Capítulo 12 - Foda-se ela, vamos namorar

PARTE DOIS
12

RESPIREI FUNDO, LIMPANDO a saia mais uma vez. Bati as palmas das mãos no tecido, tirando um pouco dos pelos marrons dali.

—Você não para de me sujar, hein? —falei pra Atena que me olha com os olhinhos fofos. Seu tamanho anda triplicando cada vez mais. Sorri e fiz carinho em sua cabeça.

Conferi mais uma vez se as cortinas estão bem fechadas e saí do quarto com uma bolsa pequena em mãos.

—Estou indo, Ester. —dei um beijo na bochecha de Ester enquanto ela lava a louça.

—Vá com Deus, menina Ally. —ela disse com ternura. Observei com carinho seus cabelos louros presos em um coque baixo.

Fui até a sala e sorri ao ver Ann e Jojo brincando no tapete.

—Já vai, Allyzinha? —Ann perguntou se levantando rapidamente e eu assenti. Ela veio me dar um beijo na bochecha e eu retribui.

—Tchau, Ann e Jojo. Não dêem trabalho para a Teté! —falei indo até a porta.

—Pode deixar Allyzinha! —elas disseram ao mesmo tempo.

Sorri e saí de casa. Logo depois de trancar a porta, vi o carro preto estacionando na minha calçada.

Sorri com as sobrancelhas arqueadas assim que o vejo saindo do carro e abrindo a porta para mim com um sorriso sacana. Desci as escadas de madeira surpresa.

—Desde quando você é cavalheiro assim? —perguntei com humor parando na sua frente.

—Além de lindo, estiloso e futuro músico, sou um gentleman. Agora entra no carro, namorada.

—E além disso tudo, é metido, nem é tudo isso e está com o cabelo bagunçado. —eu disse abaixando os fios rebeldes de seu cabelo que está cada vez maior— Agora sim.

—Eu sei que você me acharia lindo até se eu usasse uma peruca.

Sorrio revirando os olhos e quando tento entrar no carro ele me puxa delicadamente pelo braço e dá um beijo na testa.

—Agora sim pode entrar, senhorita Carter. —diz com humor segurando a porta pra mim. Entrei sorrindo e me acomodei no banco.

Depois de bater a porta, ele deu a volta e se sentou ao meu lado.

—Então, senhor gentleman, qual é o nosso destino de hoje? —perguntei colocando meu cinto de segurança. Ele sorri e ajeita sua touca antes de pôr o dele também— Se for shopping e cinema de novo eu juro que te jogo desse carro.

—Nossa, quanta delicadeza! —ele dá partida no carro e começa a dirigir.

—Você não respondeu.

Ele sorriu e tirou dois ingressos do bolso, os levantando entre os dedos sem tirar os olhos da estrada.

The Black Crows, babe. —ele falou com humor.

brincando! —sorri entusiasmada puxando os ingressos de suas mãos— Sabia que a primeira vez que eu os vi tocando foi na praça? Eu fui a primeira a ouvir "Geronimo!" —falei com empolgação, tirando minha atenção dos ingressos e agora o analisando. Ele sorri de canto, como sempre.

—Que eu saiba, a praça é pública, minha gata. Impossível ter sido só você. —ele disse com humor— Não precisa ficar se achando. Pode dizer que eu sou um namorado incrível.
—ele estufa o peito e eu reviro os olhos, sorrindo.

—Cala a boca, Charles.

Ele sorriu mais uma vez e foi dirigindo até o bar. Após algum tempo em silêncio, ele se remexeu no banco e pigarreou, antes de se dirigir para mim.

—Então... Carol? —ele perguntou com cuidado, me fazendo soltar um suspiro e voltar a olhar a cidade passando rapidamente pela janela.

Desde aquelas mensagens, minha vida tomou um rumo completamente diferente. As minhas fotos não pararam de chegar para meu número e muito menos as ameaças.

Minha preocupação aumentou ainda mais quando, no dia seguinte, recebi uma foto minha me trocando. Não aparecia nada, mas desde então eu soube que não era mais uma brincadeira de uma adolescente apaixonada. Aquilo era coisa séria.

Carol estava passando dos limites. Eu ficava apavorada cada vez que recebia uma foto minha acompanhada de uma ameaça nada agradável.

O meu pânico foi crescendo cada vez mais e eu não vi escolha que não fosse marcar de me encontrar com ela.

Eu, pela primeira vez, respondi suas mensagens e a pedi para me encontrar na praça. E ela foi.

"—Carol, o que você quer de mim? —perguntei quando ela finalmente se sentou ao meu lado no banco.

Observei seus cabelos pretos perfeitamente presos em um coque e sua maquiagem. Ela parece uma boneca de porcelana, mas é tão cruel quanto a Anabelle.

—Que recepção mais hostil, Allyzinha! —ela disse com deboche, colocando um pirulito na boca.

—Hostil é o que você está fazendo comigo! —exclamei um pouco mais alto do que deveria e respirei fundo, me recompondo— Por favor, me diga o que preciso fazer para você parar.

Sua expressão mudou completamente. A doce menina agora tirou sua máscara. Ela deu aquele sorriso sinistro que me fez arrepiar por completo.

—Eu quero você longe do O'brian e você sabe disso. —ela falou séria.

