Eu amo o Charles. Ele é o melhor amigo que eu poderia ter. Ele é o único que está me fazendo realmente bem nessa situação...

Fechei os olhos fortemente. Estou me sentindo sufocada e minha voz está tão embargada que falha.

—Eu nunca me apaixonei antes... —falei abrindo os olhos novamente, olhando para a janela do quarto— Eu namorei o Caleb, mas eu era nova e foi... estranho. —franzi as sobrancelhas— E o Thomas é... Bom, o Thomas. —sorri— Eu não sabia que eu gostava dele. Acho que eu ficava em negação por conta de todo o seu histórico, mas sabe, mãe... O Thomas me fez voltar a sorrir. Voltar a gargalhar. Ele me fez confiar nas pessoas e me divertiu tanto. —as lágrimas escorrem e fazem minhas bochechas coçarem, mas não parei de falar— E agora que eu o perdi, eu percebo o quanto fui tola. Eu percebo como eu estava em negação. Rose estava certa. Era tudo negação. Eu não queria me apaixonar de novo, mas não tem como evitar o inevitável, não é? —perguntei a olhando, realmente em busca de uma resposta. Minha mãe se manteve imóvel, é claro.

Respirei fundo, me encostando novamente na poltrona.

—Talvez eu mereça isso. —continuei, olhando para as minhas mãos— Mas eu não vou desistir dele, eu demorei para perceber meus sentimentos, mas eu não vou desistir dele, mãe...

Respirei fundo e limpei as lágrimas com a palma da minha mão.

—Sábado que vem tem o show dos meninos. Talvez eu consiga falar com ele, não é? Talvez eu consiga explicar a situação para ele... —senti meu coração acelerar com a possibilidade— Mas, apesar de tudo, ele escolhe com quem quer ficar. Se ele escolher Carol ou não acreditar em mim, eu não vou mais lutar. Estou em busca principalmente da minha liberdade. Reconquistar Thomas seria um bônus.

E um baita de um bônus.

Peguei minha bolsa e a abri, tirando o papel que eu sempre carrego comigo. De tanto abrir e dobrar novamente, ele já está amassado, mas ainda sorrio ao ler as palavras que estão ali.

"Para a garota desastrada,
Que mesmo com o tornozelo machucado
Ainda me deu um sorriso
E, como sempre,
Inspiração."

Senti meu coração aquecer.

No fundo, me sinto feliz por ser uma inspiração.

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Dei uma mordida generosa na minha pizza.

Chamei meus amigos para virem na minha casa. Hoje é quinta feira a noite, e, para minha surpresa, Érick também veio.

E é claro que Thomas não apareceu.

Todos estamos sentados no chão da sala, inclusive Ann, e estamos conversando.

—Estão empolgados? —Charles perguntou para Érick, se referindo ao show— Soube que vai ser nesse sábado.

—Bastante. —Érick disse após mastigar um pedaço de pizza— Temos algumas músicas prontas, mas precisamos de um baterista, então... —Érick olhou sugestivamente para Nicolas.

—Isso! —Nicolas comemorou empolgado, fazendo todos rirem— Vão ter vários gosto–

Rose deu uma cotovelada em Nicolas, apontando para Ann com os olhos. Ele colocou as mãos na testa e todos rimos novamente. Ann olha tudo com uma expressão confusa.

—Desculpa Ally. —Nicolas falou e eu balancei a cabeça— Quis dizer que vão ter várias pessoas que vão aproveitar o show. —Nicolas diz olhando diretamente para Ann, que sorri— Logo, muito obrigado pelo convite, Érick. Será uma honra.

Érick sorri e volta a comer sua pizza.

—Eu posso ir também, Allyzinha? —Ann pergunta com a boca suja de ketchup— Quero ver o tio Érick e o tio Nicolas. —ela diz com um sorriso.

O jardim de infância tem feito muito bem para a fala de Ann. Ela ainda erra algumas palavras, mas fala bem mais certo do que costumava.

—Pergunte a eles então. —falei limpando sua bochecha.

—Posso? —ela perguntou olhando os meninos, que começaram a rir.

—Garota, eu vou te esmagar. Você é muito fofinhaaaaa! —Nicolas disse e se levantou. Ann soltou um gritinho e começou correr, e Nicolas foi atrás dela. Ao longe, escutei Atena latir. Ela está presa do lado de fora para não roubar nossas pizzas.

Todos rimos mais uma vez.

—Ah, Érickzinho! —Rose disse de repente, fazendo com que todos nós a olhássemos— Diz para o Josh comprar um cosarge vinho. É a cor do meu vestido.

Érick assentiu.

—É verdade! —Charles disse me olhando— Eu tenho que comprar esse negócio! Qual é o nome mesmo?

—Cosarge. —falei rindo— Tem que ser da cor do meu vestido.

—Qual é a cor do seu vestido? —ele perguntou.

