34. Ao Resgate
A adrenalina era manifestada sobre meus pés conforme a prancha de skate na qual eu estava em cima me conduzia em direção a casa de James. Alternar entre a calçada e a rua, enquanto civis e carros surgiam em meu caminho, era algo do qual requisitava muita atenção da minha parte. Aliás, aposto que estavam me achando um louco com aquele taco de beisebol em minhas mãos.
Luan, por outro lado, me deixou impressionado com sua evolução nessa modalidade. Sua concentração e urgência fizeram com que ele não pestanejasse e executasse uma manobra precisa de grind sobre o corrimão de uma longa escadaria no meio da rua, a fim de pegar um atalho e evitar os carros parados na rua devido o trânsito. Mantendo o equilíbrio sobre os pés, Luan descia vertiginosamente com precisão sem tombar. Eu, que vim logo atrás dele, realizei a mesma manobra a fim de pouparmos tempo.
James não morava tão perto de minha casa; diferente da casa de Celeste na qual Luan estava residindo atualmente. Por conta disso, eu sabia que tínhamos que manter um ritmo equilibrado para não perdemos o fôlego no meio do caminho nem ficarmos com câimbra em nossos pés. Luan, é claro, não pensava da mesma forma. Com o único foco em vista de chegar na casa de James pra ontem, sem termos sequer um plano em mente, ele permanecia em minha frente, balançando sua prancha para os lados conforme deslizava pelas ruas com a velocidade de um raio. Eu fui obrigado a manter seu ritmo, mesmo morrendo de cansaço. Droga de sedentarismo!
No meio do caminho, cheguei à autorreflexão de que tudo poderia dar muito ruim. Precisávamos de um plano B, mesmo que sequer tivéssemos um A para começo de conversa. Por conta disso, coloquei meu celular em meu ombro após discar o número na minha agenda de contatos e decidi contar a Leticia o que estava havendo. Luan, tão afoito em chegar na oficina, nem se deu conta da minha ligação.
Após quase uma hora de correria intensa pela cidade, finalmente estávamos diante da casa de James. Saltamos de nossos skates e passamos a caminhar de forma furtiva pelo terreno. Pela primeira vez, avistei a porta seccional daquele lugar fechada. Agora aquele ambiente estava parecendo ainda mais com um terreno abandonado.
Aproveitando-se de um carro velho parado do lado externo da oficina, Luan deslizou os nossos skates para debaixo dele a fim de escondê-los. Em seguida, ele levou um cigarro a boca e o acendeu. Eu odiava o mal hábito — e o mal hálito, de Luan ao fumar. Odiava mais ainda saber que ele fazia isso principalmente como um método de se aliviar do estresse e da ansiedade. Justamente pela situação, eu não podia reprimi-lo pelo ato; ao menos não dessa vez.
Com um gesto usando a cabeça, Luan me fez segui-lo silenciosamente enquanto a fumaça de seu cigarro chegava em minhas narinas. Até então eu não fazia a menor ideia de que, ao lado da oficina, havia aquele parapeito de janela que dava para o que eu presumi ser a sala da casa anexa a oficina.
— Dá aqui — Sem tirar o cigarro da boca, Luan pediu o taco em um sussurro.
Sem fazer ideia do que ele estava planejando, estendi o objeto para ele um pouco hesitante. Olhei em seguida para a janela em nossa frente, mas evidentemente em vão, afinal as cortinas internas estavam fechadas.
Meus olhos se esbugalharam quando vi Luan pender o taco para trás, direcionando-o a janela de vidro. Ele iria entrar à força dentro da casa!
Antes, porém, que o braço de Luan fizesse força contra aquilo que seria nosso meio de adentrar a casa, ouvimos o barulho da porta da oficina se abrir em um solavanco alto. Eu e meu namorado nos inclinamos por de trás da parede onde estávamos escondidos, buscando avistar quem estava saindo de lá.
Um homem de corpo sobressalente, com uma barba muito malfeita, e com parte da barriga amostra pela sua camisa curta, se encontrava parado na frente da oficina. Sua calça parecia levemente folgada, sendo sustentada por um cinto de fivela. Já a calvície parecia estar se tornando uma companheira intima dele, afinal no topo de sua cabeça não havia mais fio algum. Sua postura ereta e carrancuda olhando para frente sinalizava que ele não estava cogitando sair de onde estava. Possivelmente estava aguardando algum cliente aparecer.
