ᴀᴍɪᴢᴀᴅᴇ

Meus pais começaram a conversar e eu peguei o cardápio pra escolher algo.

- Querida? - olhei pra cima e vi minha mãe e meu pai com um sorriso travesso.

- Precisa de ajuda?

- Hãn...acho que não, por que?

- Bom, você estava com uma cara meia engraçada filha. - explicou meu pai e eu sorri

- Ah claro, é que isso tudo aqui - fiz um círculo com o dedo discretamente mostrando o ambiente em que estávamos - É estranho, estou acostumada a comer em lanchonetes ou na praça de alimentação. - ri junto deles.

- Vou te dar uma dica esse aqui é bem gostoso. - apontou meu pai para um prato no papel em eu que segurava.

Eu concordei e eles voltaram a conversar, continuei olhando as imagens bonitas das comidas que haviam ali, mas logo recebi uma mensagem que me deixou chateada, a blusa de moletom que eu havia encomendado em uma loja virtual demoraria mais de uma a três semanas para chegar, pois a entrega havia sido feita no meu antigo endereço e minha vó a havia colocado no correio de novo, dessa vez para São Paulo.

Desanimada soltei o celular na mesa e cruzando os braços me joguei na cadeira.

- Querida fique direito, senão vai passar uma má impressão. - minha mãe orientou e endireitei-me assim que vi o garçom se aproximar

- Boa noite senhores, já estão prontos para fazer o pedido?

- Sim - sorriu minha mãe - Eu vou querer Pesce Al Forno Con Crosta Di Porri, por favor.
(Peixe ao forno com crosta de alho poró e cogumelos salteados com brócolis.)

- Ok e o senhor? - se virou para meu pai após clicar algumas vezes no tablet.

- Risotto Alla Milanese, por favor. (Risoto à milanesa)

Eu ainda olhava para minha mãe horrorizada com o nome que ela falou, pra que dar nome tão difícil pra comida? Coitada.
Tudo bem que o restaurante fosse italiano e o nome da comida também, mas estamos no Brasil, aqui falamos português.

- E a senhorita?

- Eu vou querer Tortellini de Bolonha - digo ao moço que assentiu enquanto adicionava o pedido

Bom, eu confesso que tive um pouco de receio ao pedir o prato, mas havia uma descrição dele mais embaixo, gostei do que li, agora vamos ver se iria gostar do sabor, mas não costumo duvidar de comida italiana não.

- E o que irão beber?

- Uma garrafa de Vinho Tinto Seco La Dorni sem álcool. - pediu meu pai

- Ok, volto já com o jantar de vocês. - disse e sorriu.

Peguei meu celular e continuei respondendo as diversas mensagens até minha mãe chamar minha atenção de novo, passei então a prestar atenção no que eles falavam até que o vinho e a comida chegasse.

O prato foi colocado a minha frente e o cheiro era delicioso, meu estomago roncou e eu não fiz muita cerimonia pra começar a comer.

Enquanto eu colocava a primeira garfada na boca o garçom servia nossas taças.

- E aí Angel, o que achou? - quis saber mamãe

- Bom, dá pra comer. - fiz careta

O sorriso que estava em seu rosto sumiu e meu pai olhou um pouco chateado.

- É brincadeira, eu amei isso aqui - meus pais sorriram aliviados.

- Que bom, então podemos te trazer mais vezes?

Eu ergui a sobrancelha

- Acho que prefiro a praça de alimentação, mas uma vez na vida e outra na morte não faz mal. - eles riram

Depois da sobremesa e de muito conversar e rir, papai anunciou que era hora de irmos embora, ele pediu a conta e depois de pagar acompanhou mamãe até a porta do toilette, já eu disse que daria uma volta pelo shopping, custou convencer o papai, mas disse a ele que não sairia do piso aonde se encontrava o restaurante.

Caminhei calmamente até a saída do Piselli e depois pelo piso do shopping, parei pra admirar uma vitrine que exibia alguns bolos muito bonitos e foi quando um rapaz de boné branco trombou em mim.

- Me desculpa moça - disse ele paralisado me vendo abaixar para pegar meu celular que o impacto do esbarrão havia derrubado.

- Não foi nada - digo torcendo pra não ter quebrado a tela - Droga! - resmungo quando avisto um trinco

- Meu Deus, foi sim, olha sua tela. - me olhava com certo desespero

- Tudo bem, não foi nada, trocar a tela é baratinho. - tentei sorrir, mas a vontade era de chorar

- Pode deixar que eu vou pagar o concerto. - disse sério

- O que? Aah não, pode ficar tranquilo. - recuso imediatamente

- Foi eu que quebrei então eu pago. - me olha por debaixo da aba do boné - Tenho um amigo que o pai dele tem uma assistência eletrônica, ele pode fazer com desconto pra mim. - dizia enquanto pegava um cartão na carteira.

