32. Embarque Nesse Carrossel
Fiquei surpreendido quando recebi o convite de Celeste para almoçar em sua casa naquele domingo. Luan estava morando temporariamente lá há alguns dias, e me disse que ela fazia questão da minha presença naquele almoço.
O apartamento dela era bem modesto e compacto. Para terem noção, ela dividia o mesmo quarto com seus dois filhos. Já Luan, por hora, estava dormindo no sofá em sua sala. Mesmo sendo uma diferença gritante da mansão da qual ele passou toda sua vida, Luan se sentia mais acolhido naquele pequeno apartamento do que na imensidão da casa de seus pais.
Enquanto Luan estava arrumando a mesa na sala, eu estava ajudando Celeste a terminar o almoço. Enquanto ela levava o frango ao forno, eu lavava as folhas de alface na torneira da pia da cozinha, a fim de remover qualquer sujeira e resíduos.
— Não precisa se incomodar, querido.
— Imagina, dona Celeste. É o mínimo que posso fazer para ajudar. — Respondi enquanto rasgava as folhas em pedaços menores.
Celeste se postou ao meu lado, temperando a salada já lavada com azeite em uma caçarola de vidro.
— Posso lhe fazer uma pergunta? — Indaguei enquanto a mulher de avental me encarava, seu cabelo preso para trás.
— Claro. — Ela respondeu, enquanto com uma faca na mão descascava uma cebola.
— Por que você sempre se importou tanto com o Luan? Digo, antes mesmo do último evento na casa de seus pais, você já demonstrava demasiada preocupação com ele. Como na vez em que deixou as roupas dele separadas, caso ele precisasse sair de lá.
Celeste parou por um momento, seus olhos avermelhados pela cebola que picava.
— Se não fosse eu, quem mais olharia por ele? Trabalhei naquela mansão por anos. Luan sempre parecia a pessoa mais distante e difícil de ser compreendida. Mas, à medida que você se aprofunda em conhecê-lo, não tardaria a perceber que ele era o garoto mais amoroso que já pisou naquela casa. Luan não merecia passar por tudo aquilo, Kevin. Eu, sendo mãe, não toleraria verem tirarem dele o que ele tinha de melhor, seu bondoso coração, para que se tornasse apenas uma cópia barata deles.
O som da faca batendo na tábua de madeira ecoava enquanto eu deixava meus pensamentos fluírem diante das palavras de Celeste.
— Só fico com pena dela — Celeste inclinou a cabeça sobre o ombro para secar as lágrimas causadas pelo corte da cebola. — Você também deve ter percebido. Laura finalmente está tomando juízo naquela cabecinha dela. Ela percebeu que o pobre do Luan estava sendo injustiçado por seus pais. É uma pena que ninguém estará lá por ela. Mesmo sendo maior de idade, Laura ainda é muito dependente de seus pais.
As palavras de Celeste sobre a irmã mais velha de Luan me deixavam pensativo. Ela tinha um ar de "patricinha", mas não conseguia ver maldade nela como nos pais, ou total egoísmo, como em Liam.
— O Luan já planejava deixar a mansão quando completasse dezoito anos. No fim, acho que isso só ocorreu um pouco antes do previsto. Logo ele será de maior, e acho que ele já tem planos para lidar com toda essa situação. — Falei, tentando tranquilizar Celeste em relação ao meu namorado. Ela ficou em silêncio por um momento, como se estivesse evitando me dizer algo.
— Pode levar para a mesa para mim, querido? — Celeste jogou as cebolas na caçarola com a alface e a estendeu em minha direção.
— Sim, claro. — Peguei o objeto e me dirigi à sala.
A mesa de madeira, mesmo pequena, foi ajustada para acomodar nós cinco durante o almoço. Luan já havia organizado os talheres e pratos lado a lado sobre a mesa.
