Capítulo 9
Vocabulário Italiano
Capista= Céus!
Babbo= Papai em dialeto toscano
Fratello= Irmão
Maledetto= Maldito
Farabutto= Partife
Lembrando que não sou fluente em italiano. Agora vamos de capítulo, boa leitura!
~:~
Um segundo se passou até nos darmos conta de que estávamos parados imóveis, encarando um ao outro sem dizer nada. Caleb me olhava com um olhar perdido, como se estivesse me analisando, procurando por algo. Um olhar que naquele momento eu não conseguia decifrar.
- Pode me fazer companhia para o jantar? - ele por fim quebrou o silêncio que havia entre nós.
- Estou muito cansada, prefiro jantar aqui no quarto. - continuei secando meu cabelo com a toalha.
- Imaginei... Por isso, mandei Elena servir nosso jantar na varanda. - Caleb tirou o paletó, afrouxou o nó da gravata vinho que usava, abrindo alguns botões da camisa branca.
Enchi os pulmões mais uma vez.
Percorri os olhos pelo quarto, quando avistei a porta da varanda aberta com a mesa de quatro cadeiras arrumada e nosso jantar servido.
- Caleb agradeço sua gentileza, mas eu realmente estou sem fome. -minha voz saiu baixa.
- Pode pelo menos sentar-se a mesa comigo? - seus olhos me fitavam de maneira tão intensa, a ponto de me deixar um pouco zonza. Desnorteada, deixei a toalha que secava meu cabelo cair no chão.
Sabia que teríamos que ter essa conversa, mas na verdade estava tão cansada, que tudo o que eu queria era me afundar na cama e nunca mais sair de lá. Contudo, Caleb ainda continuava imóvel, me encarando e deixando claro que não me deixaria em paz tão cedo. Percebi que não teria alternativa, a não ser me sentar à mesa com ele e escutar tudo o que tinha para me falar.
Suspirei fundo me dando por vencida.
- Tudo bem, só vou me vestir.
Esperei que ele deixasse o quarto para que eu pudesse me vestir, mas isso não aconteceu.
- Caleb, pode me dar licença, por favor?
Ele me olhou, impassível.
- Você pode usar o closet. - inclinou a cabeça em direção ao mesmo. - Mas já que não se sente bem com minha presença, aguardarei na varanda.
Fui em direção ao closet para me vestir. Mesmo com Caleb na varanda, ainda me sentia desconfortável. Aliás, a presença dele sempre me deixava desconfortável independente do lugar. Troquei o roupão por um conjunto de moletom preto. O clima estava cada vez mais frio, e não queria correr o risco de me resfriar. Além do mais, era apenas um jantar com Caleb, não via necessidade de nada mais formal.
Quando saí, ele observava o jardim. Estava tão distraído segurando um envelope preto, que não notou minha presença. - Em que será que pensava? Será que pensava nela? Em Marion? Na família grande que pretendia constituir com ela quando comprou aquela casa? - Raspei minha garganta para despertar sua atenção. Ele se virou em direção à mesa, puxando a cadeira para que eu pudesse sentar. Comecei a suar de nervosismo.
Caleb se sentou colocando o envelope no colo, e começou a dar algumas poucas beliscadas na comida. Parecia estar sem fome como eu. Olhei novamente para ele, notando que também estava desconfortável com nosso jantar. Nossos olhares se encontraram, mas não recuei. Continuei o encarando, esperando que ele iniciasse logo o assunto. Ele então abaixou o olhar em direção ao meu prato, seu rosto se formou em uma carranca quando percebeu que não tinha tocado na comida.
- Não vai comer?
Encarei o salmão grelhado com ervas e purê de batata, mas não conseguia sentir nenhuma vontade sequer de provar aquela comida.
- Não, estou sem fome. - coloquei a mão na testa impaciente.
Caleb suspirou e apertou os lábios. Seu rosto transparecia desaprovação.
- Como você está?
Provavelmente ele se referia à discussão de hoje mais cedo com Giovanny.
