Abraçando minhas melhores partes.


31 de dezembro de 2017

Assim que nos estabilizamos, após o uso da chave de portal, bem em frente às portas grandes da residência Chang, eu quis recuar, mesmo com meus amigos, não sabia se estava pronto para encarar a sociedade bruxa novamente. Não sabia se iria aguentar, sendo sincero, mas Pansy ficou mais próxima de mim, como quem lê minha mente, e Blaise apertou meu ombro com sua mão, me jogando aquele sorriso metido que só ele tinha. Enfeitei meu rosto com um sorriso cínico, engolindo meus medos.

Mas de forma ainda mais irônica que meus últimos meses parecendo apagado, ser recepcionado pelo olhar chocado e desejoso da maioria das pessoas naquele salão, me fez sentir forte.

Foi altamente reconfortante, pude sorrir aristocrático, andar elegante e menear a cabeça em cumprimentos levianos. Eu preferia estar nos holofotes, me sentir desejado do que me auto penalizar.

— Draco? — Cho Chang falou alegre, ignorando totalmente meus amigos, não que eles se importassem com esse fato.

— Chang. — sorri, e com um movimento leve segurei sua mão e levei aos lábios, selando educamente a região.

— E-eu pensei que não vinha, você não confirmou presença. — a mulher estava corada e olhava para o chão.

— Desculpe meus modos, havia outros planos na minha agenda, porém abri uma exceção para visitar sua festa, espero que tenha espaço para mim. — ela pareceu lisonjeada, e eu fiquei satisfeito com o efeito.

— Sempre terá espaço para você aqui, Draco. — Chang tentou um sorriso de flerte que apenas me fez querer rir, não levando a garota a mal, porém toda vez que isso acontecia a voz de Pansy surgia em minha mente, foi quase impossível segurar o riso, mas era bom nisso, em esconder sentimentos.

— Bem, eu confirmei presença, imagino que sua prima tenha avisado. — Fora Blaise o primeiro a quebrar o clima estranho entre mim e a asiática.

— É, ela comentou. — Chang deu de ombros com os olhos ainda vidrados em mim.

— Sendo assim, dado os devidos cumprimentos à anfitriã, vou atrás da outra parte da família. — O sorriso safado de Blaise não enganaria ninguém, e nem era a intenção.

— Eu espero que tenha um espaço para mim também, infelizmente não pode ser pequeno, esse vestido – fez uma pausa dramática, dando uma meia volta e espalmando a própria mão em seu dorso, encarando Cho de cima a baixo. — Ocupa certo espaço.

— Infelizmente, não sei se será possível – resolvi cortar sua fala antes que Parkinson a cortasse no literal.

— Tenho certeza que não iria se incomodar com a presença de Parkinson, uma pessoa doce como você não negaria esse favor a mim, certo? — uma falsa ternura banhou meus lábios, e era como estar no céu, não que eu amasse manipular pessoas, mas saber que eu ainda conseguia ter algum tipo de controle era extasiante.

— Já disse, sempre terá espaço para você, e já que você vem com companhia, ela está inclusa. — a mulher desdenhou de Pansy, porém sorriu para mim. — Você está deslumbrante, Draco. Chegaram outros convidados, tenho que ir, apreciem a noite, acabamos fundindo os dois espaços, então fiquem à vontade.

— Eu realmente odeio a insossa. — foi a primeira coisa que Parkinson disse quando Chang deu alguns passos de distância, levantei a sobrancelha em desafio, já esperando exatamente essa ação.

— Mas ela é sempre tão educada. — prolonguei o som do "tão" dando ênfase, apenas para irritá-la.

— Defende ela, Draco, só tenta. — dei um sorriso contido, os que eram permitido dar em público, e com um gesto leve, toquei a ponta do nariz de Pansy.

— Vocês não são nenhum tipo de rivais, Pansy, em nenhum sentido. — dei de ombros.

— É, não somos a versão feminina de Harry Potter e Draco Malfoy. — franzi o nariz desgostoso com a menção a Potter.

— É, até porque seria com a Granger a briga. — ela revirou os olhos e enrolou nossos braços novamente, ela gostava de deixar claro que veio comigo, e eu não me importo, evitava outras em minha cola, pelo menos as educadas.

Começamos a andar pelo salão, mais concentrados em observar os outros que em nosso diálogo interno.

