Capitulo 1

" Você fez meu coração sangrar, você ainda me deve uma razão. Porque eu ainda não consigo descobrir o por que..."

Cincos Anos Depois

Kate me ligou mais cedo me chamando para almoçar com ela, eu logo aceitei, pois fazia tempo que não almoçávamos juntas. Escolhemos um ótimo restaurante japonês, que ficava à duas quadras do meu apartamento. Durante o caminho, Kate me contou sobre como estava animada com a reforma de seu fusca. Sim ela ainda tem aquele fusca cor de rosa. E que no próximo verão, estava intimada a viajar com ela para o Brasil. 

— Mas Kate, não precisamos necessariamente esperar o próximo verão para conhecer o Brasil. — dei uma gargalhada com a cara de espanto que ela fez.

— Por que não? — ela parou de manobrar seu fusca, o deixando atravessado entre a rua e a vaga.  

— Porque primeiramente, quando é inverno no hemisfério norte é verão no hemisfério sul. E segundo em algumas partes do Brasil, praticamente é verão o ano inteiro. 

— Sério? — ela me olhava com os olhos brilhando de alegria. — Sophia podemos ir na minha semana de folga em janeiro! — deu gritinhos.

A buzina de um carro atrás do nosso a despertou de seu transe, lhe fazendo estacionar seu fusca rapidamente na vaga em frente ao restaurante. E eu fiquei rindo com as loucuras de minha amiga, Kate definitivamente tinha um parafuso a menos. Quando descemos do carro me dei conta que ela estava vestida como uma pin up. Vestia uma camisa branca com mangas dobradas, combinada uma linda saia godê preta de comprimento midi. Nos pés calçava um peep toe com um enorme salto, que deveria ter no minimo uns 14 centímetros. Kate! Balancei a cabeça rindo.

Quando entramos, logo fomos recebidas por um garçom que nos encaminhou para uma mesa reservada nos fundos do restaurante. O garçom nos serviu água e anotou nosso pedido, nos deixando a sós logo em seguida. 

A animação de Kate foi passageira, durante todo o almoço ela permaneceu calada, o que não era normal se tratando de Kate. Terminamos nosso almoço em silêncio, em seguida chamei o garçom para pagar a conta. Kate estava tão distraída em seus pensamentos, que nem percebeu a presença do garçom parado em frente nossa mesa. Conhecendo-a bem como eu a conhecia, só havia um motivo que a deixava desanimada. Kate deveria está apaixonada por alguém que não a correspondia.

— Pronto Miss Lunática! Paguei a conta já pode voltar para a lua. — falei a tirando do transe.

— Conta? Que conta? — ela me indagou assustada.

— A conta do restaurante ora!

— Me desculpe Soph. Ultimamente estou tão cansada que não consigo me concentrar em nada. — ela respondeu desanimada. 

Então decidi confirmar, se minha teoria sobre o que estava acontecendo com ela tinha fundamento.

— Vamos Kate, me diga o que tem a deixado assim? — tentei arrancar uma confissão.

— Nada Soph! Eu realmente só estou cansada. Tenho emendado muitos plantões e isso tem me esgotado. Vida de medico. — Ela suspirou.

Kate havia cursado medicina junto com meu irmão Antonny. Ambos trabalhavam no mesmo hospital, e estavam no ultimo ano de suas especializações. Ele se especializava em cardiologia e ela em oncologia.

— Sei bem como é. Sabe Kate acho que você precisa de um namorado. — a provoquei.

Ela parou de andar, e ficou me olhando com uma cara de quem mal podia acreditar no que estava ouvindo.

— Espera aí Sophia! Tem certeza que sou eu mesma que preciso de um namorado?! — Ela sorriu maliciosamente.

— Claro que sim! — dei de ombros — Acho que isso aliviaria toda essa tensão pré e pós hospital. — pisquei para ela.

— Devo te lembrar Miss Salvatore, que não é todo mundo que tem a sorte que você tem de ter um homem lindo, gostoso, inteligente, educado, gostoso e gostoso como Scott Smitson correndo atrás de você.

