Capítulo 38

Quando entrei em casa, naquela tarde, estava exausta. O dia tinha sido cheio de contratempos e burocracias para resolver. Na verdade os últimos dias foram uma verdadeira loucura. Mesmo Andrea estando à frente da administração da vinícola nesses dias que eu estava em Londres, no fim das contas, acabei trabalhando mais. Tudo para que a vinícola saísse de sua situação vulnerável. Mas se fosse possível eu trabalharia ainda mais, minha família investiu demais nela para que ela chegasse à falência.

Caleb ainda estava fora em uma viagem de trabalho, sabia por que Andrew fazia questão de mencionar todas as vezes que nos encontrávamos. Por esse motivo, eu tinha planos de voltar para Toscana o quanto antes. Eu estava me esforçando muito, para me manter bem longe dele e não queria correr o risco de ver todo aquele esforço ir por água abaixo, caso esbarrasse nele por aí.

Havia também outro motivo para minha volta precipitada a Toscana: Giorgio Mc Loucghlin.

O Duque era um problema que eu deveria evitar, para o meu próprio bem. Depois de tudo o que aconteceu dias atrás, era inevitável não me senti como se estivesse passando pelo o fim de algo que não tinha nem começado. E estava com raiva de mim mesma por me senti assim, para falar a verdade eu estava com ódio dele!

Ouvi-lo dizer, depois de todos aqueles beijos que não poderia deixar de se casar com Marion me magoou. Embora eu devesse ser realista, eu não me sentia pronta para seguir com outra pessoa, porque não havia esquecido Caleb completamente. Na verdade as vezes desconfiava que isso nunca fosse acontecer.

Além disso, não sentia confiança nos sentimentos do Duque por mim. Era impossível não pensar, que Giorgio queria apenas me usar para atingir Caleb. E eu nunca mais me permitiria ser iludida e magoada por ninguém novamente. Aquele era um pacto que havia feito a mim mesma, no dia que ganhei alta da clinica de reabilitação.

Eu estive no fim do poço por um longo momento da minha vida e eu não ousaria voltar para lá nunca mais.

Minha cabeça estava latejando fortemente e tudo o que mais desejava, era tomar um banho relaxante e algum analgésico para fazer aquela dor passar. Mas como precisava voltar o quanto antes para Toscana, peguei meu ipad e conferir tudo o que eu havia programado para resolver naquele dia, a fim de checar se tinha obtido êxito em concluí todas aquelas tarefas.

Depois de conferir toda a minha agenda, finalmente pude tomar um banho e um analgésico para a dor de cabeça. Sair do meu quarto e fui para a cozinha. Iria comer alguma coisa, antes de me deitar no sofá e procurar algum filme para assistir, mas quando abrir a geladeira me lembrei da única tarefa que não tinha cumprido no dia, passar no supermercado.

Suspirei frustrada.

Teria que comer fora.

Voltei para o quarto, troquei de roupa, peguei minha bolsinha e sair muito desanimada. Se eu tivesse o que comer em casa, com certeza não voltaria colocar meu pés na rua naquele dia.

Abrir a porta e...

— Caleb! — Falei surpresa.

Ele estava encostado na parede com uma pasta preta nas mãos. Caleb não me respondeu. Ficou me olhando em silêncio. E eu não soube como reagir. Um bolo se formou na minha garganta e, de repente, estava difícil respirar.

Ele não estava de viagem?

— Vim conversar com você.

— Eu estou de saída Caleb. — pendurei a alça da bolsa no meu ombro direito.

Caleb me olhou com um olhar que demonstrava que não desistiria tão facilmente.

— Eu prometo ser breve Sophia, mas eu realmente preciso conversar com você.

Sem escolha movi meu corpo para o lado, abrindo passagem. Caleb passou por mim e entrou. Fechei a porta atrás de mim e o encarei.

