28. Recomeço
Da última vez em que estive naquele terraço da escola, estava perseguindo o Luan após ele usar um extintor de incêndio contra mim. Aquele maldito dia em que nos conhecemos. Agora, eu estava parado no mesmo lugar, com o coração disparado e a tensão me consumindo. Não me importava estar matando aula de novo; eu só precisava tomar um ar depois do que acabei de presenciar.
A garota que beijou o Luan mencionou que estava apenas de passagem, e não demonstrou nenhum pudor ao lhe dar outro beijo, desta vez na bochecha, antes de partir. Eu, incrédulo com tudo o que testemunhei, corri escadarias acima, fugindo de sua visão.
Entretanto, Luan veio logo atrás de mim. Ele sabia que havia feito merda, e essa constatação só tornava tudo pior.
— Kevin, deixa eu explicar.
— Explicar o quê, Luan?! — Esbravejei, fazendo-o parar de andar. Não havia mais ninguém no local que pudesse testemunhar minha raiva. — Quem era aquela?
— Ashley.
— Ah, Ashley! Bom saber que ela tem nome. Se tem nome é porque você a conhece. — Não consegui disfarçar minha decepção em minha voz e em meu semblante. Luan, por outro lado, estava cabisbaixo há alguns metros de distância, ciente de que merecia ouvir cada palavra minha. — Como você explica aquilo?
Luan parecia meio perdido em seus pensamentos. Ele recuou alguns passos para trás, a fim de apoiar suas costas na caixa d'água do terraço da escola. Conhecendo-o, esse seria um daqueles momentos em que ele puxaria um maço de cigarros de sua jaqueta preta e começaria a fumar. Porém, ele estava ciente de que não era a ocasião propícia para isso.
— Aquele segredo que eu não queria contar a você. Aquilo que meu pai queria de mim. Era sobre isso, Kevin. A família da Ashley é extremamente bem-sucedida no ramo do mercado financeiro há décadas. Antes mesmo de nascer, eu já fui destinado a casar com ela por conta das ambições de nossas famílias.
"É basicamente aquele bom e velho clichê de casamento arranjado para promover uma aliança estratégica entre nossas famílias, manter o bom costume e se adequar à pressão social. Eles esperam que eu me case com alguém tão rica quanto nós. Tudo para que, segundo meu pai, eu não caia na 'lábia' de uma golpista qualquer."
Eu não conseguia conceber aquilo. Era inacreditável! Tudo parecia sempre girar em torno do canalha do pai do Luan, e ele parecia sempre disposto a fazer o que seus pais queriam.
— E por conta disso você vai simplesmente aceitar que eles escrevam seu destino? Vai se casar com essa... — Dei uma pausa em minha fala, engolindo com dificuldade a saliva antes de pronunciar o seu nome — Ashley?!
— Quem falou que farei isso? — Luan, igualmente indignado, se aproximou. Mas, minha expressão fechada impedia que ele sequer cogitasse tocar um dedo em mim. — Não irei me casar com ela, Kevin. Eu te disse que não faria o que meus pais acham que farei. Voltei para casa para que eles pensem que estou de acordo com esse casamento arranjado, mas planejava soltar a "bomba" que não iria assim que completasse dezoito anos e desse fora dali.
"O que eu não pude prever era que Ashley apareceria. Achei que nunca mais a veria. Eles moram na Suíça, foram pouquíssimas as vezes que nos vimos. A princípio, ela era contra esse casamento também, e isso me aliviava. Mas, com o passar do tempo, mesmo sem dar esperanças, ela passou a se apaixonar por mim. Eu nunca nem considerei que estávamos noivos de verdade, meu Jesus! Não sinto nada por ela."
Era claro que ele não sentia nada por ela. Também era óbvio que ela se apaixonaria por Luan. O cara era basicamente um monumento perfeito em forma de gente. Porém, tinha algo naquilo que não dava para aceitar. Algo que não dava para engolir.
— Você não a afastou quando ela veio te beijar.
— Kevin, eu queria, e muito, tirá-la de cima de mim e jogar a real para ela. Mas não podia fazer. Não ali.
— E por que não?! — Meu olhar intenso e minha respiração pesada transmitiam toda minha ira naquele momento.
