ᴀ ᴄᴀsᴀ

Cheguei em casa com as pernas bambas, quando entrei não vi ninguém na sala e nem na cozinha.

Estava um silêncio total.

- Espera aqui que eu vou ver se elas estão lá pra dentro. - digo pra Kelvin que se senta no sofá.

- Tudo bem. - assente.

Depois de atravessar o corredor vou até o quarto de hóspedes, aonde mamãe estava instalada, mas não encontro ninguém.

No meu também não tinha nenhum sinal de vida, o banheiro estava desocupado e vovó tirava um cochilo no quarto dela.

Fui até a sala de leitura e escritório do meu avô e pela janela, que dá vista pros fundos da casa, eu vi mamãe e Celeste sentadas no píer.

Com um sorriso voltei pra sala.

- Elas estão no píer conversando. - aviso.

- Vou lá chamar minha mãe, seria legal se você fosse junto pra não deixar um clima esquisito. - diz depressa.

- Pra minha mãe não achar que você me matou? - rio da cara dele.

Com o cenho franzido e uma sobrancelha erguida Kel tira os olhos de mim olhando para a janela próxima.

- Eu jamais faria isso Angelina. - também sorri - Você e suas doidices.

- Certo, eu acredito. - respiro fundo - Vem cá, não querendo abusar da sua boa vontade, mas será que você pode me dar uma carona pra casa do Drew? - pergunto um pouco envergonhada.

- Claro, eu só não sei se eles vão gostar de te ver na minha compainha. - diz depois dar de ombros. - Sabe como é, irmãos ursos tentando proteger a irmã ovelha do lobo.

Eu rio alto.

- Eles sabem que eu sei me virar sozinha e por essa sua analogia eu não sei quem é mais perigoso se é o lobo ou os ursos. - digo e ele sorri - Só um segundinho, vou só dar um up no visual. - digo e Kelvin assente voltando a se sentar.

Eu retorno para o corredor e dou uma olhada pela janela do vovô de novo, elas ainda estavam lá, conversando.

Corro pro meu quarto e separo uma roupa, um vestido simples e solto, ele tinha as mangas caídas nos ombros e ia próximo ao meu joelho. Escolhi uma rasteirinha simples nude e fingi demência pras minhas unhas com histórico pobre de cuidados.

Tinha que mudar isso.

Vou até o banheiro e tomo um rápido banho, não podia demorar até porque Kelvin estava me esperando e eu não queria abusar.

Quando sai do box me vesti rapidamente, enrolei meu cabelo em um coque simples, um pouco frouxo porque estava corrida.

Passei o básico, anti-transpirante minha loção Giovanna Baby, não me julguem, e sai do banheiro.

Fui até o quarto para por o sapato e pegar meu celular, iria voltar de Uber então estar com dinheiro era necessário.

- Podemos ir? - perguntei assim que voltei pra sala. - Kelvin?

Chamei quando não o vi por ali, aonde esse garoto se meteu?

- Kelvin? - chamei de novo andando para a cozinha.

- Aqui fora filha. - ouço meu pai e por um momento me sinto enraizar ali mesmo.

Certo, não e nada demais seu pai, que ficou sabendo a um dia atrás do drama da sua filha e do melhor amigo, estar conversando com ele a sós, certo?

Errado!

Tinha muitos possíveis problemas, rapidamente retomei a consciência e sai rápido dali.

- Oi pai. - o cumprimentei com um sorriso um tanto apreensivo saindo da casa e os encontrando na varanda.

Estavam sentados um de frente pro outro nas cadeiras trançadas por fios de cipó fake.

- Oi filha, estava aqui conversando com o Kelvin, disse a ele o quanto é bom vê-lo bem novamente. - meu pai olhou do garoto para mim.

Por alguns minutos eu analisei o rosto de ambos e não notei nenhum tipo de rivalidade, raiva ou tensão.

- Eu também acho maravilhoso o fato dele estar bem. - digo depois de um suspiro. - Pai, Kelvin vai me dar uma carona até a casa do Andrew, tudo bem? - o olho.

- Claro, claro. - ele olha rapidamente para meu amigo - Tudo bem. - acente novamente dessa vez com olhos em mim. - Avise sua mãe. - pede e então se despede de Kel.