— Você confia em mim? — Luan perguntou a mim, enquanto olhávamos de soslaio para o pai de James.
O desespero de Luan para salvar James, custasse o que custasse, me fizeram temer o que ele tinha em mente. Mas Luan era meu namorado, claro que eu confiava nele. Por isso, balancei a cabeça em afirmativo.
Que sou um tolo, isso vocês já devem saber há tempos. Mas às vezes até eu me esquecia da minha própria ingenuidade. Pois, bastou eu dizer a ele que confiava, e então Luan empurrou minhas costas com uma força absurda, lançando-me para frente com violência. De repente, não havia mais parede para me esconder, e o barulho dos meus tênis sobre a terra batida enquanto tentava recuperar o equilíbrio fez com que o pai de James virasse em minha direção com um misto de surpresa e enraivecimento.
— Quem é você? O que está fazendo aqui, moleque? — questionou Marcelo, o pai de James, com a voz arrastada, como se estivesse com dificuldade para articular as palavras. Mesmo estando consideravelmente distante, eu podia apostar que o cheiro de pinga seria bem familiar se eu me aproximasse dele.
— Eu... — incerto, olhei para o lado, mas percebi que estava sozinho. Luan não se revelou diante de Marcelo. — Estou aqui para vender rifas para a minha escola. O senhor quer comprar algumas? — sorri nervoso, enquanto sua expressão se tornava ainda mais fechada.
— Eu lá quero saber de porra de rifa nenhuma! Sai fora daqui pirralho!
Sucumbido a sair dali, lentamente caminhei para o lado de fora no qual ele apontava, ainda com o sorriso forçado no rosto. Porém, parei no meio do caminho quando um estrondo de vidro se quebrando nos assustou. "Ótimo, Luan me usou como isca para entrar pela janela", pensei irritado.
Imediatamente Marcelo correu aos tropeços para dentro de casa pela entrada da oficina, enquanto eu corria de volta para a lateral da residência. Cacos de vidro jaziam no chão, e notei a cortina de algodão balançar agitadamente. O taco de beisebol que Luan usou para quebrar a janela, por sua vez, estava bem aos meus pés.
Não sei se foi sorte do Luan que a janela estivesse parcialmente sem grades ou se era parte de um plano previamente combinado com James para situações como essa. De qualquer forma, peguei o taco do chão e discretamente retirei de dentro da minha bermuda a câmera que trouxe escondida comigo.
Após posicionar a câmera ligada no parapeito dela, saltei pela janela, finalmente adentrando a casa de James. Um cenário quase apocalíptico se desdobrou diante de mim: a chaleira fervente apitava incessantemente no fogão acesso, várias garrafas vazias de cerveja estavam amontoadas em cima da pia, enquanto Luan estava agachado do outro lado da sala. Mesmo com a visão parcialmente obstruída por ele, pude distinguir claramente James sentado no chão com as costas apoiadas na parede desbotada atrás dele, e uma mancha vermelha nítida em sua camisa branca.
— Que diabos está acontecendo?! — Marcelo surgiu pela porta, furioso. Primeiro olhou na minha direção, mas logo seus olhos cinzas se fixaram onde seu filho ensanguentado estava.
Luan virou-se lentamente para o bêbado diante da porta. O olhar abrasador de furor vindo de seus olhos verdes eram um sinal de alerta de que, enquanto Marcelo estava levemente bêbado por consumo de álcool, Luan, por sua vez, estava embebido de puro ódio.
— Quem faz as perguntas aqui sou eu! O que você fez com ele, seu porco?! — Luan se levantou, enquanto James pressionava a mão contra o próprio abdômen, tentando estancar o sangramento.
— Isso é só um arranhão — Marcelo, como se minimizasse a gravidade da situação, tentou desviar a atenção. — James, deixa de ser marica. Levante e limpe esse sangue do chão!
O apito da chaleira continuava a fazer barulho, fazendo ele mudar o foco para o objeto no fogo.
— Seu bosta, eu mandei ficar de olho no chá! — ele retirou a chaleira do fogo, ignorando a situação ao redor.
— Precisamos levá-lo ao hospital depressa! — Alertei ao perceber que James estava pálido, o sangue continuava a se espalhar pelo chão e ele parecia perder a consciência gradualmente.