—Mas–

—Não me venha com 'mas!'! —ela me interrompeu irritada— Eu sei dos sentimentos dele por você. Eu vi os desenhos idiotas. —ela abaixou o tom de voz e revirou os olhos, se encostando de novo no banco.

Direcionei meu olhar para os meus pés sentindo meu coração falhar.

—Ele vai me procurar se eu sumir do nada. —comentei baixo, agora brincando com os dedos das minhas mãos.

—É só ignora-lo.

—E se ele vier pessoalmente falar comigo? Eu só fico calada e saio andando? —perguntei com raiva, agora a olhando.

—Controle o tom que você fala comigo.

—Ou o quê? —perguntei com raiva, me levantando e a encarando de cima. Ela arqueou as sobrancelhas surpresa. Ela parecia estar se... Divertindo. Mas mesmo assim, não parei— Se você quer expor umas fotos minhas, vá em frente! Poste tudo nas suas redes sociais idiotas, faça o que quiser, mas pare de me pedir para me afastar dele! Thomas é meu amigo acima de tudo, Caroline. Eu... Eu... —senti minha voz embargar e olhei pra baixo, apertando os punhos com força.

Ouvi um som de palmas e olhei para Carol confusa.

—Uau! —ela parou de aplaudir e tirou seu pirulito da boca— Então você já está apaixonada? Quem diria... Achei que só tinha sido um beijo. —ela deu de ombros, o que me fez sentir ainda mais fúria, mas antes que eu falasse algo, ela levantou sua mão, me interrompendo— Já que uma conversa amigável não está adiantando, terei que ser desagradável, Ally. Sinto muito. —ela diz com falso remorso e fico ainda mais confusa. Quando ela tirou algumas reveladas de dentro da sua bolsa, senti vontade de revirar os olhos.

Até ela me entrega-las.

Me senti desabar e mal senti a dor de quando meus joelhos bateram no gramado da praça. As fotos começaram a ficar molhadas por conta das gotas que caíam nelas.

Ann.

Ann saindo da escola. Ann passeando com Ester. Ann brincando com Jojo na praça e papai observando. Mas a que mais me assustou foi uma foto da...

Minha mãe.

Em seu leito, dormindo serenamente. Essa era a única foto que tinha algo escrito. Carol escreveu com uma caneta vermelha 'silêncio, essa vadia está dormindo'.

Minhas mãos ficaram trêmulas e eu olhei para Caroline com um nojo muito maior do que qualquer ameaça sua.

—Que droga é essa, Caroline... —murmurei indignada sentindo minha garganta doer pelo choro.

—Se não for por você, que seja pela sua irmã. Ou pela sua mãe. —ela disse com um sorriso mínimo enquanto analisa suas unhas enormes— E então? —ela me olhou."

Eu nunca senti o verdadeiro ódio em toda a minha vida. E, quando ele vem, vem misturado com repugnância. Pavor.

Eu senti o medo mais puro dela fazer algo com minha irmã.

Ela disse que estaria sempre me observando e saiu daquela praça com a maior tranquilidade possível. Guardo aquelas fotos até hoje caso um dia precise, mas sei que é inútil.

A justiça está à favor de Carol.

Depois de chorar por muito tempo no chão da praça, eu tive a sorte de Charles aparecer. Eu não consegui dizer nada, apenas deixei que ele me levasse para seu apartamento novo. Lá eu chorei tudo que eu não tinha chorado ainda. Ele me abraçou, me acolheu, ficou com raiva, socou coisas e até quis ir na delegacia, mas ele sabia que seria inútil. E eu também sabia.

E lá, nós tivemos essa "brilhante ideia".

Namorados de mentira soou clichê e um pouco piegas para mim, mas eu não encontrei outra saída. Carol precisava ver que eu estava longe de Thomas.

E, ele...

Ele me procurou muitas e muitas vezes. Me ligou por muitas semanas, tentou me encontrar... Eu tive que fazer a pior coisa possível e machucou muito o meu coração, mais do que eu achei que pudesse.

Eu fui até o petshop com Charles, pois eu sabia que era o único lugar que ele com certeza estaria.

Fui abraçada com Charles. Ficamos fingindo ser um casal procurando algumas coisas para Atena. A cena de Thomas saindo do estoque e olhando diretamente para mim machucou o meu coração. Não só machucou; eu senti como se ele tivesse se partido. Não ao meio, quem me dera fosse. Foi como se ele tivesse caído de uma altura muito grande e se dividido em muitos estilhaços.

Ele me olhou com o cenho franzido. Por um segundo, eu o olhei de volta, implorando para ele entender que era uma farsa, implorando para que ele visse que era por ele que eu estava apaixonada, e não pelo Charles. Queria que naquele segundo infinito ele tivesse visto o quanto eu o queria e como ele tinha tirado o meu medo de relacionamentos. Era tudo o que eu queria.

Mas meu rosto foi puxado e o contado visual foi impedido. Charles me beijou na frente dele e aquele beijo foi dolorido, mesmo que Charles beije muito bem.

E depois que ele terminou, meus olhos correram para a porta do estoque.

Mas Thomas não estava mais lá.

