Nove

Jill se sentia em êxtase. Jesse a segurava firme nos braços, a prendendo contra ele, seu quadril pressionando o dela, o corpo inteiro entregue a Jill, enquanto ela mal sabia como o corresponder.

Ele era tão intenso e ao mesmo tempo tão carinhoso! Jesse era doce, diferente de tudo o que Jill tinha conhecido no passado, e ela queria mais dele, muito mais.

Na ponta dos pés, Jill o segurava pelos cabelos e suplicava silenciosamente que ele não parasse de beijá-la, que continuasse a provocá-la deslizando os lábios úmidos em seu pescoço. Ela o retribuía como podia, arrastando suas unhas contra a pele exposta dos seus braços e o beijando ao pé do ouvido, fazendo-o arfar a cada vez um pouco mais profundamente.

— Você sabe que eu estava falando sério, não é? – ele quis saber baixinho de repente, interrompendo o beijo, mas sem se afastar muito, a mirando com um ar provocante, com aquele sorriso torto que Jill adorava se espalhando pelo rosto – Eu preciso mesmo acordar cedo amanhã. – lembrou a ela – Às cinco e meia pra ser exato.

Jill riu de nervoso. Ela tinha certeza que se eles não parassem naquele exato momento a situação sairia de controle em um estalar de dedos.

Ela podia sentir que ele queria. Ela mesma queria muito. Mas estava tudo indo rápido demais até mesmo para alguém que havia passado os últimos dias sem conseguir tirar aquele homem da cabeça. Era necessário desacelerar.

— Eu preciso ir embora. – ela concluiu, tentando se afastar da influência física que ele exercia sobre ela, mas Jesse a puxou para ele mais uma vez.

— Ainda não. – afirmou voltando a beijá-la, a deixando indefesa e a inundando de desejo ao ponto de quase fazê-la esquecer quem era.

Quando voltaram a se separar, estavam ambos ofegantes e no limite de suas forças de vontade. Jesse se obrigou a dar um passo para trás, ainda que mantendo seus braços em volta da cintura de Jill.

— Se você fizer isso de novo... – ela não conseguiria se controlar. Era o que queria ter dito, mas Jill não tinha fôlego para terminar a frase e o rosto de Jesse se abriu em um sorriso de orelha a orelha, daqueles que fazem até os olhos cintilarem, o primeiro do tipo que ela via nele.

— Não vou. Reconheço bem uma ameaça quando a recebo. – ele respondeu divertido, colocando as mãos para trás do corpo para garantir que não voltaria a tocá-la.

Jill mal podia acreditar no quão diferente ele estava em comparação com quando o conhecera na semana anterior. Ela só se lamentava não ter sabido sua história antes. Com certeza teria sido diferente se soubesse, mas não importava mais. Jesse estava relaxado e alegre, e Jill se sentia um pouco orgulhosa de si mesma porque sabia que o motivo era ela.

— Deixo a caixa térmica pra você? – quis saber, indicando o banco embaixo da árvore a poucos passos de distância e a caixa que havia trazido de casa – Ainda tem três cervejas lá dentro.

— Isso depende. – Jesse contrapôs arqueando uma das sobrancelhas – Você vai voltar aqui pra me ajudar com elas qualquer dia desses?

— Talvez. – ela respondeu entrando na brincadeira, já que a resposta era bem óbvia – Acho que amanhã à noite minha agenda está livre. Preciso verificar, mas tenho quase certeza que disponho uma janela de tempo.

Jill achou que Jesse gracejaria de volta, que a responderia com ironia, mas ele foi ficando sério e o coração dela diminuindo dentro do peito, a ponto de quase implodir quando percebeu que, na verdade, ele voltava a se fechar.

O que ela tinha feito de errado? Dava para ver pela expressão dele que sua mente estava longe. Jesse desviou sua atenção para a noite, pensando em algo profundo. Um instante depois suspirou, parecendo se lembrar de que não estava sozinho.

— Nesse caso, – respondeu, voltando a olhar para Jill, um esboço de sorriso se mostrando, apenas uma sombra se comparado ao que ela havia experienciado instantes antes – deixe a caixa aqui.

Em silêncio, os dois caminharam lado a lado até o carro. Jesse abriu a porta do motorista para ela e a esperou se acomodar no banco antes de a fechar. Jill desceu o vidro, deu a partida no motor, e olhou para ele, desejando mais uma vez poder ajudá-lo, ainda que sabendo que jamais dependeria dela.

— Bons sonhos, caubói. – ela implicou com o domador, piscando e tentando arrancar dele um daqueles sorrisos verdadeiros que ficavam tão maravilhosos em seu rosto.

Jill engatou a ré e, enquanto o carro se afastava devagar, recebeu sua recompensa. Ainda em silêncio, Jesse enfiou as mãos nos bolsos da bermuda e o canto esquerdo de sua boca se curvou para cima, em um meio sorriso torto. Ver aquilo aqueceu a alma dela.