- Bem. Giovanny ainda está muito zangado comigo, principalmente porque a essa altura, conhecendo-o como eu o conheço, já deve ter deduzido que você é o investidor fantasma. Tenho a sensação de que ele nunca vai me perdoar.
Caleb engoliu em seco e balançou a cabeça como se estivesse se desculpando.
- E seu pai? - ele apoiou os dois cotovelos na mesa não se importando com a etiqueta.
- Não o visitei. - falei seca.
Ele deu mais uma gafada na comida, antes de prosseguir.
- Por que não o visitou? - Um v se formou entre suas sobrancelhas.
- Estava muito nervosa, não poderia visitá-lo no estado em que me encontrava. - confessei. - Você conhece meu pai. Sabe como ele me conhece melhor do que ninguém. Não poderia deixá-lo preocupado.
- Sim. - concordou - Você é a princesinha dele é natural que se preocupe.
Assenti com a cabeça. Pela primeira vez, Caleb não mencionou isso em tom de deboche. Pelo contrario, parecia falar com admiração, dando razão a todo excesso de zelo que meu pai tinha comigo.
Passos ressoaram no quarto, anunciando a chegada de Elena. A governanta pôs a bandeja de prata sobre a mesa e serviu vinho para nós dois.
- Pode retirar os pratos Elena. -Caleb ordenou, limpando o canto da boca com um guardanapo.
- Sim senhor. - ela assentiu com a cabeça baixa.
Depois de encher nossas taças com o vinho, Elena recolheu os pratos, e se retirou em silêncio. Após sua saída, Caleb colocou um grande envelope preto em cima da mesa.
- Antes de prosseguir, quero que experimente esse vinho. - pegou sua taça e deu um gole suave.
Não sou muito acostumada a beber, mas como todo italiano, vinho era minha bebida preferida. Sem objeção peguei a taça que ele ofereceu e dei um gole.
Incrível!
O vinho tinto era intenso, mas ao mesmo tempo fresco, encorpado, frutado com um final muito longo.
- Delicioso. - suspirei. - Realmente estou fascinada com esse vinho. - Dei mais um gole, o saboreando lentamente.
Caleb me encarou com olhos brilhando de empolgação. Um olhar totalmente diferente do que eu estava acostumada a ver até então.
- Gostou? - perguntou.
Sua voz estava meio rouca, provavelmente pelo o cansaço depois do dia intenso que tivemos.
- Sim. - dei um leve sorriso. - Qual a safra desse vinho?
- É um tinto de mesa safra 2011. Apenas mais um, dentre os maravilhosos vinhos que a vinícola Salvatore produz. - ele falou com certo orgulho e um sorriso de satisfação estampado na cara.
- Nossa! - exclamei maravilhada. - Sabia que produzíamos vinhos muito bons, mas esse realmente é esplendido.
Caleb olhou para mim dando um leve sorriso de canto de boca.
- Quem sabe ele não possa vim a se tornar uns dos vinhos oficiais da família real. O que acha?
Ele abandonou a taça em cima da mesa, cruzou os braços na frente do corpo e sorriu de novo, de forma enigmática.
Fechei a cara. - Acho que está louco por achar que nosso vinho é digno de ser oferecido a família real. Por mais que sejam bons, não são como os do Porto ou como o CARM da região do Douro. Nem ao menos estamos entre os 100 melhores vinhos da revista Wine Spectator. - dei de ombros.
Caleb limpou a garganta. - Não consigo entender como um negócio que tinha tudo para dar certo estar à beira da falência.
Para falar a verdade, nem eu conseguia entender o porquê estávamos em situação de falência. Quando meu pai escolheu comprar a vinícola Mendonza, na região da Toscana, tomou todos os cuidados necessários para não fazer um mau negócio.
- Mesmo não entendendo muito sobre administração de negócios, também não entendo como estamos prestes a perder tudo. - concordei.
- A antiga vinícola Mendonza era muito bem conceituada no mercado de vinhos e espumantes. Olhando por esse lado, não tinha por onde dar errado, visto que já tinham uma posição consolidada no mercado. -fez uma pausa. - Estive analisando os relatórios que me foram enviados sobre a vinícola do seu pai... Pelo o pouco que, li está claro que o problema foi ocasionado por má administração.