O típico abraço macho, ombro com ombro e dois tapinhas demasiadamente forte.

- Beijo pai, benção. - pedi antes de sairmos.

Fomos até mamãe e Celeste em um silêncio confortável.

- Chegaram. - minha mãe se levantou tirando os pés da água e calçando os chinelos havaianas.

- Faz uns dez minutos, pedi pra Kelvin me dar uma carona até a casa do Drew e do Matt. - digo apontando pro garoto que ajudava a mãe se por de pé.

- Tudo bem, seu pai chegou? - perguntou e eu assenti.

- Tá lá dentro. - aponto pra casa.

- Certo, ele deve estar com fome. - diz e nós recomeçamos o trajeto de volta.

Fiquei um pouco a trás com Kel enquanto elas seguiam na frente falando sobre viagens.

- O que ele disse pra você? - pergunto finalmente vencida pela curiosidade.

Kel ao meu lado sorriu.

- O que qualquer pai de garota falaria pro cara que quebrou o coração dela e ousou se aproximar de novo. - conta calmo, com as mãos no bolso e com a cabeça baixa.

- Ele te ameaçou? - pergunto incrédula.

Meu pai nunca foi um cara violento.

- Não, foi mais um aviso. - diz me olhando rápido. - E bom, eu que não quero ficar em um hospital por mais de seis meses com todas as costelas quebradas, as duas pernas e os dois braços.  - diz sério de repente.

- Ele te falou isso? - rio sem acreditar.

- Um pouco mais, mas eu entendo ele Angel, é seu pai. - sorriu - O cara que daria a vida pra te proteger, eu não esperava menos. - confessa. - Eu estava aguardando por isso, uma hora eu ia ter que encara-lo.

Eu suspiro.

- Acho que devo me desculpar por isso. - digo calma.

- Certeza que não, eu que provoquei, lembra?

- Mas a ameaça foi grave. - digo.

- Bom, acho que ele tinha que deixar claro de alguma maneira que se eu te fizer sofrer de novo vou me dar mal também. - fala parando perto de seu carro.

- É, meu pai é bem protetor quando quer. - digo enlaçado uma mão na outra.

Ele assente e mamãe se aproxima.

- Filha, tem dinheiro pra voltar pra casa? - pergunta e eu assinto.

- Tenho, eu...

- Pode deixar que eu trago ela Lauren. - Kelvin toma a palavra - Hoje eu tô de folga e não tenho nenhum compromisso pra mais tarde. - diz e eu o olho.

- Tá certo, fico mais aliviada assim. - ela diz - Você é de casa Kel e apesar dos apesares é bom te-lo de volta e recuperado. - diz e eu abaixo a cabeça.

- Obrigado. - ele sorri - Por não me repudiar também depois de tudo. - ele diz.

- Nós todos erramos querido e todos merecemos uma segunda chance. - ela diz e me olhou - Se Angel, que foi a vítima, perdoou você quem sou eu ou Logan pra não fazer o mesmo? - ela sorri terna e o abraça.

Celeste se aproxima com um sorriso após se despedir da vovó que havia levantado, vem até nós e abraça minha mãe.

Elas combinam de se ver novamente, mamãe comenta que amanhã eles iriam pescar e convida Celeste e o filho.

Eu rio baixo e cutuco Kelvin.

- Será que o garoto da cidade sabe pescar? - zombei.

- Claro que sei. - afirma parecendo insultado - Eu sei fazer de tudo e um pouco, amanhã você verá. - afirma e dá a volta no carro.

Eu entro atrás e Celeste ao lado do filho.

Durante o trajeto até a casa dos dois ela me faz várias perguntas e assim nem percebo quando finalmente chegamos.

Celeste desce e me manda pra frente segundo as ordens de Kelvin.

"Não sou Uber", foi o que ele disse.

A casa de Drew não era tão longe da de Kelvin, era um pouco menos de cinco ou seis minutos.

Por toda lei tentei convencer Kel a entrar, mas todas ele negou.

- Você tem certeza que não quer ficar? - pergunto quando estaciona em frente a casa.

Os garotos costumavam a se reunir ali a noite e de preferência as sextas, mas hoje Jess disse que eles iriam comemorar a vitória que o time deles tiveram ontem.