Quando acordou no outro dia estava exultante. Nem mesmo as quase dez chamadas perdidas de Brian e os dois e-mails relacionados ao trabalho, apesar do seu aviso de férias, foram capazes de tirar o seu bom humor. Jill ignorou todas as notificações sem peso algum na consciência e ligou para Collin, não para contar sobre Jesse, mas para saber como o irmão estava.

Infelizmente os dois quase não conseguiram conversar porque Collin estava na estrada junto com sua banda, indo para Roswell, Novo México. Seria lá o show do qual falara quando estava em Spring Creek, e que estava marcado para acontecer no dia seguinte. Em meio aos cortes e chiados da ligação, ela conseguira compreender que o irmão e os companheiros preferiram sair de Dallas com um dia de antecedência para evitar possíveis engarrafamentos, já que era feriado na cidade para onde estavam indo.

Sem ter muito mais o que fazer, Jill decidiu ir visitar sua égua no pavilhão.

Ela vestiu as botas e desceu a colina, uma expectativa enorme dentro de si transbordando pelo sorriso que não saía de seu rosto. Era o meio da manhã e Jesse escovava o cavalo com o qual ela o tinha visto no sábado, embaixo da mesma árvore onde eles tinham se beijado na noite anterior. Quando a viu se aproximar, vinda da trilha que dava no lago, ele deixou de lado a escova e sorriu também.

— Eu não posso beber durante o serviço. – brincou, lembrando do trato que haviam feito, indo encontrá-la no meio do caminho enquanto ajeitava o chapéu na cabeça, algo que Jill percebeu naquele momento ele sempre fazia quando estava ansioso.

— Quem te disse que vim aqui te ver? Eu vim visitar a Caramelo. – ela rebateu cheia de ironia, mas suspirando de alívio por dentro.

Jill temera muito que aquela nuvem de pesar que vira nublar os olhos dele no dia anterior pudesse o impedir de se permitir sentir o que estava acontecendo entre os dois, e que ele acabasse por a afastar. Mas Jesse estava tão radiante quanto ela.

— Então... Quer dizer que você não quer que eu faça isso? – ele quis saber quando a alcançou, a puxando pela cintura, as mãos calejadas a segurando contra ele – E nem isso. – acrescentou, se inclinando para a beijar carinhosamente, como se ela fosse uma flor.

— Você pode repetir? – Jill pediu fingindo confusão quando ele afastou a boca da dela um instante depois – Eu não entendi nenhuma palavra do que você disse.

Jesse bufou e a soltou de uma vez.

— Depois eu é que sou insuportável. – zombou, balançando a cabeça, uma expressão de incredulidade divertida no rosto.

— Do que você está falando, caubói? – ela alfinetou, deliciada com aquela dinâmica espirituosa que havia se estabelecido entre eles.

— Você disse pra Caramelo que eu era insuportável! – ele acusou, noventa e nove por cento falsamente indignado, mas aquele outro um por cento... – No dia em que a gente se conheceu, lembra?

Jill sentiu as orelhas queimarem de vergonha ao recordar que ele costumava se sentar em silêncio absoluto por entre as vigas do teto do pavilhão. Ela tinha feito mais do que uma visita em momentos em que ele pudesse estar lá em cima vendo e ouvindo tudo que acontecia mais embaixo, só que naquele primeiro dia não foi assim que aconteceu. Jesse fora até ela, se apresentara e lhe passara um sermão para depois dar as costas e sumir no fundo do pavilhão. Jill havia mesmo o chamado de insuportável em voz alta depois daquilo, mas ele não estava por perto. Ou pelo menos assim ela pensara na hora.

— Quer dizer que você estava mesmo me espionando? – ela quis saber, cruzando os braços no peito e o mirando intensamente, metade de si ainda na brincadeira, a outra interessada em ir até o fundo daquela questão – E desde o primeiro dia?

— Não muda de assunto. – Jesse pediu, fazendo uma careta, claramente disposto a conversar sobre qualquer outra coisa, menos aquilo. Jill não precisava de uma confissão mais clara.

— Sou eu que estou mudando de assunto? – ela continuou a provocá-lo – Eu preciso te lemb-

Jesse a puxou, sem aviso algum, e a beijou, a apertando nos braços musculosos, quase fazendo os pés de Jill deixarem de tocar o chão, enquanto ela se agarrava ao seu pescoço e o correspondia com paixão, o coração descompassado pulando como um louco dentro de si.

— Você fala demais. – ele sussurrou contra os lábios dela depois de um tempo, a soltando e se afastando devagar, os olhos azuis presos e focados completamente nela – A Caramelo está te esperando na baia. Não foi pra isso que você veio aqui?

— É... Foi sim. – Jill respondeu ainda meio trêmula, amaldiçoando silenciosamente aquele homem pelas coisas que era capaz de fazê-la sentir.

Jesse a acompanhou até o pavilhão e à baia da égua prenha, ambos tomando o cuidado de não voltarem a se tocar. Ele explicou a Jill detalhes sobre a gestação do animal, cujo parto estava previsto para acontecer a qualquer momento, e ela o fez prometer avisá-la quando começasse.

