Capítulo 40

A madrugada passou arrastada e apesar de Christine e Jade terem insistido para que eu fosse descansar em casa e voltasse no outro dia de manhã, eu quis permanecer no hospital. Andrew já havia ligado dizendo que a MPS (polícia  metropolitana de Londres) estava investigando o caso, e que meu depoimento seria essencial. Ele também conseguiu uma autorização com o hospital para manter um segurança particular na porta da UTI e um guarda-costas para mim, deixando claro que era extremamente importante me manter protegida.

A essa altura o sentimento de culpa já me consumia. Eu não conseguia parar de pensar, que eu era a única culpada por Caleb está entre a vida e a morte. Aqueles tiros eram para mim, ele apenas estava lá. Ele se jogou na minha frente, seria eu. Era para ter sido eu. Claramente eu era o alvo, não ele. Não precisava ser um investigador da MPS para saber deduzir o óbvio.

E quais eram as únicas pessoas que teriam motivos para me matar?

Eu não precisava pensar muito para chegar à resposta: Marion e Giorgio. Marion pelos motivos mais do que claros, ela me odiava gratuitamente, embora eu nunca tinha imaginado que fosse capaz de chegar tão longe. Giorgio sim era uma incógnita para mim. Ao mesmo tempo em que me recusava acreditar que ele fosse incapaz de fazer algo contra mim, não poderia subestimar o ódio que ele sentia por Caleb. Ele já havia demonstrado ser capaz de tudo para se vingar de Caleb, até mesmo me usar para atingi-lo. A verdade era que Caleb, estava entre à beira da morte como dano colateral de uma sucessão de eventos construídos à base da ira e violência. Marion e Giorgio tinham desejo de vingança e naquela guerra eu era o principal alvo. Ninguém poderia negar que Caleb me amava e o quanto sofreria com minha morte.

Me sentei na mesa, acompanhada por Jade e Christine, enquanto esperávamos nosso café ser servido. Jade estava totalmente apática e Christine estava com lágrimas no rosto ao segurar o celular com a foto de Caleb no visor. Passei meu braço até o ombro oposto dela.

— Ei vai dar tudo certo, Caleb é forte e irá se recuperar. — beijei o topo de sua testa.

— Sophia, minha querida. — Christine pegou minhas mãos, levando-as aos lábios. — As coisas teriam sido tão diferentes se meu filho tivesse feito a escolha certa... Obrigada por ter salvado meu menino.

— Como?— perguntei sem entender.

— Caleb se afastou de Marion definitivamente, desde quando você voltou para a vida dele. Eu sempre soube que meu filho ainda te amava. Eu orei tanto a Deus para afastar aquela cobra da vida de Caleb e para ele reparar todo mal que te fez. Não posso reclamar, Deus ouviu minhas orações.

Olhei para ela muito sem graça.

— Eu sinto muito Christine, mas a minha volta só causou danos a Caleb. 

— Não diga isso minha querida. — ela apertou minhas mãos carinhosamente. — Você não tem culpa de meu filho ter se envolvido com Marion.

Neguei com a cabeça.

— Foi minha culpa. Eu o pus nesse hospital.

Jade revirou os olhos impaciente.

— Pelo amor de Deus Sophia! Sei que está se responsabilizando, mas você é tão vitima quanto ele. Não foi você quem deu dois tiros nele então não se culpe.

— Aqueles tiros eram...

— Você não tem culpa de meu filho ter feitos escolhas erradas Sophia. — Christine me cortou. — Sou mãe e reconheço que Caleb está colhendo os frutos dessas escolhas. Apenas não temos como provar, mas tenho certeza que a verdadeira responsável por esse atentado é Marion. Não foi sua culpa.

Assenti, segurando para não deixar as lágrimas que molhavam meus olhos caírem, levando a mão rapidamente para limpá-las. Jade prendeu sua atenção em um jornal largado em cima da mesa ao lado. Ela se esticou para pegá-lo, trincando o maxilar ao ler a notícia da capa.

— O que foi?

Perguntei tensa.

— Os verdadeiros culpados. — ela me entregou o jornal.

Encarei a foto estampada na capa do jornal. Era uma foto de Giorgio e Marion juntos com letras garrafais chamando atenção para o titulo da matéria "O Duque de Windson e sua belíssima noiva, viajam para a Grécia em uma pré-lua de mel."

— Ótima maneira de despistar as evidências. — Christine falou ao ver do que se tratava a noticia.