Não tardou para Celeste trazer o frango, enquanto Luan trazia a panela de arroz respectivamente. Em ordem, nos servimos e nos sentamos à mesa. Eu estava prestes a começar a comer, quando uma cotovelada de Luan chamou minha atenção. Celeste e seus dois filhos estavam de olhos fechados, mãos unidas em oração. Respeitosamente, imitamos o gesto, mesmo que nenhum de nós dois fosse religioso.
— Senhor, agradecemos por esta refeição diante de nós. Pelas mãos que a prepararam e pela abundância que nos foi concedida. Que possamos receber este alimento com gratidão em nossos corações. Amém.
— Amém. — Ecoamos em uníssono.
Luan notou que Cauã, o filho mais novo de Celeste de apenas sete anos, estava tendo dificuldades para cortar seu frango, então prontamente tomou a frente e o ajudou, enquanto o menino olhava com admiração. Era como se fossem irmãos. Olhei para o lado, verificando se Guilherme, o filho mais velho, precisava de ajuda. Mas ele já comia com desenvoltura. Acho que os dois anos a mais que seu irmão davam essa experiência extra a ele.
Concentre-me em cortar meu próprio frango, mas ocasionalmente o garfo escapava. Eu não estava acostumado a comer frango com talheres, em casa geralmente usava as mãos.
— Quer ajuda? — Guilherme olhou em minha direção. Fiquei constrangido de aceitar que um garoto de nove anos cortasse meu frango, fingindo não estar ouvindo Luan rir da minha humilhação enquanto estendia o prato ao seu lado.
Não estava tão confortável em almoçar lá, unicamente pelo fato de estar ciente de que Celeste estava passando por uma complicada situação financeira. Não queria acrescentar despesas adicionais a ela, e sabia que Luan também se sentia da mesma forma. Desde que foi demitida, Celeste procurava diariamente por um novo emprego como empregada doméstica. Se meus pais estivessem em melhores condições financeiras, teria sugerido que a contratassem. Infelizmente, isso estava fora do nosso orçamento.
Quando foi à mansão dos Pimentel para receber o que lhe era devido, o pai de Luan se recusou a pagar o que devia. Luan havia antecipado que depois do que rolou seu pai descontaria em Celeste. Por isso, pediu que ela lhe entregasse uma carta. Após ler o conteúdo, Richard percebeu que estava nas mãos de seu filho devido sua chantagem e, sem alternativa, pagou todos os honorários e direitos trabalhistas da mulher que o serviu por mais de dez anos.
— Estava magnífico, dona Celeste. Você é uma cozinheira de mão cheia. — Exclamei, extasiado após comer bastante.
Por mais simples que sua refeição pudesse soar, se comparada na ocasião em que jantei na mansão dos Pimentel, a comida de Celeste possuía um sabor caseiro e um tempero único. Lembrava a comida de minha mãe.
— Eu não disse? Celeste sabe que sou apaixonado pela comida dela. — Luan comentou, igualmente satisfeito. Celeste ficava envergonhada com tantos elogios, o que eu achava adorável.
Contrariando sua insistência de que não precisava, fiz questão de levar toda a louça para a cozinha e lavar cada prato e talher antes de mim e Luan sairmos.
— Estamos indo. Vou tentar não chegar tão tarde hoje. — Luan prometeu enquanto nos agasalhávamos. Celeste já estava acostumada com ele chegando tarde após o trabalho.
— Tomem juízo, vocês dois. — Com um sorriso caloroso, ela acenou para mim e para meu namorado enquanto nos despedíamos dela e de seus filhos.
Não sabia o porquê, mas Luan havia inventado de irmos nesse parque de diversões que estava na cidade para passarmos a noite. Não era tão comum ele se interessar nesse tipo de passeio. Sem muitas ressalvas, aceitei seu convite. E é para lá que estávamos indo, enquanto esperávamos o demorado elevador chegar ao décimo terceiro andar onde nos encontrávamos.
— O que houve, Luan? — Notei que meu namorado estava silencioso.