Scott era o psiquiatra que cuidou de mim, desde o ocorrido há cinco anos. Com o tempo nos tornamos grandes amigos. Mas somente grandes amigos e nada mais.

— Kate! Já te disse um milhão de vezes que Scott é apenas um grande amigo...

— E que nossa relação não passa de uma amizade e blá, blá, blá. — Ela terminou a frase junto comigo, tentando imitar o som de minha voz.
O que me fez dá uma grande gargalhada, Kate era impossível as vezes.

Fomos surpreendidas por um grande estrondo no céu, anunciando a chegada de uma tempestade. Aquela seria minha deixa, para fugir do mesmo discurso de sempre. De que Scott era o homem perfeito para mim e que eu deveria dar uma chance ao seu amor...

— Amiga preciso ir. — choraminguei. — Tenho que chegar em casa antes dessa tempestade cair. — apontei para o céu.

— Não quer uma carona? — Ela fez beicinho.

— Não, prefiro ir caminhando. Vou aproveitar e passar no mercado para comprar leite. — Disse dando um beijo estralado em sua bochecha. — Ate amanhã.

— Até.

Na verdade eu não precisava de leite. Essa foi à única desculpa que me veio na cabeça para fugir de Kate. Não queria que ela começasse a falar, o quanto estou sendo injusta comigo mesma e com Scott, por não aceitar seu amor. E de que já passou da hora de eu reconstruir minha vida, com alguém que me ama de verdade. Em partes Kate tinha razão, já havia passado da hora de recomeçar minha vida, e esquecer o passado de vez. O problema é que eu simplesmente não conseguia enxergar Scott com outros olhos. Juro que já havia tentado, mas não conseguia. Scott era lindo de morrer, o típico deus grego que veio a terra, somente para despertar desejos carnais nas pessoas. Mas o amor que eu sentia por ele, era o mesmo amor que sentia por meus irmãos.

Ia caminhando de cabeça baixa, distraída com meus devaneios, quando avistei um modelo esportivo luxuoso estacionado na porta de meu prédio. Uau! Parei para pegar as chaves em minha bolsa, quando senti uma mão fria apertar meu braço direito. No impulso me virei para ver quem era, e quase desmaiei com o que vi.

— O que faz aqui? — perguntei com a voz praticamente falhando. — Como descobriu meu endereço? — puxei meu braço bruscamente de sua mão.

Meu coração na hora começou a bater mais forte, meu corpo começou a tremer e minha fúria era tão grande que a vontade que eu tinha era de estapear sua cara.

— Nenhum "Olá Caleb, quanto tempo! O que fez nesses últimos anos?" — ele me respondeu sarcasticamente.

Caleb estava parado na minha frente, me encarando com seus intensos olhos azuis. Me olhava da mesma forma que fazia no passado. Seu olhar ainda era intenso, mas no lugar de amor havia desprezo. Era um olhar frio, sombrio como eu nunca tinha visto antes. 

Alem do olhar, sua aparência física também havia mudado; o corpo estava mais forte do que antes, o cabelo estava bem cortado e totalmente alinhado. A barba rala que cobria seu maxilar, o deixava extremamente sensual. E ele agora se vestia como um homem maduro, estava com um terno bem alinhado preto, com uma camisa branca e gravata azul petróleo. Era difícil de admitir, mas ele conseguia está ainda mais bonito do que já era. 

Isso não é justo.

Era inacreditável ter aqueles olhos azuis me encarando, depois de tantos anos. Senti meus dedos ficarem dormentes e minhas pernas tremerem, mas eu não poderia fraquejar diante dele.

— Não tenho nenhum interesse em ser educada com você. — Virei às costas e saí andando.

— Está tão mudada. A Sophia que eu conheci jamais teria me respondido assim. — Continuei andando como se não tivesse ouvido o que ele tinha acabado de dizer. — Mas eu nunca conheci a verdadeira Sophia não é mesmo? — gritou com a voz que por tantos anos insistiu em permanecer na minha cabeça.

