Capítulo 32

O NATAL DA VINICOLA havia sido um sucesso. Todos os clientes que compraram os convites saíram encantados com o evento, implorando pela a continuidade da festa no ano seguinte. Graças ao empenho de todos, conseguimos transformar o evento em algo mágico, encantador e o mais importante repleto de amor.

Pela a primeira vez na historia do clã Salvatore, não tivemos um natal comemorado em família. Embora quase todos estivesse presente na comemoração realizada na vinícola, vovó decidiu que naquele ano ao invés de passarmos o natal juntos, ela faria uma grande comemoração no ano novo, onde todos deveriam está presentes. Vovó Medina fez questão de deixar bem claro, que aquilo não era um pedido e sim uma ordem inquestionável.

Quando eu pensei que teria um pouco mais de paz devido à diminuição do ritmo de trabalho na vinícola, Vovó Medina me incumbiu de ficar a frente de todos os preparativos para a grande festa que ela daria na passagem de ano. No fundo era uma forma de me integrar novamente a família. Essa seria a primeira vez, depois de muito tempo em que eu passaria um final de ano em família. O que estava deixando nona Medina extremamente empolgada.

Mas o maior dos meus problemas naquele momento, era convencer minha avó a desistir da idéia fixa de convidar Caleb para o nosso Réveillon. Todos os dias eu era bombardeada de perguntas por ela sobre Caleb, segundo a vovó aquele seria o momento perfeito para reatar nosso namoro. Confesso que aquilo já estava me deixando com os nervos a flor da pele.

Eu estava travando uma luta comigo mesma para deixar Caleb de vez no passado. Sentia sua falta. E estava apenas há um mês sem vê-lo. Ao mesmo tempo eu não conseguia deixar de pensar em como seria se tentássemos de novo, visto que agora estávamos livres das mentiras de Marion. E vovó não estava me ajudando em nada com sua obsessão em meu relacionamento com Caleb.

Balancei levemente minha cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não sei qual o motivo de eu estar pensando esse tipo de coisa. Meu Deus! Como eu podia pensar que todo o meu passado se apagaria fácil assim? De uma noite para outra, minha confiança seria renovada e nosso relacionamento voltaria ser como era antes de tudo.

Nada seria como antes.

Nossa vida nunca voltaria a ser como era no passado.

Nona? — Comecei subir as escadas.

— Aqui em cima!

Eu a encontrei em seu quarto, terminando de se vestir depois do banho.

— Convidou ele? — Vovó Medina perguntou ansiosa, assim que fechei a porta.

— Não! — respondi de imediato. — Por qual motivo eu o convidaria para nosso réveillon?

— Por que ele é o amor da sua vida?

Revirei os olhos.

Nona... — sentei-me na beirada de sua cama. — Não faz sentido o convidar porque já não estamos mais juntos.

— Sophia Stella Salvatore!

Quando ela me chamava por meu nome e sobrenome, era sinal que estava me repreendendo.

— Não seja mal educada com um rapaz que ajudou tanto a nossa família. Graças a ele, temos um motivo a mais para estarmos comemorando na passagem de ano.

— Mas vovó o problema é justamente esse! — opa, mordi a língua quando me dei conta que estava prestes a falar demais. — O que eu quero dizer é que as coisas estão complicadas demais entre nos dois.

Ela me olhou fixamente.

— Então não existe a menor chance de você e Caleb se reconciliarem?

— Não! — respondi suscita.

— Que pena. — seu semblante foi dominado pelo desapontamento. Ela se sentou do meu lado na cama. Deitei a cabeça em seu colo enquanto ela fazia carinho em minhas costas. — Soph, tenho algo para confessar. — ela falou calmamente.

— O que?

— Caleb me ligou algumas vezes.

Levantei-me e olhei para ela incrédula.

— Ele tem ligado para a senhora? Quando?

— Ele só me liga quando você está no trabalho. — revelou — Eu sei que você não quer mais saber dele, mas eu sempre gostei daquele rapaz, Sophia. Gosto dele e ele de mim.

— Não acredito que Caleb tem ligado para a senhora para falar sobre mim! — bufei irritada.