— É sobre a Celeste. Não consigo deixar de pensar que estou sendo apenas mais um gasto extra para ela. Sabe, falei que podia ajudar com os gastos com o que recebo no bar, mas ela não aceita meu dinheiro de jeito nenhum. Preciso dar um jeito na minha vida logo, não posso continuar aqui por muito mais tempo.
— Ei, Luan. Você sabe que ela disse que você pode ficar o tempo que for. Além disso, ela é uma ótima profissional. Logo arrumará um novo trabalho.
O elevador chegou nesse momento. Ao constatar que se encontrava vazio, adentramos, e então Luan selecionou o botão do térreo.
— É a ansiedade, não é? — Olhei para ele, que ficou sem jeito de confirmar. — Sua guitarra faz falta, né? Você me disse que tocava para relaxar e lidar com a ansiedade.
— Meio que sim. Minha Gibson Les Paul é a única coisa que sinto falta da casa dos meus pais. Era através dela que eu praticava musicoterapia.
Era evidente o amor de Luan por aquela guitarra.
— Não fique assim. Podemos juntar uma grana aos poucos e comprar uma nova. Não deve ser tão cara, não é?
— Uma Gibson Les Paul como aquela que eu tinha custa no mínimo uns quarenta mil.
Minha boca ficou de forma oval, tamanho o choque com aquela revelação.
— Bom, ou podemos pegar algumas panelas velhas para fazer uma bateria improvisada — Sugeri algo mais viável financeiramente. Luan gargalhou descontraidamente com minha sugestão.
Repentinamente, ele se aproximou e me deu um selinho, erguendo meu queixo com sua mão.
— Atualmente, sou mais adepto à "Kevin-terapia" — Luan sorriu, enquanto as portas do elevador se abriam, e então saímos juntos para fora do prédio.
🎢🎡🎠
As luzes coloridas dos brinquedos dançavam pelo ar iluminando a noite, assim que chegamos no parque de diversões. O som de risadas e gritos de alegria ressoava ao nosso redor, misturando-se com a música animada do parque. O local estava repleto de pessoas de todas as idades, todas ansiosas para desfrutar dos brinquedos e guloseimas.
Disposto a gastar toda a minha mesada naquela noite, eu e Luan estávamos determinados a explorar uma grande variedade de brinquedos. Decidimos começar com a montanha-russa. Embora eu tivesse um certo receio de altura, a montanha-russa do parque não parecia tão assustadora vista de baixo.
No entanto, eu estava completamente enganado. Uma vez embarcado no brinquedo, quase desisti ao olhar para baixo. Mas já era tarde demais, eu já estava sentado ao lado de Luan, com um cinto de segurança em nossas cinturas, enquanto o carrinho começava a subir lentamente pelos trilhos. Quando o carrinho parou no topo e me deparei com àquela altura assustadora, meu coração gelou. Repentinamente, começamos a descer em uma velocidade vertiginosa, gritando de emoção e medo enquanto éramos lançados pelas curvas e loops.
— Isso é incrível! — Luan gritou, enquanto a velocidade aumentava e o vento soprava em nossos rostos.
— Me tire daqui! — Berrei, mas era em vão. Parecia que minha alma saía e voltava ao meu corpo inúmeras vezes. Luan se divertia com meu desespero. Maldito namorado!
Finalmente livres daquele brinquedo aterrorizante, sugeri algo mais pacífico, como o carrossel. Luan fez uma careta de desgosto, mas acabou cedendo ao meu pedido. Ele claramente se sentia como uma criança enquanto montava em um cavalo que subia e descia em círculos, mantendo sua cara emburrada, enquanto eu me sentia mais tranquilo em meu respectivo unicórnio.
