06
Quando O Sol Nasce No Ocidente | seis.
O dia nem começou e já estou com dor de cabeça. Quase não consegui dormir noite passada com tantas preocupações. Minhas notas no colégio me preocupam e como vou mostrá-las para meus pais me atormenta. O primeiro jogo do campeonato intercolegial é amanhã e preciso ser perfeito no treino de hoje se quiser ter uma chance no time titular. Asher Cooper insiste em zoar Alec Stevens, que teve uma séria crise de pânico ontem a noite.
Como vou resolver todos esses problemas?
— Você está péssimo, Arthur — diz Zach, rindo.
— Bom dia pra você também, Zachary — resmungo, pegando o livro de inglês do meu armário.
— Caiu da cama, foi?
— Insônia.
— O primeiro jogo do campeonato é amanhã.
— Nem me fale! Não sei se vou conseguir treinar hoje. Logo agora que o treinador elogiou meus passes.
— Se continuar com essa insônia, nunca vai sair do banco dos reservas.
Soco o ombro dele, sem força.
— Qual é sua primeira aula, Zachary?
— Química, e a sua?
— Inglês.
Uma das matérias que preciso melhorar a minha nota.
— O Stevens está nessa turma, não é?
Confirmo com a cabeça.
— Zach, pode me fazer um grande favor?
— Claro, Arthit.
— Fica de olho no Asher por mim? — sussurro. — Ele quer zoar o Stevens desde que descobriu que ele é gay. Isso é babaquice.
Zach franze o cenho.
— Por que você tá preocupado com isso?
— Como assim, Zach?! Vai me dizer que você também é homofobico?
— Não sou homofobico, Arthit!
— Zoar o Alec é babaquice — sussurro, ainda mais baixo. — O cara é gente boa! Ele me ajudou no trabalho de inglês, te ajudou a lidar com minha bebedeira em sua festa pós baile...
— E sempre nos dá tempo grátis no cibercafé — diz Zach.
— Ele é meu amigo — enfatizo.
— Ele é gente boa — concorda Zach. — Pode deixar que vou ficar de olho no Asher.
— Obrigado.
Zach se despede com um toque de mãos e segue rumo às escadas que dão acesso ao primeiro andar. Cruzo com Asher, Miles e Brian no corredor. O trio inseparável. Miles e Brian me cumprimentam com um aceno. Asher, debochado, sorri e faz um gesto sugerindo uma masturbação quando percebe que estou indo para a aula de inglês.
Falta menos de cinco minutos para tocar o sinal quando entro na sala. Meu lugar está ocupado por Mikaela Denson, uma das garotas da torcida. Ela conversa descontraidamente com outras gatas da nossa turma. Minha vontade é de reivindicar meu lugar e aproveitar para conversar com elas, mas desisto assim que vejo Alec Stevens sentado em sua carteira de sempre, no centro da sala, encolhido em seu moletom de cor mostarda.
— Posso sentar aqui? — pergunto, e aponto para a carteira ao lado dele.
— Claro, Arthur — responde, sorrindo.
Aproximo a carteira um pouco mais antes de sentar ao lado do Alec. Olho novamente para as garotas. Elas olham de volta, sorrindo e acenando de um jeito meigo e espontâneo.
Suspiro, sorrindo de volta.
— Fiquei preocupado com você — digo, voltando minha atenção para ele. — O que aconteceu ontem?
— Sobre minha crise de pânico? — pergunta, acanhado.
— Você disse que vai me contar sobre essas crises de pânico, lembra.
Ele confirma com a cabeça. Alec olha para os lados, imagino que para ver se não tem alguém perto para nos ouvir. Entendo que é algo muito particular, então me aproximo dele um pouco mais.
— Foi um acidente de ônibus há alguns meses — diz, quase sussurrando. — Foi em uma excursão do meu colégio anterior.
— Antes de ser transferido pra cá, então?
Alec confirma com a cabeça.
— Não lembro direito o que aconteceu — continua. — O ônibus perdeu o controle e saiu da estrada. Muitos colegas ficaram feridos e...
Ele para de repente, quase do mesmo jeito que parou ontem na frente do cibercafé.
Não posso permitir que ele tenha outra crise de pânico.
— Tudo bem! — exclamo, e envolvo meu braço em seu pescoço. — Você vai amanhã no jogo de abertura do campeonato de basquete intercolegial, não vai?
Ele confirma com a cabeça.
— Perfeito! — digo, o chacoalhando para distraí-lo. — Espero ver você e seus amigos lá, certo?!
— Pode deixar, Arthur — diz, voltando a sorrir.
Alec Stevens sofreu um acidente de ônibus indo para uma excursão de seu colégio anterior. Ficou claro que aquele foi um momento muito traumático para ele. Claro que havia mais coisas que Alec não conseguia contar, mas eu não queria saber se aquilo o fizesse ter outra crise.
