Quando a vi descendo a escada central, fui obrigada a reconhecer o quanto ela estava maravilhosa, vestida com um vestido preto modelo sereia, delineando perfeitamente cada curva do seu corpo. Seus cabelo negro estavam jogado de lado, formando leve ondas ate a altura de seus seios. O homem ao seu lado vestia como todos os homens ali, um smoking branco. Era alto, com os cabelos negros como o de Marion, parecia um príncipe recém saído de algum conto de fadas.

Comecei entender o desespero de Caleb, ele simplesmente provou de seu próprio veneno, Marion o trocou por outro. Senti sua mão apertar ainda mais minha cintura, me puxando bruscamente para mais perto dele. Virei-me para o olhar e o que vi me deixou perplexa. Caleb a observava com o rosto tenso e a mandíbula cerrada, mas seus olhos refletiam sua tristeza. Engraçado, sempre achei que ficaria feliz em ver-lo sofrendo como sofri por ele, mas a única coisa que senti foi indiferença.

— Chegou a hora amor. — ele sussurrou em meu ouvido, puxando-me em direção aos os dois no meio do salão.

Meu coração disparou em meu peito, por mais que soubesse que cedo ou mais tarde teria que encarar aquela cobra, ainda não estava preparada psicologicamente.

— Marion, Giorgio! — Caleb os cumprimentou.

— Caleb, não tinha te visto. — ela sorriu.

— O'Brien, não esperava te ver aqui. — O homem que estava com ela sorriu sarcasticamente.

— Por que não viria a festa de um dos meus melhores clientes? — Caleb ergueu umas de suas sobrancelhas.

O homem então fixou seu olhar em mim, me fazendo corar de vergonha.

— Não vai nos apresentar a bela dama que te acompanha? — ele dirigiu-se a mim.

Marion que até então não havia notado minha presença, ficou pálida quando me viu de braços dados com Caleb, mas logo se recuperou me dando um sorriso falso.

— Sophia! Quanto tempo. — Ela sorriu falsamente.

— Sim. — Falei entre os dentes.

— Bem, parece que estou em desvantagem já que todos se conhecem. — O acompanhante de Marion me deu um sorriso encantador. — Sou Giorgio Mc Loucghlin, encantado em conhecer-la. — ele beijou minha mão.

— Sophia Salvatore. — Sorri.

— Tem descendência italiana? — seus olhos verdes estavam acessos de curiosidade.

— Sim, nasci na Itália. Mas me mudei para Londres ainda muito pequena.

Ele balançou a cabeça, como se tivesse confirmando algo, e em seguida me respondeu amistosamente:

— Isso explica tudo Sophia. — Fiquei sem saber o que ele quis dizer com aquilo. Mas decidir apenas abaixar a cabeça sem graça.

Marion percebeu que estava desconfortável com a situação, e pelo visto decidiu me provocar.

— Desculpe queridos por ser tão direta, mas o que menos esperava era ver vocês juntos novamente, após tudo que se passou. — uma ruga surgiu em sua testa.

— Estamos tentando esquecer o passado e seguir em frente, não é mesmo meu amor? — Caleb a respondeu, abraçando-me por trás.

— Sim, meu amor. — Me virei dando um leve beijo em seu pescoço.

— Pois que tudo saia bem. — sorriu. Seria uma pena que acontecesse o mesmo que aconteceu no passado. — ela fez questão de olhar dentro dos meus olhos.

Quando ia a responder a altura, Caleb percebeu minha tensão, então ele me cortou a respondendo.

— Não se preocupe Marion, dessa vez tudo será diferente entre-nos. Como já disse, deixamos o passado para trás. — Mas, ela não se deu por vencida, tratou logo de enlaçar seu braço no de Caleb.

Calma Sophia!

— Caleb, precisamos conversar sobre alguns documentos. Por que não saímos um pouco a sós? — Sugeriu.

Caleb então olhou para mim, mas desviei de seu olhar. Nesse momento tudo o que queria era surra Marion, mas mantive a postura.

— Não se preocupe com Sophia Caleb, eu posso lhe fazer companhia. — Giorgio que ate então só observava nossa conversa, rapidamente se manifestou.

— Desculpe Soph, mas dá ultima vez que ele fez companhia a alguém terminei sem esposa. — Ele me abraçou novamente, e pude senti o quanto ele havia ficado tenso com o comentário de Giorgio.

— Verdade. — Giorgio riu. — Se eu fosse você, teria cuidado com uma beleza como a de Sophia. — ele piscou para mim, deixando o clima ainda mais tenso entre eles.

