15

Quando O Sol Nasce No Ocidente | quinze.

O dia está um caos.
Alec e eu estamos no parque que fica ao lado do colégio. Ele está inquieto, com as mãos geladas e mudanças repentinas de humor. A dona do cybercafé o acusou de ter furtado dinheiro do caixa. Óbvio que não foi ele, mas isso não a impediu de despedi-lo sem qualquer consideração. Meu amigo teve sorte de eu ter matado a última aula e chegado mais cedo na loja para terminar um trabalho de biologia. Fiquei o tempo todo ao lado dele. O tirei da loja quase que arrastado. Não sai do lado dele e estou há quase duas horas tentando acalmá-lo.
Ele nem tocou no frappuccino mocha, sua bebida preferida, que compramos na cafeteria a caminho do parque.

Aquela manhã também foi bastante conturbada. Asher e eu, para variar, discutimos depois do treino de basquete. O segundo jogo do campeonato intercolegial está próximo. Ele quer que eu jogue como titular, mas não tira a ideia da aposta da cabeça. Esta ideia está tão fixa naquela cabeça oca que, ao invés de me ajudar falando com o treinador, ele prefere cobrar a aposta que sugeriu contra o Alec. Em minha cabeça não existe mais nenhuma aposta. Nunca existiu, na verdade. Quero ficar com Alec Stevens porque gosto dele e não porque Asher Cooper é um babaca sociopata.

— Vou te devolver logo, Arthur — diz Alec, andando de um lado para outro, sobre o dinheiro que emprestei para ele pagar a dona do cybercafé.

— Fica calmo — digo, preocupado. — O dinheiro é o de menos, ok? Tenho algumas economias em casa e não vai me fazer falta.

— Eu insisto! — exclama, ainda mais agitado. — Duzentos dólares é muito dinheiro!

— Eu daria qualquer valor para te proteger daquela mulher maluca — digo, levantando do banco do parque e segurando a mão dele para acalmá-lo. — Se você não se acalmar, vou ficar muito preocupado, amor.

Ele para, piscando algumas vezes.

— Você me chamou de quê?

Entrelaço nossos dedos, mas ignoro a pergunta dele com um sorriso sugestivo.

— Você vai se acalmar?

— Do que você me chamou?

— Se você não beber seu frappuccino, eu vou!

— Não muda de assunto, Arth.

Olho em volta e me certifico de que não há ninguém por perto antes de abraçá-lo.

— Você vai se acalmar, amor? — digo, com meu rosto colado ao dele.

Alec me presenteia com o sorriso mais lindo e fofo do universo.

— Am... Amor? — gagueja, suspirando.

— Você é o meu novo amor, sabia?

— Ar... Arthur.

Volto a olhar em volta, mas desta vez percebo a aproximação de um casal andando por uma trilha próxima a que estávamos.
Me afasto imediatamente.

— Melhor irmos embora — sugiro, acanhado. — Está quase anoitecendo.

Ele concorda, atordoado.

Hoje, quarta-feira, é o pior dia da semana. Só tem matéria chata e o treino de basquete é depois do horário de aula. Cheguei no colégio mais cedo do que de costume, guardei minhas coisas no armário e voltei para a entrada. Estou ansioso, pois não falei com o Alec desde ontem a tarde. Tentei ligar para ele na parte da noite, mas ninguém atendeu. Ele me mandou uma mensagem esta manhã se desculpando, dizendo que está tudo bem e que nos veríamos no colégio. Não acreditei. Alec não tem o costume de não atender minhas ligações. Sei que ele está triste e abalado com o que aconteceu ontem no cybercafé.

— Madrugou? — pergunta Zach, assim que chega.

— Estou esperando o Alec — respondo, tranquilamente.

— Que fofo — diz, debochado. — Acho que a coisa tá ficando séria entre vocês.

— Sim — confirmo, e o encaro seriamente.

Zach, boquiaberto, franze a testa.

— É sério?!

— Sim!

— Tá brincando? Você e o Alec...?

— Sim, cacete!

Puxo Zach pelo braço para nos afastarmos da entrada. Mais colegas estavam chegando e eu não queria que ouvissem nossa conversa.

— O que tá acontecendo?! — questiona, eufórico. — Você tá gostando mesmo do Alec?

— Sim — confirmo, revirando os olhos.

— Já ficou com ele?

— Não! Não tive coragem.

— Hãn?! Como assim?! Como funciona esse relacionamento?

Balanço os ombros, confuso.

— Somos amigos — digo, coçando a cabeça.

— Amigos? Você acabou de dizer que gosta dele!

— Amigos com sentimentos um pelo outro. Não me pergunte, pois nem eu sei explicar!

Cortamos o assunto assim que Tristan e Brian chegam. Eles nos cumprimentam e entram no colégio. Percebo que prendi a respiração apenas quando os vejo tomar uma boa distância.
Solto o ar de uma vez.

— Fica calmo, Arthit — diz Zach, balançando meu ombro com a mão. — Estou com você para o que der e vier.

— Obrigado — digo, mas a voz quase não sai.

— Você tem que planejar seus próximos passos — diz, abaixando o tom de voz. — Já resolveu o problema com o Asher?

— Isso é o que mais me preocupa — falo, inquieto.

— Quanto antes resolver isso, melhor para você e seu novo namorado.