— Cara, todos veem eu e você juntos o tempo todo. Nunca me veem dando moral para nenhuma garota. Se eu afastasse ela quando me beijasse, justamente a garota que dizia ter algo comigo, seria como decretar que eu sou... — Luan não finalizou sua frase.
Balancei a cabeça, minha decepção só aumentando.
— Que é o quê, Luan? Gay? Bi? Já falei que entendo você não querer se assumir por medo, eu também não quero isso. Não acho que devemos explicação para ninguém. Nenhum cara heterossexual se assume hetero, por que nós quem temos que fazer isso? Ainda mais sabendo das represálias que sofreríamos se isso ocorresse.
"Mas, é totalmente diferente quando simplesmente deixa uma garota te beijar, só com medo do que vão achar. Você fez isso bem do lado do seu namorado, caralho!"
O medo no rosto de Luan quase me fez recuar em minhas falas. Mas eu sabia que não poderia, ou melhor, não deveria pegar leve com ele. Seu medo não era de mim propriamente dito, mas sim do desprezo que eu estava sentindo por ele.
— Eu vou consertar isso, Kevin. Vou dar um basta com a Ashley, e irei confrontar meus pais de uma vez...
— Não. Não importa mais. — De forma seca, o interrompi, dando um passo para trás quando ele tentou se aproximar. — Você escondeu isso de mim, Luan. Escondeu que estava noivo. Não importa se era apenas algo de fachada, nem se você não considerava isso como real. Você simplesmente omitiu essa informação importante de mim.
— Você também não me contou tudo sobre você, Kevin! Você sabe que tem algo que não quer me falar, e nem por isso é motivo para esse escarcéu todo. — O desespero com a forma que ele falava, tentando encontrar algo para justificar sua falta de caráter, o tornava quase irreconhecível para mim.
— É totalmente diferente, Luan. Meu passado nem se equipara com o que você estava escondendo.
Naquele momento, passei a refletir sobre a decisão mais difícil que teria que tomar em toda a minha vida. Os olhos brilhantes do garoto de jaqueta naquela manhã nublada quase pareciam um convite para passar uma borracha em tudo aquilo. E, sinceramente, eu queria, queria ser capaz de esquecer e seguir em frente. Mas não conseguia.
Com o peso no coração, retirei o colar ao redor do meu pescoço, onde nossa aliança pendia, e o estendi no ar em sua direção. Luan estava boquiaberto, incrédulo com minha ação.
— Desculpa, Luan. Não posso continuar com você depois de hoje. — Forcei-me ao máximo para manter a voz firme, lutando contra as lágrimas que ameaçavam trair minha vulnerabilidade.
Não tive coragem de encará-lo nos olhos. Se estivessem molhados, não sabia se conseguiria sustentar minha decisão. Luan permanecia imóvel por sua vez.
— Não torna isso mais difícil, pega! — Insisti, ainda sentindo a corrente entre meus dedos, enquanto fitava o chão do outro lado do terraço com a cabeça baixa.
Senti a corrente ser puxada lentamente dos meus dedos, até que se soltasse completamente. Com a aliança agora em sua posse, virei as costas e caminhei apressadamente em direção à porta.
A primeira vez que tentei escapar daquele terraço, meses atrás, Luan me agarrou e me prensou contra a caixa d'água. Parte de mim queria que ele fizesse isso novamente, que viesse atrás de mim. Enquanto outra parte desejava manter distância, pronto para revidar se ele se aproximasse. Claro, eu sairia perdendo contra o praticante de boxe. Mas isso nem foi necessário.
Consegui alcançar a porta e desci as escadarias. Luan não havia vindo atrás de mim. Então, finalmente, me permiti chorar silenciosamente enquanto caminhava pelos corredores da escola, enfrentando o meu recente término.
🥺💔
Imaginei que, com nosso término, Luan fosse fazer o de sempre em minha ausência em sua vida: sumir da escola e voltar a cabular, ainda mais depois de ter perdido o torneio de basquete e não ter mais um propósito para estar ali. Contudo, no dia seguinte, lá estava ele, como de costume, sentado isolado ao fundo da sala.