— Marion, é melhor conversarmos outro dia. Se me dão licença, quero apresentar algumas pessoas a Soph. Ate mais. — Ele saiu me puxando junto a ele.

Virei-me para trás e vi como Marion nos olhava intrigada. Antonny tinha razão, Marion era uma cobra que estava sempre esperando uma oportunidade para dar o bote.

— Sophia, qual o problema dessa sua amiga? — Antonny cruzou os braços e franziu o cenho, assim que entrei na cozinha da casa de nossos pais.

— Como assim Tony? — perguntei confusa, enquanto pegava mais bebidas no freezer.

— Ainda não percebeu a forma como ela olha para Caleb? — ele me explicou irritado.

— Tony, por favor! Será que não pode deixar de implicar com Marion pelo menos hoje? — continuei pegando as bebidas para servir.

— Me desculpa pequena. É que me irrita te ver tão cega em relação a essa garota, não percebeu ainda como ela é falsa com você? Como te inveja e deseja tudo o que você tem? — sua testa enruga.

— Antonny estamos comemorando meu noivado com Caleb, por favor não estrague esse momento. — fiz beicinho. — A Marion é como uma irmã para mim Tony, sei que ela fica deslumbrada às vezes com nosso nível de vida, mas é uma boa pessoa.

— Não, Soph, ela não tem nada de boa! Kate sim é como se fosse uma irmã para você. É sincera, divertida, educada e está feliz de verdade por você. Agora essa Marion é uma cobra, que só está esperando a oportunidade perfeita para dar o bote. — ele esbravejou me assustando.

Revirei os olhos.

Meus irmãos sempre me sufocando com essa mania chata de super proteção. Já não bastava Giovanny implicando com Marion, agora Tony também estava fazendo o mesmo. Será que não vão parar nunca de se intrometerem em minha vida?

— Antonny, podemos conversar sobre isso em outra hora?— terminei de pegar as bebidas, já impaciente com o rumo em que a conversa tomava.

— Tudo bem Sophia! Só depois não diga que eu não te avisei. — ele arfou.

Meus irmãos tinham razão. Marion não prestava, provavelmente só estava com Giorgio por algum interesse. Como um dia eu pude confiar naquela cobra?

— Sophia quer dançar? — Caleb me perguntou, tirando-me de meus devaneios.

— Melhor não Caleb...

Antes de eu terminar a frase, Caleb saiu me arrastando para a pista de dança do salão. Ficamos nos encarando por um tempo quando Give Me Love do Ed. Sheeran começou a tocar. Eu amava essa musica.

Sem falar nada, Caleb me puxou pela cintura, colando seu corpo ao meu. Colocou suas mãos nas minhas costas e começamos a dançar no ritmo da musica. A sensação de seu toque me fez fechar os olhos, e lembrar-me de quando dançamos assim no nosso noivado. Seu cheiro, sua boca em meu pescoço... Tudo me lembrava o passado de forma intensa.

Nossos rostos estavam encostados, com a respiração dele em minha orelha. Quando ele inclinou um pouco mais seu rosto e sussurrou em meu ouvido:

— Eu sempre amei seu cheiro... — aquela voz rouca causou-me arrepios por todo o corpo.

— Caleb. — sussurrei.

— Se lembra quando dançávamos assim? — novamente sua voz rouca causou-me arrepios.

— Não, eu apaguei todas as lembranças daquela época. — afastei-me um pouco dele. — Por favor, não vamos falar do passado. — supliquei.

Senti seu corpo estremecer. Mas ele não falou mais nada.

Eu precisava mudar o rumo daquela conversa urgentemente, estava com medo do que poderia acontecer, caso continuássemos com aquele assunto. Definitivamente aquele homem ainda possuía o poder de me enlouquecer. Caleb ainda mexia comigo de uma forma que eu não conseguia explicar. Bastaram apenas 48 horas, para ele virar minha vida de cabeça para baixo, me fazendo sentir numa montanha russa de sentimentos.

Ele continuou guiando meus passos em silencio, sem tirar seus olhos dos meus. Me predendo com aquele olhar azul que eu amava tanto e que núnca fui capaz de esquecer. O que você está fazendo comigo Caleb? Está me tirando a sanidade.

Quando a musica acabou nos afastamos rapidamente um do outro.

— Acho melhor procurar algo para beber. — falei sem graça.

Ele apenas assentiu com a cabeça.

Meu Deus o que foi isso?!

