09

Quando O Sol Nasce No Ocidente | nove.

— Arthur? — Alec chama.

— Hãn?! O quê?! — respondo, desencorajado.

Como iniciar uma conversa com assuntos tão desagradáveis? Como dizer para Alec Stevens que Asher Cooper tinha contado para nossos colegas do time de basquete que ele é gay? Como dizer que Asher tinha sugerido uma aposta onde o objetivo era fazê-lo ter algum tipo de intimidade sexual com a gente e que, se eu ganhasse, entraria como titular no time? Como dizer que Asher é um babaca e que provavelmente fará da vida dele um inferno no colégio caso alguma coisa saia errado?

Não sei por onde começar.

— Você disse que quer conversar comigo antes de estudar, certo?

— Ah, claro!

— Sobre o quê?

Engulo saliva com dificuldade.

— Podemos começar com economia? — pergunto, evasivo. — É a matéria que tirei a menor nota.

— Claro! — responde, prontamente.

Achei que criaria coragem e que aqueles assuntos delicados fluiriam durante o tempo que estudamos, mas não foi como pensei. Começamos revisando as últimas aulas de economia. Fizemos exercícios e até brincamos de perguntas e respostas. Decidimos estudar história pouco depois de anoitecer, mas sempre que eu tentava puxar algum outro assunto, Alec me fazia focar no que estávamos revisando.

— Podemos fazer uma pausa? — pergunto, antes de bocejar.

— Temos muito o que estudar, Arthur.

— Por favor? — resmungo, deitando no chão. — História me dá sono.

Ele concorda.

Me distraio por um momento com minhas anotações de economia que estão no chão, ao lado de onde deitei. Quando volto a olhar para meu amigo, o percebo corado, sem jeito e tentando não olhar para mim. Tento entender o que o fez ficar daquele jeito. Assim como Zach, também suspeito que Alec tem uma quedinha por mim. Ficou meio óbvio depois do encontro que tivemos. Baseado nisso, talvez só a minha presença o faça ficar daquele jeito. Ou talvez seja pela bermuda de moletom que estou usando e que, pela posição que deitei, acidentalmente deslizou por minhas coxas e as deixou quase que completamente à mostra. Minha camisa oficial do time de basquete também subiu um pouco quando, sem perceber, cocei meu abdômen.

Fico envergonhado.

— Onde é o banheiro? — pergunto, levantando rapidamente.

— Saindo do quarto à direita, no final do corredor — responde meu amigo, depois de pigarrear.

Levanto arrumando a camisa, a barra da bermuda e colocando os chinelos para ir ao banheiro. Pego meu celular, que está jogado na cama, e procuro pelo número do Zachary na agenda. Saio do quarto em direção ao banheiro, tropeçando pelo caminho como um bêbado.

— Arthit?

— Não vou conseguir, Zach!

— Não vai conseguir o quê? Já está na casa do Stevens?

Entro no banheiro, fecho a porta e me sento na privada depois de abaixar a tampa.

— Ele corou enquanto olhava para mim.

— Arthit, você foi aí sabendo que ele tem um crush por você, lembra? Você vai conversar com ele e esclarecer as coisas, não vai?

— Não sei se consigo.

— Fica calmo, cara! É a dureza de sermos bonitos! É claro que chamamos a atenção de garotas e garotos por aí. Sinto muito que você teve o azar de um de seus amigos gostar secretamente de você.

Reviro os olhos.

— Calado, Zachary!

— Sua missão é conversar com o Alec, esclarecer as coisas, se livrar do Asher e não perder duas amizades, certo?

— Certo!

— Conversa com calma com ele e diz que você não é gay, que se sente lisonjeado pelo crush e que nada vai mudar. Diz que ele é seu amigo, mas nada mais do que isso. Todos ficarão felizes!

— E sobre o Asher e a aposta?

— Não precisa falar sobre a aposta, mas tem que falar sobre o Asher e o que ele e todo o time já sabe. A aposta você vê como resolver com o Cooper depois.

Concordo, desligando a chamada.

Volto para o quarto decidido a começar o assunto. Alec ainda está sentado no chão ao lado dos livros. Ele me olha, sorri e depois volta a fazer anotações em seu rascunho.

— Alec?

— Sim?