— Não meu amor. Ele nunca tocou no seu nome. — Não acreditei nela nem por um segundo. — Caleb sempre faz o melhor que pode para continuar com a mentira que vocês dois inventaram.

Ah, meu Deus!

— Que mentira? — perguntei com medo de ouvi a resposta.

Seus olhos se enrugaram nos cantos conforme ela sorria.

— Ah Sophia, desde quando seu pai me contou sobre o novo sócio. Eu senti que havia alguma coisa errada com a historia que você contou a meu filho. — ela deu um meio sorriso para mim.

Meu coração deve ter parado, pois eu não sentia nada abaixo do pescoço.

— Sentiu?

— Sim! E minhas suspeitas se confirmaram assim que vi vocês dois juntos. Eu conheço você, Soph. Sempre soube que vocês não tinham reatado o noivado. — Ela foi direta comigo. — Sabia que tudo não se passava de uma mentira para que seu pai aceitasse a ajuda de Caleb.

Precisei de um minuto inteiro para conseguir encontrar minha voz. Não. Não era possível.

— Só estava tentando salvar a vida do meu pai. — falei depois de um longo silêncio.

— Eu sei minha querida. Embora eu tenha ficado muito chateada por você ter mentido para toda a família, sei que tudo o que fez foi por amor ao seu pai.

Não dava para acreditar. Ela sabia o tempo todo! E não me disse nada a respeito! Agora entendo porque estava sempre se intrometendo em nossa relação. Ela estava nos testando.

Levei as mãos à cabeça e comecei a rir. E então gargalhar.

— Qual é a graça querida? — perguntou curiosa.

— Me lembrei dá noite em que a senhora resolveu invadir nosso quarto no meio da madrugada. E de todas as vezes que a senhora insistiu com aquela idéia de bisnetinho.

Vovó sorriu para mim antes de responder.

— Eu queria me certificar que realmente estava certa sobre vocês dois.

— A senhora sabia o tempo todo? E mesmo assim ainda continua me atormentando com essa historia absurda de convidar Caleb para o réveillon?

Vovó me repreendeu apenas com o olhar, o que era muito pior do que com palavras.

— É claro que eu não ia permitir que você continuasse com essa farsa por muito tempo. Só queria ver onde isso ia dar.

Um arrepio subiu pela minha coluna.

— Ele sabe? Que a senhora sabe?

— Não.

— Então — comecei —, desde quando Caleb me abandonou, eu nunca mais tive noticias sobre ele, até que um belo dia, Caleb apareceu na minha porta me oferecendo uma proposta absurda.

— Qual querida?

Precisei me levantar. Estava constrangida demais! Comecei a andar pelo quarto.

— Se eu o ajudasse a reconquistar Marion, ele me ajudaria com a vinícola.

Então comecei a contar toda a história, do dia que me mudei para sua casa, os eventos que tive que o acompanhar na propriedade de Giorgio, meu reencontro com Marion, e por ultimo o fim do nosso acordo. Conforme eu ia falando, vovó me olhava como se não estivesse espantada com nada na minha história.

— Então eu menti para vocês para poder ajudar a empresa, e fui devidamente castigada pela a vida. Não existe a menor possibilidade de reatar com Caleb novamente. Espero que a senhora possa me perdoar. Eu só queria provar a mim mesma que não era uma inútil. — Fui falando tudo de uma vez.

— Eu já sabia sobre Marion bambina. — ela me surpreendeu pela a segunda vez no dia.

— Como a senhora ficou sabendo? — inclinei a cabeça.

— No dia que Caleb foi embora, quando fui preparar o café da manhã o encontrei sentado cabisbaixo na cozinha. Ele estava tão abatido, tão angustiado Sophia, acho que ele envelheceu uns dez anos tamanha a preocupação. — Lamentou pesarosa. — Então, Caleb acabou me contando tudo o que descobriu sobre o que Marion fez para separar vocês. Ele estava muito aflito, era visível o quanto o remorso e a culpa o corroía. Ele foi tão sincero ao dizer que ainda te amava que eu acreditei nele. Aquele rapaz ainda ama muito você.

Ela não fazia idéia o que estava dizendo. Por mais que ele também tivesse sido enganado, Caleb não merecia o meu perdão. Ele nunca me amou de verdade. Se realmente me amasse, não teria caído com tanta facilidade na armadilha de Marion.