Senti meus olhos marejarem e ouvir as mil desculpas de Charles fez com que eu me sentisse ainda pior. Eu não fiquei com raiva dele, claro que não. Era o combinado e foi necessário.

E as ligações pararam. Eventualmente, as mensagens de Carol também, exceto por uma última alegando que eu fiz bem e que deixaria minha família em paz, mas que ainda estava de olho em mim. E ela me lembrava disso toda semana, ao me mandar uma foto minha com Charles nas nossas "saídas de casal". Ela mandava carinhas apaixonadas e comemorava feliz pelo "novo casal". Em todo momento precisamos sustentar a farsa. Para não levantar suspeitas, ninguém de fora, exceto Nicolas, sabe da verdade. Não pude contar para Rose porque eu tenho certeza que a primeira coisa que ela faria era pular no pescoço de Carol.

Claro que ela não entendeu nada. Nem o Érick. Em um dia estava me dizendo gostar do Thomas, e em menos de dois meses, apareço namorando outra pessoa.

Ela me apoia, mas já me fez muitas perguntas. Tive que dar meu jeito para contar uma história convincente; eu disse do dia em que vi Jenny e Thomas e que aquilo me fez ver que eu estava apenas confundindo as coisas. Contei a história do piano de Charles para Rose e fingi que aquilo me fez ver que era dele que eu gostava.

Claro, ela demorou um pouco para engolir, mas no geral, está feliz por mim.

Mas, o que me dói, é ter perdido Érick.

Ainda nos vemos quando o grupo -exceto Thomas- sai. Já marcamos vários passeios entre nós, e Érick apareceu em pouquíssimos. Toda a evolução de amizade que eu tinha tido com ele, se foi. Ele me trata com educação demais e não troca mais de duas palavras comigo. Ele está do lado do Thomas eu não posso julgá-lo.

Eu me pergunto se eu peguei muito pesado. Talvez, eu não devesse ter inventado isso. Talvez eu devesse ter dito tudo para Thomas, ao invés de aparecer beijando o cara que ele odeia em sua frente.

Mas não adiantaria. Ele continuaria me procurando se não fosse assim. Tive medo pela minha irmã, e sabe-se lá o que aquela psicopata poderia fazer com minha mãe.

Não passo um dia sem pensar em Thomas. Eu acho que, quanto mais longe dele, mais eu sinto sua falta e mais eu o quero.

Mas eu não posso tê-lo.

Respirei fundo e me virei para Charles.

—O mesmo de sempre. Daqui a pouco vou receber uma foto nossa no show e ela vai me deixar em paz por mais uma semana. —falei baixo e vi Charles apertando o volante com força.

—Eu sinceramente queria muito bater nela, mesmo que ela seja uma mulher.

Ri com desdém, voltando meu olhar para a janela.

—Ela não é uma mulher de verdade. Mulheres não deviam fazer o que ela está fazendo. Ela é gente, apenas.

Charles pôs uma mão na minha coxa e apertou levemente, em apoio.

—Vamos arrumar um jeito. Eu prometo. —nos olhamos rapidamente e eu assenti grata, apesar de não acreditar muito nessas palavras. Já não tenho mais esperanças. Ele voltou a olhar para a estrada— Já já você estará nos braços do seu ruivinho idiota e vocês serão namorados de verdade.

Ri baixo.

—Isso se ele não quiser matar meu namorado de mentira primeiro. Não vou conseguir namorar um cara que está na cadeia.

Charles riu alto, tirando a mão de minha coxa.

—Ele não tem a mínima chance contra mim. —estufou o peito— Já acabei com ele uma vez, lembra?

E tem isso. Finalmente descobri os porquês e Thomas odiar tanto Charles, e, sim, tem mais de um motivo.

No dia em que encontrei Thomas bêbado na The Player, nas minhas primeiras semanas aqui, ele tinha desaparecido da escola pois estava machucado. Ele estava com raiva de um cara que tinha feito ele perder uma luta pela primeira vez.

Bom, agora eu sei quem foi o tal cara.

E, além de Charles ter feito Thomas apanhar bastante, Charles o chamou de coisas nada agradáveis e disse que "comeria" a irmã dele.

É claro que Charles não fazia ideia de que a irmã dele tinha câncer e é uns dez anos mais nova que ele, mas assim que soube da história, tentou se retratar. Isso foi alguns dias depois do meu aniversário. Apesar de Thomas dizer que não, eu sei que ele estava mais tranquilo com Charles.

Mas agora, o cara que ele odeia namora a garota que ele queria.

Isso fez com que Charles parasse de ir para o clube da luta e na mesma medida aumentasse a dose dos seus remédios para bipolaridade. Querendo ou não, o clube era uma escapatória para a raiva de Charles, e Carol conseguiu tirar isso dele também.

Sinto falta de Thomas. Ele nunca mais me procurou, óbvio. A última vez que eu o vi terminou de quebrar os estilhaços do meu coração.

Ele estava na praça, de mãos dadas, com Carol. Ela conseguiu o que queria. Eles são namorados agora. Ou pelo menos é como ela nomeia essa relação.

Eu me tremi toda quando os vi. Eu queria correr até eles e empurrar Carol dali, dizer para ela ficar longe de Thomas.

