Capítulo 02 - Rachanun Mahawan
E a cada andar minha mente retorna ao instante em que tudo parecia parar.
Tipnaraee sempre foi assim, imponente, mas hoje em um dia como esse foi a mim que ela dobrou como se nada fosse. Mesmo que isso não fosse tão difícil antigamente.
Sentir ela em meus lábios, sentir ela, tão perto, mas tão longe.
Aquele gosto vezes tão trivial se apossou de meus lábios, consumido eles como se tivesse viajado por tanto tempo apenas para me encontrar aqui. Neste instante, nesse lugar.
"O que houve para estar desta forma?" as palavras que ouço, por um instante havia me esquecido de sua presença. "Bebeu demais? Sei que não gosta desses eventos."
"Sim, foi isso, Ploy."
E com ternura recebo seu olhar, um que às vezes nem sei se realmente mereço. Mas é em seu toque que percebo o quão profundo é. Antes mesmo que pudesse seguir o som da porta se abrindo a para, e logo o amontoado de pessoas se enfiam no elevador.
"Temos um problema. Wagyu, o carregamento está com problemas e nossa cliente disse que não será possível prosseguir com o acordo."
Ouço um dos engravatados que não notaram minha presença.
"Onde será que estão a diretora Maywada, ou melhor, precisamos da Rachanun em pessoa."
"Apesar do contrato ser da senhorita Maywada acho que a melhor opção é falarmos com Rachanun para resolver esse problema."
E como entraram saíram em seu andar, mas não antes de empurrarem. Seguro-a em meus braços sentindo o atenuante aroma de rosas. Me aproximo de seus fios de cabelo percorrendo seu loiro, ela sabe escolher seus perfumes muito bem, acho que eu a ensinei muito bem.
"Está usando o perfume que te dei, bom, gostei de saber que ouviu minha recomendação." digo atraindo os olhos, e logo um sorriso se forma. "Mas brincadeiras a parte, o que está acontecendo?"
"Er... Todos se reuniram na sala de reuniões, e acredito que até May esteja lá agora."
Apanho meu telefone expandindo sua tela, como um tablet. O aplicativo de rastreio abro e após minha senha pessoal encontro cada rota em percurso.
Seja ela área, marítima ou terrestre, todas completamente rastreadas e em específico aquela direcionada para Murano Hoshino. Seja ela líder ou não, sua mão aparentemente controla essa família melhor do que aqueles que estão gerenciando ela.
"Realmente temos um atraso ocorrendo aqui, aqui e aqui... Três caminhões tiveram problemas para chegarem no porto."
"O que fará?"
"São algumas de nossas melhores peças, esse lote de Wagyu A5 vale bastante para nossa marca, e para os Hoshino's."
A porta se abre em nosso andar, mas antes de sair do elevador busco em minha lista de chamada o número da mulher que resolverá isso tudo em minutos. Cinco minutos no máximo para ser mais exata possível, alguém acostumada com isso.
"Ploy, você sabe o motivo de sermos os melhores nesse ramo na Tailândia e uma das maiores empresas gourmet do mundo?"
"Ouvimos todos os lados, desde a menos das pessoas até os maiores restaurantes do mundo." responde me arrancando um sorriso genuíno.
"Exato. Por isso devemos ouvir o que nossos clientes desejam."
No colocar do fone busco a privacidade, o que de certa forma assusta Ploy. E ao ouvir o sermão do outro lado sorrio, ela já começou a trabalhar sem nem mesmo eu mandar.
"Já ouviu sobre a crise? " digo enquanto a ouço resmungar. "Tami, preciso de um favor pelos velhos tempos de empresa. Separe em nossos estoques cinquenta quilos, envie eles sobre a jurisdição da empresa Next e ofereça um bônus para os motoristas."
"Imaginei que diria isso, me adiantei de certa forma e conferi nossos transportes. A frota da Bang sofreu uma leve colisão."
Suspiro ouvindo isso, se tem algo que não gosto é de desperdiçar tempo naquilo que perde seu valor. E agora ele perdeu seu valor.
"Deduzi isso com base nos gráficos, a oscilação de dois graus para cima fez com que a perfeição deixasse de existir. Dito isso, preciso que revogue esse contrato, a cláusula de atraso vai servir como a brecha que precisamos para por um fim nessa parceria."
"Pensou nisso tudo agora?"
"Ficaria impressionada em como elevadores podem ser úteis para coisas além de subir ou descer."
"Engraçada" ouço seu suspirar. "Vamos transportar a mercadoria desta vez do jeito certo de ser feito."
"Diga aos homens o para serem precisos, pontuais e rápidos. Quero que nossa safra e as carnes chegue em perfeito estado."
