35. Rompendo a Bolha
Eu estava feliz. Tinha plena consciência de que a felicidade não era uma constante, era um estado. Às vezes estávamos nesse momento, outras não. E com todos os problemas que enfrentamos recentemente, eu já estava sentindo falta de me sentir leve assim. O fato de Luan estar igualmente alegre refletia ainda mais minha animação.
Naquela manhã, enquanto caminhava radiante em direção à minha sala de aula, decidi desviar brevemente meu caminho ao avistar Thalia pegando seus livros no seu armário. Apesar das pessoas ao redor estarem conversando animadamente, a expressão carrancuda da garota antissocial à minha frente era notória.
— Bom dia, Thalia! — Cumprimentei-a sorridente.
Mesmo sem olhar para mim, suas lentes de contato amarelas refletiam demasiada cautela, enquanto sua postura permanecia rígida.
— Vim te atualizar sobre o James, — continuei, mesmo sem receber grandes aberturas para meu relato. — Depois de preso, descobrimos que o pai dele já tinha um mandado de prisão emitido. Parece que ele estava envolvido em alguns golpes e também tinha denúncias de agressão. De qualquer forma, não vai sair da prisão tão cedo, já que sua liberdade provisória foi negada.
— Uau, que interessante. Mas por que está me contando tudo isso?
Apesar de sua falta de interesse aparente, Thalia não mostrava sinais de querer tomar distância. Afinal, não havia motivo para permanecer tanto tempo parada em frente ao armário enrolando, era só pegar seus livros e sair, ora bolas.
— Não é óbvio? Porque você nos ajudou.
— Em que exatamente? — Seus olhos se desviaram sutilmente para mim, sem mover a cabeça.
— Você nos falou sobre a possibilidade de emancipar o James. Graças a isso, e à ajuda da sua tia, tudo está indo bem. Por enquanto, Luan se mudou para lá e está morando com ele. Claro, James ainda vai participar de algumas audiências, mas já foi meio caminho andado.
— Que bom.
A garota gótica fechou o armário com força e virou as costas para mim, como se finalmente fosse se distanciar.
— Tem só mais uma coisa.
Ela se virou, um tanto contrariada. Embora Thalia parecesse ser reservada e que desgostasse de interações, eu sentia que havia mais do que aparentava. Afinal, todos gostavam de ficar sozinhos, mas ninguém queria se sentir só.
— Sabe, tem esse garoto da minha sala. Ele se chama Lucca...
— O idiota que mês passado foi parar na enfermaria porque inventou de colocar um hashi dentro do nariz?
Ah, Lucca, sua reputação te precede.
— Sim, ele mesmo, — confirmei com uma risada descontraída. — Bom, amanhã é aniversário dele. Vamos comemorar naquela lanchonete retrô do centro. Será um rolê intimista, apenas alguns poucos amigos. Fizemos isso ano passado, e vamos repetir este ano.
— Hum, e o que tenho a ver com isso?
— Eu estou te convidando, Thalia. Seria legal se você aparecesse.
Não esperava ver aquela garota que era tão centrada parecer tão atordoada repentinamente, como se eu tivesse jogado uma "carta mais quatro" no Uno perto de sua vitória.
— Irei verificar minha agenda — após recuperar a compostura Thalia se limitou a dizer isso antes de se afastar. Juro que achei ter visto um lampejo de sorriso em seu rosto, mas poderia ser apenas um delírio meu.
Satisfeito por tê-la convidado, voltei a caminhar em direção a sala de aula. Mas, mais uma vez, alguém cruzou meu caminho inesperadamente.
— Veja só se não é o cara mais gostoso do colégio. — O menino de cabelos ondulados que apareceu pelos corredores me surpreendeu com sua chegada. Não pude deixar de sorrir para o elogio de Luan.
— Está falando de si mesmo, não é? — brinquei de volta.
— Queria falar uma coisa contigo antes da aula.
Olhei para meu relógio de pulso e vi que ainda tínhamos cinco minutos. Luan me guiou para um canto isolado nos corredores da escola, onde poderíamos conversar com privacidade.