E, como se ela soubesse que estava sendo observada, olhou diretamente para mim. Ao me ver, sorriu e levantou o polegar pra mim. Eu saí de lá correndo e com os olhos cheios de lágrimas.

Eu não consegui olhar nem para as costas de Thomas naquele dia. Eu só sabia que era ele pois vi de relance alguns fios ruivos. E é claro que o agradecimento discreto de Carol apenas confirmou tudo.

Se ela está namorando com ele, eu não entendo o porquê dela ainda me perseguir. Acabou, ela conseguiu o que queria, e eu estou "namorando". Por que ela não me deixa em paz?

São perguntas sem resposta e, enquanto isso, vou ter que viver nessa tortura.

A única parte boa disso tudo é passar tempo com Charles e Nicolas.

Eu estou com eles na maior parte do tempo e eles me divertem tanto que eu me esqueço de todos os problemas que estou sendo obrigada a enfrentar. De qualquer forma, sou grata a eles dois.

Namorar Charles, mesmo que de mentira, é muito bom. Ficamos muito mais amigos e ele faz questão de lamentar todas as meninas que ele perdeu por conta desse namoro. Ele me fez prometer que descolaria algumas para ele.

Ele nunca mais me beijou. Nós namoramos por não termos outra saída, e ele me respeita muito. Somos parceiros demais, e ele é o melhor amigo barra namorado de mentira que eu poderia ter.

—Estamos chegando. —ele mudou de assunto— Ansiosa?

Sorri verdadeiramente.

The Black Crows, a banda que eu assisti com Thomas na praça no dia em que fizemos as pazes, estourou em Benkeler. As redes sociais fora preenchidas com vídeos e vídeos de seus shows na praça e, aos poucos, eles estão crescendo cada vez mais. Estão tocando em bares universitários e pequenas casas de show. Em Benkeler, são um sucesso.

Charles se tornou um grande fã por conta dos vídeos. Passamos algum tempo ouvindo as três músicas autorais deles e dançamos muito da sala do apartamento que ele e Nicolas dividem.

—Muita coisa! —falei empolgada e ajeitei a bolsinha que eu trouxe— Eles mandam muito.

Sorri triste ao me lembrar de quando eu e Thomas dançamos juntos. Foi tudo tão real. Tão bonito.

Céus, como eu sinto falta dele.

Eu não sei quando eu me apaixonei por ele. E, sendo sincera, nem sei se estou apaixonada, mas... Ele mexe comigo. Eu não acredito que caí de amores pelo Thomas O'brian, mas, céus, aconteceu.

E que queda dolorosa.

Respirei fundo e peguei meu celular na minha bolsa. Abri mais uma vez minha galeria. Entre minhas poucas fotos, fui direto na favoritada. A foto dele sentada com o sol batendo em seu rosto. Seus olhos fechados e seu sorriso curto.

O que eu não faria por mais um beijo daquele...

.
.
.

Aplaudo fervorosamente e grito como louca. Sinto minha cabeça rodar um pouco e definitivamente estou rouca, mas não ligo.

Que show!

Observo um Charles duplicado ao meu lado e sorrio ao vê-lo sorrindo pra mim.

—Gostando? —ele grita para que eu possa ouvi-lo. Por conta da música alta que a banda toca, está difícil se comunicar.

Assenti com um enorme sorriso.

—Obrigada! —eu digo e os dois Charles assentem e se voltam para o palco.

Bebi mais um gole da lata de cerveja que eu sinceramente não lembro mais qual é.

Eu não costumo beber, mas Charles tem me ensinado a ser uma apreciadora de cerveja.

O gosto deixou de ser tão amargo e agora eu só sinto prazer ao beber uma cerveja bem gelada.

Ou talvez umas cinco.

Quantas eu bebi mesmo?

Continuei pulando sem nem perceber e de repente estou nos braços de Charles. Aceito seus braços e olho em seu rosto. Ele tem quatro olhos.

—Você é lindo, sabia? —eu gritei por cima da música. Ele arregalou levemente os olhos— Eu sei que gosto do O'brian, mas ele me odeia! Podíamos fazer esse namoro ser real.

As duas bocas de charles soltaram uma risada enquanto ele desvia o olhar e me afasta com delicadeza.

—Ally. —ele aproxima meu corpo do dele e dessa vez não grita mais, pois está falando em meu ouvido— Eu não sou o melhor amigo do O'brian e nem o acho lá essas coisas, mas sei que não tenho a mínima chance contra ele. Eu perdi você.

Franzi as sobrancelhas.

—Mas eu estou aqui! —exclamei e ele riu um pouco.

—Você é a garota mais linda que eu já conheci. —ele colocou meu cabelo atrás da minha orelha— E também a mais legal. Eu perdi completamente a atração que eu tinha por você e te vejo, de verdade, como minha melhor amiga. —ele falou gentilmente— E, como seu melhor amigo, eu digo: Você é completamente louca por aquele idiota e eu não estou aqui para roubar a garota de ninguém.

—Eu não sou a garota de ninguém! —falei emburrada e ele riu se soltando de mim. Observei os três Charles e ri.

—Você tem mais de um irmão gêmeo. Ou esse é o Nicolas? —perguntei tombando a cabeça para o lado.

Acho que o Nicolas está com as roupas do Charles, mas... Quem é esse terceiro?