Passados dez minutos de conversa, Jesse se desculpou, dizendo que precisava voltar ao trabalho e Jill optou por regressar à casa. Inquieta com a tarde que não passava, ela decidira testar seu antigo computador de mesa para ver se ainda ligava ou se ela poderia desmontá-lo e jogá-lo fora, deixando assim sua escrivaninha livre para acomodar o equipamento que trouxera de Nova Iorque.

Para a enorme surpresa de Jill, o computador não só ligou como a foto de fundo da área de trabalho era uma que ela havia se esquecido de ter tirado. Bastou olhar a imagem porém, para que a memória lhe voltasse vívida como se tivesse acabado de acontecer. Eram as bodas de prata de seus pais, e na foto eles pareciam apaixonados como um casal adolescente vivendo o seu primeiro amor.

Jill quase chorou ao relembrar daquela festa, a última antes que sua avó, Marion Mcmillan, falecesse. Fora maravilhoso ter a família reunida em volta da fogueira, dançando e festejando enquanto o sol se punha no horizonte, manchando as águas calmas do lago de vermelho e fazendo o câncer que a matriarca enfrentava desaparecer de seus olhos cansados por algumas horas.

Não demorou para que a Jill do presente se visse perdida em meio a pastas e mais pastas antigas de fotos guardadas naquele computador que ela presumira ter se tornado obsoleto e inútil. Mas não. Aquela preciosidade mantinha não só registros de momentos maravilhosos, a exemplo das bodas de seus pais e as primeiras apresentações de Collin, como também os seus primeiros passos como fotógrafa.

Uma pasta em particular chamou sua atenção profissional. Na época, Jill não tinha a menor ideia do que estava fazendo, mas os elementos principais do seu estilo de fotografar já eram facilmente identificáveis. Collin tinha sido seu modelo naquele dia, e Jill riu, imaginando o desespero do irmão se aquelas imagens caíssem nas mãos de suas fãs. Ele parecia um bebê de tão jovem!

Barb, com suas roupas coloridas e toda a sua atitude, também tinha posado incontáveis vezes para ela. Jill havia se esquecido como sempre era divertido fotografar a amiga, e aquilo doeu seu coração. Em meio a fotos de família, ensaios amadores, e milhares de imagens da bela natureza de Spring Creek, Jill se deu conta que nunca dera à vida no Texas o valor que realmente merecia porque, na época em que morava ali, ela só sonhava em estar em outro lugar.

Ainda pensava na dolorida descoberta quando pegou o caminho mais curto até o pavilhão no início da noite. Sua cabeça fazia paralelos entre Jesse praticamente a chamando de ingrata dias antes, e tudo o que Collin lhe contou sobre ele depois. Se seus pais estivessem por perto, Jill já teria corrido para abraçá-los. Graças aos céus eles só estavam de férias no litoral e não demorariam a voltar para casa. Ela contaria os segundos, ansiosa para os ver, porém com aquele nó na garganta que jamais desapareceria por Jesse não ter mais a chance de fazer o mesmo.

Ele deve ter visto que ela se aproximava de longe, pois a esperava no portão do pavilhão com uma expressão apreensiva, ainda em suas roupas de trabalho.

— Vamos ter que cancelar. – informou antes mesmo que Jill tivesse a chance de dar os últimos passos até onde ele estava – Caramelo está estranha, e eu acho que são as primeiras contrações.

— Já vai nascer? – ela quis saber. Apesar de ter crescido em um rancho, Jill sabia quase nada a respeito de partos de equinos. Jesse meneou a cabeça incerto.

— Não sei, e é por isso que vou ficar de plantão. – explicou – Pode ser só incomodo, mas se forem mesmo as contrações terei que chamar a Dra. Trahan. Você tá bem? – ele perguntou, notando a melancolia em Jill e saindo da posição em que estava para a observar melhor.

— Não muito. – Jill confessou com sinceridade, apesar de não estar disposta a fazer o mesmo a respeito do que se passava por sua cabeça. O fato de que Jesse havia acabado de citar Barb, a relembrando que as duas não estavam se falando, só tinha piorado a situação. – Eu vou voltar pra casa então. – ela continuou com um suspiro triste – Não vou te atrapalhar no seu trabalho.

Jill chegou a se virar para retornar pelo mesmo caminho por onde tinha chegado, mas ele a impediu de ir embora, entrando na frente dela e a segurando pela mão. Suavemente, Jesse levantou o queixo de Jill até que os olhos dela estivessem nos dele.

— Ele fez alguma coisa...? – exigiu saber, preocupado – Foi ele quem te machucou desse jeito? Seu ex?

Jill sorriu diante de toda a empatia e compaixão, e levou a mão até o rosto de Jesse, para acariciar sua barba bem feita, fechando os olhos e se deixando senti-lo sob a ponta de seus dedos por um instante.

— Não foi o Brian. – respondeu, voltando a mirar o domador – Fui eu mesma. Eu sou a única pessoa a quem culpar.

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