— Engraçado você. — seus olhos rodavam o salão  de forma inquieta, mesmo que nossa pose fosse elegante, ela parecia meio nervosa, parando o olhar em um lugar. — E falando do diabo.

Levei meu olhar para onde ela olhava, vendo o trio de ouro entrar acuados pelo salão. Juntos do trio, vinha Ginevra e Neville, ambos virando a cabeça de forma incansável para olhar tudo no local, pareciam deslumbrados e empolgados. Harry, Ronald e Hermione, não pareciam tão animados, quase como se não quisessem estar ali, e com o pouco que conhecia Potter, provavelmente não queria mesmo.

Não contive o som oco de frustração, odiava conseguir lê-lo, fiz uma careta para completar minha indignação, tendo um olhar curioso de Parkinson sobre mim.

A verdade era que não tinha contado para ela a história completa sobre o natal, ela sabia do presente do Snape e como me sentia em relação a todos na casa, e bem, só. Pretendia contar a versão completa e estendida hoje, para Blaise e Pansy, de uma vez só, o intuito era evitar a fadiga, porém, sabia que estava só postergando a conversa.

— Cho Chang convida qualquer um. — foi o único comentário que fez, admirava a paciência dela comigo, a esse ponto, provavelmente já tinha mil e uma teorias em sua cabeça, entretanto ela mantinha a plenitude.

— Realmente, heróis de guerra são qualquer um. — satirizei, fazendo-a me olhar feroz.

— Você está hilário hoje, Draco.

Aproveitei a raiva momentânea dela para nos tirar dali, eu não precisava ficar encarando Potter em um terno, ele estava estupidamente bonito naquilo, poderia lidar com ele usando roupas trouxas surradas, mas não usando roupas trouxas de gala.

Tanto eu quanto Pansy não estávamos no clima para aquela festa, viemos por conta de Blaise e um pouco de nossos egos, então foi entediante rodar o salão e trocar adversidades com conhecidos e desconhecidos, ouvindo a mesma ladainha de todos os eventos. A única diferença era a contenção de comentários maliciosos com relação a trouxas e mestiços, fora isso, tudo do mesmo.

Já tínhamos comido, conversado e dado ao menos duas voltas pelo salão, sempre evitando ir de encontro ao trio de ouro e agregados. Eu queria ir embora, mas nem tínhamos visto Zabini, logo ele estaria ocupado, não queríamos ser o empata foda de ninguém, ele viria quando acabasse, sabíamos, o que nos restava era esperar. Não era a primeira nem a última vez que aquilo acontecera.

— Eu gosto dessa dança, é uma das poucas que sei toda. — Parkinson murmurou para mim, quando os primeiros acordes da cantiga tradicional iniciou.

Sorri cúmplice, esticando minha destra em sua direção, que a pegou sorridente. Guiei-a para o centro, onde alguns casais já formavam uma grande roda oca, em maioria, nascidos bruxos que, em cima de brincadeiras, tinham dança de salão na rotina.

O ritmo cresceu, indicando o início da coreografia, que nada mais era que uma sequência de passes, toques e rodopios de acordo com a melodia. Eu gostava do ritmo ameno do som, que possuía um leve grave no refrão, me lembrava tango, bem ao longe, mas lembrava.

Pansy era leve em meus braços, sabendo exatamente o que fazer, nossos olhos colados. Qualquer um que visse, imaginaria mil coisas, porém nós dois sempre fomos e seremos atores de um enorme teatro, enquanto tiver plateia entregaremos o que o público quer, e eles amam uma dose de tensão sensual.

— Se você for o último ao centro, juro que faço o que quiser. — a morena sussurrou rente ao meu ouvido depois de tê-la puxado para mim, um pouco mais brusco que o necessário, ou melhor, do que a coreografia solicitava.

— Aos seus pedidos, minha dama. — espalmei a mão na curvatura da bunda, dando apoio quando ela jogou sua coluna para trás, muito mais leve e flexível que a maioria.

Aquela música não era a favoritinha de Pansy à toa, a coreografia possuía um final enfático, onde cada casal que compunha a roda se dirigia ao centro, tendo um solo, um tempo de sua preferência para se gabar ao baile todo, enquanto todos os outros pares faziam palco para si, em um pequeno combo simples e repetitivo.