Controlo a respiração.

— Acho que está quase na hora do jantar — digo, covardemente. — O cheiro da comida da sua mãe é maravilhoso.

— Já está com fome? — pergunta, fechando os livros.

Confirmo com a cabeça.

— Mas não era isso que eu queria falar, sabe? — digo, coçando a nuca.

— Então...?

— É sobre você, mas tenho medo de te chatear com este assunto.

— Prometo não ficar chateado, Arthur.

Prendo a respiração.

— Você é tão diferente dos seus pais — comento a primeira coisa que pensei para desviar do assunto que tenho em mente. — Fisicamente, quero dizer.

— Você percebeu que sou adotado? — diz, sorrindo. — Sim! Eles não são meus pais biológicos.

Comprimo os lábios enquanto balanço a cabeça. Cruzo os braços, mas os descruzo quase que imediatamente. Minha inquietação é notável.

— Eles tem muito carinho por você — digo, sentando no chão ao lado dele. — Deu para notar quando cheguei e conversei com eles.

Alec concorda com a cabeça e sorri gentilmente. Acanhado, retribuo o sorriso e desvio o olhar para o teto.
Por que é tão difícil falar para ele o que está acontecendo?

Alec Stevens é um bom amigo e não tem culpa de nada. O conheço o bastante para saber que aquele assunto o deixará chateado comigo. O fato de ele ter uma queda por mim é bobagem, pois não me importo com esse tipo de coisa. Tenho certeza que esse interesse acabará com o tempo. A convivência e a amizade que temos vai superar qualquer outro tipo de interesse por parte dele.
Pelo menos é isso que espero que aconteça.

O jantar que a Sra. Stevens preparou aquela noite estava delicioso. É bom comer comida americana para variar dos pratos tailandeses e apimentados da família Arthit. Depois do jantar, Alec e a Sra. Stevens limparam a cozinha, e o Sr. Stevens e eu ficamos conversando na sala assistindo a um jogo aleatório de basquete. O tempo passa, mas minha inquietação continua. Quanto mais coisas descubro sobre o Alec e sua família, mais culpado me sinto pelo que está acontecendo. Quanto mais legais e hospitaleiros eles são, mais fico incomodado.

Alec tomou banho no banheiro do quarto dos pais dele, enquanto eu tomei no banheiro do final do corredor onde fiz a ligação para o Zachary. Ele volta pouco depois de mim. Nem terminei de secar o cabelo quando ele entra no quarto, já vestido, também enxugando o cabelo. Estou de bermuda e sem camisa. Só me atento para esse detalhe quando percebo que ele evita me olhar diretamente.

— Obrigado pela toalha — digo, já envergonhado.

— Tranquilo — responde, abrindo a porta do guarda-roupas.

Ele está de costas, demorando mais do que o necessário para pegar a roupa de cama.

— Amei a comida da sua mãe — comento, o observando. — Vou querer jantar aqui toda semana.

— Você será sempre bem-vindo — responde, olhando brevemente para trás.

É a primeira vez que vejo Alec Stevens com uma roupa mais confortável. Costumo vê-lo sempre com jeans, camisetas estampadas e jaquetas de moletom. Agora ele está com uma bermuda e uma camiseta de malha da cor cinza. Talvez seja o conjunto de um pijama. Percebo que o restante de sua pele é clara como o seu rosto. As pernas e coxas não tem pêlos, assim como as minhas. Ele é magro, acinturado e tem uma bunda volumosa...

Por que estou reparando no corpo do meu amigo?

Acho normal reparar e comparar meu corpo com o de outros homens, principalmente quando jogo basquete e tenho que tomar banho com meus colegas de time. O vestiário do colégio é lotado. Nunca senti atração por nenhum deles. Na verdade me sinto até um pouco incomodado de ver um monte de homem pelado andando no vestiário. Nunca reparei no tom da pele deles ou em suas partes íntimas.

Por que reparei na bunda volumosa do Alec? Por que sinto um frio na barriga e um pré endurecimento em minhas partes baixas?
Devo estar ficando maluco!

Certeza que é a falta de sexo e de masturbação. Tenho minhas necessidades e não tenho me aliviado nos últimos dias. Estresse, campeonato, estudos e muita dor de cabeça me impediram de bater uma no chuveiro. Claro que não fiz isso também no banheiro do Alec naquela noite. Essa é a única explicação para aquele absurdo.
Não sinto atração por homens.