Era imensamente difícil não falar com ele. Eu me acostumei com a sua presença. E agora, precisava reaprender a viver sem a sua companhia constante. Antes de termos tido qualquer envolvimento, eu me via fantasiando sobre nós juntos; ele era uma presença constante em meus pensamentos, como se tivesse se instalado no meu coração. Agora, era o oposto. Pensar nele doía.
Lidar com a nossa separação e, ao mesmo tempo, compartilhar o mesmo espaço com ele era um paralelo, como se fosse uma rosa com espinhos; sendo linda de se ver, mas capaz de machucar. De igual maneira, ver Luan superar sua fobia social para se juntar a outros grupos de trabalho na classe, evitando se unir a mim e aos meus amigos, só aumentava minha angústia.
— O que aconteceu entre vocês dois? — Douglas perguntou certa vez, mas eu o ignorei.
Meus amigos não eram os únicos a fazerem perguntas desconfortáveis. Perdi a conta de quantas garotas me abordaram nos corredores da escola para perguntarem se Luan realmente estava namorando aquela garota... Elas sempre me viram andando com ele e esperavam que eu pudesse aliviar suas preocupações. Mas eu nunca respondia; simplesmente virava as costas e as deixava falando sozinhas. As fãs de Luan precisavam de alguém para negar seu pior pesadelo, queriam que eu fosse essa pessoa. Mas quem seria esse alguém por mim?
De vez em quando, ainda tinha o desprazer de me esbarrar com Felipe e Rafael nos corredores da escola. Os dois sempre passavam reto por mim, me evitando. Confesso que era engraçado sempre reparar nos pontos acima da sobrancelha do filho do diretor, resultado dos socos que Luan lhe deu naquela vez. No entanto, vê-los também era uma lembrança tristonha dos tempos em que Luan e eu ainda éramos unidos.
As semanas se arrastavam torturosamente. Luan sempre se mantinha afastado, como se ele quem tivesse motivos para estar zangado. Mas não era o caso! Fui eu quem terminou. Eu o amava, e saber que não estávamos juntos por minha decisão, mas por conta de suas atitudes, era devastador.
O estopim da minha aflição veio no dia em que, saindo da escola, avistei Luan e Ashley conversando animadamente no portão. Não conseguia ouvi-los daquela distância, mas pelo sorriso da garota de cabelos cacheados, era óbvio que ele não havia lhe contado nada. Ele não havia rompido com ela.
Decidi me afastar, mas como um lampejo, resolvi me virar discretamente para analisar Luan, enquanto ele não percebia. Meu coração congelou ao perceber a ausência da corrente em seu pescoço. Algo que ele prometera nunca tirar. Ele não carregava mais nossa aliança consigo. Luan havia seguido em frente...
Esbarrei nos ombros de alguns alunos enquanto voltava para dentro da escola. Minha cabeça estava pesada, a dor que parecia estar se cicatrizando com o tempo, agora ressurgia como uma ferida aberta. Luan não me devia satisfação de mais nada, não estávamos mais juntos. Mas fizemos promessas. Eu teria minha primeira vez na cama com ele quando completasse dezoito anos. Prometemos sair para beber juntos. Viajar pelo país e até mesmo pelo exterior estava nos planos também. E, o mais importante de tudo, prometemos nos amar para sempre. No entanto, nada disso se concretizou.
Desnorteado, busquei algo para distrair minha mente. O ensaio no clube de teatro daquele dia havia sido reprogramado, já que parte dos membros do clube estaria ocupado montando o palco para a peça que aconteceria apenas no fim do ano no festival escolar. Mesmo assim, ajudar na montagem do palco parecia uma opção melhor do que correr o risco de Luan me avistar ao sair pelo portão da escola.
Tínhamos um anfiteatro razoavelmente grande no campus da escola. Ainda assim, ele raramente era utilizado. Apenas nosso clube e o clube de coro ocupava aquele ambiente, alternando as datas que cada clube usufruiria do local. Agora que o clube de coro finalmente havia cessado suas atividades do ano, após perderem o torneio musical, o diretor finalmente nos concedeu permissão de começarmos a alterar o ambiente para a peça.