Eventualmente, exploramos alguns outros brinquedos, como o barco viking, onde o navio balançava para frente e para trás em movimentos oscilantes, nos dando a sensação de que seríamos arremessados para fora a qualquer momento. Também nos divertimos nas xícaras giratórias, onde éramos levados em círculos enquanto o brinquedo rodopiava, arrancando risadas de nós dois.
No entanto, quando chegamos ao Kamikaze, recusei prontamente. Jamais me submeteria àquele brinquedo que me deixaria de ponta-cabeça; além do meu medo de altura, havia o risco de botar para fora todo o almoço que havia comido mais cedo. E, para minha sorte, Luan não insistiu em ir também. Acho que, no fundo, ele nem queria, só estava me provocando.
Mas foi minha vez de provocá-lo quando avistei a mansão mal-assombrada do parque. Mesmo relutante, Luan concordou com minha sugestão. Enquanto nos dirigíamos à atração, não pude deixar de provocá-lo mais um pouco.
— Vai ficar tudo bem, Luan. Prometo segurar sua mão se você ficar com muito medo! — brinquei, rindo da expressão preocupada dele. Ele era mesmo meu menino medroso.
Assim que cruzamos o limiar, fomos recebidos por uma escuridão densa e uma atmosfera sinistra da casa mal-assombrada. O chão rangia sob nossos pés enquanto caminhávamos por corredores estreitos e escuros, decorados com móveis antigos e teias de aranha falsas. Subitamente, sua mão encontrou a minha entre tremedeiras.
De repente, figuras assustadoras pularam das sombras, emitindo gritos ensurdecedores. Luan deu um salto e soltou um grito abafado, enquanto eu lutava para conter o riso diante de sua reação exagerada daqueles reles brinquedos.
— Tudo bem, Luan? — perguntei, com dificuldade para não rir.
— S-sim, só... só estou me preparando para o próximo susto! — respondeu ele, com um sorriso forçado.
Finalmente, chegamos ao fim da casa mal-assombrada, onde fomos recebidos por um esqueleto balançando e uma gargalhada malévola de bruxa ecoando pelo ambiente. Luan respirou aliviado ao perceber que a jornada terminou, enquanto eu me desmanchava em risadas.
— Foi menos assustador do que pensei — Ele comentou quando retornamos para o lado de fora.
— Vai mentir para outro.
Meus olhos brilharam ao avistar a área dos carrinhos de bate-bate. Eu amava esse brinquedo quando era mais novo e vinha com meus pais ao parque, e agora eu tinha a oportunidade de desfrutar dele junto ao meu namorado.
Assim que chegou nossa vez na fila, cada um se dirigiu ao seu respectivo carrinho colorido — afinal, ambos queríamos dirigir. Eu tinha pleno conhecimento que iria virar uma competição. O sorriso travesso de Luan denunciava isso.
Mesmo com muitos veículos na área, Luan não poupou esforços para se chocar com força justamente contra meu carro. Mas isso não ficaria barato, girei o volante com o pé no acelerador, e então tratei de trombar com seu veículo, causando um forte impacto o jogando para o lado.
Luan estava determinado a me pegar, e eu não ficava atrás, manobrando meu carro para evitar seus ataques enquanto tentava acertá-lo também. Entre risadas e empurrões, nos divertimos como crianças, mergulhando de cabeça na competição amigável entre dois namorados.
Para nossa tristeza, o sinal vermelho foi dado indicando que havia acabado nosso tempo. A contragosto, deixamos nossos carrinhos.
— Está a fim de comer algo? — Ele perguntou. Não estava com tanta fome, mas acabei concordando para não deixá-lo comer sozinho.
Enquanto Luan se dirigia à barraca de cachorro-quente, eu olhava ao redor as barracas de jogos. Pela dificuldade de alguns jogos, como o de tiro ao alvo, os prêmios eram bem chinfrins. O melhorzinho era um violão velho.
— Aqui está — Ele me estendeu um hot-dog prensado, conforme caminhávamos lentamente pelo parque.
— Você não acha que às vezes parecemos duas crianças agindo assim? — Perguntei enquanto comíamos.