"O melhor do melhor, me espanta gostar tanto de trabalhar." ouço sua risada. "Me lembre de pedir demissão amanhã, você não descansa e nem deixa seus funcionários descansarem."
"Vamos conversar em outro momento, agora eu tenho uma reunião para atender e uma cliente importante para segurar."
"Boa sorte, a senhorita Hoshino pode ser bem dura quando o assunto são negócios."
Desligo a chamada presenciando a sala de reuniões, parece que ultimamente tenho mais visto suas paredes de vidro do que minha própria casa. Adentro a sala encontra em face certo desespero, talvez, não sei bem, passamos por isso algumas vezes.
É estranho como ainda assim todos parecem perdidos quando não estou diante de seus olhos. Mas que pudesse dizer algo, May, leva as mãos ao rosto tentando limpar a trilha que reflete a luminosidade da sala em seu rosto.
"Em tempo. Preciso que faça algo para mim, agora May, terá que entrar em contato com a transportadora Jest e cancelar nosso acordo de prioridade devido sua falha."
"O problema é que o contrato não permite isso, não sem um motivo muito claro."
"Atraso e queda da qualidade do produto. Uma queda de trinta e seis porcento justifica minha necessidade de romper esse contrato." digo levando clareza a sua expressão, são os olhos de quem entendeu seu dever. "Por favor, prossiga com minha ordem."
"Ele foi feito pela senhora Kamollak, seria como desafiar sua ordem direta." e cortando minha fala, a loira se introduz, a olho nos olhos com certa distância. "Ainda que ambas as diretoras pesem contra, precisam da terceira para aprovação."
"Nisso sua secretária está certa, apesar da empolgação não temos como fazer."
"Ploy, os documentos que enviou hoje pela manhã são meu trunfo para esse momento contra Kamollak. E não se preocupe com isso, afinal meu plano já está em prática."
E com isso os deixo de lado voltando minha atenção para a tela e nela o semblante arrebatador que a japonesa possui. Ajeito meu cabelo diante de seus olhos, e o que antes era um rosto nublado agora parece ganhar raios de sol por gesto talvez tão comum.
"Por um instante pensei que seria sem sorrisos hoje. Fica mais bonita quando sorri."
"Suas cantadas não mudam, talvez eu deva a chamar para sair após ouvir suas soluções, imagino que tenha algo para me dar."
"E tenho uma boa novidade, felizmente nossos sensores para rastreamento mostraram que houve um atraso por conta de um acidente." compartilho a tela para ela que pela expressão analisa os dados. "Perdemos seis horas e essas horas se transformarão em trinta hora, totalizando um atraso de trinta e seis horas e quatro minutos. "
"Como planeja compensar isso?"
"Antes preciso deixar claro que a temperatura da câmara frigorífica variou num percentual mais alto, dois graus para ser exata, isso foi o que prejudicou a qualidade perfeita que as fazendas Hoshino produzem."
Troco a fonte de dados desta vez variando para a nova proposta que desenhei no elevador, e justamente quando sues olhos a encontram noto o desabrochar de seu sorriso.
"Há algum tempo venho notando essas falhas com você, com os Hoshino, no caso com a mulher por trás deles." e para ela apresento um novo contrato que a favorece e nos trazem maior publicidade. "Quero fazer desse erro uma oportunidade de acerto para ambas, nossa parceria na produção das carnes será maior e mais robusta. Com você assumindo a linha de frente, vamos unir nossos nomes."
"Isso é bem mais do que tínhamos antes, destaque, tem certeza de que pode me oferecer essa posição? Hoshino e Rachanun trabalhando juntos numa nova produção?"
"Sou a CEO, é claro que posso. Como amostra de confiança mútua estarei enviando uma nova safra de especiarias produzidas de nossas melhores fazendas." e quando seus olhos saem da tela encontram meu sorriso mais claro. "Minha gerente de logística já está preparando os novos caminhões com tais produtos, legumes, verduras, nossa primeira safra de vinho e suas carnes tão requisitadas."
"Se é assim, estarei feliz em firmar essa parceria que trará maior prosperidade a nossos negócios."
"Você será nossa máxima prioridade, recursos, ideias, publicidade. Deixarei que a rede Hoshino seja nossa maior parceira, pois mediante vocês poderemos alcançar um mundo alimentar melhor para todos."
"Estou contente que nos reconheça dessa forma, uma família antiga saudando uma família antiga. Enviarei o contrato assinado até amanhã pela tarde, farei questão de honrar nosso acordo e auxiliar no crescimento de nossas empresas."
"Uma última coisa, convido abertamente a você e toda família Hoshino para visitarem nossas instalações de modo a melhorar relações." toco o ombro de May presenciando a tensão deles gradualmente se esvair. "Como CEO farei meu melhor para compensar essa falha que não percebi."