Já tinha ouvido falar que, depois de um tempo, a sensação de estar tão perto de alguém que você gosta vai diminuindo a intensidade conforme a intimidade cresce. Bom, não sei se era verdade. Só sei que comigo isso não tinha acontecido. Estar perto de Luan sempre dava uma sensação gostosa de borboletas no estômago; eu amava cada segundo ao seu lado.
— Então, o que é?
— Eu só queria saber se você não está chateado por eu estar morando com outro cara, está?
— Oshi, Luan. Claro que não. Você já estava querendo sair da casa da Celeste tem tempo. E o James é seu melhor amigo.
— Mas nós dormimos no mesmo quarto.
— Não tem importância — dei de ombros.
— E dividimos a mesma cama também.
— Pera, o quê?! — Luan riu da minha expressão confiante se transformando em um ciúmes avassalador.
— Estou brincando, bebê. Estou dormindo no sofá. Só têm uma cama lá, e mesmo sendo meu melhor amigo, não achei certo dividir a cama com ele, ainda mais que nem contigo fiz isso quando fiquei na sua casa. Quando sobrar dinheiro, comprarei uma para mim. Só queria saber se você estava à vontade com isso.
Sorri em resposta. Luan era um bobo. Misericórdia, James era seu melhor amigo e namorado da minha melhor amiga. Nunca que eu sentiria ciúmes deles morando juntos.
— Mas mudando de assunto, já escolheu o filme que veremos amanhã? Só por favor, não escolha nenhum filme de terror. — Enquanto Luan ria descontraído, eu erguia as sobrancelhas confuso.
— Do que está falando?
— Como assim do que estou falando? Ah, espera! Acho que realmente não te falei! — Como se sua memória tivesse retornado, Luan exclamou batendo a mão na própria testa. — O James vai viajar para a capital no fim de semana. Aquela assistente social que está ajudando ele vai levá-lo para uma nova audiência. Já que a casa vai estar livre, pensei em você passar a noite lá. Pedi folga no trabalho justamente para isso.
Mesmo com sua empolgação, tive que, contrariado, abaixar suas expectativas sobre a noite de sábado.
— Sobre isso, Luan, eu também não tive tempo de te contar, mas amanhã nós iríamos passar a noite naquela lanchonete retrô, sabe?
Meu namorado parecia perdido sobre o que eu me referia.
— Por "nós" se refere a quem?
— Meus amigos. Eu, Letícia, Vinícius, Douglas, Lucca e, quem sabe, até mesmo a Thalia. Será o aniversário do Lucca, vamos passar a noite jogando conversa fora e comendo. Ah, e claro que eu quero que você vá junto. Vai ser divertido!
Eu sabia bem que minha definição de diversão e a de Luan eram totalmente opostas. Ainda assim, não esperava que ele nem tentasse disfarçar sua expressão de desânimo.
— Mas, Kevin, você sabe que não me dou bem com seus amigos. A Letícia tudo bem, mas os outros? Desculpa, mas para mim está fora de cogitação ir para lá e ficar com cara de "tacho".
— Você não precisa ir se não quiser...
— Não é só isso. Vai ser justo no meu dia de folga! Nós nunca temos chance de ficar sozinhos. Na casa do James, vamos ter privacidade para ficarmos à vontade. Por que trocar passar uma noite dormindo agarrado em mim, igual foi na praia, e assistindo filmes, para ir passear com seus amigos que você vê todos os dias?
— Mas, Luan...
— Ei, meu príncipe, esquece esse rolê e vamos lá pra casa amanhã. — Ele se aproximou, sua voz agora carregada de charme e sedução, enquanto passava gentilmente sua mão sobre meus cabelos dourados. — Vou ficar abraçadinho com você o tempo todo do jeito que você gosta, prometo que não vai se arrepender.
Eu estava um tanto incerto. Confesso que em determinado momento lá atrás, não por indução do Luan, mas por minhas próprias conclusões, questionei a profundidade das minhas amizades. De fato, não éramos tão íntimos, e nos últimos meses nossa distância só parecia aumentar. Era óbvio que Luan era muito mais importante para mim.
— Está bem, Luan. Vou cancelar com eles — concordei, com a voz um pouco abafada.
— Ótimo. — O sorriso largo de Luan se estendeu em seu rosto, mostrando todos os seus dentes.