Uma vez dentro daquele local semicircular, subi no palco, avistando alguns alunos carregando tábuas de madeira de um lado ao outro. Onde eu estava com a cabeça em ir para lá naquele dia? Não fazia ideia de como ajudá-los; com certeza só atrapalharia.
— Cuidado com a cabeça, Chicó! — Senti alguém inclinar minha cabeça para baixo repentinamente.
Foi então que avistei dois caras levando uma tábua bem grande de madeira para o outro lado do teatro. O garoto que estava com a mão em minha cabeça me salvou de levar um belo galo na região se não tivesse me abaixado.
— Foi por pouco. — O jovem riu, conforme tirava sua mão de cima de mim.
Foi só então que me dei a liberdade de encará-lo de forma melhor. O jovem de estatura média diante de mim possuía um corte de cabelo undercut chamativo. Seus cabelos escuros eram habilmente estilizados, dando-lhe uma aparência descolada. Seus olhos de tonalidade âmbar me analisando de igual maneira eram eletrizantes, enquanto sua postura firme demonstrava que ele estava mais seguro de estar diante de mim, do que eu dele.
— O-Obrigado. — Agradeci timidamente, tentando disfarçar minha falta de familiaridade com ele. Seu rosto não me era estranho, mas ao mesmo tempo não conseguia me lembrar de quem ele era.
— Não sabe quem eu sou, Chicó? — Ele comentou, parecendo me ler completamente.
— Bom, então estamos empatados, porque também não me chamo Chicó. Me chamo Kevin.
Com um gesto casual, joguei minha mochila para o canto das cortinas, afastando-me para não atrapalhar os que estavam realmente querendo trabalhar. Para esse garoto saber qual papel eu desempenharia na peça, ele com certeza fazia parte do clube. Mas eram tantas pessoas no clube, que não me surpreendia não lembrar dele.
— Eu sei. Sou o Arthur. — Ele me seguiu para trás das cortinas, quando uma garota quase esbarrou nele enquanto carregava um balde de tinta. — Mas aqui na peça serei o João Grilo.
— Do que está falando? — Olhei para ele confuso. — Estamos há meses ensaiando para a peça. O João Grilo vai ser o Mauricio.
— Eita, então não te contaram ainda. — O tal do Arthur parecia realmente surpreso, enquanto pontos de interrogação flutuavam em minha cabeça. — O Mauricio fraturou a perna de forma feia jogando futebol. Ele está fora da peça. Esse aí levou o termo quebrar a perna¹ no teatro de forma séria demais.
Arthur riu de forma perversa. Não posso negar que eu também achei graça do seu trocadilho.
— Ele se machucou em um acidente de verdade ou será que o substituto dele aí não derrubou ele da escada para tomar o seu papel? — Com um sorriso de canto, tentei transmitir brincadeira em meu tom de voz, para que ele não achasse que eu estava seriamente o acusando.
— Hum, boa pergunta. Vou deixar no ar a resposta. — Arthur retrucou, dando uma risada descontraída. Ele realmente tinha bom humor. — Já que está aqui, não quer me ajudar?
— Em quê?
— Bom, eu já era o substituto dele desde o início. Então meio que já tenho mais ou menos decorado de cabeça o script. Mas sabe como é, só levamos a sério mesmo quando acontece. Até então nem achei que subiria ao palco de verdade.
— Entendo.
— Imagino que está pensando: "esse cara deve ser péssimo de atuação para ter pegado o papel de substituto em vez de pegar logo de cara o papel principal". E só lhe digo uma coisa sobre isso: você tem razão.
Acabamos rindo juntos de sua fala. Eu realmente estava contente de ter ido ali naquele dia, já havia até mesmo tirado Luan da cabeça por alguns momentos.
— Mas então, o que precisa? — Perguntei.
— Queria que ensaiasse algumas passagens comigo, já que os nossos personagens vivem interagindo. Tudo bem por você?
Assenti, afinal preferia bem mais ensaiar do que ficar martelando ou carregando tábuas. Mesmo com o barulho no anfiteatro, concordamos que ensaiar atrás das cortinas do palco ainda assim seria o melhor local no momento.