—Azul. —respondi, pegando mais uma fatia— Quer ver?

Antes de Charles responder, Rose gritou por cima:

—Não! —todos a olhamos assustados— Ele só pode ver no dia, é a tradição.

Assenti. Eu não sabia.

—Não é um casamento. —Charles disse confuso, terminando seu refrigerante.

—Mesmo assim. É lei. —Rose disse confiante.

—Pior que é verdade. —Érick se pronunciou— Cynthia faltou me bater quando eu pedi para ver o dela. Só me disse que o vestido era lavanda e para eu comprar o cosarge mais bonito que eu achasse.

Todos rimos.

—E como vocês estão? —Rose perguntou.

—Ótimos. —Érick disse corado— Ela é diferente das outras meninas. O jeito dela me lembra muito o seu, Ally. —ele disse me olhando, o que me surpreendeu. Ele tem me evitado e fiquei muito feliz por ele ter me mencionado.

—Sério? E como é o meu jeito? —perguntei sorrindo e ele riu.

—Fofa, educada e estudiosa. Ela é muito calada também, mas fica mais solta com os amigos. Como você. —ele disse carinhosamente. Meu coração se aqueceu ao saber que talvez eu ainda tenha chances de reatar minha amizade com ele.

—Obrigada, Érick. —eu disse com um sorriso grato e ele assentiu.

Passamos o resto da tarde conversando no chão da minha sala. Rimos e nos enchemos de pizza. Depois de arrumar toda a bagunça -mesmo que eu tenha feito questão de arrumar sozinha- todos estão indo embora, e todos vão de carona com Charles.

Observei Érick conversando algumas coisas com Nicolas e senti minhas mãos suando frio com a ideia que surgiu na minha mente.

Talvez... Eu posso fazer Thomas descobrir tudo "por acaso"... Mas eu preciso de Érick.

Eu sinto que ele baixou a guarda hoje... Talvez, só talvez...

Ele é centrado, não é? Érick não faria o mesmo que Rose, ele não correria e esganaria Carol. Érick é calmo.

Respirei fundo, tentando controlar meu nervosismo.

Se Carol descobrir, eu não sei o que ela será capaz de fazer.

Mas eu preciso dar um jeito nessa situação. Já estou a dois meses nesse impasse e nessa mentira de namoro falso. Estou magoando tantas pessoas com isso, e... Céus, eu preciso fazer algo. Eu quero ser livre de novo. Não quero ter que viver com minhas cortinas fechadas, não quero ficar fazendo cenas teatrais de namoro na rua e não quero ter medo pela minha irmã ou pela minha mãe.

Talvez, só talvez...

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Você tá doida? —Charles grita do outro lado da linha.

—É uma ideia, Charles! —eu digo me sentando na minha cama e jogando meus cabelos pra trás— Eu quero dar um jeito nisso!

E a melhor forma que você encontrou pra isso foi em falar simplesmente com pessoa mais próxima da porra do O'brian?! —ele pergunta indignado, me deixando em silêncio— Ally, só do Nicolas saber já é perigoso, sabe como ele é. Imagina se o Érick conta tudo pro O'brian! Não quero nem imaginar! Cabeça dura do jeito que ele é... —Charles não completou.

Soltei um suspiro, acalmando meu tom de voz.

—Talvez, se eu pedisse para o Érick não contar...

E você acha mesmo que ele não contaria? —não consigo ver Charles, mas tenho certeza que ele está jogando o cabelo pra trás pela frustração— O Müuler escolheu o lado de quem ele iria ficar, e óbvio que foi o do melhor amigo dele. Você faria o mesmo pela Rose.

Me joguei de costas na cama, fechando os olhos. Eu sei que Charles está certo, mas assim eu nunca vou sair dessa situação.

Me tremo ao sair na rua. Minha melhor amiga me acha errada, Érick se afastou de mim e Thomas está magoado. Charles está sem conseguir ficar com quem realmente gosta, minha irmã corre perigo e minha mãe não está segura nem naquela hospital.

Suspirei resignada, e de repente, mas sem surpresas, as lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto.

Fecho os olhos para conter os soluços.

Ally? —escuto Charles chamar, mas não tenho forças para responder— Olha, me desculpa, eu não queria ser grosso com você, eu só... Estou preocupado.

Sorri minimamente.

—Você está certo, Charles. Eu só... —abri meus olhos, observando o teto borrado pelas minhas lágrimas— Achei que poderia ser algo. Um avanço.

Nós vamos arrumar um jeito. —ele disse, mas não consigo acreditar em suas palavras repetitivas— Eu realmente não queria te chatear. Me perdoa. Sabe que as vezes eu sou meio grosso assim, mas eu ju–

—Charles. —o interrompi, cansada— Tudo bem. Sério. Bom, preciso ir. Ann foi dormir na casa de Ester, e meu pai tem trabalhado como um louco, agora volta tarde todos os dias da semana. —apertei os olhos, me sentindo muito sozinha de repente— Então sou apenas eu e uma longa de pilha de louças. —Sorri minimamente.