Estiquei minha mão para tocá-lo mas ela passou direto.

Ri.

—Tem um fantasma aqui! —gritei para Charles.

Seu corpo vibrou em uma risada e o mundo começou a andar ao meu redor.

Olhei para meu braço. Ele está sendo agarrado pelo Nicolas, pelo Charles e pelo fantasma. Fechei os olhos e quando eu os abri eu estava me encarando.

—Lava o rosto. —ouvi a voz de Charles, mas ela soa longe.

—Como eu estou me vendo? —perguntei esticando a mão. A minha outra eu esticou ao mesmo tempo e de repente eu toquei em algo duro. Sorri— Ah, é um espelho! —gargalhei um pouco.

Charles segurou meu cabelo e eu lavei meu rosto com água gelada. Sequei com papel e quando eu olhei para trás, fiquei feliz ao ver apenas o Charles.

—O fantasma sumiu! —falei feliz e Charles sorriu também, abraçando meus ombros e me levando para fora do banheiro.

—Vem, vamos beber uma água.

Ele me levou até o balcão e eu o ouvi pedir duas águas. Olhei ao redor enquanto balanço minha cabeça no ritmo da música que não conheço.

Vasculhei meus olhos pelas pessoas e meu coração falhou quando eu vi a cabeleira ruiva de costas pra mim.

Os cabelos ondulados estão presos em um pequeno rabo de cavalo alto. Ele está com uma blusa branca de mangas longas e uma calça jeans preta.

Ele está... Diferente.

Observei com um cenho franzido o brinco em sua orelha direita. Ele dança com um copo em mãos.

Meus pés não me obedeceram. Mandei Carol pro espaço e fui andando até Thomas.

Ruivo. Meu ruivinho.

Andei até ele e senti os estilhaços do meu coração criando asinhas e voando de encontro um para outro.

Quando cheguei perto o suficiente, o cutuquei e ele virou para trás.

Meu coração parou um momento e antes que ele me olhasse eu já soltei um:

—Thomas, me desculpe, eu estou apaixonada por–

Mas eu fui interrompida por olhos castanhos. Não verdes. Castanhos.

Sem sardas; a sobrancelha e cílios são pretos, não ruivos. O cabelo sequer é ruivo. É um castanho bem claro.

Mas, como?

Era o Thomas. Eu... Eu tinha certeza.

—Está tudo bem? —O não-Thomas pergunta, mas tudo o que eu consegui fazer foi sair correndo daquele ambiente fechado. Enquanto esbarrava em pessoas e ouvia alguns xingamentos, meu coração se despedaçou de novo.

Eu não vou mais vê-lo.

Ao chegar no lado de fora, respirei fundo. Há algumas pessoas escoradas em carros se beijando. Revirei os olhos e ajeitei a alça da minha regata preta, na medida que ajeito minha saia jeans da mesma cor.

Sentei sobre o capô do carro dos pais de Charles e respirei fundo, passando as mãos pelos cabelos e sentindo minha cabeça doer.

—Finalmente! Sua doida! Não sai mais assim! —Charles chega de repente. Levantei meu rosto na sua direção e ele franziu as sobrancelhas. Ele me estendeu uma garrafa de água e eu bebi ela inteira— Minha nossa! —ele exclamou com um sorriso surpreso. Sorri minimamente e peguei a garrafa de cerveja que ele estava segurando— Pode ficar, só porque está triste. —ele disse e se sentou ao meu lado no capô.

Brindamos, eu com minha garrafa de cerveja e ele com sua garrafa de água.

—Obrigada por tanto, Charles. Eu amo você. —eu disse sentindo minha voz embriagada. Ele me olhou por um momento e abriu um sorriso— Eu sei que estou bêbada, mas esse sentimento veio muito antes do álcool. Queria que soubesse. —olhei pra frente novamente e escutei Charles rir. Ele me abraça pelos ombros e dá um beijo na cabeça.

—Também te amo, minha gata. Agora chega de sofrer por aquele imbecil e vamos aproveitar a porra do show.

Assenti e senti o mundo rodar ao me levantar. Voltei para aquele lugar escuro e abafado, mas eu precisava dele. Abri caminho entre as pessoas e fui pra frente do palco pular e cantar junto com aquelas pessoas eufóricas. Charles aparece ao meu lado e eu sorrio pra ele. Gritamos o refrão da música juntos e, como se tivesse sido combinado, após a música acabar e todos aplaudirem entusiasmados, gritamos juntos:

—Eu te amo!
.
.
.

Já estava tudo completamente borrado quando decidi me sentar em um banquinho no balcão do bar.

Observei o ambiente. O as luzes coloridas e piscantes combinam com o ambiente escuro e fechado. A música alta e forte faz meu coração bater no mesmo ritmo. As pessoas dançando, algumas mais bêbadas que outras, são engraçadas. A maioria se beijando em algum canto ou até mesmo na pista. Fiz uma careta. Esse lugar não combina nada comigo.

Me virei pra frente novamente e vi um barman fazendo várias bebidas ao mesmo tempo. Comecei a dar uma "checada". Não por interesse, somente por ser uma mania -muito feia- minha.