— Caleb não merece meu perdão vovó.

— Ah, Sophia, não. Não, diga isso mia bambina! Seu coração é bom demais para ser envenenado pela a mágoa. — Ela tomou meu rosto entre as mãos macias e beijou minha testa. — Eu sei que às vezes a dor nos cega, a tristeza toma conta do nosso coração, porque é de quem mais gostamos que vem a decepção. Mas quando a mágoa que sentimos, começa se alastrar em nosso peito é hora de começar a considerar o perdão.

Afastei-me dela visivelmente chateada. Lembrei de toda a dor que Caleb me causou ao me abandonar. De todos os meus sonhos que morreram naquele dia.

Um soluço me escapou.

— Não, eu não posso. Esses sentimentos são mais forte do que eu. — Segurei o choro, eu não iria mais chorar por ele. — A raiva e o rancor pelo o que Caleb e Marion fizeram comigo, ainda são muito vivos dentro de mim, e eu não posso fazer nada quanto a isso. Eu sinto que esses sentimentos dominam mais do que a metade dos meus pensamentos e das minhas ações. Eu queria ser mais forte do que eles. Mas não sou.

Falar de Caleb ainda me machucava muito, trazia uma dor profunda que eu não sabia se seria forte o suficiente para superar.

— Eu sei querida que não é fácil quando a vida de repente nos coloca frente a frente com a verdade, que se apresenta como uma lâmina dilacerando nossa alma, matando nossos sonhos e tirando o chão sob nossos pés. Sei que tudo o que sentimos é que nosso mundo se desfez. Dor, mágoa, ódio, revolta adentram nosso coração. — ela falou compreensiva. — Você tem se apegado a esses sentimentos há cinco anos meu amor, mas já está na hora de libertar seu coração. É normal ficar inseguro quando precisamos perdoar alguém. E você sabe perdoar é esquecer. Perdoar é liberta-se da dor, é retirar de nos um fardo que não escolhemos, mas que aceitamos carregar.

— Eu sei disso vovó. Eu o amo. — meus olhos estavam marejados. — E nesses últimos dias eu cheguei a pensar que poderia... que poderia o perdoar e continuar de onde paramos. Mas não posso. — meu queixo começou a tremer. — Não posso. Eu amo Caleb. Mas infelizmente, isso não é o suficiente.

Ela me segurou pelo pulso e me fez olhar para ela.

— Sophia eu não estou dizendo para você reatar seu relacionamento com Caleb. — Eu me encolhi. — Estou tentando fazer você entender, que você precisa o perdoar para se libertar desse sentimento que te aprisiona. Porque só assim poderá prosseguir com sua própria vida. Não importa se estará com ele ou não.

Dizendo isso ela saiu do quarto me deixando sozinha com minhas inquietações. Fechei os olhos, tentando controlar a tormenta que acontecia em meu íntimo. Suas palavras atingiram meu coração em cheio.

Caleb e Marion me machucaram de uma maneira imensurável, mas eu precisava ter coragem para seguir em frente, livre de todos os sentimentos ruins que estavam travando minha vida. Eu precisava acalmar meu coração, deixando-o mais lúcido para tomar decisões e fazer novas escolhas.

Vovó Medina tinha razão... Talvez tentar perdoar Caleb, fosse minha melhor opção naquele momento.

Perdoar era preciso.

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Olá leitores (a) lindas, queria esclarecer uma coisa com vocês. Dois capítulos atrás eu disse que os dias de postagens seriam todas as sextas-feiras. Acontece que os dois últimos capítulos eu postei em dias diferentes, porém mantive a postagem 1 vez por semana.

Como trabalho viajando, escrevo durante minhas folgas ou tempo livre e as vezes estou com o capítulo pronto e acabo postando antes da sexta-feira (como é o caso desse capítulo), mas o dia de postagens é sexta-feira. Se acontecer de está com capítulo pronto antes da sexta eu posto, se não podem ficar tranquilos (a) que o capítulo será postado sempre nas sextas 1 vez por semana.

Ficou confuso, mas deu para entender. 😂

💋

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