Ele estava inegavelmente lindo. Com uma calça jeans escuro e camiseta de manga longa preta, dobrada até o cotovelo. Os cabelos meio bagunçados, bem longe do penteado formal que ele costumava usar no dia a dia. A barba, de dois ou três dias, o deixava ainda mais atraente. Tudo naquele homem me atraía, o que me deixava extremamente irritada. Ele não deveria me afetar tanto. Não mais.

— O que você quer Caleb? — Cruzei os braços.

Ele me encarou com uma intensidade no olhar que fez meu corpo arrepiar.

— Vim aqui para te entregar isso. — estendeu a pasta para mim.

— O que é? — perguntei, enquanto a pegava sem entender nada.

— Abra. — pediu sério.

Abrir a pasta meio receosa. Quando passei os olhos pelo o papel, mal pude acreditar no que li. Caleb estava abrindo mão da parte que adquiriu da vinícola, passando para mim. Aquele documento me tornava sócia do meu pai na empresa.

— O que significa isso?

Caleb me observou por um longo minuto antes de dizer alguma coisa.

— Eu estou abrindo mão da minha parte na vinícola. — ele respondeu com a voz neutra.

— Eu sei, mas não estou entendendo por que está fazendo isso? — Franzi a sobrancelha desconfiada.

Caleb engoliu em seco, parecia não fazer idéia do que dizer. Eu nunca o vir agir daquela forma antes. Sem palavras.

— Eu estou te libertando Sophia. — ele disse, finalmente, me pegando de surpresa.

— Desculpa, mas eu não entendi. — falei ainda perdida.

Coloquei os papeis de volta na pasta e estendi a pasta para ele que se negou. Caleb suspirou. Como se estivesse prestes a fazer uma das coisas mais difíceis de toda sua vida.

— Eu pensei muito em nós dois esses últimos dias, Sophia. — ele me encarou com o olhar perdido.

— Eu não quero falar sobre isso Caleb. — dei as costas para ele. — É muito tarde para arrependimentos e infelizmente não podemos voltar no tempo.

— Não, não e não Sophia! Nos precisamos conversar, não podemos mais adiar o inevitável. Então eu vou falar. E você vai me escutar, querendo ou não.

Sentei no sofá, porque estava muito exausta — física e emocionalmente — decidida a ouvir tudo o que ele tinha para me dizer.

— Uma parte de mim morreu, quando eu te contei tudo sobre Marion. — ele olhou dentro dos meus olhos antes de continuar. — Porque foi quando eu me dei conta que eu havia te perdido para sempre. E naquele momento, eu me senti o homem mais desgraçado do mundo, porque eu percebi que você jamais me perdoaria.

— Você não pode me culpar Caleb! — comecei a falar. — Eu apostei todas as minhas fichas na nossa relação. Eu te amei da forma mais pura e verdadeira. Eu me entreguei a você sem ressalvas. É eu te amei muito, até mais que a mim mesma, mas você foi egoísta de mais para perceber que eu jamais te traíria. Você retribuiu todo o meu amor da pior forma. Me abandonou naquele maldito altar, para fugir com a mulher que eu tinha como irmã. — Terminei de falar lutando para não chorar. Eu havia prometido a mim mesma que não choraria mais por aquela historia.

Chega!

— Eu mais do que ninguém, sei o quanto eu te magoei nesses últimos anos. Sei que te abandonei covardemente e nunca te procurei para esclarecer as coisas. E quando eu voltei a te procurar, me aproveitei de um momento de fragilidade para te oferecer uma proposta ridícula. — Ele inspirou fundo e soltou o ar antes de continuar. — Eu odeio ter que admiti isso, mas a verdade é que se Marion não tivesse me pedido o divorcio, provavelmente ainda estaria vivendo enganado. Porque o meu orgulho, a minha mágoa e o meu ressentimento nunca deixaram eu me aproximar de você Sophia. Eu me acostumei a ser infeliz ao lado de Marion, me conformei com a vida miserável que eu levava na companhia dela. Mas bastou ter você por perto novamente, para todo aquele sentimento que eu jurava está adormecido, voltar à tona com uma intensidade assustadora. Eu tentei te esquecer Sophia, eu juro que tentei, mas eu nunca conseguir. E provavelmente nunca conseguirei. Porque você se tornou o centro do meu mundo. É irreversível.