Ele é bem alto, com os cabelos curtos e pretos, e a pele bem branca. Os olhos são verdes pelo visto, mas não posso concluir isso com certeza, já que o lugar está escuro. Ele está com uma blusa social azul marinho -com as mangas dobradas até os cotovelos- e um avental amarrado na cintura.

Fiz uma careta, me lembrando dos olhos verdes de Thomas.

—Quer alguma coisa, moça bonita? —o barman perguntou enquanto secava um copo com uma toalha.

—Vocês tem um suco aqui?

Ele soltou uma risada nasal e guardou o copo embaixo do balcão.

—Nós não servimos suco. —ele disse e apoiou os braços no balcão, se curvando pra frente e ficando mais perto de mim. Isso confirmou minha teoria, suas orbes são verdes com vários pontinhos castanhos— Mas se quiser eu posso preparar algo fraco.

—Olha... —observei a "plaquinha" de acrílico na blusa dele— Charles. Veja só! —gritei, muito mais animada do que normalmente eu estaria ao ver essa coincidência — Eu vim com meu amigo e ele também se chama Charles! Igual a você! —ri mais um pouco, tendo a sensação de que estou falando devagar e embolado.

—Ah, é? —Charles, o barman, pergunta, visivelmente achando graça — E onde ele está?

Fiz uma expressão de puro orgulho e pedi pro Charles se aproximar um pouco, para ouvir meu segredo. Ele apoiou os braços no balcão novamente, e mirou o ouvido em minha direção.

—Eu o despistei! Mas não diga pra ele! —digo baixo com um sorriso orgulhoso.

O barman riu e se afastou.

—Não quero te decepcionar, mas acho que à essa altura, ele já percebeu.

Dei de ombros, sem me importar realmente.

—Então, Charles, eu quero que você me dê a coisa mais forte que vocês tiverem aqui.

Charles me olhou e sorriu divertido.

—Você não parece ser alguém que bebe tanto.

—Você não me conhece. E eu já estou levemente alcoolizada. —falei e, para demonstrar, aproximei meu dedo indicador e meu polegar em forma de pinça, como que para enfatizar que estou um pouco bêbada - mesmo que eu ache que esteja um pouco mais bêbada do que esse curto espaço que separa meus dedos.

—Eu sou um barman. Conheço muita gente sem nem saber o nome. E, pra você ter pedido um suco em uma boate, ou está dirigindo ou não bebe. E também você fez muitas caretas olhando em volta. Você não é o tipo de pessoa que sai pra uma boate.

O olhei aturdida.

—Você é um bom observador. —falei com um sorriso tímido e sentido minha bochechas esquentarem. Não posso negar que me sentir um pouco invadida com as declarações dele— Só quero esquecer minha vida hoje. Preciso ficar mais bêbada.

Ele sorriu novamente.

—Já sei do que você precisa. —ele disse se virando e preparando algo que eu não sei.

Eu não entendo nada de bebidas. De certo já vi algumas serem preparadas, mas essa eu não sabia nem o que ele estava colocando.

Eu o vi colocar gelo e depois se virou novamente pra mim.

—Uma tartaruga ninja pra você. —tartaruga ninja.

Senti meu coração se apertar, minha mente projetando o rosto de Thomas tão rapidamente e com tanta eficiência que meu cérebro bêbado acha por uma fração de segundos que ele está realmente aqui - mas não está.

—Tartaruga ninja? —me peguei perguntei confusa.

—Sim, tartaruga ninja. É forte. Tome devagar. —ele disse e sorriu minimamente pra mim, indo atender outro cliente. Tem ele e mais dois barmans trabalhando ali dentro.

Esse balcão é como se fosse um círculo que fica no meio da boate. A única abertura que tem é onde há uma portinha de madeira, pra eles entrarem e saírem.

Observei minha bebida verde com um canudinho. O copo de vidro é um pouco maior do que eu gostaria. Decidi tomar coragem e experimentar um gole.

Logo senti um gosto muito forte de vodka e limão. Fiz uma careta. Isso é azedo e forte. Como alguém bebe isso?

—Gostou? —Charles barman perguntou gentil logo após ter atendido uma menina.

—Não. —fui sincera, ainda sentindo o gosto forte na boca— Mas se isso vai me ajudar a esquecer aquele ruivo idiota, pelo menos por algumas horas, eu aceito. —Tomei coragem e tirei o canudo do copo, pegando o guardanapo que estava debaixo do mesmo e pousando o canudo ali. Contei até três e virei tudo de uma vez, quase vomitando no processo.

—Ei ei ei!  —o Charles disse pegando o copo da minha mão, agora quase vazio— Eu disse pra beber devagar, isso é muito forte. —ele disse sério e colocou o copo de volta na minha frente.

—Eu quero ficar louca! —disse sorrindo e sentindo um gosto horrível na boca, a vontade de vomitar muito maior do que anteriormente.

—Melhor você não beber mais. —Charles disse com as sobrancelhas franzidas e a boca fechada em uma linha fina, claramente preocupado.

—Não se preocupa Charles barman! Eu vou ficar ótima! —disse rindo e sabendo que o efeito do álcool dessa bebida verde está se misturando com muitas latinhas de cerveja que eu tomei anteriormente.

Eu tenho tanta sorte de não terem pedido minha identidade.