O sino para o início das aulas tocou, fazendo com que Luan se apressasse em direção aos armários, pois ainda não havia pegado seus livros.
— Oi, Kevin. Tchau, Kevin. — Letícia passou por mim apressada em direção à sua respectiva classe. — Te vejo amanhã na lanchonete.
— Ah, Leh. Quanto a isso, eu não irei mais — informei à minha melhor amiga, com um pequeno ar de autopiedade. Ela imediatamente se virou de volta em meio ao corredor, ignorando totalmente o fato de estar atrasada.
— Como assim não vai, Kevin? É o aniversário do Lucca!
— Eu sei. Mas o Luan me chamou para...
— Ah, o Luan! Eu sabia! — Letícia exclamou ao me interromper, como se tivesse finalmente encontrado a resposta de uma equação complicadíssima, enquanto colocava as mãos em sua cintura.
"Olha, Kevin, não querendo me meter no seu relacionamento, mas já me metendo. Se Luan tem dificuldades, ou desinteresse, em fazer amigos, isso é problema exclusivamente dele. Os meninos já me falaram que você anda estranho ultimamente, falando pouco com eles. Vai deixar que um namoro fique em frente suas amizades? E se chegar o dia em que Luan te fizer escolher entre mim ou ele?"
— Ele nunca faria isso! — Entrei em defesa do meu namorado. Era impensável ela cogitar isso. — E eu nunca deixaria de ser seu amigo de toda forma.
— Eu não quero te jogar contra ele. Odeio admitir, mas acho que aprendi a gostar daquele maloqueiro. Mas, você tem que saber separar namoro e amizades. Senão, vai acontecer com você o mesmo que aconteceu comigo quando fiquei com o Christian. O deixei controlar com quem eu podia sair, e no fim foram esses mesmos amigos que afastei que me salvaram dele. Priorizar seus amigos em certos momentos, não significa que você não o ame.
— Não é possível, Kevin Drummond tagarelando no corredor em vez de estar na aula? — aquela voz irritante veio de minhas costas, fazendo meus pelos se arrepiarem.
Usando um terno malpassado, o diretor me olhava severamente, mais uma vez, ignorando o fato de Letícia também estar atrasada, e focando sua rixa somente comigo.
— Levará uma suspensão se não estiver em sua sala, em três, dois... — antes dele terminar de contar, eu e Letícia nos pusemos a correr em disparada para nossas respectivas salas.
Dediquei o período em que estávamos em aula naquela sexta-feira para refletir sobre o conselho de Leh. No fundo, ela tinha certa razão. Se eu não era tão próximo do Douglas, Vinicius e Lucca atualmente, muito se devia à minha falta de coragem de me abrir com eles e também sempre priorizar estar com Luan para que ele não ficasse sozinho na escola.
Durante as aulas daquele dia, isso ficou ainda mais nítido para mim. Eu lá querendo chegar nos meninos, mas ao mesmo tempo estava "ilhado" com Luan ao fundo da sala, lhe fazendo companhia.
Quando as aulas acabaram, e eu e Luan estávamos saindo pelos portões da escola, Lucca exclamou para mim:
— Ei, Kevin! Não vai chegar atrasado amanhã. O último a chegar é mulher do padre — o garoto de cabelo crespo riu, saindo pelo portão junto a Douglas e Vinicius na nossa frente.
— Você não avisou a eles? — intrigado, Luan me questionou assim que eles partiram.
Parei de andar assim que saímos pelo portão, encostado ao muro da escola.
— Eu decidi que vou sair com eles amanhã — falei um pouco cabisbaixo, mas ao mesmo tempo em tom determinado.
— Mas, amor, já tínhamos decidido ir para minha casa amanhã...
— Não, Luan. Não decidimos nada. Você decidiu isso sozinho! — minha chateação fez com que uma veia saltasse de minha testa, enquanto um ou outro que passavam olhassem para nós curiosos. Tratei então de abaixar meu tom de voz.
"Luan, se você não quer ter novos amigos, seja porque acha as relações superficiais, por não gostar deles, ou simplesmente porque tem dificuldade para interações, é algo que respeito. Mas, eu tenho os meus próprios amigos. Você é você, e eu sou eu. Não vou deixar de ser amigo deles e de sair com eles, só porque você não gosta de suas companhias. Seria o mesmo que eu te pedisse para deixar o James de lado.