O que? Ele só pode está brincando.
Dirigi um olhar fulminante a ele. - Espera deixa eu vê se entendi. Você está dizendo que estamos à beira da falência porque meu pai não soube administrar à vinícola?
Ele ergueu as mãos.
- Apenas escute...
- Sim, estou ouvindo. - respondi com cara de tédio.
- Não estou dizendo que seu pai não soube administrar bem, até porque pelo o que eu sei ele passa a maior parte do tempo cuidando dos vinhedos na Itália. O que eu quero dizer é que está na cara que os negócios vão de mal a pior, por causa de erros estúpidos decorridos da falta de experiência em administrar um negocio desse porte. - coçou a testa. - Mas o que mais me chama atenção é como alguém com vasta experiência como Giovanny, tenha cometido erros tão genéricos.
- Aonde você quer chegar com tudo isso Caleb? - perguntei irritada.
Ele ficou em silêncio por um momento, como se escolhesse as palavras ou pensasse sobre o que fazer.
- Estou tentando te dizer educadamente, que Giovanny não pode continuar a frente dos negócios da sua família, por motivos mais que óbvios. E que suspeito que ele tenha desviado...
Então era isso que ele pretendia: acusar meu irmão covardemente de roubar a própria família. Era mesmo um bastardo!
- Nem precisa terminar Caleb, eu já entendi muito bem aonde quer chegar com tudo isso. - o interrompi furiosa. - Eu não achei que fosse tão baixo a esse ponto.
Fuzilei-o com os olhos, já sentindo o sangue esquenta meu rosto.
Será que eu havia entendido direito ou Caleb realmente achava que Giovanny tinha roubado a empresa de nosso pai? Que tipo de homem ele pensava que meu irmão era? Meu pai sempre dizia que eu era a paciência em pessoa, pois dificilmente perdia a cabeça com alguma coisa. Mas toda regra tem exceção, e umas das poucas coisas que me tiravam do serio, era alguém mexer com minha família. Ouvir aquilo tudo bastou para a fúria me dominar por inteiro.
- Como? - perguntou atônito.
- Está na cara que está levantando falso para meu irmão por vingança. Como pode acusar uma pessoa de algo tão grave por motivos tão fúteis? Isso é covardia. - declarei entre os dentes.
A essa altura, ele já havia mudado completamente de postura. Estava com ambos os cotovelos sobre a mesa e passava as mãos pelos os cabelos.
Nossos olhares furiosos se cruzaram.
- Sophia, você está sendo irracional.
- Irracional eu? - dei uma risada sarcástica. - Eu fui uma idiota, por acreditar que você ainda tinha um pouco de caráter depois de tudo o que me fez. Ouça bem Caleb, Giovanny não é como você. Ele nunca mentiria para a família, ele tem princípios coisa que parece que você nunca teve e nunca terá! - alterei minha voz.
Ele franziu ainda mais o cenho ao ouvir tudo aquilo.
- Nunca mentiu? Tem certeza de que pode afirmar isso? - olhou para os lados dando um sorriso cretino. - Seu irmão é tão verdadeiro, que aposto que não contou para você e Antonny, que hipotecou os apartamentos de vocês. Ambos estão prestes a ir a leilão, sabia disso Sophia?
Meu queixo caiu no chão com o que tinha acabado de ouvir. Isso não era possível.
- Não pode ser verdade...
Ele pegou o envelope preto e me entregou alguns papeis.
- O que é isso? - peguei os papeis de sua mão com hostilidade.
- Eu tinha certeza que quando te contasse você teria essa reação. Por isso, trouxe a cópia dos contratos dos empréstimos que Giovanny fez, dando seu apartamento e o de Antonny como garantia. Creio que o fato dos imóveis estarem no nome do seu pai facilitou a transação.
- Como conseguiu esses documentos? - perguntei duvidando da autenticidade daqueles papéis.
- Sophia não seja tão ingênua, quando se tem influência o céu é o limite. - sorriu sarcasticamente.
Deus como ele me tira do sério!