— Assim do nada? — Luan riu de minha pergunta. — Por quê? Se sente infantil?
— Não tenho problema em apreciar a vida como se fosse uma criança. Mas, a gente não é mais criança, né? — Inspecionei ao redor. Mesmo com pessoas de todas as idades, a maioria era composta por crianças pequenas acompanhadas por seus pais. — Logo menos faremos dezoito anos, e seremos adultos. Luan, você tem noção que daqui a pouco poderemos até ter idade para ser presos?!
— Bom, para você pode até ser em breve. Comigo isso já se aplica.
Ao terminar meu cachorro-quente e jogar o papel no lixo, olhei para ele totalmente confuso.
— Do que está falando, Luan? Você não tem dezoito anos ainda nem aqui nem na China. Apesar de sua identidade falsa dizer o contrário.
— Errado. — Ele negou com um sorriso doce, jogando seu respectivo papel no lixo como se fosse uma bola de basquete.
— Está de sacanagem! — Exclamei, estarrecido. — Quando foi seu aniversário?
— Fiz dezoito anos hoje.
Eu não podia acreditar naquilo. Era o aniversário de Luan! Como eu nunca soube o dia do aniversário do meu namorado? Isso explicava o almoço repentino na casa da Celeste e a ida ao parque em seu único dia de folga.
— Por que não me disse?
— Não gosto dessas coisas de aniversário, Kevin. Você, emocionado do jeito que é, iria com certeza inventar uma festa surpresa que eu odiaria. Para mim, é apenas uma data comum. Passar o dia com meu neném já torna esse dia suficientemente especial para mim.
Não podia negar que ele estava certo sobre o que eu faria se já soubesse sobre seu aniversário. Ainda assim, estava totalmente perplexo. Foi então que tive uma ideia.
— Espera aqui, Luan. Já volto. — Antes que ele dissesse qualquer coisa, saí correndo pelo parque, deixando-o para trás.
Eu ainda tinha três fichas. Era minha chance de tentar conseguir um presente para o Luan naquela barraca de tiro ao alvo. Entreguei as três ao vendedor, e ele me estendeu a carabina de ar comprimido. Precisava acertar o violão, era o alvo mais distante, mas com certeza o melhor entre todos.
Era mais difícil manipular aquela arma do que pensei, apertei o gatilho dela acidentalmente antes da hora e o dardo caiu no chão, não acertando prêmio algum.
— Ei, eu apertei por engano. Essa não valeu, né? — Questionei, mas o homem entediado na minha frente apenas me encarava fazendo pouco caso. Maldito capitalista.
Com um olho fechado, e a arma próxima ao meu queixo, atirei mais uma vez. Dessa vez, acertando um ursinho de pelúcia. Bom, eu não sairia dali de mãos abanando pelo menos.
Eu ainda tinha uma ficha. Minha última chance de conseguir o violão...
— O que está fazendo, Kevin? — Luan surgiu repentinamente dando um leve tapa em minhas costas. O susto fez com que eu disparasse sem querer, sem ter tido sequer tempo de mirar.
Se milagres existem, eu diria que se manifestaram naquela noite. Pois o projétil acidental acertou justamente o tambor do violão. Se eu tivesse tentado acertá-lo mirando, certamente não teria conseguido. Até mesmo o vendedor se mostrou surpreso, e irritado, por eu "abocanhar" o melhor prêmio.
Contrariado, ele retirou tanto o violão de segunda mão da prateleira, quanto o pequeno urso de pelúcia branco, e mesmo com relutância, entregou-os em minhas mãos.
— O que é isso?
— Feliz aniversário, Luan. — Sorri, estendendo os dois objetos em sua direção. — Sei que esse violão nem se equipara com a guitarra que você tinha, mas por enquanto, acho que dá para o gasto, não?