Luan estava atônito diante de mim. Sua expressão revelava que ele não esperava por aquele desabafo jogado ao vento. Mesmo não sendo justo da minha parte, nesse momento não consegui deixar de me recordar daquela frase que Arthur me disse da última vez que nos falamos: "Do jeito que seu namorado é problemático, você vai precisar de sorte."
— O convite ainda está de pé. Eu ficaria muito feliz se você se esforçasse e aparecesse por lá — prossegui, embora tivesse a certeza de que isso não iria ocorrer —, caso contrário, nos vemos na segunda.
Sem dar tempo de Luan tentar retrucar, lhe dei as costas e apressei meus passos. Iríamos, naturalmente, pelo mesmo caminho para casa. Mas, quis tomar dianteira a fim de voltar sozinho.
🍔🥤
Devidamente agasalhados, eu e meus amigos já estávamos sentados nas cadeiras estofadas em couro sintético da lanchonete gourmet naquela noite fria. Segundo a previsão do tempo, um temporal se aproximava. Ainda assim, Lucca se manteve decidido em não cancelar a celebração de seu aniversário. Afinal, segundo ele, que graça teria comemorar o aniversário em uma data depois do dia? Sua família não se importava muito com celebrações, então restava a nós, amigos dele, marcarmos presença em sua data.
Vaguei meu olhar pelo local. Amava aquele ambiente com vibe oitentista. As paredes eram revestidas de azulejos em um tom pastel e o piso abaixo de meus tênis era constituído de ladrilhos hidráulicos que alternavam entre preto e branco. Já a iluminação era suave, nos proporcionando uma sensação de calmaria.
— Cara, que saudades eu estava de tomar esse sundae! — Vinicius, o garoto de cabelos flamejantes e sardas salpicadas pelo rosto, falou enquanto tomava seu sorvete. Ele não parecia se importar com o fato de sua sobremesa não combinar em nada com o clima, tampouco pareceu notar que o canto de sua boca estava sujo de sorvete.
— Não fale de boca cheia! — Douglas, o único garoto de nosso grupo de amigos que possuía um porte atlético, e usava um boné sobre sua cabeça, deu um leve empurrão em Vinicius ao seu lado.
— Aqui está — o garçom se aproximou de nossa mesa retangular, trazendo consigo um milk-shake que foi colocado em frente a Letícia.
— Obrigada.
— Desejam pedir mais alguma coisa?
— Daqui para baixo, vou querer tudo — o aniversariante apontou para o cardápio, solicitando ao garçom quatro sanduíches. As luzes recaíam sobre a pele de Lucca, que parecia uma noite estrelada, profunda e ricamente iluminada.
— Tá passando fome, é? — Vinicius zombou, conforme o garçom se retirava.
— Vai se lascar! — Lucca apontou os dois dedos do meio para ele. — É meu aniversário, eu posso. Da licença.
Por hora eu estava satisfeito com minhas batatas fritas. Vez ou outra, olhava pela vidraça ao lado de nossa mesa, esperançoso que Luan aparecesse.
— Pensei que você não fosse vir, Kevin — Douglas comentou, me trazendo de volta à realidade.
— Por que achou isso?
— Ora, você não sai da cola daquele antissocial do Luan. Achei que ele fosse te colocar na coleira e te proibir de vir — ele brincou, enquanto colocava as mãos no próprio pescoço. Mal sabia ele que isso quase aconteceu.
Consegui perceber o olhar fixo e penetrante da loira em minha frente, conforme ela tomava seu milk-shake com seu canudo.
— Já pensou se o Kevin tivesse inventado de trazer ele junto? — Vinicius caçoou descontraído, com Lucca e Douglas o acompanhando na risada.
— Bom, na verdade eu o convidei sim — os três pararam imediatamente de rirem, me olhando espantados. Ao perceber o choque deles, tratei de contornar a situação. — Relaxem, duvido que ele virá, de qualquer forma.