- Sabe a única coisa que não entendo? - prosseguiu com seu joguinho.
- O que? - rosnei.
- Por que Giovanny não deu seu próprio apartamento como garantia para os empréstimos que fez. Não acha estranho ele hipotecar somente os apartamentos de vocês?
Corri os dedos pelo cabelo e respirei fundo várias vezes, na esperança de que isso me ajudasse a pensar. Aquilo não podia ser verdade. A única explicação que encontrava era a de que Caleb estava se vingando do meu irmão, de mim e de toda minha família armando tudo isso. Claro, toda aquela história de me usar para conseguir Marion de volta, não passava de um plano para me destruir. Eu só não entendia o motivo de tanto ódio.
- Eu ainda não entendo o que ganha com tudo isso? Se vingando do meu irmão, da forma mais fria e cruel. Diga-me Caleb, tudo isso por causa de um soco? Antes tivesse reagido, preferiria mil vezes ver meu irmão tomar uma surra do que ser acusado de algo tão baixo.
Ele me deu um olhar gélido.
- Ah Sophia, por favor. Não é possível que você pense que tudo isso é apenas uma invenção minha. Não vou negar que qualquer um no meu lugar, depois de humilhantemente ter sido socado na cara, teria revidado. Mas isso seria instintivamente no momento, ninguém chegaria tão longe, muito menos eu. Além do mais, eu tenho mais o que fazer do que ficar inventando historinhas. - pude perceber os músculos de sua face se contraindo enquanto ele cuspia as palavras com deboche. - Mesmo se eu não devesse aquilo a Giovanny, o que aconteceu hoje não foi relevante para uma vingança. Estou afirmando algo verídico, já que se vou investir em algo tenho todo direito de saber a que pé as coisas andam. - Completou frisando as últimas palavras.
Tenho que conseguir respirar e me acalmar um pouco. Não iria adiantar nada ficar exaltada daquele jeito. Precisava ter calma para finalizar a conversa desagradável com Caleb da melhor forma possível. Ele pegou outro papel do envelope e me entregou. Irritada bebi todo o restante do vinho da taça e a reabasteci.
- Esse é o contrato do nosso acordo. Quero que leia com calma todas as clausulas e caso realmente aceite, me devolva à cópia assinada até amanhã.
Peguei-o de sua mão e comecei folhear as páginas. Ele então se levantou da mesa ficando de costas para mim.
- Como pode ver contém todas as ações que irei tomar para tirar a vinícola Salvatore da falência, bem como todas as suas obrigações durante nosso acordo. Mas já aviso que o contrato que seu irmão assinou, está condicionado ao nosso acordo. Logo o mesmo só terá validade se você realmente aceitar minhas condições, as quais você já sabe.
Claro!
- Como posso realmente ter certeza que não irá nos tomar a vinícola depois que tudo acabar?
Depois de tudo o que Caleb fez comigo, não confiava nele totalmente.
Ele se virou me encarando.
- Você tem um contrato que te resguarda. - sorriu maliciosamente.
- Não confio em você. - rebati. - Quem me garante que depois que conseguir o que realmente quer de volta, não irá terminar de arruína minha família?
Eu o fitei, não acreditando nele nem por um momento.
- Sophia, já disse que você tem um contrato que te assegura. Além do mais, não tenho interesse nenhum em me apossar de algo que não é meu. - falou enojado. - Tudo é muito simples, você aceita continuar com nossa farsa, eu invisto e gerencio os negócios do seu pai durante um ano. E no final tudo irá acabar bem. Pense que daqui um mês você estará livre de mim e das preocupações financeiras que tiram o sono da sua família. Mas caso não aceite... Não poderei te ajudar. - disse com sarcasmo e isso me deixava ainda mais irritada, porque odeio ser tratada com escárnio.
- Por que esperou quatro dias para me entregar esse contrato?
Ele franziu levemente a testa.
- Quis te dar a opção de pensar melhor... E é isso o que estou fazendo agora. - sorriu com desprezo, os olhos azuis reluzindo ironia.