Drew mora com Matt, o que permitia a liberdade dos dois e do resto dos meninos do nosso grupo que vivem ali praticamente, era o refúgio dos machos vamos se dizer assim.

- Encarar um tudo bem Angel, mas quatro e de uma vez só... - nega com a cabeça - não dá não. - sorri temeroso. - Já me encontrei com seu pai hoje, já tá ótimo. - ri - A cota de ameaça excedeu. - diz e dessa vez quem ri sou eu.

- Tudo bem, obrigada por me trazer. - tiro o cinto e abro a porta.

- Te pego as sete? - pergunta incerto.

- Pode ser, e veja lá o que vai fazer, em? - cemicerro os olhos para ele.

- O que eu faria demais na minha casa Angel? - ri e revira os olhos - Eu só vou tomar um banho e colocar os estudos em dia, medicina veterinaria não é tão fácil de se passar. - diz e eu sorrio.

- Tá, sete horas. - desço do carro. - Vai me contar depois sobre essa profissão aí. - aviso.

- Claro - sorriu e piscou o olho. - Tchau. - ligou o carro e me afasto.

Acenei e o vi ir embora, e então vou para a frente da casa.

Aperto a campainha e espero, já era mais de cinco e meia, os meninos já deviam ter chego da escola e Drew da facul, Matt eu não tinha certeza porque ele trabalhava.

- MIRTILOO!!! - Stiles abre o portão já me abraçando.

Rio pelo uso do apelido, mesmo não estando mais com o cabelo azul eu gostava.

- Oi Caramel - sorrio me agarrando a seu pescoço.

Esses meninos são minha segunda família junto das meninas, são todos como irmãos para mim.

- Achei que não viria nos visitar. - me solta analisando meu rosto.

- A boa filha a casa torna, bem vinda de volta ser humano. - Marcos aparece logo atrás de Stiles e, o empurrando para o lado, me toma em um abraço apertado. - A loura nos falou que você estava na cidade - diz se referindo a Carol.

- Eu não poderia deixar de vir vê-los. - digo abraçando-os de novo.

- Vamos entrar, você quer água, suco, refri. - Caramel pergunta sorrindo.

- Uma cerveja talvez. - Marcos provoca e eu faço uma careta.

- Vocês sabem que eu não bebo e deveriam seguir meu exemplo, pelo menos assim... - eles me cortam

- Nossos fígados agradeceriam. - falam os dois juntos cada um revirando os olhos de uma maneira diferente.

Eu rio.

- Nós sabemos, nós sabemos. - diz Stiles se jogando no sofá da grande casa.

- Mas nunca param, eu não entendo vocês homens. - digo fazendo o mesmo que Caramel. - Cadê o Matt e o Drew?

- Temos que te contar uma coisa. - diz Marcos vindo até mim com um copo de coca.

- O que aprontaram? - pergunto hesitante - Vocês não deviam me servir isso, minha vó usa pra desintupir a pia da cozinha. - reclamo - Tem noção do que isso pode fazer dentro de mim? - dramatizo.

- Anda, nós sabemos que você bebe isso uma vez por semana Angel. - Stiles diz rindo.

- Tá, tem razão. - dou o primeiro gole - Mas me digam, o que vocês fizeram dessa vez? - os olho com atenção.

- Nadinha. - Marcos faz cara de inocente.

- Eu conheço vocês muito bem - cemicerro os olhos. - Parem de enrolar, contem.

Eu olhava para Marcos e Stiles então não vi quando alguém se aproximou por trás e tampou meus olhos.

- Ah pronto! - digo colocando as minhas sobre as da pessoa.

- Quem é Angel? - Marcos incentiva.

- Não acham que estamos grandinhos pra essas coisas não? - rio.

- Começa com A. - o próprio garoto que tampava meus olhos diz.

- Andrew. - afirmo rindo.

Fácil, fácil.

Tiro as mãos dele de mim e me viro pra olha-lo, o sorriso que o garoto tinha no rosto era gigante, assim como o meu.

- Sua barba cresceu, e você deixou, não acredito! - dou meio pulinhos pra ir abraça-lo.

Andrew dá uma gargalhada gostosa e em seguida me aperta em seus braços fortes, de longe ele era o mais alto e musculoso que todos. Era de dar medo, mas eu tive a sorte de ter ele como irmão de outra mãe.