Peguei um copo de uísque de uns dos garçons que passou por mim, precisava de algo forte para poder digerir o que tinha acabado de acontecer. Caminhei em direção ao jardim central, e sentei-me em um banco afastado próximo a um laguinho artificial, coberto com pétalas de rosas brancas. A noite estava linda, mesmo com o céu um pouco nublado, ainda era possível ver a luz da lua a iluminando. O jardim central estava todo iluminado por arandelas, dando um charme a mais na decoração. Aproveitei para checar se havia alguma mensagem importante em meu celular. Quando de repente, um forte arrepio percorreu meu corpo.

— Caleb já te deixou sozinha? — escutei a voz de Giorgio atrás de mim.

Ele se sentou ao meu lado colocando seu braço por cima do meu ombro, com o susto quase derrubei o copo de uísque em meu vestido.

— Ele não me abandonou. Só vim buscar algo para beber, ele está me esperando logo ali. — apontei para a direção do local onde o deixei, mas ele não estava mais lá.

— Parece que ele se foi. Se eu fosse Caleb não deixaria uma mulher tão linda como você sozinha. — ele me deu um largo sorriso malicioso.

Forcei-me a desviar meus olhos daquele maldito sorriso malicioso estampado em sua cara. Terminei de tomar meu uísque de uma só vez, o liquido passou queimando pela minha garganta.

— Preciso ir procurar Caleb. — me levantei. — Estou muito cansada e quero ir para casa.

— Se quiser posso te acompanhar. — Ele também se levantou e me deu um olhar devorador, praticamente me despindo com os olhos.

— Não precisa muito obrigada. — Forcei um sorriso.

— Sendo assim, as ordens. Espero rever-la em breve. — ele sorriu beijando minha mão, demorando mais tempo do que deveria. E novamente me olhou de um jeito, que deixava bem claro suas segundas intenções.

Essa noite está melhor do que eu imaginava...

Quando voltei para o salão não encontrei Caleb em parte alguma. Então voltei e decidi procurá-lo pelo jardim dos fundos do palácio. Estava escuro, com pouca iluminação e eu já estava desistindo de encontrá-lo. Quando ví seu vulto parado próximo a uma estufa de vidro. Comecei a caminhar rapidamente na direção dele, mas parei quando vi que ele estava acompanhado por outra pessoa. Não queria interromper, já que talvez pudesse estar fazendo algum negocio. Mas ao observar melhor seu acompanhante, percebi que se tratava de Marion. A cobra conseguiu o que queria ficar sozinha com Caleb.

Aproximei-me lentamente dos dois, me escondendo atrás de uma árvore grande, torcendo para não ser vista por eles. Pelo tom de voz alterado de Caleb, eles estavam discutindo.

— É que não consigo entender Marion! Como pode querer se casar com um homem como Giorgio. Esta na cara que não te respeita, deu em cima de Sophia na sua cara. — ele falava alterado.

— Caleb entenda, por favor! — ela respondeu impaciente.

— Como quer que eu entenda Marion? Que de um dia para outro se apaixonou por Giorgio e decidiu terminar tudo o que nós tínhamos? — Ele segurou seu braço fortemente. — Tenho certeza que tem outro motivo para ter feito isso e está me escondendo. Conheço-te mais do que você imagina Marion.

Desequilibrei-me com os meus saltos se afundando na grama. A situação que eu me encontrava era bem desconfortável. Mas não importava com isso, a única coisa queria era escutar a conversa daqueles dois. Queria tentar descobrir o porquê Caleb foi tão covarde quando me abandonou para ficar com Marion.

— Caleb fomos muito felizes em nosso casamento não posso negar, mas entenda de uma vez por todas que acabou. — diz ela numa falsa calma.

— Mas somente diga, por que ele? Por que com o meu pior inimigo? — ele a suplicava.

— Tenho que ir, Giorgio está me esperando. Adeus Caleb.

Ela saiu caminhando apressada em direção ao salão principal, e Caleb permaneceu parado olhando para o nada. Um tempo depois ele saiu caminhando lentamente. Fiquei o olhando até ele entrar no salão, saindo em seguida atrás dele.

Agora fazia sentido toda a tensão entre ele e Giorgio. Seu interesse repentino por mim, suas provocações. Ele queria me usar para atingir Caleb, da mesma forma com que fez com Marion.

Se merecem...

Quando voltei para o salão Caleb estava a minha espera segurando um copo de uísque. Seus olhos não se desviaram de mim enquanto eu caminhava em direção a ele nem por um segundo.

— Onde você estava? — perguntou de forma autoritária.

— Estava com Giorgio. — falei de propósito, só para ver sua reação.