Fiquei paralisada com sua última fala, senti a adrenalina percorrer em minhas veias. E foi essa mesma adrenalina que me deu coragem para me virar e o encará-lo. Ele continuou parado no mesmo lugar em que estava, seus olhos continuavam fixos em mim. Então me armei de coragem e o respondi:

— Devo admitir que você está certo, mudei sim, estou mais forte. — dei um sorriso falso. — Como dizem, o que não te mata te fortalece.

— Concordo com você. — Ele encarou as cicatrizes nos meus pulsos.

Quando percebi que ele as encarava, por um ato instintivo tentei esconder minhas mãos atrás das costas. A última coisa que queria de Caleb era a sua pena, isso seria muito humilhante para mim. Fechei meus olhos e contei de um até dez mentalmente. Respirei fundo tentando me acalmar, não queria dar a ele o gostinho de saber que ainda mexia comigo. Nesse momento, começou a chover, uma chuva fria, forte e intensa.

— Ok Caleb. Diga logo o que veio fazer aqui, não quero pegar um resfriado por sua culpa. — Não olhei para ele, mas pude sentir sua satisfação por ter conseguido o que queria.

— Vim para falar de negócios. Por que não subimos para seu apartamento?

— Não. — rosnei.

— Talvez não confie em si mesma ao estar em um lugar sozinha comigo. — ele arqueou uma de suas sobrancelhas.

O pior é que ele tinha razão, não conseguia confiar em mim tão próxima dele. Poderia fazer alguma coisa estúpida que me causaria mais danos, melhor pegar um breve resfriado do que fazer algo idiota.

— Não seja ridículo. — retruquei. — Só não quero continuar perdendo meu tempo com você, então, por favor, vamos acabar logo com isso. — Ele soltou uma grande gargalhada ao terminar de me ouvir.

— Sim, claro. Então vamos falar de negócios, soube que seu pai está a ponto de declarar falência e a única maneira de reverter à situação é conseguindo um sócio investidor.

— Não vejo como isso possa ser de seu interesse. — falei confusa.

Meu pai havia se aposentado há alguns anos, um pouco antes de minha mãe falecer. Quando minha mãe faleceu, ele encontrou na vinicultura a forma de superar sua dor. Vendeu todos os seus bens e investiu tudo o que tinha no novo negócio. Mudou-se para Itália sozinho, mergulhando de corpo e alma na produção de vinhos. Porém, devido à consequências de uma crise econômica na Itália o negocio ia de mal a pior.

— Me interessa porque quero investir, quero ser o sócio que seu pai precisa. — Ele se aproximou de mim com as mãos nos bolsos, o que me fez senti o cheiro de seu perfume amadeirado.

— O que? Enlouqueceu? — falei quase gritando. — Sabe que meu pai te odeia por tudo o que me fez. E segundo, duvido que Marion goste dessa idéia. — dei de ombros.

— Marion não tem porque se importar, já que estamos separados faz mais de sete meses. — ele falou com um tom que deixava claro que não queria tocar nesse assunto.

Mas pela forma em que falou, estava claro que ainda a amava e que estava sofrendo pela separação. O que terá acontecido? Por que será que se separaram?

— E sobre o outro problema, Sophia você pode muito bem convencer seu pai a aceitar minha ajuda. Sempre foi a princesinha do papai, a única filha amada e adorada por ele. — A sombra de um sorriso tocou seus lábios.

— Por que está fazendo isso? — perguntei ignorando suas ultimas palavras.

— Por que sou uma alma caridosa. — Ele sorriu sarcasticamente.

Cretino.

— Ah, por favor! Nós dois sabemos muito bem quem realmente é. — falei me negando a acreditar em toda aquela bondade. Bastava o olhar, para ver que agora era um homem movido a interesses.

— Vejo que me conhece muito bem. — Ele riu passando a mão pela a barba malfeita. — Mas é verdade quero algo em troca.

— Claro então o que quer? — perguntei curiosa.

— Você. — ele me deu um sorriso malicioso olhando dentro dos meus olhos.

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