Ele me solta para olhar-me melhor.

- Como você cresceu Mirtilo. - diz e aperta minhas bochechas.

Eu reviro os olhos e afasto suas mãos, odiava quando eles faziam isso, todos sabiam e faziam mesmo pra me provocar.

- Faz nem duas semanas que eu fui pra São Paulo Drew. - rio.

- Pois é, mas você mudou em alguma coisa. - diz coçando a barba que acabou por deixar ele com cara de ter mais de 23 anos.

- Eu pintei o cabelo. - disse voltando a me sentar.

- Era isso mesmo, sabia que tinha alguma coisa a ver com seu rosto, ele tá bem diferente. - falou Marcos.

- Tem certeza que só pintou ou fez harmonização facial também? - foi Caramel quem disse isso.

Harmonização de Cristo, só se for.

- Não. - rio - Só pintei mesmo, voltei pro natural. - afirmo.

- Bom, de qualquer maneira estou feliz que você veio, achei que ia me esquecer como os meninos quase fizeram na noite passada. - ele fala colocando as pernas encima da mesa de centro depois de se sentar.

- Isso jamais Endão - riu Stiles - Foi apenas um desencontro de informações. - afirmou com as mãos pra cima.

- Apelido novo? - Andrew ri.

- Fabrico um a cada segundo - responde o ruivo com um sorriso arteiro.

- O que aconteceu ontem? - pergunto curiosa.

- São Paulo ganhou. - Stiles revirou os olhos.

- Palmeiras perdeu. - Drew comemorou trocando um high-fi com ele mesmo.

- Gente, pelo amor de Deus, não vai começar essa discussão de novo não. - Marcos se pronuncia.

- Tenho que defender meu time. - Caramel se levanta e vai até a cozinha, pega a garrafa de coca que tinha apenas quatro dedos de líquido e vira na boca.

- E eu e Marco temos que comemorar. - fala Drew com um enorme sorriso.

- Não sei como vocês não se matam assistindo esses jogos. - digo sorrindo.

- Não nos matamos porque não assistimos juntos. - fala Marcos - Eu torço pro São Paulo, mas não fico esfregando na cara do time que perde, por isso a convivência comigo durante o jogo é mais branda, já Andrew...

- Ele é exagerado e disso todo mundo sabe, falta subir no teto com um mega fone e gritar pro país todo ouvir que o time dele ganhou e que o adversário não vale nada. - fala Stiles voltando pra sala com a garrafa de coca.

- O exagerado foi você agora cabelo de fogo. - provoca - O engraçado de ter um amigo que torce pro time contrário que o seu é ver como a cara dele fica vermelha igual o cabelo quando o palmeiras perde. - zomba e Caramel faz careta.

- Mas o que eles iriam te esquecer por isso? - pergunto depositando o copo encima da mesinha de vidro.

- Porque o cabeçudo do Marco foi comemorar e esqueceu de me convidar. - levanta e dá um peteleco na cabeça do amigo.

Andrew amava diminuir nomes, já chegou a chamar Marcos de Mar, mas quando uma das meninas apresentou a eles a expressão "mar vermelho" o garoto ordenou pra que seu apelido fosse mudado.

Mudamos para Marco, mas o que ficou mesmo foi mesmo foi Ocean.

Por que, eu também não sei.

- Sai fora panaca, você mesmo disse que ia estar estudando. - tenta revidar, mas Drew já estava longe.

- Como vai São Paulo Angelzinha? - perguntou meu universitário favorito pegando uma garafa de água.

- De boa, é legal morar lá apesar de não ter muito o que falar ainda. - digo checando meu celular.

- Já fez amigos? - Caramel pergunta.

- Uns par. - respondo - Tem um que joga futebol americano, o nome dele é Tom, muito gente boa. - conto e Marco gargalha.

- Viu só Stil, os olhos dela brilharam. - zomba e eu reviro os olhos.

- Tá variando, Drew outro tapa aqui por favor. - peço pro cara que já se aproximava.

- É pra já. - não hesita em dar.

- Você me paga abestado. - xinga o moreno.

- Mas iae, tirando o jogador, tem mais? - pergunta e eu assinto.