"Gostei do que ouvi essa noite e assino em baixo de tudo dito."
"Não irá se decepcionar, garanto que terá as melhores hortaliças feitas em nossas fazendas com o que há de melhor quando falamos de equipamentos hidropônicos e iluminação led guiada por espectros."
"Então faremos como deseja, como disse, prepararei o contrato para assinatura e o enviarei para vocês o mais rápido possível."
"Agradeço a confiança em nossos serviços, e espero que em breve possamos nos conhecer presencialmente. Desta forma poderemos enfim apresentar nossas instalações."
"Organizarei minha agenda para realizar uma visita e para te ver pessoalmente Film, espero que possamos nos dar muito bem."
"Farei questão de mostra o que é uma recepção calorosa com tudo o que possuímos de melhor."
"Agradeço sua atenção, ouvi que inexperiência seria um problema afinal é tão jovem. Porém, me mostrou o contrário." ouvir sua fala nesse perfeito japonês, essa mulher merece o mundo abaixo de seus pés e sem dúvidas minha atenção. "Espero que possam se sentir especiais como nós nos sentimos."
"Estão em boas mãos, a família Hoshino e em especial você, senhorita Murano, farei questão de exaltar seu nome em cada restaurante sob nosso domínio."
Seu sorriso é a última imagem que tenho antes do encerrar da chamada de vídeo, por um instante tudo parece silencioso. E onde havia crise agora o mais puro silêncio.
Porém, logo o vazio é preenchido, e pelo som das palmas encontro suas faces. Eles vibram como se houvessem feito algo diferente além de sentar e esperar pelo milagre.
Não que isso me assuste, mas me faz perceber o peso das ações. Entendo um pouco mais o que ouvi no dia em que assumi como CEO interina. Há vidas, e essas contam com sua sorte e acerto.
Suas palavras realmente foram feitas para me preparar exclusivamente para o agora.
"Estão dispensados, bom trabalho pessoal." e com minhas palavras lentamente se dispersam, homens e mulheres, andando como formigas para fora. Isso é cansativo.
"Parece acabada, como das outras vezes, não gosto de te ver dessa forma." olho em seus olhos encontro o brilho em seus olhos escuros, com um sorriso se curva e antes que pudesse dizer algo seus dedos tocam à pele de meu rosto. "Sabia que não devia ter deixado a empresa, sempre sinto quando vai ter trabalho extra. Mas não quero ser indiscreta com os outros."
"Hoje não foi nada, juro..." forço um sorriso, não era bem essa a reação que eu esperava dela sendo honesta. "Mas estou com vontade de descansar e sair desse vestido, me entende?"
"Film, sempre trabalhamos juntas desde o começo. Já faz dois anos que Benyapa pediu esse favor por mim e tem coisas que não entendo mesmo que tente... deveria colocar ela par até ajudar também ao invés de deixar ela viver a vida."
"Está tudo bem, juro, mas gosto de ver minhas irmãs fazendo o que gostam." respiro sentindo o cansaço em meu corpo. "Não gosto de aparecer como Maywada, acho que de todas as irmãs sempre fui a mais distante da mídia. Por exemplo, hoje me viu diante de Murano, mas quem faz isso é May. Então faço desa forma."
"Por que não gosta de aparecer? Nunca me contou essa história, na verdade, tudo que ouvi foi sobre foi Benyapa quem contou."
"É uma história estranha, sendo sincera, não gosto de falar sobre." me levanto tomando a bolsa que havia deixado de lado. "Quer que eu te deixe em casa?"
"Vou para bar, prometi a Benyapa que voltaria para continuarmos nossa conversa."
"Sendo assim, boa noite, Ploy, e não se esqueça, pode chegar mais tarde amanhã assim como os outros."
E após sua partida desço ao estacionamento tomando o controle de meu conversível negro como a noite. As ruas de Bangkok iluminadas como sempre, porém, tem algo que sempre me espanta e isso é o quão belas são as aparências deste lugar. Faz pouco tempo que assumi a empresa, posso dizer meses. Após meu pai adoecer restaram suas quatro filhas, mas estranhamente somente eu pareço de feto preocupar-se com o legado.
E hoje, enquanto a crise se expandia, vi como esses pensamentos também se aplicam aqueles com quem trabalho. Um mundo conta comigo, mas parece que mesmo rodeada de tantas faces seguras, animadas, até mesmo virtuosas. Nada parece ser bom, mas, logo hoje encontrei algo que não sentia. Diante de todo o problema havia uma coisa em minha mente que ninguém poderia ouvir, seu nome é sobrenome. Coisas quais jurei esconder, e tentei, mas no final não mudou.
Tipnaraee... Porque teve que voltar logo quando me sinto maia fragilizada.
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