— Você pode dormir na cama hoje, Arthur — diz, jogando um travesseiro para mim. — Vou dormir no colchão de ar.

— Claro que não! Eu durmo no colchão de ar, Alec.

— Ele é muito desconfortável.

— Mais um motivo para eu dormir nele!

Alec não concorda, mas não o deixo encher o colchão sozinho, forrá-lo e muito menos deitar nele.

Eu estava inquieto, porém agora não só físico, mas mentalmente também. Já deitado, com a porta do quarto fechada e só com a luz do abajur da mesa de cabeceira acesa, o silêncio assombroso que faz no quarto me deixa ainda mais nervoso.

— Colchão desconfortável, né? — pergunta, percebendo que não consigo parar quieto.

— Um pouco, mas estou bem!

— Arthur, se quiser a gente pode trocar de cama e...

— Quero falar sobre o Asher e uma coisa chata que está acontecendo, Alec — digo, sem pensar para não me acovardar novamente.

— Sobre o Asher? O que tem ele?

— Ele é um idiota! Me propôs uma coisa muito nojenta!

— O que ele propôs?

Sento no colchão de ar me desequilibrando para o lado. Talvez por não tê-lo enchido direito.

— Ele...

Suspiro e coço a cabeça.
Alec vira o corpo para ficar de frente para mim.

— Ele?

— Ele não quer me ajudar a entrar como titular nos jogos do campeonato intercolegial. O treinador falou com ele sobre mim, mas...

— Por que ele não te ajuda? Vocês não são amigos?

— Ele quer que eu... Treine mais, sabe?

A verdade não quer sair.

— Você já treina bastante, Arthur.

— Você acha que o Asher joga melhor que eu?

Meu amigo balança os ombros, pensativo.

— Não entendo de basquete, mas sempre os vejo fazendo boas jogadas nos treinos. Acho que vocês estão no mesmo nível.

Não vou conseguir. Não quero chatear o Alec e causar um mal estar estando como visita na casa dele. Mas as coisas não podem ficar daquele jeito.

— Você é um dos meus melhores amigos, Alec — digo, o encarando seriamente. — Você e o Zach são os amigos que mais preso. Você me ajudou com tanta coisa e tem me ajudado, mesmo com tão pouco tempo que nos conhecemos.

Ele sorri e seu corpo parece se encolher em baixo da coberta.

— Se um dia alguém te perturbar ou te ofender por qualquer motivo que seja, por favor, me fala?

— Como assim?

— Promete pra mim?

— Tudo bem, mas...

— E não anda muito com o Asher, tá? Ele é mais babaca do que parece e não é seu amigo, Alec.

Ele estranha, mas concorda com a cabeça.

— Tudo bem — diz, confuso.

— Eu sei do que estou falando e preciso que você confie em mim, tá bom?

— Okay.

Minha inquietação me deixa com calor, mesmo sem camiseta. Me sinto um pouco melhor depois daquele alerta apesar de não ter feito progresso algum. Não é o Alec que tem que lidar com aquela situação. Tenho que resolver tudo com o Asher e pôr um ponto final naquele absurdo, mesmo que custe minha permanência no time de basquete.

— Vamos dormir — digo, voltando a deitar de forma desleixada e torta no colchão de ar.

Alec percebe e começa a rir.

— Quer dormir na cama? — sugere. — Posso dormir com minha mãe. Meu pai sempre dorme na sala assistindo TV e...

— Não vou te tirar da sua cama, Alec.

— Não quero que você acorde amanhã com dor nas costas, Arthur.

Fecho os olhos, apertando-os.

— Posso dividir a cama com você? — sugiro.

Não sei de onde veio essa ideia. Não é nada demais, pois durmo na mesma cama com o Zachary quando estou na casa dele. Tudo bem que Zach não é gay e a cama é de casal, mas...

— Se não for te incomodar — responde. — Prometo que fico bem no cantinho, encostado na parede.

— Tranquilo! — exclamo, voltando a sentar no colchão. — Só me avise se eu te incomodar ou acordar.

Ele concorda, indo mais para o canto da cama.

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