- Um casal de gêmeos, a Talia e a Malia o Jonh e o Josh. - digo - São uns fofos, ai tem a Ka, a Val, a Alisson e o Blan.

- Que tipo de nome é esse? - Drew franze o cenho - Blan? - retruca.

- Iiih, lá vem você, a Jess implicou com a Talia e a Malia e você vai implicar com ele. - resmungo.

- Mas na real Angel, é esquisito mesmo. - concorda Stiles abraçando uma almofada.

- Tá falando o que bola de fogo, o seu também é diferente oras. - digo sorrindo. - Quem que chama Stiles ou Andrew no Brasil? - resmungo rindo.

- Ela tem razão seus bando de encostados. - riu Marcos.

- Pode ser. - o mais velho dá de ombros deitando na poltrona e ficando com a cabeça apoiada em um dos braços e as pernas para fora do outro.

- Gente, cadê o Matt? - pergunto de novo sentindo a falta do loiro.

- Então, a novidade que você cortou Drew. - fala Ocean.

- Ah sim, quem conta? - ele pergunta.

- De uma vez só? - pergunta o ruivo.

Andrew dá de ombros e Marco concorda.

- Vai lá, um, dois, três... - o moreno conta - O Matt se amarrou.

- O Matt tá usando coleira...

- O Matt vai assinar o contrato de prisão perpétua.

Disse os três de uma vez e eu não entendi nada.

- Perai, o que? - deito a cabeça no ar confusa.

- O Matt vai casar. - fala Stiles por fim.

- Como assim o Matt vai casar? - pergunto num misto de felicidade e confusão - Eu sai daqui uma semana e ele tava sem ninguém.

- Não é bem verdade isso não, ele tava de rolo com a Mariana. - diz Marco.

- Eles vão casar? - pergunto contente.

- Pelo visto sim, ele já conversou com os pais dela e agora vai fazer o pedido, a garota não sabe só a gente, a familia dele e a dela.

- Poxa, que demais. - digo realmente contente - Eu sempre soube que eles se gostavam muito, mas não sabia que iam se resolver de vez e tão rápido assim.

- Pois é, ele começou ir na igreja da mãe da Carol e daí ficou biruta da cabeça. - falou Andrew.

- Ué, não entendi. - meu sorriso morreu e eu o encarei.

- É uai, não sei qual a necessidade de casar se eles estavam bem.

- Mas eu não vejo problema nenhum nisso Drew. - falo séria - A questão é por que uma pessoa ao ir pra igreja fica biruta da cabeça? - questiono.

- Porque ela passa a ser santinha oras, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo e é pecado pra cá, pecado pra lá. - responde com desdém. - Ele largou até o emprego Angel.

Matt trabalhava como DJ na maioria dos fins de semana, remixava em várias raves e festas de todos os tipos.

- Então eu era biruta da cabeça mesmo antes de ir pra igreja por que eu nunca fiz nada do que vocês fazem. - digo simples e ele me encara.

- E a gente sabe que ele ficou tocado com a morte do Luis Andrew, não foi só pela igreja não. - Marco defende o amigo.

- Mas eai Angel, vocês vão ficar em São Paulo até quando? - percebendo o clima tenso Marco muda o assunto.

- Não sei não, as coisas se complicaram, tivemos que entrar na justiça por causa da clínica daqui. - digo - Era clandestina.

- O que? - eles perguntam juntos.

- Pois é, o médico era fake e submeteu meus pais a vários exames desnecessários com falsos resultados e tratamentos inúteis. - conto - Enfim, ele roubou nosso dinheiro e quase nossas esperanças, mas daí nos mudamos e agora estamos enfrentando essa barra, porém acredito que dará certo. - falo calma enquanto tinha os olhos dos três em mim.

- Isso é um absurdo velho. - murmurou Ocean.

- Eu também achei, o cara tem várias passagens pela polícia e uma longa lista de infrações, tá foragido agora, mas a clínica tá interditada. - digo calma. - Nós viemos pra buscar alguns dos exames e documentos pra apresentar pro advogado.

- Caramba Angel, que barra seus pais estão enfrentando meu. - comenta Stiles.

- Pois é, eles são fortes. - sorrio. - Eu acredito que depois dessa tempestade virá a bonança, na última consulta meus pais receberam o resultado dos exames que eles fizeram, bom, foi bom e aumentou as nossas esperanças um bocado. - sorrio.