- Não! Você está me coagindo a aceitar é diferente. - Me levantei da mesa gesticulando com as mãos.
Ele ficou pensativo por um tempo antes de prosseguir.
- Sabe Sophia, das poucas qualidades que tem, a que eu mais admiro é a lealdade que você tem a sua família. Embora não tenha sido leal a mim, sempre será leal a eles. E é isso que te fará continuar com nosso acordo.
Sinto como se estivesse enfiado um punhal no meu peito. Como ele pode me acusar de traição depois de tudo o que me fez?
- Por que me acusa de traição? Se foi você que me abandonou no dia do nosso casamento para fugir com minha melhor amiga.
Respirei fundo de novo pela décima vez na noite, me arrependendo por ter feito aquela pergunta.
Caleb sorriu de um jeito cínico.
- Não se faça de inocente comigo Sophia. Não sou mais aquele homem que você estava acostumada a ter nas mãos.
- Será que não percebe o quanto sua atitude é baixa ao me acusar de algo que eu não fiz, ao invés de assumir a verdade? Eu te amava demais Caleb, para ser capaz de te trair. Não justifique seu erro criando uma mentira sobre mim! - gritei irritada com sua falta de caráter.
Ele me encarou com aquela expressão de ódio que já conhecia bem.
- Você me enganou Sophia, me manipulou com suas mentiras e traições. Você achava mesmo que eu iria me casar com você, depois de descobrir que você estava mentindo para mim ao longo de quase toda nossa relação? - disse com os dentes cerrados, a mandíbula trincada e não tive mais duvidas que realmente acreditava que eu o trair.
- Caleb eu te amava! Não sou eu a traidora! - gritei novamente.
Ele sorriu com desprezo, os olhos azuis faiscando um ódio mortal.
- Sabe Sophia de todas as mentiras que você me contou, essa foi a que mais doeu. - então saiu irritado da varanda, entrando novamente no quarto.
Fui atrás dele socando o chão.
- Caleb, você não pode... - ele se virou bruscamente para me olhar, seus olhos furiosos me silenciaram.
- Basta Sophia! - gritou apontando o dedo em minha direção. - Ouça bem, você nunca mais vai conseguir me manipular. Nossa conversa termina aqui, você já sabe o que fazer. Se não quiser que sua família vá para o olho da rua, assine aquele maldito contrato. - passou a mão pelo cabelo furioso. - Estou te dando à opção, para não dizer que estou sendo injusto com você, mas saiba que se optar a ficar, nunca mais quero que toque nesse assunto. Boa Noite! - passou por mim e deixou o quarto batendo a porta com um baque.
Sentei-me na cama ainda desnorteada com nossa conversa. A suposição levantada por ele de que Giovanny desviou dinheiro da vinícola da nossa família, o fato de estamos sem nada e por ultimo novamente suas acusações de traição, esgotaram toda minha cota de energia da noite. Se antes eu desconfiava que Marion havia armado alguma coisa contra nós, agora eu tinha certeza. Eu precisava mostrar para Caleb que eu não era uma traidora, e claro o fazer se arrepender por ter sido um fraco por ter acreditado nela. A única coisa que me restava era encarar as dificuldades com a cabeça erguida, e manter o acordo com Caleb.
Acordei com a claridade em meu quarto e com minha cabeça doendo muito. Depois da conversa com Caleb ontem à noite, precisava tomar uma decisão decisiva sobre tudo o que estava acontecendo. Levantei de vaga, indo em direção a varanda. Peguei o contrato que ainda estava em cima da mesa e comecei a ler.
Basicamente tudo era bem claro quanto às obrigações de cada um. Eu teria que me comprometer a ser sua namorada em tempo integral durante um mês. Em troca ele seria o sócio investidor que tiraria a empresa da falência. Depois de um ano, ele devolveria toda a empresa a meu pai. Porém, ao percorrer as paginas, uma clausula em especial me chamou atenção. Nela Caleb se comprometia a continuar investindo na vinícola, somente se eu assumisse a administração da mesma com a supervisão de um dos funcionários dele. Não sei se conseguiria administrar uma empresa, mas se ficar comprovado que Giovanny andou desviando dinheiro da empresa, ele não poderia também continuar a frente dos negócios.