Conhecendo um pouco mais o meu novo amigo, nada tira da minha cabeça o quanto Alec sofrerá se cair nas mãos do Asher. Asher Cooper quer zoá-lo, humilhá-lo ou pior. Ele deve estar tramando alguma coisa, pois não espalhou para o colégio todo o que descobriu sobre o Alec.
No começo eu via Alec como mais um nerd no colégio. Depois passei a vê-lo como um colega inteligente que podia me ajudar com meus trabalhos da turma de inglês. Hoje o vejo como um amigo que precisa da minha ajuda. Tenho certeza que a babaquice que Asher pretende fazer vai machucá-lo. O vejo como uma pessoa frágil, e não é por ele ser gay. Ele é retraído, tímido e não tem muitos amigos. Sempre o vejo no intervalo com uma garota que não conheço e com Thomas Harris, um dos meus colegas da turma de história.
E tenho aula de história no fim do dia.
Talvez eu deva ter uma conversa com Thomas Harris, antes de decidir se conto ou não para Alec o que está acontecendo.
O dia parece passar a conta gotas. Estou mentalmente cansado e fisicamente destruído. A conta parece ter chegado por eu não ter dormido direito. As vozes dos professores estão mais insuportáveis que de costume e o barulho da caneta arranhando o quadro branco só me dá mais dor de cabeça.
A chegada do intervalo foi mais uma prova de que não vou conseguir treinar naquela tarde. Meus colegas de time estão animados e já pensam em estratégias para o primeiro grande jogo. Eu, por outro lado, estou fatigado, debruçado sobre a mesa do refeitório despedaçando um sanduíche de atum.
— Fiquei sabendo que você foi a um encontro com Lisa Barnet — diz Asher, sentando ao meu lado.
— Sábado passado.
— Pegou ela?
— Não! Fomos ao cinema e depois ela foi embora.
— Nem um beijinho, Arthit?
Balanço a cabeça em negativa.
— Ela é muito gostosa — diz, e chega mais perto de mim. — Se quiser, posso descolar um esquema pra gente com ela.
— Esquema pra gente? — pergunto, confuso.
— Seus pais costumam sair nos finais de semana, não é?
— Sim.
— Ela já quis sair comigo e agora saiu com você — sussurra, e chega mais perto. — E se eu a levar na sua casa neste final de semana?
Engulo saliva, pensando com calma no que vou responder.
— Não, obrigado — digo, seco.
— Qual é, Arthit? — pergunta, sussurrando. — Quanto tempo faz que você não transa?
— Você quer transar a três com a Lisa? — pergunto.
— Claro! — confirma, e envolve o braço em meu pescoço. — Se eu vou levá-la na sua casa, você tem que dividir para me retribuir o favor.
— Não enche meu saco, Asher! — respondo, tentando empurra-lo.
— Tudo bem! Tudo bem! — exclama, me apertando mais em seu braço. — Se quiser a gente pode deixar ela pra lá. Eu mesmo posso tirar o seu atraso se quiser.
— Seu demente! — exclamo, e o empurro com mais força.
Asher finalmente me solta. Ele ri como se tudo aquilo fosse uma piada engraçadíssima. O encaro, sem paciencia para aquele tipo de brincadeira idiota que ele costuma fazer.
A última aula do dia é história. Thomas Harris, amigo do Alec Stevens, está na minha turma. Quero falar com ele sobre nosso amigo em comum, mas não tenho ideia de como começar. Acho que Thomas sabe que Alec é gay. Lembro que Asher disse que só os amigos mais próximos do Alec sabem. Thomas e ele vivem grudados pelo colégio. Tenho certeza que ele sabe, mas mesmo assim, não sei como puxar este assunto.
— Hey, Harris! — exclamo, o chamando depois do sinal de aviso do fim da aula.
— Arthit! — responde, guardando o livro de história na mochila.
— Como vão as coisas?
Thomas franze a testa, surpreso.
— Bem, obrigado! E como vai o time de basquete?
— Bem! Tudo vai bem!
Ele sorri, fechando a mochila e a colocando nas costas para ir embora.
— Espera! — exclamo, travado.
— Hm?!
Como começar um assunto tão desconfortável? Como assumir a responsabilidade do que está acontecendo? Como falar sobre a vida pessoal do Alec sem ter a certeza de que Thomas era um dos amigos que sabem seus segredos?
Alec disse que seus amigos sabem, mas não disse quais.
— Você vai no jogo de basquete amanhã, né?
— Claro! Não vou perder por nada.
— Leva seus amigos com você, beleza?
— Pode deixar!
Thomas vai embora.
Talvez falar com outra pessoa sobre a sexualidade do Alec e suas crises de pânico não seja uma boa ideia. Tenho que falar com ele.
Só com ELE.
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