- Meu Deus, eu quero esfregar a cara desse cara no asfalto. - exclama Marcos raivoso.

- Pode apostar. - murmura Drew baixo e se sentando direito no banco.

- Pois é, meu pai também, mas como estamos processando ele uma agressão por nossa parte tiraria um pouco a nossa razão. - digo e Stiles assente.

- Já sei, quando ele for condenado nós pegamos ele e damos uma surra. - diz calmo. - Precisamos ajudar a polícia encontrar esse cara. - fala sério.

- Tá louco? Vocês não vão se meter turma da encrenca. - digo com um sorriso. - Não podem, estamos querendo resolver um B.O, não arrumar outro. - me reencosto no sofá de novo.

- Tá certa, caramba. - Caramel soca o ar decepcionado.

- Enquanto isso nós esperamos aquele mal caráter ir pra trás das grades. - fala Marco.

- É, extamente, o que podíamos fazer, fizemos. - digo. - Mas de qualquer maneira nós vamos voltar quando tudo isso passar e mamãe engravidar. - afirmo - Afinal de contas, aqui é nosso lugar, nossa casa.

- Essa é minha garota! - Marcos se joga ao meu lado e dá um beijo em minha mão.

Stiles ri, mas Andrew ainda mantinha a fachada séria, estava quieto demais.

- Eu não queria falar nada não, - Caramel olha para mim - mas era Kelvin lá fora, no Jeep? - me olha passivo.

- Estava espionando cabelo de fogo? - provoco e o vejo revirar os olhos com um sorriso.

- Desculpa, mas estava ancioso para te ver. - faz uma careta fofa - A saudade, sabe? - dá de ombros.

- Realmente, ele olhava para fora da janela toda vez que um carro passava devagarinho na esperança de ser você. - conta Ocean.

Eu rio achando fofa demais a atitulde do meu amigo.

- Amo vocês - digo olhando pra Drew que dá um sutil sorriso e sua feição amolece um pouco.

- Nós também, mas então? - afirma Marcos ao meu lado. - Ainda não respondeu. - insiste com um sorriso curioso.

Eu dou um longo suspiro e vejo Drew levantar e se espreguiçar.

- Sim, era o Kelvin - afirmo e recebo o olhar dos três.

Andrew permanece de pé e agora com os braços cruzados expondo seus músculos e deixando a expressão um pouco, muito, ameaçadora.

- E então...? - incentiva Marcos - O que tem pra nos contar?

- Contar? - o olho com um sorriso no rosto.

- Fofoca direto da fonte. - fala Stiles esfregando as mãos uma nas outras.

- Vocês homens são piores que nós mulheres. - rio divertida

- Vocês se entenderam? - pergunta Marcos curioso.

- Eu nem sabia que ele tinha voltado. - fala Drew - Se soubesse tinha esmagado cada osso do corpo dele antes. - eu o encaro sabendo que ele era mesmo capaz daquilo.

- Tá louco? - pergunto atônita - Não ia não.

- Eu queria fazer isso a muito tempo, mas o filho da mãe vazou da cidade. - esbanja sua raiva.

- Tá, tudo bem, você pode estar com raiva dele o quanto quiser, mas eu não permito que você toque um dedo nele. - digo calma - Tá doido? Me diga como isso ia resolver, só ia piorar Drew e afinal de contas a gente tá bem agora. - afirmo - Eu perdoei ele.

- Isso não diminui minha raiva Mirtilo. - afirma - Aliás aumenta, você é tão maravilhosa e o cara te esfregou no chão poxa. - eu sorrio e me levanto, vou até ele e o abraço.

Nos primeiros instantes ele permaneceu imóvel.

- Obrigada por tentar me proteger Drew, você é o melhor, e é uma das qualidades que eu mais amo em você, sabe disso. - o olho - Mas está tudo bem, já passou. - digo e dessa vez é ele que me puxa pra um abraço.

Eu sei que ele faria o mesmo pelas outras meninas, assim como ele fez pela Jess a alguns anos atrás.

- Você é um anjo. - sussurra.

- Exatamente, o anjos dos meus encrenqueiros. - volto para o sofá e levo Drew comigo.

Ele se senta ao meu lado.