Peguei também os contratos dos empréstimos de Giovanny. Li calmamente mais de uma vez, cada linha daqueles contratos. Ainda estava sem entender o porquê Giovanny, agiu de forma tão arbitraria. Aquilo não podia estar acontecendo. Não podia ser real. Se fosse, eu teria que encarar a obscura realidade de que Giovanny lesou toda a família. Não tinha a menor idéia de como contar aquilo para o meu pai. Ele ficaria louco, quando descobrisse a desonestidade do filho mais velho.
A única forma de colocar as coisas as claras era enfrentando tudo de cabeça erguida. Eu já havia tomado minha decisão, agora a única coisa que me restava era informá-la a Caleb.
Fiz minha higiene matinal, coloquei um vestido de tricô preto com mangas longas, que ficava na altura do joelho, combinado com botas over pretas.
Desci a escada decidida a tomar café antes de ir visitar meu pai no hospital, mas desisti da idéia, assim que me deparei com a carranca de Elena. Estava parada feito uma estatua no meio da sala de jantar.
- O café está servido Srta. Salvatore. - ela falou entre os dentes.
- Vou sair e não tenho tempo para tomar café, tchau. - passei por ela sem ao menos olhar na sua cara.
Ouvi-a me desejando um bom dia, mas não a respondi. Definitivamente não suportava aquela mulher, e nem me sentia mal por isto, já que era algo recíproco.
~:~
Dei duas batidas na porta e abri.
- Babbo posso entrar?
Os olhos verdes do meu pai se iluminaram assim que me viu cruzando a porta de entrada do quarto. No mesmo estante meu coração pulou de alegria, ao ver que ele estava bem melhor do que da ultima vez que o vi.
- Il mia bambina! Venha cá. - ele gesticulou com as mãos para me sentar na beirada da cama.
Ao contrario da minha mãe, meu pai quase não abandonou o sotaque italiano. Depois que nos mudamos para Londres, minha mãe praticamente aboliu o italiano em casa, para que aprendêssemos inglês mais rápido.
Sentei-me na beirada da cama e acariciei seu rosto com as costas da minha mão.
- Como o senhor está?
Ele sorriu. - Io sto bene, suo fratello encarregou de que me tratem como um rei. - falou orgulhoso de Antonny.
- Oh babbo! Eu tive tanto medo de te perder. - A essa altura as lagrimas nos meus olhos já borravam a minha visão.
Ele pegou minha mão a acariciando suavemente com seus dedos fracos.
- Não chore bambina mia. Veja io sto bene! Pronto para outra. - sorri ao ouvi aquelas palavras, ele como sempre tentando me animar. - E como você está?
Levantei-me um pouco, na esperança de convencê-lo.
- Eu estou bem babbo, e ficarei ainda melhor se o senhor me prometer, que nunca mais me dará outro susto como este. - Consegui arrancar um grande sorriso de seus lábios.
- Se é assim, io prometo. - ele esfregou a mão na minha mão.
- Antonny me contou sobre o novo investidor... Disse-me que você o conhecia bem. - franziu o cenho.
Aquele era o momento indicado para dar a noticia, mas tinha medo que ele passasse mal pelo o que ia dizer, sobretudo pelo o fato de Caleb não ser seu santo de devoção.
Respirei fundo. - Eu não queria ter essa conversa com o senhor agora, mas é algo que preciso te contar o quanto antes. - falei com cautela.
Meu pai sentou-se na cama.
- Então você realmente conhece o tal investidor? - perguntou meu pai, tomando uma respiração profunda depois.
- Sim. - juntei minhas mãos para que ele não notasse que estava tremendo. - Caleb O'Brien quer ser seu novo sócio. - fui direto ao assunto.
Meu pai empalideceu ao ouvi aquilo. Pela mudança drástica de expressão ele estava amaldiçoando Caleb em pensamento.
- Babbo se tranqüilize não te faz bem ficar assim. - me senti uma leviana por está pedindo aquilo.