Continuei escutando em silêncio. Caleb parecia tão abalado, fragilizado, que me deixou sem reação. Talvez ele precisasse mesmo colocar tudo para fora. Apenas deixei que ele continuasse falando:

— Eu não posso apagar o passado. Eu não posso voltar atrás. Eu sinto muito por ter arruinado sua vida. Eu sinto muito por ter feito você se machucar. Eu me culpo todos os dias por tudo o que aconteceu. E já me conformei em ter que conviver com o peso do arrependimento nos meus ombros. E por mais que eu queira muito o seu perdão, não posso exigir-lo de você. A única coisa que posso fazer é sair do seu caminho para que você possa recomeçar e ser feliz. E acredite em mim, te ver feliz é tudo o que eu mais quero neste mundo. Por isso, eu decidi me afastar de você para sempre. Eu quero que você siga sua vida Sophia, sem mágoas e ressentimentos. Quero que você deixe todo nosso passado no passado. Quero que construa um caminho novo, sozinha ou com um novo amor, não importa sua escolha. E é por isso que estou te devolvendo minha parte na vinícola, porque quero que se liberte de todas as amarras que te prendem a mim. Você não precisa mais fugir de mim.

Meu coração se apertou. Eu o encarei completamente sem palavras. Por mais que eu tentasse as palavras não vinham. Mordi o lábio, as mãos suando e o nervosismo transbordando. Caleb levantou os olhos azuis para mim e eu prendi a respiração.

— Eu te amo, Sophia. Eu te amo tanto que não sei o que fazer com esse sentimento. — Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, parecendo tão perdido, tão devastado. — Amo tanto que não vou insistir mais em nos dois.

Por um instante, todo meu corpo ficou congelado, sem reação. Meu coração disparou e disparou, como se não fosse parar nunca mais de acelerar. Soltei o ar com força, parte de mim tremendo na ânsia de me atirar em seus braços. Mas eu ainda não conseguia o perdoar, não conseguia deixar o passado para trás, embora muitas e muitas vezes ficava tentada a tentar.

Tomei fôlego. Tentando não me deixar levar por todas aquelas palavras.

— Você me ama até Marion armar outro plano para nos separar! — falei amarga. — Desculpa Caleb, mas eu não consigo mais confiar em você. Não quando você decidiu não confiar em mim e agir como um maldito de um covarde sem caráter. Eu acho que nunca conseguirei esquecer o que aconteceu há cinco anos. — encarei as cicatrizes em meu pulso.

Um gosto amargo subiu na minha boca ao lembrar da dor que senti ao descobrir que fui traída, por pessoas que eu acreditava ser de confiança.

— Isso acabou — falou firme. — Marion nunca mais irá me usar para te ferir. Eu nunca mais vou te magoar conscientemente.

— Sim Caleb, finalmente esse pesadelo acabou. — Levei as mãos às têmporas, lutando para não chorar. — Quanto à vinícola, serei eternamente grata pelo o que você fez. Pode ter certeza, que pagarei até o ultimo centavo do dinheiro que você investiu nela.

— Sophia não preci... — ele tentou argumentar.

— Eu faço questão Caleb, por favor, isso não está em discussão.

Seu olhar, mortificado, devastado, destruído, quebrou meu coração. Mas eu tinha que ser forte. Forte para encerrar aquele capitulo da minha vida. Forte por nos dois. Ambos sofremos as conseqüências de seus atos e precisávamos seguir em frente com nossas vidas.

A sala caiu em silêncio. Ele pousou os olhos em mim e eu mantive os meus nos dele. Apenas queria guardar na memória todos os detalhes daquele rosto que eu tanto amava.

Ele começou a caminhar na direção da porta, eu me levantei do sofá, pronta para pedir que ele não fosse embora, mas as palavras não saíram da minha boca.