Olhei para aquela foto um pouco incerta sobre o que pensar. Ainda não conseguia acreditar que Giorgio tivesse armado para me matar. No curto espaço de tempo que estivemos juntos, pude perceber que por trás daquela casca arrogante, havia um homem com um coração incrível. Eu não conseguia acreditar que ele fosse capaz de me matar apenas para se vingar de Caleb. Mas ao mesmo tempo, ainda me sentia como parte de um plano de vingança, cujo principal objetivo era atingir Caleb em seu ponto mais vulnerável.

Será que tudo não passou de uma mentira? Uma farsa?

— Isso tudo é tão inacreditável! — falei com o olhar preso a foto dos dois.

Jade apoiou os cotovelos nas coxas e passou as mãos pelo rosto e cabelo, frustrada. Ela estava com olheiras profundas e a expressão abatida de cansaço.

— De todas as perspectivas possíveis, não há a menor chance desses dois não estarem envolvidos. — ela disse, me olhando diretamente nos olhos.

Não disse nada.

Mesmo sentada, as minhas pernas tremeram e ficaram sem forças. Aquela era uma verdade que talvez eu precisasse encarar. Meu peito apertou e uma sensação de estrangulamento tomou momentaneamente minha garganta. Era um choque lidar com uma tentativa de assassinato. Eu tinha consciência que o mundo era assolado diariamente por todo tipo de violência possível, mas as coisas eram diferentes quando você era a vitima.

Quando sair da portaria do meu prédio atrás de Caleb, a última coisa que passou pela minha cabeça, foi que uma moto apareceria do nada, que o garupa miraria uma arma em minha direção e que Caleb arriscaria sua própria vida para me proteger.

Eu sentia a necessidade de reavaliar minha vida, deixar o passado de uma vez por todas para trás, porque nunca se sabe quando será o último dia.

Quando voltamos para sala de espera encontramos Antonny nos esperando. Ele estava com a expressão abatida, parecia cansado e pelo seu estado eu era incapaz de dizer qual foi à última vez que ele havia dormido.

— Como meu filho está?

— Caleb segue na UTI e tem boas condições clinicas. Não houve intercorrência nas últimas horas e os enxames de imagem e laboratoriais mostraram resultados estáveis. Encontra-se em boas condições cardiovascular e pulmonar, sem febre ou outros sinais de infecção. Caleb está sob ventilação mecânica, ou seja, ele está com respirador artificial. Optamos por permanecer com a sedação profunda para evitar qualquer tipo de alteração que possa prejudicar seu estado.

— E quanto à bala que está alojada? — Jade perguntou.

Antonny suspirou.

— Como Caleb vem apresentando bons resultados em sua recuperação decidimos fazer a operação para tentar extrair o projétil. — ele fez uma pausa antes de continuar. — Realizaremos o procedimento amanhã pela manhã. Agora vou levar vocês para uma rápida visita. — Antonny olhou para mim, parecendo entender minha ansiedade.

Depois de Christine e Jade foi a minha vez de entrar no leito em que ele estava na UTI. Vestida dos pés a cabeça com roupas hospitalar azul claro e uma máscara no rosto, caminhei devagar até ao homem pálido plugado a dezenas de cabos e tubos. Ele dormia profundamente.

Eu não soube como reagir. Um bolo se formou na minha garganta e, de repente, estava difícil respirar.

Doía muito vê-lo tão abatido.

— Eu te amo tanto. — deixei escapar baixinho, alisando seus cabelos para longe da testa.

O monitor cardíaco apontava o coração regular, a máquina de oxigênio lhe trazia o ar que ele precisava, mas ainda sim sentia um aperto grande em meu coração. Ao mesmo tempo, lembrei das palavras de Antonny sobre seu estado de saúde e isso me trouxe um leve consolo. Ele estava bem na medida do possível.

— Amanhã você irá passar por outro procedimento cirúrgico. — falei, segurando suas mãos. — Vai ficar tudo bem, não vai? Você é um guerreiro, é forte, é um sobrevivente.

Fixei meus olhos em seu rosto, examinando cada detalhe visível. A mão plugada a um largo tubo de soro. Eu a peguei com todo cuidado e me inclinei, colocando-a em minha bochecha.

— Eu ainda estou com tanto medo. — confessei com a voz tremula. — Eu preciso de você. Eu sou orgulhosa demais para dá o braço a torcer, mas você ainda mexe comigo, Caleb O'Brien, me faz perder a cabeça. Talvez eu possa esquecer todo o passado, prometo me esforçar para conseguir. Mas todas as vezes que imagino um futuro sem você, sinto-me mais perdida e sozinha do que já estive em toda a minha vida.

Parei, tentando encontrar ar nos pulmões para continuar.