— Já disse que ele está bem! Foi só uma mordida de cachorro. Nada que um banho e uma pomada não resolvam. — A voz de Marcelo continuava arrastada, e sua coordenação motora não parecia estar nos seus melhores dias. Ele voltou sua atenção para Luan, se dando ao trabalho de só então contemplá-lo melhor. — Ah, eu sabia que te reconhecia! Você é o amigo rico do James, não é? Como vai seu pai?
Era impossível discernir o que era mais absurdo naquela situação. Seria a falsa simpatia que ele adotou assim que percebeu a condição financeira da família de Luan? Ou talvez a clara mentira sobre o incidente com James ter sido causado por um cachorro? Ou ainda o fato de Luan ainda não ter virado a mão na cara dele?
— Quando te disse para se aproximar dele, você me disse que esse garoto não queria mais ser seu amigo. Mentiu para o seu pai? — O sorriso falso nos lábios de Marcelo, dirigido ao filho quase inconsciente, escondia uma maldade sem precedentes.
Bem atrás de Marcelo, notei um facão dentro da pia. O pai de James nem se deu ao trabalho de limpar o sangue da arma branca que usou para golpear seu filho. Já sabíamos das agressões que James sofria, mas desta vez tudo tinha ido longe demais.
Aquele maldito sorriso falso me enojava. Aquele homem estava totalmente indiferente ao fato de que a vida de seu filho estava em risco. Um homem capaz de agredir não só aquele que o sustentava e que havia desistido dos estudos para trabalhar, mas também o mesmo que fez algo semelhante com sua ex-mulher...
Todos pensariam que seria Luan quem perderia o controle e partiria para cima dele. Mas não desta vez. Não sei se foi o objeto em minhas mãos que me impeliu a agir me dando coragem ou o puro ódio daquele homem. Só sei que, quando dei por mim, já estava correndo em sua direção com o taco de beisebol erguido.
Luan exclamou ao perceber minha ação, enquanto James deu um leve gemido. Desta vez não. Desta vez eu farei isso sozinho...
Marcelo se virou bruscamente, agarrando o bastão no ar pouco antes que atingisse seu ombro. Minha mente mal teve tempo de processar quando, com um puxão firme, ele arrancou o taco de beisebol da minha mão e, em seguida, golpeou meu abdômen com tanta força que senti minhas entranhas quase escapando.
Fui arremessado para o outro lado da sala com força, minhas costas atingindo o sofá com um impacto intenso.
— Vou te matar, seu maldito! — Luan bradou, o cigarro ainda entre os lábios, avançando em direção ao homem no centro da sala.
Minha visão estava turva, ainda assim consegui ver de forma embaçada quando Luan ergueu a perna no ar para chutá-lo. Contudo, mais uma vez Marcelo levantou o taco, e dessa vez atingiu a perna direita de Luan antes que ela o alcançasse. O som do impacto foi tão alto que quase senti a dor de Luan quando ele caiu no chão dando um grito.
Além do meu namorado, uma outra coisa caiu no chão no mesmo instante: devido aos dois golpes usando o taco, o objeto se partiu em dois. Meu coração se partiu da mesma forma que o taco de beisebol, com o nome "Diego" dividido ao meio. Ver o único objeto que nos ligava se partir era como se testemunhasse sua morte novamente diante dos meus olhos...
— Você está bem, Kevin?! — Ouvi Luan gritar por mim, trazendo-me de volta à realidade. Assenti, embora não soubesse ao certo se seria capaz de me levantar.
O homem de pé pegou uma das garrafas de vidro de cima da pia, e a arremessou em Luan que se encontrava estirado no chão. Luan foi rápido em proteger seu rosto usando seus antebraços de escudo, porém os cacos de vidro perfuraram sua pele, causando pequenos cortes em seu braço.
Definitivamente subestimamos Marcelo, pensando que ele fosse apenas um bêbado que pudesse ser engambelado. James estava caído no chão, perdendo sangue, Luan e eu estávamos machucados e caídos, enquanto Marcelo se voltava para a pia novamente.
— Não vou permitir que ninguém entre na minha casa e me diga como devo educar meu filho! — Após pegar o facão, manchado com o sangue de James, de dentro da pia, Marcelo se virou apontando-o em nossa direção.
"Cadê você, Letícia?!", supliquei em minha mente. Talvez fosse a primeira vez na vida que temi pela minha morte, mais até do que quando quase fui jogado de uma ponte.
