Capítulo 2 - Você vai sobreviver!
Sempre quando víamos a Riverclif meu pai nos levava ao restaurante do Vicent, lá servia os melhores frutos do mar, eu adorava comer camarão. Eu e papai adoravamos, já minha mãe sempre achava alguma coisa para reclamar, seja da comida, da música ambiente que ficava tocando, até o atendimento. E hoje não podia ser diferente. Megan estava reclamando em como a garçonete tinha ficado perto demais do meu pai para fazer o pedido, em como ela estava dando em cima do meu pai bem na frente dela. Eu confesso que não vi nada demais, e meu pai estava tentando convencer mamãe disso enquanto aguardávamos nosso pedido.
- Eu tenho olhos, Tomas, eu vi o jeito dela - a voz acusatória da minha mãe já estava a me deixar tonta. Tomei um belo gole d'água que haviam nos servido em taças.
- Você está distorcendo tudo, Megan - Papai fala calmo tentando controlar a situação. - Será que podemos aproveitar o momento? Chega de ciúmes.
Mamãe ri.
- Ciúmes? Eu não estou com ciúmes - ela se defende.
Olho para os lados vendo as outras mesas ocupadas todos pareciam conversar calmamente comendo suas comidas satisfeitos com sorrisos nos rostos.
- Eu vou ao banheiro - digo me levantando e deixo meus pais para trás. Sigo pelo lado direto do estabelecimento passando por algumas mesas. Entro no reservado e para minha alegria ele estava vazio, me aproximo da pia e me olho no espelho, inspiro e expiro vislumbrando meu reflexo. Passo meus dedos entre meu cabelo preto curto penteado-os, uso o sanitário antes de sair para voltar a mesa torcendo para que meus pais já tenham se resolvido.
Caminho calmamente em direção ao salão, mordo a unha do dedo indicador quando vou virar o corredor e é aonde tudo acontece. Esbarro em um corpo que vinha na direção contrária, ouço o barulho de metal caindo no chão e som de algo se estilhaçar.
- Puta merda! - a pessoa a minha frente exclama.
- Meu Deus, me desculpe, eu estava distraída.
A pessoa se inclina para pegar a bandeja que tinha caído próximo aos seus pés. Vejo vários cacos de vidro ao chão.
- Eu te ajudo a catar - me agacho para pegar um pedaço de vidro próximo a mim.
- Não precisa, você vai...
- Aí! - péssima escolha, Isabel. Vejo uma pequena mancha de sangue brotar do meu dedo indicador.
- Se cortar! - a pessoa fala em um suspiro ao meu lado.
Meus olhos vão de encontro à duas órbitas azuis que me observavam.
- Tem band aid na cozinha posso pegar um para você colocar aí.
- Eu sou uma idiota, não sei onde estava com a cabeça - digo me levantando. Ele também se põe de pé.
- Não se xingue! Você só agiu por impulso. - ele diz condescendente. - Eu só vou pegar uma pá para tirar esses cacos daqui, antes que mais alguém se machuque e te trago um band aid.
- Ok, vou ao banheiro - digo é me viro nos calcanhares fazendo o caminho de volta de onde tinha vindo. Meu polegar pressionava o dedo indicador aonde tinha me ferido, era um pequeno corte, observo o pequeno rastro de sangue que escorreu pelo meu dedo antes de abrir a torneira e lavar a mão.
Quando sai do banheiro encontrei o rapaz que tinha esbarrado.
- Quer que eu coloque em você? - ele me mostra o band aid. - Você vai sobreviver! - ele fala quando terminar de colocar, um pequeno sorriso brinca em seus lábios.
- Foi um corte de nada, nem precisava. Mas obrigada!
- Não foi nada - ele sorri. - Bem, agora tenho que voltar ao trabalho - ele indica atrás de si com o polegar.
- Certo - sorrio sem jeito. - E me desculpa mais uma vez por ter sido desastrada.
- Está tudo bem, não se preocupe com isso - ele diz antes de sorrir uma última vez e caminhar em direção a cozinha. Enquanto isso sigo de volta para o salão dessa vez um tanto cautelosa para não esbarrar em mais alguém.
- Que demora Isabel! - mamãe reclama quando me sento.
- Você está bem, filha? - meu pai pergunta, seus olhos em mim.