Peguei o copo novamente e dessa vez virei o que sobrou. Dessa vez o vômito subiu, mas eu engoli tudo de novo.

Ele me olhou preocupado.

—Eu tô bem, Charles. Me dá outro desse aqui. —disse me sentindo estranha. Parece que eu não estou mais me controlando.

Ele me olhou novamente e depois se virou e pegou uma garrafa enorme com um líquido transparente dentro. Colocou em um copo médio e colocou bastante gelo.

—Bebe isso aqui. —ele disse colocando a bebida na minha mão e tirando o copo que estava com a tartaruga ninja.

Ri do nome da bebida. Tartarugas ninjas são tão legais!

Menos Thomas. Ele é uma tartaruga ninja muito má. Pena que é tão bonito.

Seria tão mais fácil supera-lo se ele fosse uma tartaruga!

Balancei a cabeça, espantando esses pensamentos. Agora eu preciso esquecê-lo.

Bebi um gole da bebida e não senti gosto de nada.

—O que é isso que você me deu, Barles? —comecei a rir do nome dele. Quem se chama Barles?

—Meu nome é Char-les. —ele disse devagar pra eu entender— E isso é água. Pra você tirar o gosto da boca.

—Eu não quero água. —disse fazendo uma cara feia e empurrando a bebida de lado. Me senti tonta ao fazer isso, mas ignorei.

—Quer dizer... —ele parou um pouco pra pensar. Que panaca!— Isso é vodka. você ouviu errado. Agora bebe tudo.

Me animei com a ideia de estar bebendo novamente. Virei tudo de uma vez, mas ainda não senti o gosto.

—Isso não tem gosto de vodka. —disse embolado. Ri de como estava minha voz-— Cirley, sabe, minha vida tá tãaaaaaaaaao triste. —disse sentindo um nó na garganta.

—Me fale mais sobre isso enquanto bebe mais um copo de vodka com gás, sim? —logo ele  se virou e pegou uma garrafa igual a outra, mas essa tinha umas bolinhas de gás.

Eu fiz careta para a vodka e voltei a olhar ao redor. Será que Charles, meu amigo, está me procurando?

—Bebe a sua vodka. —ele disse empurrando o copo pra mais perto de mim.

—Ah é! tinha esquecido! —comecei a rir e virei de uma vez, sentindo um gosto um pouco amargo e o gás machucando um pouco minha garganta— Ai! —reclamei e comecei a sentir meus olhos lacrimejando pela dor.

–Ei! Não chora não! —ele disse rindo e se virou de novo. Dessa vez me estendeu um pirulito— Toma. Pra você.

Peguei o pirulito com os olhos brilhando. Tirei a embalagem e coloquei na boca, sentindo o gosto doce.

—Obrigada! —ele assentiu.

—Qual é o seu nome? —ele perguntou.

—Ally. —disse com a boca cheia— E o seu é Cirley.

—Não, meu nome é... Ah, deixa pra lá. Acho melhor você voltar pra casa, Ally. Cadê seu amigo?

—Não! —falei desesperada— Pra casa não! eu quero dançar! —disse e me levantei cambaleando, fui até a pista com a bolsa pendurada no pescoço.

Comecei a dançar no ritmo da música dos TBC'S que eu nem sei o nome. Senti mãos na minha cintura  e olhei pra trás, vendo um garoto moreno sorrindo.

Tirei as mãos dele da minha cintura me sentindo incomodada.

—Que isso garotinha, pensei que estava sozinha.

Garotinha. O Tom me chamava assim.

Comecei a chorar e o pirulito caiu da minha boca.

—Tom! —exclamei chorando e abraçando o homem na minha frente— Eu senti tanto a sua falta! —ele me abraçou e continuou dançando, enquanto abaixava as mãos até minhas nádegas.

—Ei! —disse me soltando dele, que me puxou pelo braço-—Me solta! —gritei chorando ainda mais, logo Charles - meu Charles - empurrou o homem pra longe de mim.

—Ela disse pra você soltar ela!

E é a última coisa que eu me lembro.

.
.
.

Cocei meus olhos e senti tudo rodar. Olhei para o lado e vi que estou sozinha em uma cama.

Me desesperei levemente ao ver que definitivamente não é minha cama, mas relaxei ao ver os pôsteres de bandas, de faculdades e um monte de roupas espalhadas pelo quarto.

Levantei da cama bocejando e observei a camisa longa em meu corpo. A blusa preta tem escrito "The Beatles".

Fui até o banheiro e escovei meus dentes com a escova que encontrei na gaveta. Joguei uma água gelada para ver se a dor de cabeça passava um pouco, mas não passou. Ao sair do banho, vesti novamente a blusa dos Beatles e minha saia jeans que estava pendurada em um dos ganchos junto com o short que eu pus por baixo dela.

Saí do quarto penteando meus cabelos médios com os dedos e fui até a cozinha, encontrando Charles e Nicolas conversando animadamente enquanto cada uma toma uma xícara de café.

Eles notam minha presença e sorriem. Me sento ao lado do Nicolas em um dos banquinhos da ilha da cozinha.

—Bom dia, princesa. —Nicolas diz me lançando um olhar divertido.

—Está mais pra bruxa má. Viu como ela chegou aqui ontem? —Charles disse irônico bebendo um gole do seu café.