— Você confia em mim, Kevin?
Olhei para Luan, caído próximo ao fogão. A última vez que confiei nele, me dei bem mal. Mas ainda assim eu confiava minha vida a ele.
— Sim.
Apenas eu percebi quando Luan fez um gesto sutil para trás com o ombro, indicando James. Eu compreendi de imediato; ao menos aquilo que eu deveria fazer.
— Cachaceiro nojento! Muito homem para usar uma faca, por que não se garante me encarando com as próprias mãos, não é?! — Luan provocou, irritando ainda mais Marcelo.
Luan não esperava que Marcelo tivesse qualquer senso de honra após provocá-lo dessa maneira. Pelo contrário, o que ele queria era justamente que Marcelo partisse para cima dele, que foi exatamente o que ocorreu, com seu facão erguido.
Enquanto seu pai estava distraído, arrastei-me pela sala até chegar a James. Ver o melhor amigo de Luan de perto foi angustiante, pois percebi que o corte era mais profundo do que imaginava.
Com grande esforço, levantei-me, apoiando James em meu ombro, ignorando seus murmúrios, e tentei nos afastar o máximo possível de Marcelo.
— Não me mate, por favor! — Luan começou a implorar em tom de súplica assim que Marcelo se aproximou dele. — Olha lá, seu filho está fugindo. Pega eles, senão irão denunciá-lo para a polícia com certeza.
Marcelo virou-se para nós ao perceber que estávamos escapando. Olhei assustado para trás, ao mesmo tempo furioso com a atitude de Luan. Mas então, vi ele se aproveitar a distração de Marcelo para abrir a válvula do botijão de gás ao seu lado, liberando o gás de forma controlada.
Marcelo ergueu ainda mais a faca no ar na nossa direção de forma exasperada, mas antes que pudesse nos alcançar, Luan abaixou repentinamente suas calças e seu cinto chegando por trás, fazendo o nosso perseguidor cair no chão ao tentar reagir.
— Corram! — Luan gritou, pisando com força na mão do homem caído e correndo em nossa direção por sua vez.
Quando o odor de gás se espalhou pelo ar, Marcelo ficou momentaneamente confuso, olhando em volta. Foi então que Luan, agindo com rapidez, jogou seu cigarro acesso na direção do botijão. Uma explosão poderosa encheu a cozinha diante do gás inflamável.
Nós três fomos lançados para frente pelo impacto. Consciente do estado de James, o envolvi em meus braços, usando meu corpo para amortecer sua queda. Enquanto girava no ar, avistei Marcelo, mais próximo do fogão, sendo arremessado com violência contra a parede. Foi tudo tão rápido, mas ao mesmo tempo parecia se desdobrar em câmera lenta, como uma cena de filme. Foi lindo de ver.
Percebendo que estávamos bem, levantei-me, notando as chamas que começavam a devorar a casa de James. Luan ajudou seu melhor amigo a se erguer, apoiando-o em seu ombro.
— Luan... Não deixe minha casa queimar... — James murmurou, com a voz fraca.
— Deixe que queime, James. Essa casa só te trouxe sofrimento. Devíamos ter feito isso há muito tempo. Você merece bem mais do que esse barraco. Um rei¹ não deveria merecer menos do que um castelo.
— Por favor, Luan. Este é o meu lar, é tudo o que tenho. É tudo o que temos. — O irmão de consideração de Luan olhou fundo nos olhos dele, fazendo com que ele ficasse sem jeito sobre como proceder.
Olhei ao redor mais uma vez: Marcelo estava inconsciente do outro lado da sala, enquanto as chamas aumentavam rapidamente. Se demorássemos muito, seria impossível contê-las.
— Onde está o extintor de incêndio?
— Na parte de trás da casa...
— Eu vou! Luan, ajude James e chame uma ambulância — Sem esperar por uma resposta, corri de volta pela mesma janela que entrei. Fiquei surpreso ao ver que a câmera que havia deixado no parapeito filmando tudo ainda estava no mesmo lugar, intacta.
Após recuperar minha câmera, peguei sozinho dois extintores pesados ao fundo da casa e retornei ao local. A dor ainda pulsava em meu corpo, mas eu precisava agir. As chamas estavam quase alcançando o corpo inconsciente de Marcelo. Por um instante, pensei em deixá-las consumi-lo; mas minha consciência pesou. Eu não era esse tipo de pessoa. A justiça encontraria seu próprio caminho, cedo ou tarde.