- Sim, eu só... acabei esbarrando em um garçom e fiz ele derrubar uma taça no chão, acabei me cortando - mostro o dedo com o band aid. - Mas não foi nada demais.
- Meu Deus, Isabel, como você pode ser tão desastrada!? - mamãe diz indignada.
- Megan, por favor... - meu pai intervém.
- Tudo bem - digo cabisbaixa. - Ela está certa, sou uma idiota desastrada.
- Isabel! - olho para meu pai ao ouvir ele me chamar pelo nome e não o apelido. - Eu não admito que diga isso de si mesma. Você pode ter se distraído e tudo bem, mas não se chame de idiota porque você não é isso.
Assinto para ele.
Depois disso nossa comida enfim chega a garçonete nos serve e sai, degusto a comida apreciando seu sabor, meu pai também parece se deliciar enquanto minha mãe mal toca no prato.
Lanço minha atenção ao redor, até meus olhos capturarem o garoto de olhos azuis como o céu sem nuvens, ele atendia uma mesa ao canto do estabelecimento, sua postura era relaxada e ele conversa com os clientes descontraído, pude notar como seus cabelos castanhos claros quase loiros eram relativamente grandes encobrindo suas orelhas e nuca. Era a primeira vez que o via por aqui, ele deveria ter sido contratado a pouco tempo.
Torno a voltar a minha atenção para comida, meu pai me olha e lança um sorriso cúmplice e eu devolvo o sorriso.
Na manhã de sábado eu e meu pai acordamos cedo enquanto mamãe ainda permaneceu dormindo, ela não costumava acordar cedo aos finais de semana. Papai deixou um bilhete como das outras vezes dizendo que iamos andar de bicicleta pelo calçadão de Riverclif. Eu adorava andar de bicicleta com meu pai, a paisagem era perfeita enquanto pedalavámos pela calçada pavimentada de branco e azul, azul este que parecia ondas, as palmeiras balaçavam levemente suas folhas, o mar tranquilo e majestoso se estendia pelo horizonte, o ar preenchia meus pulmões e eu me sentia viva, as pessoas por quais pasavámos estavam com sorrisos no rosto, por um momento me sentia no paraíso.
Papai e eu paramos em um quioesque para comprar drinks, estavamos sedentos, sentamos em um mesa para descansar e fazer o caminho de volta.
- A praia sempre vai ser meu lugar favorito de Riverclif - ele vira sua cabeça em direção a praia e sorri. - Estar aqui me faz sentir...
- Vivo? Livre? - indago, tomando meu suco pelo canudinho colorido em vermelho branco.
- É - ele sorri, seus olhos nos meus. Eu era capaz de perceber como meu pai se sentia bem só pelo fato de vir para cá, era como se ele estivesse preso e vir para Rivercif o libertasse.
- Você tmabém se sente assim?
- Sim - sorrio. - Mas pai, posso te perguntar uma coisa?
- Claro - sua atenção era minha.
- Você se sente assim com a mamãe?
Ele engole em seco.
- Por que está me perguntando isso?
- Bem, a mamãe pode ser difícil às vezes, eu vejo como parece estar cansado e sei que você quis vir pra cá pois aqui é seu refúgio.
- Eu amo sua mãe Bel, estamos passando por um momento delicado eu sei que você sabe, mas vamos superar
Sinto que o que ele diz é mais o que ele gostaria de acreditar.
- Acho melhor voltarmos, Megan deve estar nos esperando.
Como meu pai havia dito mamãe estava nos esperando. Ela pediu que meu pai fosse ao mercado comprar alguns ingredientes que ela precisaria para preparar o almoço e que arranjasse alguém para limpar a piscina que segundo ela estava imunda e ela queria usar.
Mandei mensagem para minha amiga Agatha ela perguntou como estava sendo por aqui e eu respondi que estava sendo a mesma coisa de sempre, exceto por ontem quando esbarrei no garoto garçom, contei a ela e a mesma me mandou vários emojis gargalhando do meu desastre, na sequência ela me perguntou se ele era bonito e bem não podia negar. Mas eu não sabia nada sobre ele, seu nome, se tinha namorada ou algo do tipo, só sabia que trabalhava no Vicent e que se voltássemos lá talvez eu veria aquelas órbitas azuis de novo.
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