O som continuou, um drama de corpos ao centro da roda, um a um, os casais dançaram livremente no centro da roda enquanto o resto apenas marcava, dando o fundo para eles. Como os passos exigiam o mesmo que nada de mim, rodei os olhos pelo salão, fitando nossos "adversários", porque Pansy obviamente estava vendo aquilo como uma competição. E quando pousei meus olhos em Harry Potter dançando colado com a Weasley fêmea, aquilo se tornou uma competição para mim também.

Ela parecia guiá-lo, que mesmo perdido, fofamente perdido, tentava acompanhar, já quase decorando a sequência de fundo. Senti um incômodo me subir, quase uma raiva súbita sem sentido, precisava fazer algo.

— Você ainda lembra alguns combos do jantar de namoro? — sussurrei de forma disfarçada, já tendo um plano em mente.

— Óbvio, você só faltou me enfeitiçar para lembrar. — ela sorria doce, porém a fala veio banhada de cinismo, ela era ótima em disfarçar, porém tinha certa raiva daquele jantar em especial.

— Ótimo. — sorri quase malicioso.

— Você tá brincando, né? — Ela arqueou apenas um pouco a sobrancelha, para não chamar atenção ao nosso diálogo.

— Nunca, minha dama. — Mesmo com uma expressão afetada, ela concordou de leve, sabia que me encheria de perguntas depois, porém no momento eu precisava daquele show.

Quando comentei que estava namorando Pansy Parkinson, houve um certo alvoroço, minha mãe ficou revoltada, simplesmente porque não fiz as coisas de modo tradicional, meu pai torceu o nariz em fúria, porém nada comentou, eu sabia que para ele os Parkinson estava alguns poucos andares de distância dos Weasley, por exemplo, o que não era de exato bom.

Porém, Pansy se dizia apaixonada por mim e eu por ela, então faríamos de tudo para sermos aceitos. O que nos colocou em meio a toda a sociedade bruxa, obviamente rica, para nos apresentar enquanto casal. Era um exagero, ninguém mais fazia aquilo, na verdade nunca chegaram a fazer. Esse tipo de evento era destinado a cortejos, e bem, eu já estava bem avançado quanto a isso, noivados, e apenas a palavra já gerava pânico tanto em mim quanto nela, e óbvio casamento, todos bem longe das nossas realidades. Porém cá estávamos nós, usando daquele episódio cômico e traumático para fins maldosos.

Assim como naquele dia, eu queria chocar e impressionar.

Com um sorriso no rosto, nos olhando como se fôssemos preciosos demais para desviar o olhar, dançamos e deixamos todos aqueles aristocratas embasbacados. Uma noite deliciosa.

Éramos uma dupla perigosa, pois íamos até nossos limites por nossos objetivos.

Vi quando Gina guiou Potter para o centro da roda, faltava apenas eles e nós, quis rir quando quase aos tropeços, ele notou o que estava acontecendo, seus olhos piscavam afoitos e as mãos da garota pareciam escorrer de seus dedos.

O salão inteiro se direcionou ao garoto que sobreviveu e a namorada, que poderia até levar o mesmo apelido, o pensamento sádico quase me fez rir. Mas não o fiz, completamente centrado em observá-los, minhas entranhas ainda pareciam prestes a atar dentro de mim.

— Draco, eu realmente espero que esteja olhando o cicatriz, e não para a água de salsicha. — o tom da morena era quase leviano, como quem nem liga de insinuar que o melhor amigo está olhando o herói do mundo bruxo com ciúmes.

— Espera mesmo? — tentei brincar, nervoso, Pansy sabia me ler pelos anos de convivência, porém eu queria realmente que ela não notasse. Queria crer que sabia disfarçar.

— Eu conto com isso. — sorriu fino. — Me recuso a aturar aquela jogadorazinha.

Dessa vez ela não disfarçou o nojo, Parkinson não se dava com Ginevra, mas ela não se dava com praticamente o castelo de Hogwarts inteiro, então nunca me foi importante esse fato.  Sinto quando Pansy assume a guia da dança, ela costumava fazer isso quando estou disperso demais, para não deixar que passemos uma humilhação pública, e fico imensamente grato pelo ato quando os olhos verdes de Potter se grudam nos meus.

Quase fraquejo e em consequência, quase erro a sequência robótica.

Harry tem seus olhos em mim, fixos porém afoitos, ele parece dividido entre me julgar e me admirar, simplesmente não conseguindo pousar o olhar em canto algum meu, sempre buscando um novo lugar para fitar, se alongando em minhas mãos, uma na cintura de Pansy e outra entrelaçada na dela. Uma das coisas que admiro nele era sua transparência, e a careta fofa que ele faz quando desço a mão pousada na cintura de Parkinson para a lombar da mesma, me faz rir baixinho.