Não sabia o que houve. Os olhos esmeraldas do meu garoto estavam brilhantes, como se estivesse prestes a cair no choro. O presente era tão ruim assim? Luan pegou os dois, dando um sorriso verdadeiro e amoroso, me tranquilizando.
— Eu te amo tanto, cara. — Ele falou em tom baixo, me fazendo corar.
Passado aquele momento emotivo, acreditei que já estávamos indo embora do parque quando Luan decidiu chamar minha atenção:
— Tem só mais um brinquedo que eu gostaria de ir. Mas, espero que seu problema com altura não impeça você de ir comigo.
— Claro. — Me forcei a aceitar, afinal era aniversário dele. Porém, meu medo do que estava por vir era gigante.
Falando em gigante, o local no qual Luan queria ir era justamente a roda-gigante do parque. Não havia fila alguma, afinal o parque já estava em vias de fechar. Fomos os últimos a adentrar no brinquedo, antes de encerrar o expediente.
Eu estava tranquilo quanto a esse brinquedo. Ele não dava a sensação de "queda brusca" dos outros de grande altura. Seu movimento era lento, e eu e Luan tínhamos toda a privacidade do mundo dentro daquela cabine. Entretanto, um súbito arrepio se deu quando do nada o brinquedo parou de girar, bem quando estávamos no topo.
— Meu Deus, me diga que não estamos presos aqui no alto!
— Relaxa, Kevin. É normal pararem a roda-gigante para admirarmos a vista. Veja — Luan apontou para o lado de fora. Lá do alto, tínhamos uma vista panorâmica impressionante de todo o parque e sua iluminação. Era uma experiência relaxante e encantadora.
Luan se levantou de seu assento em minha frente, deixando o violão encostado ali, se sentando agora bem ao meu lado. Olhei para ele, seus olhos inclinados para minha boca com desejo.
— Obrigado por hoje, Kevin.
— Obrigado por compartilhar seu dia comigo, Luan. — O beijei apaixonadamente, sendo esse o seu último presente da noite.
À medida que o brinquedo voltava a se movimentar, nossos lábios se separaram. Aproveitei que ainda estávamos no alto para pegar meu celular e tirar uma foto da vista.
Quando voltei meu olhar para Luan, percebi que ele estava olhando para o seu próprio celular com uma expressão tristonha.
— O que houve?
— Não é nada. — Ele balançou a cabeça para os lados, guardando o celular no bolso. Minha expressão de desconfiança fez com que ele se abrisse. — Tudo bem, eu sei, nada de segredos. É só que o James não me mandou nenhuma mensagem hoje.
— Poxa, isso é estranho. Ele nunca esqueceu seu aniversário antes, certo?
— Exato. Durante todos os meus aniversários, James e eu sempre trocamos ideia.
— Talvez ele esteja chateado porque você passou o dia comigo. Desculpa, Luan, eu não queria ficar no meio de vocês.
— Não é isso, Kevin. Nem sempre passamos meu aniversário juntos. E ele não teria motivo para ter ciúmes de você, especialmente agora que ele e a Letícia estão oficialmente saindo. Mas ele sempre fez questão de ao menos mandar mensagem. Esse dia vai além do meu aniversário, ele é importante para nossa amizade. Eu o conheci justamente no meu aniversário, há dez anos. Então, também era o aniversário de nossa amizade. Mandei mensagem há horas, mas ele nem visualizou. Estou um pouco preocupado.
Fiquei surpreso com essa revelação. Poderia ser que ele realmente tivesse esquecido, seu novo relacionamento com Letícia poderia tê-lo deixado meio "avoado".
— Você nunca me contou como se conheceram. — Tentei mudar de assunto enquanto descíamos da roda-gigante, esperando distraí-lo dos seus receios.
— É uma longa história. — Luan sorriu com um ar nostálgico.
— Bom, temos a noite toda durante o caminho de volta. — Concluí, igualmente sorridente, enquanto deixávamos o parque de diversões.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top