Caleb então deixou a sala, fechando a porta, sem olhar para trás. E eu desabei no chão. A vontade de chorar explodiu em meu peito.

Doeu.

Doeu muito.

E então eu entendi.

Que eu o amava e jamais conseguiria esquecer-lo. Não importava o quão cruel a vida havia sido com nos dois. Não importava todas as armações de Marion para nos separar, nada importava. Porque nós nos amávamos e estávamos destinados um ao outro, desde quando nos vimos pela primeira vez. E nada poderia acabar com amor que sentíamos.

Eu amei Caleb no minuto em que eu coloquei os olhos nele naquele pub e tinha certeza que com ele as coisas não eram diferentes.

Caleb era o meu veneno.

E o antídoto.

Eu nunca conseguiria começar uma nova historia com uma nova pessoa. Simplesmente porque a nossa historia não teve um fim, infelizmente ela foi interrompida bruscamente contra nossa vontade.

Levantei-me do chão decidida. Eu precisava ir atrás dele e dizer o quanto eu estava apavorada com a idéia de perder-lo mais uma vez. E que estava disposta a um recomeço.

Não iria mais fugir desse sentimento, estava cansada demais de lutar contra meu coração.

Em questões de segundos eu estava descendo as escadas correndo. Não quis esperar o elevador chegar ao meu andar. A vontade de gritar a ele o quanto eu ainda o amava, sufocando meu peito.

Abrir a porta da portaria em poucos segundos. E logo o avistei, a alguns metros na calçada em frente ao meu prédio, pronto para atravessar a rua. Um vento frio me encontrou. Agarrei-me contra meu fino suéter e corri em sua direção, um pouco desengonçada, quase infantil, mas não liguei.

— Caleb! — gritei.

Ele virou para trás para me olhar. Seus olhos estavam vermelhos. Ele havia chorado. Mas também vi neles algo que eu desejava mais que tudo nesta vida.

Ele começou a andar rápido em minha direção. Um sorriso largo brotou em seus lábios. Um sorriso de alivio que se desfez no momento em que escutamos uma moto cantando pneu, devido à velocidade, vindo em nossa direção.

Olhei para trás quando vi em questão de metros a mão enluvada da pessoa no assento traseiro da moto, apontando um objeto escuro em minha direção. Parei congelada esperando pelo o pior.

Em questão de segundos, Caleb me alcançou e entrou na minha frente quando os disparos ecoaram pelo ar.

Caleb contornou meu corpo e nos dois caímos fazendo um grande barulho com o baque de nossos corpos ao chão. Senti uma enorme dor em minhas costelas quando Caleb caiu em cima de mim. Perdi a consciência por alguns segundos devido à forte dor, mas ela logo foi recuperada quando senti um liquido quente encharcando o meu suéter.

Arfei, tentando me levantar quando percebi o corpo de Caleb inerte sobre o meu.

— Caleb! Você está bem?

Silêncio.

— Caleb! — chamei novamente, mas ele não respondeu.

Reuni todas as minhas forças e com muita luta consegui tirar seu corpo de cima de mim. Passei a mão sobre o meu suéter ficando espantada com a quantidade de sangue sobre ele.

— Soph... — ele soltou um gemido de dor.

Virei-me para o olhar e foi neste instante que uma dor latejante tomou conta do meu peito, me deixando sem ar.

Caleb havia sido baleado.

E estava sangrando muito.

~:~

Todo mundo vivo aí?

As coisas ficaram bem tensas nesse capitulo. Nem preciso dizer pra todo mundo se preparar pro próximo né? Acho que ficou bem claro que teremos muita treta pela frente. Já estou aqui ansiosa para ler as teorias de vocês!

E pra quem está amando a estória, por favor, não deixe de votar. O voto é minha forma de saber se vocês estão gostando do livro. E a forma que eu tenho de fazer QNA ficar conhecido também, então, por favor votem, votem, votem.

Até o próximo!

💋

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