Charles não disse nada, então apenas me despedi rapidamente e finalizei a chamada.

Não era exatamente mentira a pilha de louças na pia, mas eu não ia lavar agora. Tomei um banho rápido e coloquei um pijama, uma blusa larga do Guns N' Roses e um short branco de pano.

Fui até a cozinha e fiz um coque no meu cabelo para ele não me atrapalhar. Mas, assim que peguei a esponja, ouvi um barulho vinda da janela.

Meu coração começou a disparar rapidamente e eu me senti nevosa. Minhas mãos tremeram quando eu desliguei as luzes da sala e da cozinha. Peguei uma faca e fui devagar até a janela.

Os barulhos de batida continuaram e eu me senti cada vez nervosa ao me aproximar.

Quando fiquei agachada na frente da janela, a abri rapidamente e ela bateu no rosto da pessoas que estava do lado de fora.

Ai! —ouvi a pessoa resmungar e senti minhas mãos tremerem. Apertei mais a faca em minhas mãos, e quando tive coragem de olhar para o lado de fora, franzi as sobrancelhas.

—Charles? —perguntei confusa vendo ele sentado no chão do meu quintal com uma das mãos sobre a testa. Atena lambe o braço dele como se não fosse um intruso.

—Minha nossa, que recepção mais rude. —ele disse emburrado e abriu os olhos— Só você me ama, não é, Ateninha? —ele disse acariciando os pelos de Atena, que se joga no chão de barriga pra cima.

—O que você está fazendo aqui, seu louco? —perguntei confusa, estendendo meu braço para o lado de fora e o puxando para dentro de casa. Ele pulou a janela sem dificuldades e eu pus a faca no braço do sofá.

Assim que entrou, Charles coçou a nuca e olhou para o lado, envergonhado.

—Eu... —ele levantou um pano de prato que antes eu não tinha percebido— Vim ajudar com a louça. —ele deu um sorriso amarelo.

Franzi as sobrancelhas e ele suspirou, tirando o sorriso do rosto. Logo depois se abaixou e me deu um abraço, me deixando surpresa.

—Desculpa por ter sido grosso com você. Acho que são esses remédios, e–

—Espera, —o interrompi, empurrando seus ombros e olhando seu rosto— Você veio no meio da noite para se desculpar?

Ele abaixou os olhos e assentiu.

E eu explodi.

Aaaaah! —gritei me jogando em seu colo, ele me segurou no ar a tempo e minhas pernas rodearam sua cintura— Que bonitiiiiiinho! —falei apertando suas bochechas e dei beijinhos no seu rosto— Fofinho! —gritei antes dele me soltar, rindo.

—Acho que você não está brava... —ele disse corado e eu neguei.

—Mas preciso de ajuda para lavar a louça. Vem. —peguei a faca no braço do sofá e puxei Charles até a cozinha. Guardei a faca e comecei meu trabalho.

Charles secou os pratos enquanto conversávamos. Em certo momento, trocamos os papéis, sendo eu a que secava.

A louça acabou muito mais rápido com sua ajuda.

—Obrigada, Charles. —agradeci com um sorriso curto.

—De nada, minha gata. Agora eu preciso mesmo ir. Estou finalizando minha inscrição para a Yale.

Sorri orgulhosa do meu amigo.

—Boa sorte. —dei um abraço que ele retribuiu imediatamente— Você vai conseguir. —disse em seu ouvido.

Ele me deu um beijo na testa e pulou a janela de novo. Me mandou um beijo e sumiu da minha visão.

Me virei com um sorriso bobo.

Charles está tentando controlar seus surtos que têm se feito cada vez mais presentes. A falta das lutas está nítida, mas sua medicação alta tem surtido efeito.

Fechei novamente a janela e fui até o meu quarto, observando meu violão encostado em um canto do quarto.

Tem um tempo que eu não o toco. Talvez por falta de coragem, talvez por desinteresse. Mas, ao olhar aquele violão verde, me lembro dele.

Não, não Thomas; Caleb.

Foi seu presente.

Meu primeiro violão veio do meu primeiro namorado.

Suspirei, apagando as luzes do quarto. Não demorei para adormecer.

*
|o wattpad não gostou muito do meu capítulo e excluiu ele, mas tô repostando porque graças a Deus ele estava salvo kkkk
esse ficou mais curtinho, mas eu não aguentei segurar o capítulo!! eu ia postar amanhã, mas assim que vi que a história bateu 100 views, me derreti todinha! muuito obrigada mesmo, de coração! me faz muito feliz!!

bônus: vestidinhos da Rose e da Ally!!

Rose

Ally

é isso! beijocas e até o próximo!|

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