— Foi muito difícil tomar a decisão de te perdoar, você me conhece bem, sou orgulhosa demais. Porém, assim que consegui controlar um pouco as emoções e pensar com clareza, meu amor falou mais alto do que minha mágoa e ressentimento. — acariciei sua barba por fazer lentamente. — Era isso que eu iria te dizer quando sair correndo feito uma louca atrás de você. Eu não preciso que se afaste, porque eu não consigo imaginar um futuro longe de você. A vida frustrou nossos planos uma vez, mas posso te garantir que vou fazer de tudo para que nossa segunda chance dê certo, para que envelheçamos como planejamos, juntos, unidos e apaixonados. Então, por favor, meu amor fique comigo. Eu o amo. E me pego desesperada, toda vez que imagino minha vida sem você novamente. Volte para mim, por favor, eu te amo Caleb O'Brien.

Terminei de falar arrasada. Meu peito subia e descia com força. As lágrimas borravam a minha visão e em meu coração parecia haver um buraco do tamanho do mundo.

Nos últimos meses meu coração vivia em uma luta constante com minha razão. Razão essa que não sei mais se é tão confiável assim. Ao mesmo tempo em que queria mudar o rumo que estava tomando da minha vida, eu sentia que nunca iria conseguir esquecer Caleb. Precisou de tudo isso acontecer para eu perceber, que precisamos aproveitar o máximo possível todas às chances de recomeço que a vida nos dar, porque nunca se sabe quando será o último dia.

Eu me inclinei e, sem remover a máscara, beijei sua testa, pedindo a Deus silenciosamente para que tudo desse certo em sua cirurgia.

~:~

— Como você está? — Andrew perguntou.

— Estou tentando lidar com essa situação da melhor maneira possível para não surtar.

— Eu sinto muito, Sophia. Sinto muito. — sussurrou, enquanto me abraçava.

— Alguma notícia dos caras que atiraram?

— A policia está investigando, mas contratei uma empresa de investigação particular, já temos as gravações das câmeras dos edifícios ao redor do seu e também das ruas. Não se preocupe vamos achá-los e chegaremos ao mandante. O investigador que está cuidando do caso quer conversar com você, mas pedir que fizesse isso amanhã, sei o quanto está cansada e abalada com toda essa merda que aconteceu.

— Obrigada. Eu realmente não estou em condições para passar por um interrogatório agora.

— Então me fale de você: O que mais posso fazer por você.

Dei um longo suspiro, sentindo o cansaço físico e emocional tomar conta do meu corpo.

— Com uma tentativa de assassinato contra mim e Caleb internado, essas ultimas vinte e quatro horas foram as piores de toda minha vida.

Enxuguei as lágrimas.

— Você dormiu alguma coisa ontem?

Não respondi.

— Pelo amor de Deus, Sophia. Você precisa de descansar.

— Eu não vou deixar Caleb, Andrew. Passarei os dias aqui até ele melhorar.

— Sabe que se não for descansar falarei com seu irmão para que te obrigue, não sabe?

O olhei enviesado.

— Eu não posso deixá-lo sozinho. — falei, me sentindo fraca demais para prolongar aquela discussão.

— Olha Sophia você foi exposta a uma situação muito traumática, você precisa descansar para ter forças para continuar apoiando Caleb. Estive conversando com Jade mais cedo e ela concordou em passar a noite com você na mansão de Caleb. Sei que no inicio essa ideia pode não parecer à melhor, mas a mansão é segura, Caleb instalou recentemente os sistemas de segurança mais avançados do mercado, além disso, providenciei mais dois guarda costas armados para fazer sua segurança. Seria o mais sensato para você fazer nesse momento, você vai descansa e volta amanhã de manhã para render Christine.

— Andrew, eu agradeço muito a preocupação, mas não quero voltar para aquela casa.

— Por favor, Sophia. Com Caleb gravemente ferido me sinto responsável pela sua segurança, e não me perdoaria se alguma coisa acontecesse com você.

Muito relutante aceitei a idéia de Andrew. Ele tinha razão, eu havia acabado de sofrer uma tentativa de assassinato e por mais que meu edifício tivesse um sistema de segurança, nada se comparava ao esquema de segurança da mansão de Caleb.

Em derrota, assenti com a cabeça, numa muda concordância.

~:~

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Olá, olá, olá! Como vocês estão?

A meta não foi alcançada, mas o capítulo foi postado por motivos que estou tentando adiantar o livro esses dias que estou livre. 

Chegamos oficialmente a reta final do livro, então preparem os lencinhos porque teremos momentos emocionantes. 

E adivinhem quem dará as caras no próximo capitulo hahaha

Um beijo e até o próximo! 💋

Obs: capítulo não revisado ortograficamente

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