- Capista Sophia! Como quer que me tranqüilize se acaba de dizer que a pessoa que quer nos salva da ruína, é a mesma que destruiu uma parte da sua vida? - respondeu com a voz um pouco alterada.
- Babbo as coisas mudaram. - me amaldiçoei por dentro. - E se não se tranqüilizar, vou chamar Antonny para te dar um calmante.
Meu pai deu um longo suspiro. - O que quer dizer com isso de que as coisas mudaram Sophia?
Suspirei fundo tomando coragem. - Eu... Caleb e eu estamos juntos... Já tem algum tempo que nos reencontramos e decidimos tentar novamente. Caleb me pediu para que fosse viver com ele e eu aceitei.
Meu pai lançou um olhar afiado para mim e moveu os lábios sem voz, perguntando: "Voltou com Caleb?".
Concordei com a cabeça. - E não me pergunte se estou louca porque não mudarei de decisão. A única coisa que quero é que aceite a proposta de Caleb. - falei firme.
- Non. - respondeu duramente.
- Mas babbo, solucionaria todos teus problemas.
- Soph. - Meu pai acariciou minha bochecha. - Talvez você possa perdoar tutto quel maledetto te fez, mas eu nunca poderei.
Ah papai se você soubesse que nem eu sou capaz de fazer isso.
- Babbo faça por mim, por favor. - supliquei.
Ele tinha que dar sua palavra final. Precisava aceitar, ainda mais agora que descobri que Giovanny hipotecou todos os nossos bens. Minha vista ficou embaçada. Nem reparei quando comecei a chorar.
- Ama-o não é? - perguntou secando as lagrimas do meu rosto.
- Talvez. - endireitei meu corpo. - Quero pelo menos ter a oportunidade de descobrir se ainda o amo... Por isso é necessário esquecer as magoas e começar do zero. Caleb também quer tentar, começar do zero como se o passado nunca tivesse existido.
Senti-me horrível por está mentindo daquela forma para meu pai. Mas mesmo que fosse verdade, sinto que nunca conseguirei perdoar Caleb pelo o que me fez. O que tínhamos se quebrou no pedaço, e era impossível juntar os cacos e recomeçar de novo.
- Soph...
- Sabe Sr. Gregory, se as coisas não derem certo dessa vez, estou decidida a dar um novo rumo a minha vida. - Claro que não dariam por motivos óbvios. - Quero voltar para Toscana com o senhor, me matricular em algum curso de sommelier de vinhos, e te ajudar com a vinícola. Mas para isso preciso deixar o passado de vez para trás, resolver todas as pendências. E o único modo de fazer isso é tentando com Caleb. - suspirei - Por favor, babbo aceite.
- Bambina, não sabe como me alegra ouvi tudo isso de você. Mas não quero que volte a se machucar. - ele fez uma longa pausa. - E não posso ficar tranqüilo sabendo que está vivendo na casa daquele homem. Eu nunca mais te quero ver sofrendo daquele jeito.
Beijei a mão dele. - E não verá, eu prometo.
- Nada que eu te disser vai ter fazer mudar de idéia, não é mesmo?
- Não. - balancei a cabeça.
Ao ver meu pai tão frágil deitado naquela cama, percebi que tinha tomado a decisão certa. E não era mais capaz de voltar atrás. Mesmo Caleb me dando a oportunidade de recuar, não o faria.
- Está bem. - meu pai bufou. - Até porque não a mais nada para fazer, Giovanny já assinou os papeis com uma multa milionária em caso de quebra de contrato. E você já está morando com quel maledetto.
- Você já sabia? - perguntei confusa.
- Sim, Antonny me contou ontem. O que você fez Sophia foi horrível, enganou toda a famiglia. - abaixei a cabeça envergonhada. - Mas estou feliz por ver que pela primeira vez tomou uma decisão por conta própria, mesmo que tenha sido a pior de todas junto com quel farabutto.
- Gracie babbo. - lhe dei um abraço apertado. - Te amo. - Me desfiz do abraço e beijei sua cabeça.
- Mia Sophia. - Seus dedos fracos tocaram meu cabelo. - Eu te amo.
