05
Quando O Sol Nasce No Ocidente | cinco.
O treino de basquete começou tarde aquela manhã. Inspirado, nosso treinador mexeu no time para testar novas estratégias de ataque e defesa. Pela primeira vez fiquei na mesma divisão que Asher e Tristan, os dois cestinhas do time. Fizemos muitos pontos. A maioria das cestas do Asher foram graças aos meus passes. Miles, o jogador mais alto, também me ajudou com cortes e bloqueios.
O olhar de aprovação do treinador e dos meus colegas no final do treino me deu a certeza de que estou em meu melhor momento. Nunca me senti tão preparado para assumir um lugar de destaque no time. Tenho treinado não só no colégio, mas em casa também. Passo muito mais tempo na academia. Minha alimentação está quase perfeita, tirando alguns imprevistos de encontros que tive no final de semana passado.
— Bom trabalho hoje, Arthit — diz o treinador. Ele me entrega a bola do jogo. — Seus passes estão com quase cem por cento de aproveitamento. Continue assim!
— Obrigado, professor! — agradeço, radiante.
— É... Bom trabalho, Arthit — diz Asher, enxugando o suor do rosto com a camisa. — Se continuar assim estará a um passo de entrar como titular nos próximos jogos.
Ele me lembrou um assunto que temos pendente.
Enquanto nossos colegas vão para o chuveiro no vestiário, Asher e eu ficamos na quadra. Não consigo disfarçar quando estou incomodado com alguma coisa. Ele percebeu isso no momento em que me elogiou, por isso também ficou para trás.
— O que é? — pergunta, com um sorriso entediado.
— Alec Stevens — respondo, pingando a bola no chão.
— Ah, claro! — exclama, rindo mais um pouco. — Ainda não tive progresso com ele.
— Eu ganhei a aposta, Asher — digo, e jogo a bola para ele com um passe rápido.
Ele ergue as sobrancelhas e arregala os olhos, boquiaberto.
— Você o quê?!
— Alec Stevens e eu tivemos um encontro domingo passado. O levei para passear, comer no centro de Pittsburgh e tomar um sorvete.
— E o que mais?!
— Só isso! Tivemos um encontro e isso me torna o vencedor da aposta.
Asher balança o dedo indicador da mão direita e sorri maliciosamente.
— Um encontro não te faz o vencedor da aposta, Arthit — diz, enquanto se aproxima. — Você precisa se esforçar um pouco mais se quiser entrar como titular. O primeiro jogo já é esta semana!
Reviro os olhos.
— Não vem com essa, ok? O combinado era seduzir ele, não é? Eu fiz isso! Ele até corou quando o ajudei a se limpar com um guardanapo.
— Ele corou?! Então você está mais avançado que eu nas investidas? Meus parabéns, Arthit!
— Não estou mais avançado. Eu venci! Você já pode falar com o treinador para me escalar para o time da seccional.
Ele balança a cabeça e cruza os braços.
— Se você acha que levar o gayzinho para um encontro te faz o vencedor da aposta, você está muito enganado.
— O nome dele é Alec.
— Talvez eu tenha que ser mais claro quanto aos termos da nossa aposta, Arthit.
Asher joga a bola para trás e chega mais perto.
A lateral do rosto dele quase encosta no meu.
— Alec Stevens tem que nos fazer algum agradinho, se é que você me entende.
— Não quero te entender.
— Faça-o pegar em você, garanhão! Faz ele te masturbar ou chupar você.
— Você é nojento!
Ele se diverte com minha reação.
— Não vou fazer nada disso — digo. — Não sou gay!
— Você não tem coragem? — pergunta, sussurrando. — Não tem vontade de jogar na seccional? Essa é nossa última chance antes da formatura, Arthit.
Suspiro.
— E você, Asher?
— O que tem eu?
— É gay por acaso?
O sorriso irônico desaparece dando lugar a um olhar hostil.
— Quer provar? Será que você dá conta?
— Por que essa ideia idiota com o Stevens? Por que esse tipo de brincadeira pervertida com ele?
— Quero ter certeza se ele é gay ou não.
— Mas você já não tem? Não disse que ele mesmo te confessou isso no parque?
— Quero ter certeza!
— Por quê? O que isso vai mudar na sua vida?
Ele volta a sorrir, balançando os ombros.
— Não vou participar disso — digo, saindo em direção ao vestiário.