Ele segura a ruiva em seus braços com mais precisão, e a traz para mais perto de si, ela parece assustada com o ato, porém segue os comandos um pouco menos desengonçados dele. Arqueei minha sobrancelha em desafio, colo meu tronco no da morena em minha frente, deixando ambos inclinados para direita, quase em diagonal, deixando todos os movimentos mais explícitos e sensuais, dando todo um ar diferente para os mesmos passos que estamos repetindo há minutos, em resposta Harry gira Ginevra e a cola em si, as costas da ruiva no peito dele, levando os corpos em ondas de acordo com o ritmo.

— Preciso que no próximo giro, inverta as visões, vou fazer o código para Blaise. — Pansy me tira da intriga besta com Potter.

Não respondi, apenas com delicadeza iniciei uma volta com nossos corpos, quando a batida indicou, vendo nosso amigo pela visão periférica, Pansy fez nosso código em minhas costas, era basicamente uma sequência de batidas leves com os dedos, que significavam várias coisas, quase um código morse apenas nosso e naquele momento, ele significava "Blaise daremos um show, coloque nossa música". Obviamente o código não dizia exatamente isso, mas era a síntese da mensagem.

Sabíamos que ele não iria conseguir aquilo, pois a música da tradição não havia acabado, mas só dele conseguir "o clima" já serviria, não era a primeira vez que parávamos uma festa, afinal.

Voltei nós dois para a posição inicial, com o corpo de Parkinson para o centro da roda, olhando com certa aversão a forma que o casal parecia se divertir com piruetas destrambelhadas na roda. Agora Harry não me olhava, na verdade parecia fugir dos meus olhares.

Mas em dado momento, Potter cedeu, finalmente me olhando, e eu em toda minha infantilidade, pisquei safado para ele, permitindo um sorriso malicioso adornar meus lábios, dali em diante, em segundos ele havia pisado na barra do vestido laranja de Ginevra, e tive que morder a parte interna de minha bochecha para não rir da cômica cena deles saindo envergonhados da roda.

E bastou isso, Potter nem chegou a encostar novamente em Ginevra para o salão que antes parecia leve, quase risonho com o gafe do cicatriz se tornasse tenso, quase se podia sentir a tensão no ar, todos sabiam que iríamos entrar, faltava só nós dois e a maioria ali já nos viu em bailes antes, e os que não viram, ouviram falar. Era a nossa marca.

Podia quase sentir o cheiro da euforia dos convidados.

Dariamos uma dança extravagante para eles passarem o resto do mês falando, porém ninguém sonhava com a coreografia daquele jantar, porque apenas adultos foram naquele dia, e o fato nunca foi tão conveniente esse fato.

Minha mão subiu para o meio da costa desnuda da morena, entendendo o sinal, ela pendeu o corpo para direita e deu dois passos, estávamos agora um do lado do outro, meu braço esquerdo estendido segurando a mão direita dela. E assim começamos a andar rumo ao centro, a mulher ao meu lado praticamente dançava sozinha, em trocas ágeis de pernas no chão, pequenas passadas delicadas e rápidas, o movimento fazia a fenda do vestido se destacar, em contrapartida eu andava esguio, só apoiando-a, minhas pernas também se transpassavam, porém de modo elegante e limpo, não tão rápido quanto ela.

Era um andar diferente e que prendia a atenção, pelo destaque de velocidades e movimentos.

Era um andar de guerra, preciso e ágil, exatamente como pretendemos seguir aquela apresentação.



Notas:

Vocês estão acostumados com atualização na madrugada da quinta para sexta, eu sei, mas com o ENEM tô dormindo cedo, fora que estou em processo de bateria de exames, acabei de chegar e enquanto a comida tá ficando pronta, vim postar.

Eu amo essa fase da história é muito gostosinha, eu sei que vocês estão sedentos pela visão do Harry e de uma conversa entre eles sobre o natal, mas a relação deles sempre foi muito orgânica, mantenham isso em mente. Isso e o fato deles ainda serem adolescentes nessa fanfic!

Muito obrigado pelo apoio, batemos 1k de views eu não sei nem como expressar minha gratidão, até semana que vem!

(Domingo, após o ENEM vai sair atualização de Finitude!)

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