Seu rosto se transformou em uma carranca. Ele se aproximou de mim ficando a poucos centímetros do meu corpo, segurou meu rosto com certa força, me fazendo encará-lo. Seus olhos transbordavam fúria e eu confesso que me assustei com tal atitude, ficando completamente paralisada. Era óbvia sua mudança durante esses anos, mas de alguma forma aquele olhar revelava que havia algo mais. Naqueles breves segundos cheguei a pensar que talvez o Caleb de espírito calmo e despreocupado, por quem me apaixonei, tinha desaparecido. Dando lugar a um novo Caleb arrogante, controlador, autoritário e muito prepotente. Aquele definitivamente não era o Caleb que eu costumava conhecer.

— Vamos embora. — murmurou entre os dentes.

Quando nos viramos, avistamos Giorgio e Marion parados. Estavam nos observando como dois abutres. Caleb pareceu não se importar. Saiu me puxando pelo salão até a saída sem dizer nada.

O caminho todo foi um completo silencio. Mas percebi sua cara fechada e de certa forma eu não tirava sua razão. Eu sabia melhor do que ninguém o quanto a dor da traição consome e vai lentamente corroendo cada centímetro do seu corpo, ainda mais quando somos traídos por quem confiamos.

Quando o carro parou em frente ao hall de entrada de sua casa, Caleb desceu dispensando seu motorista. Ele deu a volta no carro abrindo a porta para mim. Então, tudo aconteceu muito rápido, como um clichê: Ele foi me ajudar a descer, mas acabei me desequilibrando e deixando minha clutch cair no chão. Nos dois nos abaixamos para pegá-la, então, ele pegou a bolsa e também minha mão.

Fiquei sem reação com aqueles olhos azuis me encarando. Ele tocou levemente meu rosto, traçando uma linha ao redor dos meus lábios, me observando com tamanha adoração. Como se eu fosse a personificação de tudo o que era divino e admirável ao seu olhar. Ele se aproximou mais e de uma maneira irracional eu estava cedendo ao momento. Tudo naquele instante transbordava desejo, estávamos completamente envolvidos numa vontade incontrolável. Meu corpo gritava por ele, tudo dentro de mim ansiava por aquele homem. Quando me dei conta do que estava prestes a acontecer, foi como se eu tivesse despertado de um transe.

— Caleb, eu... Eu não posso fazer isso. — falei com a voz um pouco ofegante me afastando dele.

— Não pode fazer o que? — ele também falou ofegante.

— Ser sua substituta... — Caminhei em direção a porta da sala.

— Sophia, por favor, não venha com esse papinho agora. Você quer isso tanto quanto eu e se chegamos até aqui foi porque você deu brecha para uma aproximação. — ele semicerrou os olhos.

Não podia negar o que Caleb estava dizendo, porque era verdade, eu estava correspondendo seus carinhos.

— Isso foi um erro... — sussurrei. — Tudo isso foi um erro, estar aqui foi um erro, você foi um erro. — cuspi as palavras.

Ele riu com ironia.

— Você tem razão. — ele passou as duas mãos pelos cabelos e depois pelo rosto. — Ter conhecido você aquela noite foi uns dos maiores erros da minha vida. Por sorte descobri antes de casar contigo, suas mentiras e suas traições.

Eu não acreditei no que ouvi. Ele estava dizendo que fui eu que o trai?!

— Caleb... — comecei em completa confusão.

Ele colocou a mão na minha boca, me impedindo de continuar e prosseguiu:

— Mas sabe, tenho que te agradecer. Porque graças a você descobri Marion, uma mulher maravilhosa, digna e honesta. — ele fez uma pausa. — Eu a amo muito, como nunca pensei amar alguém.

Eu o encarei com o olhar mais furioso que pude, tentando esconder a vontade que tinha de chorar.

— Tão digna que te traiu com o seu pior inimigo. — eu provoquei. Ele ergueu uma sobrancelha, franzindo o cenho imediatamente. — E por favor, continue se mantendo longe de mim. Nossa relação é estritamente profissional.

O deixei parado sem reação no meio da sala. Subi correndo a escada já com a visão embaçada devido as lagrimas que tomavam conta do meu rosto. Entrei no meu quarto batendo a porta com força atrás de mim. Joguei o corpo na cama, afundando minha cabeça no travesseiro permitindo chorar tudo o que eu tinha para chorar. Sentia um nó na garganta que não me permitia respirar direito. A ferida que estava em meu coração se abriu ainda mais. Como sou estúpida meu Deus!

~:~

Olha nosso casal veneno: Marion e Giorgio!

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