—Engraçadinho. Bom dia pra vocês. —disse com um sorriso curto e Charles colocou uma xícara de café na minha frente— Obrigada pela gentileza, Campbell. —falei seu sobrenome ironicamente e ele levantou sua xícara.

—Mandamos uma mensagem para seu pai falando que você dormiu na Rose e também falamos com ela para confirmar a história. —Nicolas disse e eu senti alívio me preencher— E você está com o passe de paz dessa semana. —Nicolas pegou meu celular e me entregou. Está aberto em uma foto minha e Charles brindando.

Revirei os olhos, mas pelo menos ela não vai mais me incomodar.

—Cara, isso é bizarro. —Charles disse pegando o celular das minhas mãos— Como nunca a vemos?

Fechei os olhos e massageei minhas têmporas. Não quero me preocupar com isso agora.

—Ou ela estava longe o suficiente pra que não a vissem ou ela tem algumas pessoas infiltradas. —Nicolas falou e eu assenti.

—Qualquer uma das duas, não sinto mais medo. Carol está tranquila e não tem mais me ameaçado. Uma hora ela vai cansar de ficar me perseguindo e vai viver seu conto de fadas psicótico com o O'brian. —falei abrindo os olhos e bebericando um gole do meu café— Charles, pode me dar uma aspirina por favor?

Charles assente e me dá uma aspirina e um copo de água, no qual bebi rapidamente.

—Obrigada.

Ele assentiu e me analisou.

—Pretende devolver minha blusa? —ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

—Está brincando? Nunca que eu devolvo uma blusa dos Beatles. Agora é minha.

Ele revira os olhos sorrindo.

—Afinal, como eu estou a vestindo? —perguntei constrangida. E se eles me viram só de roupa de baixo?

—Me respeita, mulher! —Nicolas falou revirando os olhos— Da fruta que você gosta eu chupo até o caroço. Até o talo. —ele continuou me deixando ainda mais vermelha— Charles te deu e você se trocou sozinha no quarto. Você não se lembra?

—A última coisa que eu me lembro é de gritar com Charles no show. —falei rindo sentindo meu coração se aquecer. Até onde me lembro, foi um grande show.

—Ah!. —Charles soltou uma gargalhada e finalizou sua xícara de café— Então você não lembra de ter desaparecido, flertado com um dos barmans -que por coincidência também se chamava Charles e você achou isso hilário- e da minha briga com um cara bêbado que passou a mão em você?

Arregalei completamente os olhos. Meu Deus.

Minha dor de cabeça apenas piora enquanto eu tento forçar a minha mente a se lembrar de todas essas coisas.

—Aquele assediador de merda foi expulso. Depois você desmaiou bêbada no meu carro e eu te trouxe pra cá. —Ele disse rapidamente enquanto eu rodeio meu dedo pela borda da xícara.

—Nunca mais eu bebo. —digo sentindo a vergonha tomar conta de cada célula do meu corpo.

Como eu pude fazer essas coisas? Eu enlouqueci?

—É o que todos nós dizemos, minha cara. —Nicolas disse dando tapinhas em meu ombro— Agora vou me apressar, tenho serviço.

—No sábado? —franzi as sobrancelhas.

—O dinheiro não cai do céu! —ele gritou antes de fechar a porta do apartamento.

Nicolas tem se esforçado bastante. Agora que terminou a escola, ele arrumou um emprego em uma loja de roupas. Inclusive, tingiu seu cabelo de preto novamente, para ser levado a sério. Ele tem juntado dinheiro para a faculdade de design gráfico que ele tanto sonha em fazer.

Charles foi se arrumar em seu quarto e eu peguei meu celular e entrei na conversa de Rose, vendo as mensagens que mandaram pra ela. Rose riu e concordou.

Liguei pra ela e pedi para irmos juntas comprar nossos vestidos para o baile. Ele estava cada vez mais perto e esse namoro de mentira caiu em boa hora. Agora tenho um acompanhante.

Ela concordou muito animada para comprar roupas e finalizamos a chamada.

Logo depois eu senti uma mão em meus ombros e olhei para o alto, vendo Charles sorrir para mim e levantar um controle com a outra mão.

Mortal Kombat? —ele perguntou com um sorriso desafiador.

—Só se for pra te humilhar! —sorri e terminei meu café. Fomos para o sofá e começamos o jogo.

Charles tem um certo vício em jogos. Já dei a ideia de ele fazer algum curso de programação de jogos, e ele gostou bastante. Sendo um gênio no computador, eu até poderia arrumar um emprego pra ele na empresa de Ti que meu pai trabalha.

Me ajeitei no sofá e sorri quando venci a primeira luta. Charles revirou os olhos, mas deu um sorriso curto.

E, por mais algumas horas, tudo apagou, e restou apenas a alegria viciante que eu sinto ao estar aqui.

*
|gente, de verdade, MUUUUITO obrigada pelos votinhos e pelas views, fico muito feliz 🥺
(agora os próximos capítulos podem demorar um pouquinho pra sair, mas por favor, não desistam de mim 😭 haha)
até o próximo e obrigada por ter ler até aqui!
•esqueci de avisar que se passaram dois meses desde o último capítulo!!|

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