- Como foi que vocês se reencontraram? - pergunta Marcos.

- Bom, eu conto, mas ninguém me corta, em? - aviso.

- Certo, somos todos ouvidos! - Caramel se aconchega no sofá cruzando a perna de forma relaxada, o pé descalço, no tornozelo tinha uma fitilha hippie, sei lá como se chamava aquilo.

Drew escorrega pelo sofá ficando meio sentado, meio deitado. Já Marcos dá as costas para Stiles e se senta inteiramente virado para mim.

Se esses garotos não gostam de fofoca, não sei o que mais poderiam gostar.

- Bem, - respiro fundo - depois de alguns dia que eu estava em SP ele me mandou mensagem pelo Insta, eu fiquei em choque porque não queria vê-lo nem vestido de ouro. - sou interrompida.

- Que bom, nem eu queria... - resmunga Drew e eu o olho de soslaio.

Ele apenas ergue as mãos e depois dá de ombros voltando a encarar o teto.

- Eu não respondi e bloqueei ele, mas daí Kelvin me ligou, eu estava na escola e entrei em pino, foi doido. - afirmo - Ele tentou contato de novo, mas dessa vez eu atendi, falei várias coisas pra ele e em seguida desliguei.

- Espero que tenha acabado com a raça daquele...

- Andrew!!! - eu e os outros meninos o repreendemos.

- Tá, tá. - dá uma gargalhada alta - Parei, continue. - pede e abraça uma almofada.

- Bom, depois daquilo ele não ligou mais, mas eu sentia que, de alguma forma, nós iríamos nos encontrar em breve. - conto olhando pra garafa de Andrew na mesa - Foi quando viemos pra cá, eu e Jess fomos dar uma caminhada e eu vi o Jeep, mas achei que fosse coisa da minha cabeça, quando voltamos pra casa demos de topo com ele, eu quase infartei. - sorri pro nada. - Eu queria mata-lo e dizer a ele todas as coisas que um dia usou pra me machucar...

- Eu te daria todo apoio pra isso. - afirma Drew e eu ignoro.

- Naquele dia eu liguei pro meu amigo Tom e ele me aconselhou a perdoa-lo. - eu olho pras mãos - Ele é um biruta da cabeça como eu e Matt. - digo e olho pra Drew que me olhou com um risinho nos lábios. - Daí hoje ele foi lá em casa e pediu se não podíamos conversar e bom, ele me pediu perdão e eu o perdoei. - suspiro - Não foi fácil gente, mas era o certo a fazer e agora vida que segue. - gesticulei com as mãos.

- Uau, nunca imaginei que Kelvin fosse de correr atrás de alguém para pedir perdão - zomba Stiles.

- Pois é. - sorrio - Mas ele fez isso e poxa, eu me sinto tão bem. - confesso.

- Eu fico feliz por você Angel, mas vem cá, como fica agora?

- É, vocês se gostavam. - comenta Drew sem me olhar.

- Não, eu gostava dele, ele nunca disse que sentia algo por mim. - corrijo olhando pras minhas mãos juntas no meu colo.

Ouço os três rirem e franzo o cenho.

- Tão rindo do que bando de doidos? - pergunto confusa.

- Tô achando que a doida é você, desde quando é cega Angelina? Tava escrito na testa dele, aliás na cara toda, que ele gostava de você. - diz Marcos e agora quem ri sou eu.

- Isso antes dele virar a cabeça, acho que a morte de Luis foi o ponto alto dele pedir ajuda. - comenta Drew.

- Pois é, ele me contou, o cara morreu nos braços dele. - digo com os olhos no teto.

- Coitado o cara enfretou a maior barra. - fala Marco. - Cêis ficaram sabendo do pai dele?

Nós concordamos com a cabeça.

- Mas isso não jusifica o que ele fez com a Mirtilo. - meu amigo franze o cenho - Porém eu fico feliz que ele procurou ajuda.

- Eu concordo com tudo o que o princeso de cabelo de fogo falou. - Drew provoca e eu rio.

Tava anoitecendo já, se aproximava das sete quando Stiles deu a doida de pedir pizza.

Disse que era pra comemorar a vitória dos daltônicos e a minha visita.

Eu já desconfiava que não iria embora cedo, foi mal mãe.

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