A decisão foi tomada. Aquela aposta é ridícula e o motivo para dar continuidade a ela é patético. Prefiro ficar no banco todos os jogos do campeonato.
As aulas daquela quarta-feira entediante estavam tão cansativas que o tempo parecia não passar. As notas das últimas provas e atividades saíram, mas não desdobrei o papel entregue pelo professor Monaghan para não estragar o resto do meu dia. Eu sabia que tinha falhado em algumas matérias, e isso provocaria a ira dos meus pais.
A última aula é de biologia, mas ninguém parece interessado no documentário sobre formigas que a professora O'Neal colocou no projetor. Zach está ao meu lado, quase dormindo. Asher está desenhando bobagens em seu caderno. Miles está no fundo da sala com o capuz do moletom na cabeça, provavelmente cochilando.
Na parte da tarde, como de costume, fui matar o tempo na casa do Zach. Asher e Tristan não me acompanharam, mas ficamos de nos encontrar mais tarde para jogar CS-GO no cibercafé. Alicia Heizer, irmã mais nova do Zachary, tem uma quedinha platônica por mim. Segundo Zach, ela fica toda animada quando estou lá. Como Asher e Tristan não estavam, ela se sentiu confortável em ficar no quarto do Zach conversando com a gente. Alicia tem doze anos, mas tem o porte físico de uma garota de quinze. Ela com certeza é mais inteligente que as meninas de sua idade.
Pouco antes do anoitecer, Zach e eu encontramos Asher e Tristan na frente do cibercafé. O mesmo cibercafé que Alec Stevens trabalha. Assim que encontro Asher, o encaro seriamente. Acredito que ele é esperto o bastante para entender que não é para fazer piadas ou comentários sobre a vida particular do meu amigo.
— Alec Stevens! — Quase grita Tristan, cumprimentando-o assim que entramos.
— Aleczinho, nosso mascote! — diz Asher, piscando o olho sugestivamente para mim.
Coço o rosto com o dedo do meio.
— Boa noite, pessoal — diz Alec, levantando de sua cadeira atrás do balcão para nos cumprimentar.
— Duas horinhas nos nossos cadastros, por favor — pede Zach.
— Três para mim, Alec — digo. — Tenho que fazer algumas pesquisas e revisar algumas matérias.
— Não vai jogar com a gente, Arthit? — pergunta Tristan.
— Depois que eu terminar as pesquisas — respondo.
— Nerd! — exclama Asher, me empurrando.
Minhas notas nas últimas provas e trabalhos foram péssimas. Tirar B- em matemática e um C+ em biologia era motivo o bastante para meus pais surtarem e ameaçarem me colocar em um colégio militar na Tailândia. Eles são obcecados por minhas notas. Se não tiro A, investigam minha vida e minha rotina até terem a certeza de que não estou usando drogas ou com más companhias.
Vou ter que estudar muito nos próximos dias.
O primeiro jogo do campeonato intercolegial de basquete já é esta semana. Se eu quiser ter uma chance como titular, vou ter que me esforçar muito para impressionar o treinador. Conciliar os treinos e os estudos para recuperar minhas notas não será uma tarefa fácil. Ou me dedico à quadra, ou à biblioteca. Os dois é impossível!
— Acabou o jogo — resmunga Tristan, quando encerra o tempo que pagou para usar o computador.
— Outro dia a gente joga mais — diz Zach, bocejando. — Estou cansado.
— Vamos embora, Arthit? — pergunta Asher, olhando o que estou fazendo no computador.
— Podem ir — respondo. — Minhas notas não foram tão boas e preciso estudar um pouco mais.
Zach e Tristan assentem, mas Asher permanece ao meu lado. Ele se aproxima, apoia o queixo em meu ombro e me abraça por trás.
— Quer ficar a sós com o Alec, não é? — sussurra.
— Me solta, seu doente!
— A aposta ainda está de pé. Se quiser minha ajuda para entrar no time, faça o que eu disse.
— Não vou fazer nada.
— Você que sabe — diz, roçando o nariz em meu rosto. — Porém acho que é uma oportunidade perdida. Algo me diz que você tem mais chances com o Stevens. Acho que ele tem uma quedinha por você.
O empurro com o cotovelo para ele me soltar.
— Deixa o Alec em paz — sussurro. — O que você tá fazendo é babaquice.