— Esse Kevin não anda batendo bem das ideias — Lucca falou, pegando o milk-shake de Leticia ao seu lado sem permissão e tomando um gole antes de prosseguir. — Daqui a pouco só falta tá falando que convidou a Dama das Sombras também.
— Bom, na verdade...
Parei minha fala quando ouvi o tilintar da porta atrás de mim se abrir, e percebi o olhar surpreso dos quatro à minha frente. Virei-me no meu assento, com um sorriso esperançoso, na expectativa de se tratar de Luan.
Contudo, quem se aproximava meio sem jeito de nossa mesa era uma garota. O vestido negro que Thalia usava naquela noite era combinado com uma meia-calça e com suas botas altas. Pude reparar também na presença de uma caixa misteriosa em suas mãos.
— Parabéns para você, nessa data querida — Thalia cantarolou, oferecendo a caixa para Lucca com um entusiasmo que parecia uma marcha fúnebre.
Lucca nos entreolhou inquieto, mas acabou aceitando a caixa, visivelmente confuso. "Nós deveríamos ter trazido presentes?" Me perguntei, afinal eu não tinha dado nada a ele.
Quando Lucca abriu a caixa, deparou-se com um boneco de pano que se assemelhava muito com ele. O boneco de vudu estava espetado com várias agulhas, enquanto na tampa da caixa estava escrito em letras distorcidas e irregulares: "você tem somente mais sete dias de vida, aproveite".
Lucca deu um grito de espanto, jogando o boneco sobre a mesa e começando a rezar o Pai Nosso com tremores. Thalia começou a rir da reação dele.
— Você é o garoto que anda espalhando por aí que sou uma vampira, não é? Bem-feito — Thalia disse, deixando sua guarda baixa ao sorrir.
— Espera, então isso não é real? — Douglas pegou o boneco despreocupadamente.
— Claro que não — Thalia assegurou, aliviando a tensão na mesa. Todos vimos Lucca respirar relaxado.
— Gostei dela, ela é das nossas — Vinicius nos surpreendeu ao estender a mão sobre a mesa em um cumprimento de "manos" para Thalia que foi retribuído.
Fui mais ao lado em meu assento, a fim de Thalia poder se sentar.
— Então você não é uma vampira nem feiticeira? — Lucca perguntou ainda desconfiado.
— Deixa de ser lesado, garoto. Vocês mesmos quem criaram esses boatos só pela forma como ela se veste, e ainda têm dúvidas? — Letícia tomou frente para defendê-la.
— Mas é que geral fala essas coisas sobre ela. E nunca vejo ela se defendendo — Douglas ponderou.
— Eu apenas não faço questão de me justificar para as pessoas. Cada um acha aquilo que lhe convém, nunca vão mudar de opinião por mais que me explique que esse é o meu jeito. Tenho preguiça disso, por mim as pessoas pensam o que quiserem — explicou Thalia, revelando pela primeira vez o motivo dela não dar importância aos comentários ao seu respeito.
— Seguro mesmo? Você não vai tomar nosso sangue, não é? — Douglas questionou.
— Eu não tomo sangue. Mas uma vez por mês, meu corpo faz questão de fazer um sacrifício sangrento. — Thalia brincou, enquanto aceitava a batata frita que eu lhe oferecia.
— Que bizarro! — Lucca exclamou, perplexo.
— Bizarro o quê, garoto? Isso acontece com todas as garotas. — Leticia deu um peteleco na testa dele.
— Sério?!
— Mano, me recuso a acreditar que estamos na mesma classe. Tem certeza de que você não deveria estar no jardim de infância? — brinquei com Lucca, arrancando risadas de todos, inclusive da Thalia.
Nesse momento, escutei o barulho de gotas caindo intensamente do lado de fora. Olhei pela janela para confirmar se estava chovendo. Foi quando vi um rapaz de roupas escuras, com um cigarro na boca, passando rapidamente ao meu lado. Seus passos eram rápidos por causa da chuva, e não consegui identificá-lo.
Mas quando a porta da lanchonete se abriu e vi o garoto de jaqueta preta jogando seu cigarro fora, meu sorriso se estendeu imediatamente.
— Olá, pessoal. — Luan deu um aceno tímido ao chegar à nossa mesa.