Peguei meu script da mochila, enquanto Arthur pegou o seu respectivo de cima de uma mesa. Após selecionarmos a passagem que iríamos ensaiar, ficamos de frente um ao outro enquanto líamos o roteiro.
— "Chicó, precisamos dar um jeito de convencer o padre de que você é um cangaceiro valente, capaz de matar dragões." — Arthur começou, uma certa tremedeira em sua mão e sua voz.
— "Eu? Matar dragões?" — Após minha fala, um silêncio nos preencheu. — Sua vez.
— Ah, desculpa. Me perdi aqui. "Sim, Chicó. Você vai ser o matador de dragões do sertão." — Arthur deu um suspiro, jogando seu script de volta em cima da mesa. — Poxa, é mais difícil do que imaginei pegar o timing e a entonação certa.
— Relaxa, você vai chegar lá.
— Sabe, se os personagens fossem que nem a gente, parecidos com nossas personalidades e nosso jeito de falar, seria bem mais fácil atuar.
Nunca havia pensado nisso. Ele tinha um bom ponto. Embora não sei se isso seria sequer considerado atuação.
— Por exemplo, se o João Grilo e o Chicó fossem gays. Então o João Grilo poderia falar para o Chicó o quanto ele é bonito para muléstia. Ou algo assim.
Fiquei surpreso com sua fala repentina. Olhei sutilmente para trás, mas todos estavam tão ocupados que nem sequer estavam prestando atenção em nós.
— Isso foi bem aleatório. — Comentei, fitando meu script e tentando fingir que não havia entendido o que ele quis dizer com aquilo.
— Um pouco, talvez. — Ele admitiu, encostado na mesinha. — Desculpa se eu estiver forçando um pouco a barra, Kevin. É que realmente sempre te observei de longe, e sempre te achei bonitão. Porra! Esquece isso cara, não está mais aqui quem falou.
Como em um súbito momento de reflexão, Arthur balançou a cabeça para os lados, pensando que havia se declarado para um heterossexual diante de minha relutância.
— Se acalme, homem. — Falei entre risadas. Meu sorriso foi meio que aliviador para ele.
— Eu nem sei se posso dizer algo assim. Sempre te vi andando com aquele Luan, não é? Não sei se vocês têm algo.
Imediatamente fechei minha carranca. Droga, estava tudo indo tão bem até me lembrar da existência daquele garoto.
— Eu e Luan não nos falamos mais. — Me limitei a dizer apenas isso em um tom seco.
De imediato, Arthur entendeu o recado e não fez novos questionamentos sobre o Luan. Acho que compreendeu que aquela era uma zona perigosa da qual eu não queria falar a respeito.
— Então você é gay? — Decidi quebrar o silêncio, um pouco hesitante.
— Desde que me conheço por gente. Não costumo gritar por aí que sou, mas nunca nego a verdade quando me perguntam. E você?
Arthur parecia ansioso por minha resposta. Queria eu ser tão confiante quanto ele em me abrir sobre minha sexualidade. Talvez, eu pudesse dar o primeiro passo naquele momento.
— Sim, eu sou. Mas diferente de você, ainda não sou tão adepto a contar a todos sobre isso.
— Eu entendo, não se preocupe.
Arthur abriu um sorriso de orelha a orelha ao saber sobre minha sexualidade. Era a primeira vez que eu contava para um estranho que eu era gay. De certa forma, me senti aliviado. Ainda mais sendo alguém que aparentava ser tão gente boa, e que me elogiou.
— "Ora, Chicó. Pense nos benefícios. Com o padre a seu favor, conseguiremos muito mais dinheiro e comida." — Arthur havia voltado a ler seu script tão repentinamente; e diante de meus devaneios com o que havia acabado de ocorrer, nem havia me dado conta. — Sua vez.
— Ah, desculpa. Eu não estava prestando atenção.
— Muléstia, Chicó. Você é bem distraído. — Arthur forçou um sotaque enquanto eu procurava a minha parte no script. Ambos rimos de sua imitação forçada de cangaceiro.
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❝GLOSSÁRIO❞
¹ Quebrar a Perna → expressão informal usada no teatro como uma forma de desejar boa sorte antes de uma apresentação.
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