Apaguei as chamas que ameaçavam a casa, usando os dois extintores de forma totalitária, suspirando aliviado ao impedir um incêndio de proporções maiores.
Segui então para a oficina. James e Luan já estavam sentados na porta aberta do local quando me aproximei, e foi bem nesse momento que pude ouvir o som de carros se aproximando.
Duas viaturas da polícia, um caminhão dos bombeiros, uma ambulância e um carro preto. A primeira pessoa que veio correndo em nossa direção saiu justamente do banco do carona do veículo desconhecido.
— James! — Em desespero, Leticia correu em nossa direção.
Leticia, por natureza, era uma pessoa chorosa. Mas naquele momento, era compreensível seu estado. Ajoelhou-se diante de James assim que chegou próxima a nós, segurando suas mãos de forma trêmula enquanto lágrimas escapavam de seus olhos marejados.
— Eu estava tão preocupada. — Ela riu nervosamente entre as lágrimas.
— Me desculpe, Leticia. Não ter dito nada — a voz fraca de James permanecia pouco audível, fazendo-me questionar se ele não deveria economizar energia. — Meu pai veio piorando cada vez mais. Eu me sentia envergonhado...
— Envergonhado de quê? — Leticia acariciou sua bochecha, sentindo a frieza de sua pele.
— Envergonhado por não ser homem suficiente. Envergonhado de pedir ajuda. Por não conseguir lidar com isso sozinho. Por não ser homem o suficiente para você...
Leticia parecia tão atônita quanto eu diante das palavras dele.
— Você é o cara mais doce, mais gentil e, com certeza, o mais homem que já conheci. Ser homem não é ser forte fisicamente, nem ser casca dura e não chorar. Ser homem é ser alguém de princípios e respeitoso, e isso você sempre me demonstrou ser desde que te conheci — Leh encostou sua testa na dele.
Vi os socorristas se aproximarem rapidamente, junto com uma mulher de terno.
Presumi que a mulher, que veio dirigindo o carro preto, se tratasse da tia de Thalia; a mesma que trabalhava no Conselho Tutelar. Eu havia pedido para Leh entrar em contato com ela, naquela hora em que estávamos vindo para a casa de James. Ela seria a pessoa a quem eu deveria entregar a gravação de tudo o que aconteceu na casa.
— Não tenha dúvidas disso, James. Porque hoje eu tive uma certeza, não possuo dúvidas de que te amo — Era a primeira vez que ouvia Leh declarar seu amor a alguém. Sentia-me um pouco intruso ali, ouvindo, mas nenhum dos dois parecia se importar com minha presença, nem com a de Luan. Pelo contrário, eles nem pareciam se recordar de que estávamos lá.
— Eu também te amo, Leticia — Ambos selaram seus lábios, pouco antes da Leh ser arrastada para o lado para que James fosse colocado em uma maca e levado para a ambulância.
Leticia se virou para trás, olhando para Luan. Ela não disse nada, mas lhe deu um rápido sorriso, como se estivesse agradecendo, antes de se dirigir para a ambulância a fim de acompanhar James.
Enquanto os bombeiros e policiais entravam na casa, eu e Luan ficamos sentados no chão na porta da oficina, aguardando o interrogatório.
— Ele vai ficar bem, não vai? — Perguntei a Luan, que ainda parecia preocupado.
— Ele vai ficar, Kevin. James é forte — Luan sorriu de leve, colocando a mão em minha coxa.
Os paramédicos perguntaram se precisávamos de atendimento, mas ambos recusamos. Apesar da dor física, o pior era a exaustão; essas situações sempre pareciam nos perseguir de tempos em tempos.
— Sinto muito pelo seu taco de beisebol. Era importante para você, não era?
Olhei para Luan, inicialmente em silêncio. Um dia, eu precisaria contar a ele sobre quem foi Diego. Mas definitivamente não era o momento.
— Era apenas um bem material. O importante é que estamos bem. — Sentados na porta da oficina, eu e Luan observamos o sol se pôr enquanto os policiais se aproximavam de nós.
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❝GLOSSÁRIO❞
¹ Rei James → O nome verdadeiro de James é "Jeremias". Logo, "Rei James" se trata de um anagrama de seu nome real.
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