Essas palavras foram o suporte que eu precisava para enfrentar tudo o que ainda está por vim. Eu precisava ser forte, e eu seria pelo meu pai.
- Mas diga aquele farabutto que devolverei cada centavo que investiu na nossa vinícola. - falou entre os dentes.
- Direi.
- Como seus irmãos reagiram?
- Giovanny nos viu junto ontem. - balancei a cabeça ao me lembrar da cena. - Giovanny não teria nenhuma dificuldade em se tornar um lutador de MMA. - conclui. - E Antonny ainda é uma incógnita para mim.
- Esse é mio ragazzo! - meu pai vibrou com as mãos fracas.
Se o senhor soubesse as burradas que Giovanny andou cometendo na vinícola, tenho certeza que não estaria tão orgulhoso do meu irmão.
- É serio babbo, acho que Giovanny nunca vai me perdoar por ter omitido tudo isso. - respirei fundo esticando os braços por cima da cabeça. - Ele é tão... Intenso. - suspirei ao me lembrar da nossa discussão.
- Conversarei com eles. Não se preocupe, não podem fazer nada a um velho que está na cama doente. - deu de ombros.
- Tem mais uma coisa pai. - fechei os olhos e abri de novo.
- O que Sophia? - franziu o cenho.
- Caleb quer que eu assuma parte da administração da vinícola a partir do próximo mês, junto com seu representante.
Gregory ficou calado como se tivesse refletindo no assunto. Pedi a Deus mentalmente, que não me perguntasse o motivo da exigência de Caleb. Embora de uma forma o outra ele acabaria sabendo.
- Eu estou de acordo Sophia, entrarei em contato com meu advogado, para providenciar uma procuração em seu nome como uma das representantes da vinícola.
- Então confia em mim para isso? - Ele acariciou minha mão.
- Já está na hora de você crescer bambina. - me deu um sorriso de aprovação.
Sorri um pouco aliviada. - Obrigada babbo. Antes de ir quero que me prometa uma coisa.
Meu pai me olhou de soslaio, mas queria garanti que não contariam nada a Caleb, sobre o que me levou a cometer aquela estupidez no passado. Seria muito humilhante para mim, se ele soubesse que foi o verdadeiro culpado.
- O que seria?
- Tem que me prometer e fazer meus irmãos prometerem, que não falarão a Caleb nada sobre minha tentativa de... - um nó se formou em minha garganta antes de continuar.
Era muito pesado e vergonhoso para mim mencionar o que havia feito em voz alta.
- Mas por quê?! O maledetto merece saber como te fez sofrer.
Soltei um longo suspiro. Estava cada vez mais difícil menti para o meu pai, ele me conhecia melhor do que ninguém. Ele era muito perceptivo, bastava um deslize, para descobrir toda a verdade.
- Como já te disse, queremos começar do zero. Caleb acha que o motivo que me levou a fazer isso é a dor pela morte da mãe. - Vi a tristeza em seu olhar ao me ouvi falar da minha mãe. - Por favor, a única coisa que quero é tentar ser feliz.
- Soph, eu quero que seja feliz. - ele segurou minha mão. - Prometi a sua mãe antes dela morrer, que faria tudo o que estivesse ao meu alcance, para que voltasse a ser a moça feliz e alegre que era cinco anos atrás. Não quero que Caleb volte a te fazer mal.
- Babbo estou certa que desta vez será diferente. - tentei soar convincente.
Ele revirou os olhos. - Bene, prometo que Caleb não saberá de nada. Mas se voltar a te fazer mal, contarei tudo o que aconteceu para que sua consciência, se é que ele tem uma, - ironizou. - não o deixe viver em paz.
Sorri ao ouvi aquilo, meu pai não mudaria nunca. Uma batida na porta me sobressaltou. Era Antonny acompanhado de Kate.
~:~
Quero me desculpar pela demora em postar, mas infelizmente tive alguns problemas pessoais que me impossibilitaram de postar. Em janeiro as postagens voltaram com tudo. Gostou do capítulo? Então não se esqueça de votar! Bjs =)
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