Estremeço quando Zach fala a palavra "namorado". Gosto do Alec e quero ficar com ele, mas ainda não pensei em detalhes e nos próximos passos. É informação demais de uma única vez para processar.

Alec chega dois minutos antes do aviso de início da primeira aula tocar. Ainda ao lado do Zach, penso em me aproximar e cumprimentá-lo, mas Thomas Harris e seus outros amigos o cercaram e entraram juntos no colégio. Alec percebe minha presença e acena. Aceno de volta, ainda preocupado.

— Tenha calma e força, garanhão — diz Zach, me empurrando para entrarmos também.

— Cala a boca! — resmungo, o empurrando de volta.

A aula de história é, sem dúvida, a pior do dia. São dois horários seguidos, sem intervalo. O professor Sheridan, um senhor nada simpático, costuma passar a primeira aula toda tagarelando sobre um assunto. A segunda é focada em exercícios, provas e trabalhos.

O primeiro horário finalmente acaba. Pareceu uma eternidade para mim. O Sr. Sheridan nos pediu para formar um grupo de, no máximo, quatro pessoas para a atividade do dia. Tristan, que não é a pessoa mais inteligente que conheço para trabalhos em grupo, arrasta a carteira para o meu lado. As amigas Madison e Nina, inseparáveis nas aulas de história, decidem se juntar a nós. É um alívio, pois fazer trabalhos com o Tristan é o mesmo que fazer sozinho.

— É a primeira vez que fazemos uma atividade juntos, Arthur — diz Madison, fazendo cachos em seu cabelo com os dedos.

— Ele é um dos mais inteligentes da turma — fala Tristan, orgulhoso de estar ao meu lado.

— Vamos ver se o que o Alec fala do Arthur é verdade — diz Nina, descontraidamente.

Franzi o cenho, surpreso com o comentário dela.

— Você é uma amiga próxima do Alec, né? — pergunto.

— Sim!

— O que ele fala de mim?

— Que você é bom em atividades em grupo.

Comprimo os lábios para não sorrir.

— Onde o Alec está agora? — pergunto, olhando a hora no relógio em cima do quadro branco.

— Indo para a aula de química ou biologia... — diz, pensativa. — Não lembro direito os horários dele.

— Vou ao banheiro! — minto, depois de pigarrear e levantar com um pulo rápido do meu lugar.

Pego o passe de banheiro do Sr. Sheridan, saio da sala de história e entro no corredor do primeiro andar. É horário de troca de aula. Os corredores estão cheios e barulhentos. Desço para o térreo e sigo em direção às salas de química e biologia. Para a minha sorte, as duas são praticamente uma ao lado da outra. Se Alec tem aula em uma delas, é provável que eu o encontre no corredor.

Seguindo distraidamente, ouço risadas mais à frente.

— É verdade que você é bicha? — questiona uma voz entre as risadas.

— Ouvi dizer que você gosta de pau — diz outra, rindo em seguida.

Era o Alec...
Cercado por três idiotas.

— Tenho que ir para a aula — diz meu amigo, tentando passar por eles.

— Calma aí, viado! — exclama um dos idiotas, o puxando pela mochila.

— Você nos deve uma resposta — fala o idiota maior, o empurrando contra a parede.

Meu coração quase pula do peito.
Meu corpo pega fogo de repente, igual a um palito de fósforo.

Preciso quebrar a cara deles.

— Você acha o meu amigo bonito? — pergunta o idiota maior, o empurrando contra a parede mais uma vez. — Quer ver o pau dele?

— Sai fora! — responde um deles, provocando riso nos outros.

Me aproximo, gargalhando mais alto que todos eles.

— O que é tão engraçado?! — questiono, apertando com força o ombro do idiota que empurrou o meu amigo na parede.

Ele resmunga de dor e se afasta.

— E aí, Arthit?! — cumprimenta outro dos idiotas.

— E aí?! — respondo, o empurrando com toda a força para se afastar do Alec.

Os três me encaram, adotando uma postura séria e apreensiva.

— É só uma piada, Arthit — diz o mais covarde deles, se escondendo entre os outros dois.

Um deles é Jeff Park, aluno do segundo ano. O que empurrou o Alec na parede, se não me engano, se chama Quentin Kaur, do terceiro. O outro não conheço, mas isso não o livraria de apanhar como os outros.

— Piada vai ser eu quebrar a cara de vocês se mexerem com o Alec de novo — digo, tomado pela raiva. — Levo suspensão e até uma expulsão com um sorriso no rosto depois de quebrar todos os seus dentes. Quer apostar?!

Eles não respondem e fogem correndo para as escadas de acesso ao primeiro andar. Não paro de encará-los até os três saírem do meu campo de visão.

— Alec, você tá bem? — pergunto, me virando para ele.

Meu amigo está pálido, trêmulo e hiperventilando. Uma das mãos está no peito, apertando com força seu moletom azul. A outra está perdida, como se ele tentasse se agarrar em alguma coisa. Mesmo me aproximando, Alec não parece ver nada ao redor. Ele chora descontroladamente, parecendo perdido em um mundo paralelo.

— Alec?! — chamo, atordoado. — Hey, Alec! Olha pra mim!

Ele não responde, mas agarra meu braço com força quando o encontra.

— Professor?! Alguém?! Socorro! — grito, tomando meu amigo em meus braços.

Nossos colegas que ainda estavam no corredor para a troca de aula começam a se amontoar ao nosso redor, olhando aquela cena como se assistissem a um filme de terror.

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