— É só uma brincadeira divertida, Arthit — responde, debochado. — Larga a mão de ser tão certinho. Se você não fosse do time de basquete, seria um nerd perdedor igual a ele.
Minha vontade é de socá-lo, porém por mais babaca que Asher Cooper seja, ele ainda é um de meus melhores amigos. Perdi a conta de quantas vezes ele me ajudou com minha ex-namorada, com o time de basquete e com os problemas que costumo ter com meus pais. Asher sempre foi prestativo e esteve ao meu lado quando precisei. O grande problema de Asher Cooper é a popularidade. Desde que se tornou capitão do time de basquete, tem se comportado de forma mais imatura, soberba e inconsequente. Por estar em excelente forma física e ser popular entre as garotas do colégio, também começou a promover algumas farras entre amigos. Sei que Miles e Brian já participaram de uma festinha particular organizada pelo Asher. Zach, Tristan e eu fomos convidados para essa festinha. Não sei e nem quero imaginar como seria se tivéssemos aceitado.
Faz um tempo que meus amigos foram embora. Alec Stevens começa a limpar os computadores, arrumar as cadeiras e o resto da loja. O considero um amigo mais próximo desde que saímos no último domingo. Acho que a babaquice do Asher também fez com que eu desenvolvesse empatia por ele.
— Já vai fechar a loja, Alec? — pergunto, assim que ele passa por mim.
— Sim, já está na hora!
— Quer ajuda?
— Não precisa, Arth.
— Faço questão!
Termino de colocar as cadeiras no lugar e desligo os computadores. Ajudo Alec a separar o lixo e a desligar as luzes antes de sairmos.
— Como era o nome do falecido dono do cibercafé? — pergunto, enquanto ele tranca a porta.
— Robert Walsh — responde, cabisbaixo.
— Ele era um bom chefe? Você sente muito a falta dele?
Alec sorri, mas parece triste com aquele assunto.
— Ele era incrível! Se não fosse a oportunidade que me deu para trabalhar aqui...
Ele fica em silêncio. Sem dúvida eles eram próximos e Alec era muito grato e apegado ao seu antigo chefe.
— Alec? — chamo, quando percebo que ele está há muito tempo parado no mesmo lugar, virado para a porta de entrada do cibercafé.
Ele não responde.
— Alec?! — insisto, e me aproximo.
Ele está tremendo. Coloco a mão em seu ombro, mas ele se assusta e se afasta, batendo o braço com força na porta da loja. Alec estava estranho e parecia fora de si. Os olhos fechados. A respiração rápida, quase hiperventilando. Fico ainda mais preocupado quando ele começa a chorar.
— Hey, Alec! — exclamo, segurando seus braços.
Alec resiste, mas o seguro com força o bastante para ele não se debater ou se machucar. Afasto ele aos poucos da porta do cibercafé e o trago para a guia da calçada. Era mais seguro ele ficar em um lugar sem zona de colisão e com boa circulação de ar.
— Hey, Alec?! Oi?! Tá me ouvindo?!
— O quê?! Oi?!
— Você está bem?! O que aconteceu?!
— Eu não...
Ele está atordoado. Os braços estão frios. O sangue sumiu de seu rosto.
— Melhor eu te levar para um hospital.
— Estou bem! Só foi um mal-estar.
— Você está pálido, Alec.
— Deve ser fome! Não comi nada esta tarde.
— Você ficou fora de si por alguns segundos.
O sangue está voltando pouco a pouco para suas bochechas. A respiração parecia voltar ao normal.
Diminuo a força com que o segurava. O mantenho ao meu lado, apoiado em meu ombro esquerdo, caso a crise que teve volte de repente.
— Estou bem, é sério — diz, se afastando um pouco. — Foi só uma crise de pânico.
— Crise de pânico? — pergunto, preocupado.
— Tenho crises de pânico às vezes. É uma longa e complicada história, Arthur.
— Quero ouvi-la. Somos amigos, não é?
Ele concorda.
— Pode ser amanhã ou outro dia? — pergunta, atordoado.
— Sim, mas não vou deixar você voltar sozinho para casa — digo, pegando meu celular do bolso. — Vou chamar um Táxi pra gente.
Crise de pânico?
Quanto mais conheço Alec Stevens, mais me sinto um canalha. E definitivamente quero matar Asher Cooper.
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