- Não precisa se preocupar, eu dou um jeito. - disse tentando para-lo

- Tem uma caneta? - perguntou sem se importar com o que eu dizia

- Não, não tenho moço. - disse um pouco seca já irritada com a insistência dele

- Não tem problema eu peço pra moça ali do balcão. - disse já caminhando até o quiosque de sorvete que havia perto de nós.

Eu continuei ali parada, os braços cruzados e observando o moço que anotava algo no verso branco do cartão.

Olhando para ele eu pude notar que havia algo diferente nele, algo que nunca tinha visto em alguém que eu conhecesse. Um brilho diferente no olhar, um jeito diferente de falar de olhar, de ser, não sei, era algo difícil de explicar, só tenho certeza que não era normal, não para mim.

-Aqui, esse é meu número. - me entrega o papel assim que se aproxima - Vamos marcar pra eu levar seu celular pra arrumar.

- Não precisa moço, não tem necessidade.

- Eu insisto, meu nome é Thomas, muito prazer. - estende a mão

- Eu sou Angelina - aceitei seu cumprimento

- O que tá acontecendo filha? - papai chegou até nós e eu já imaginava o que viria a seguir.

- Oi, o senhor é o pai dela? - o garoto se colocou a frente do meu pai com a mão já estendida - Sou Thomas, muito prazer.

- Sou Logan e essa é minha esposa Lauren. - acenou para a mulher ao seu lado ainda sério

- Muito prazer Thomas - ela sorria

- Agora, aconteceu alguma coisa? - meu pai me olhou

- Não, não aconteceu nada pai.

_ Então podemos ir;;; - ele já ia falando, mas Thomas o interrompeu

- Na verdade senhor Logan, eu esbarrei na sua filha e o celular dela caiu. - contou - Eu até já passei meu contato, conheço uma pessoa que pode dar um desconto pra arruma-lo.

Meu pai não falou nada, pegou o cartão da minha mão e o olhou bem.

- Muito obrigado pela sua gentileza Thomas, com certeza entraremos em contato. - afirmou ele e o garoto sorriu.

- Acha, não precisa me agradecer, não fiz mais que a obrigação.

- Vamos então? - chamei - Obrigada Thomas.

- De nada. - sorriu simples

- Boa noite Thomas. - mamãe se despediu

Meu pai segurou a mão dela e me ofereceu seu braço que eu aceitei de bom grado. Caminhamos em silêncio pelo shopping e antes de irmos embora caminhamos pelo primeiro piso.

A noite foi ótima, sair pra jantar com os meus pais me ajudou espairecer um bocado, estava agora com uma sensação boa de que tudo daria certo.

- O jantar foi ótimo né querida? - puxou assunto minha mãe sorridente enquanto entravamos no carro

- Claro mãe, eu me diverti muito. - falei sorrindo - E vocês curtiram? - perguntei e papai riu

- Jovens e seus palavreados. - brincou dando partida

- Nós curtimos sim querida. - mamãe respondeu por eles dois

O caminho de volta pra casa foi em silêncio, mamãe conversava com meu pai sobre os negócios da família e eu fui entretida no celular. Ao chegarmos, papai guardou o carro na garagem e eu subi para meu quarto.

Coloquei um pijama, escovei meus dentes e fui atrás dos meus pais para dar-lhes boa noite e pedir benção, um costume herdado pelo meu avó por parte de mãe que era nordestino.

- Já vai dormir filha? - mamãe questionou ao me abraçar

- Amanhã o dia começa cedo. - disse beijando sua testa

- Benção pai. - estendi a mão a ele que aceitou sorrindo

- Deus abençoe filha. - ele respondeu depois de beijar ela

- Amém - beijei a dele também

Papai é estrangeiro, nasceu no Texas, Estados Unidos e veio pro Brasil com 13 anos e quando meus avós voltaram pra lá papai já tinha 25 anos e decidiu ficar por aqui.

Dois anos depois ele conheceu minha mãe quando ela veio a primeira vez pra São Paulo pra assistir um show de uma banda americana que ela gostava.

Minha mãe tinha 22 anos e estava na faculdade, por isso ela teve que voltar no domingo de manhã pra Maringá, mas mesmo a distância eles mantinham contato e foi assim que eles se apaixonaram.

Papai foi conhecer meus avós e depois levou ela para conhecer os pais no Texas, mamãe falou que foi a melhor viagem da vida dela, acredito mesmo, estavam apaixonados.

Meu pai acabou mudou-se pra cidade dela e anos depois se casaram.

Já dentro do quarto eu apago a luz e mantenho a do abajur acesa, configuro meu despertador e me enfio debaixo das cobertas, apago o abajur e fecho os olhos e não demoro a dormir

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