Eu e Letícia esboçávamos sorrisos, mas os outros pareciam um pouco sem jeito com a presença dele. Com certa razão, já que Luan costumava ignorá-los na escola e agir como se fosse superior. Aposto que estavam chateados por eu tê-lo convidado.
— Obrigado por ter vindo — sussurrei enquanto ele se sentava ao meu lado, recebendo um sorriso em resposta.
— Luan, eu não esperava ver você por aqui — Vinicius decidiu pôr fim ao silêncio.
Eu estava preocupado com a possível resposta grosseira de Luan, mas para minha surpresa, ele sorriu gentilmente.
— O Kevin me convidou. Acho que fui meio rude com vocês esse tempo todo, então achei que poderia ser a oportunidade de consertar isso.
Todos ficaram sem reação, inclusive eu. O silêncio que se seguiu foi meio constrangedor, mas Lucca sempre tinha uma maneira de quebrar o gelo:
— Tatuagem maneira, mano!
— Ah, obrigado — Luan agradeceu, estendendo o braço sobre a mesa para todos verem sua tatuagem de lobo.
— Ei, você também tem uma aliança igual à do Kevin — Douglas observou, fazendo meu coração disparar.
— Ah.
Quando meus amigos questionaram sobre minha aliança, inventei desculpas para não falar o nome da minha suposta "namorada". Com o tempo, eles pararam com a insistência. Mas agora eu temia que descobrissem a verdade...
— Está namorando aquela garota que te beijou no corredor da escola outro dia, né? — o ruivo perguntou.
Luan me olhou, e então voltou a encará-lo.
— Não. Estou namorando outra pessoa.
Luan se limitou a dizer isso, e a insistência de meus amigos parou por aí. Exceto Thalia e Letícia, nenhum deles sabia sobre nós. Graças aos céus que eles não eram dotados de muita inteligência.
Conforme a noite se estendia, a tensão na mesa foi diminuindo. Quando dei por mim, Thalia e Luan já estavam interagindo com meus amigos naturalmente, rindo de forma animada, e, as vezes, os idiotas dos meus amigos contavam alguma história constrangedora sobre mim em relação ao ano passado para o meu namorado. Não era isso o que eu planejava quando quis que eles se aproximassem!
Entretanto, percebi que Letícia estava mais distante nas conversas. Ela estava constantemente no celular, o que me deixou meio intrigado.
— O que houve, Leh?
— Não é nada — disse inicialmente. Mas, ao perceber que todos olhávamos para ela curiosos, ergueu a cabeça e nos fitou. — Okey, vocês vão descobrir de qualquer forma mesmo.
Ela mostrou um perfil do instagram de alguém de user: "anônimo_CeleirasTipsa123". Não havia nenhuma postagem no perfil desse usuário, mas haviam alguns stories.
— Alguém criou um perfil fake, e está espalhando informações confidenciais sobre os alunos da nossa escola. — Leh passou os stories, enquanto todos nos inclinávamos para ler o conteúdo. — Revelou coisas triviais como o fato de minha colega de turma, Mônica, ter matado um sapo que invadiu sua casa com uma panela. Ou que Yuri, também da minha sala, fez sua redação de história usando uma inteligência artificial.
"Até aí, tudo bem. Mas vejam o próximo."
Meus olhos e o do Luan se arregalaram. Naquele story, o indivíduo revelava a quem acessasse seu perfil que Christian e Letícia já namoraram, e que ele a chantageou sobre expor suas fotos intimas caso ela terminasse.
— Meu Deus! Como ele sabe disso?! — exclamei. Nossos amigos olhavam para nós confusos.
— Bom, tudo parece ter um padrão. As fofocas se limitam aos alunos da turma da Letícia. Então é alguém de lá — Thalia concluiu.
— Pensei nisso também. Mas pelo visto não é o caso.
No último story do perfil que ela nos mostrou estava escrito: "Quem será o próximo? Que tal o nosso prodígio do time de basquete, Luan Pimentel Montenegro? Me sigam que em breve revelarei o segredinho dele."
Eu e Luan nos entreolhamos assustados. O único segredo que conseguíamos pensar que poderia ser exposto dele era o fato de sermos namorados. Mas como diabos essa pessoa sabia disso? E, tão importante quanto, quem era esse maldito?!
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