23. Sexualidade
No meu quarto, eu andava de um lado para o outro, apreensivo com a situação. Minha mãe me pediu para subir, enquanto os três permaneciam na sala de estar. Por que a mãe de Luan estava aqui?! Meu temor pelo que podia ocorrer a ele se intensificava a cada passo que eu dava no chão.
Depois de um longo tempo, enquanto eu ainda estava surtando sem compreender nada, Luan entrou sorrateiramente no meu quarto. Olhei para ele com as sobrancelhas franzidas, em busca de respostas, enquanto ele fechava a porta atrás de si.
— Vim me despedir.
Meus lábios se abriram e se fecharam sem emitir som algum. Luan foi em direção ao parapeito da janela do meu quarto, encostando-se nele. Não duvido nada que ele sentiria saudades da adrenalina de saltar pela janela em direção a árvore, a fim de escapar para ir ao trabalho.
— Do que você está falando, Luan? Por que sua mãe está aqui?
— Ela veio me levar de volta para casa. — Seu tom de conformismo se misturava com um suspiro de derrota enquanto ele se sentava na janela, olhando para o lado de fora da residência.
— Você não precisa ir! Podemos dar um jeito. Podemos contar a verdade para minha mãe; sei que ela vai entender. — Avancei alguns passos em sua direção, mas Luan prontamente negou minha sugestão ao balançar a cabeça.
— Kevin, eu preciso voltar. Isso tudo, do jeito que está, não vai dar certo. Não tem como. Pelo menos até eu completar dezoito anos, eles têm controle sobre mim.
Eu não podia aceitar isso. Mesmo que Luan demonstrasse que já havia sucumbido ao próprio destino imposto a ele, de voltar a conviver com pais conservadores e controladores que não o aceitavam como ele era, para mim, isso não parecia plausível.
— O diretor ligou para meus pais hoje, depois da briga. — Luan se explicou, olhando para frente. — Meu pai costuma fazer doações generosas para a associação de pais e mestres da escola. Dessa forma, o nosso diretor está nas palmas das mãos dele. Não preciso nem mencionar que o fato de minha família ter dinheiro impediu que fôssemos sequer advertidos hoje, preciso? Além disso, o diretor Aroldo tem pleno conhecimento de que seu filho tem grande responsabilidade pelo ocorrido. Por isso, nos safamos dessa vez.
Aquele maldito dinheiro, mais uma vez, alimentando a arrogância dos pais dele que acreditavam serem superiores a todos.
— Como sua mãe sabia onde você estava?
— Não é muito difícil imaginar, né? Depois de saber que nós dois nos envolvemos em uma briga na escola, foi só somar um mais um. O diretor deve ter passado o seu endereço quando ela perguntou. Mas não se preocupe, sua mãe não ficou sabendo. Além disso, quando ela saiu para comprar pão na padaria, que a minha própria pediu apenas como pretexto para ficarmos sós, ela me contou que decidiu seguir com nossa farsa. Minha mãe encenou que estava viajando, e que voltou para me buscar. Decidiu não entregar nossa mentira, desde que, é claro, eu faça o que eles querem. Que é voltar para casa.
Ele claramente não queria voltar para aquela "prisão" que chamavam de lar, ainda mais depois da forma como saiu de lá da última vez. A chantagem que fez contra seu pai e a mentira para sua mãe sobre ela ser "corna", claramente não seriam coisas que eles deixariam barato.
— Por que eles te querem de volta? Eles nem ligam para você! — disse de forma exaltada. Rapidamente percebi que tinha passado do ponto. — Desculpa, Luan. Não foi exatamente o que quis dizer...
— Não. Você está certo — Ele forçou um sorriso, se levantando de onde estava e sentando-se na minha cama. Acompanhei-o, aguardando suas próximas palavras. — Eles não se importam comigo. Não me amam. Só se importam com o que posso prover para eles. Querem algo de mim. Algo que os fará ganhar ainda mais grana e prestígio, por isso me querem de volta.
Não era a primeira vez que ouvia sobre esse "acordo" entre Luan e seu pai, mencionado na primeira vez que estive em sua casa.
— O que querem?
— Desculpa, Kevin. Têm coisas que nem mesmo você deve saber — Luan me encarou. Senti como se tivesse levado uma flechada no peito. — Afinal, até mesmo você tem seus próprios segredos que não me conta, não é mesmo?
Ele estava certo. Havia um segredo do meu passado que eu preferia manter escondido de todos. Não sabia como ele se deu conta da existência dessa confidência que me permeava, mas isso não mudava o fato de que eu não queria dizer nada sobre isso a ele.
Talvez Luan estivesse certo; eu estava me revelando um belo de um hipócrita. Apesar de sempre cobrar transparência dele, percebi que eu mesmo não conseguia me abrir cem por cento.
— Não estou pedindo para você me contar. Apenas quero que entenda que há situações que somos obrigados a enfrentar, mesmo que não gostemos. De qualquer modo, tudo o que precisa saber é que não pretendo fazer o que eles querem. Vou deixar que pensem que vou dançar conforme a música deles. Quando menos esperarem, eu pulo fora disso.
De novo essa narrativa. James já havia dito algo semelhante sobre se afastar de seu pai tóxico no momento propicio. Mas para mim, isso era bobagem.
— Luan, você não precisa conviver com eles! Eles são pessoas horríveis, e vão tentar te controlar.
— Kevin, se acalma. — Luan colocou a mão em minha nuca, fazendo movimentos suaves a fim de me tranquilizar, em seguida juntou nossas mãos. — Sou bom em negociações. Eles sabem o que sei sobre os negócios sujos do meu pai e precisam de mim para essa "coisa" que mencionei, que lhes renderá muito dinheiro. Mas eu também estabeleci minhas próprias condições. Nada vai mudar entre nós. Continuarei te vendo, podendo sair contigo, trabalhando na boate, passando noites fora de casa. Posso até dormir aqui, de vez em quando, claro, se isso não for um problema para você. Mas não vão mais me mandar para uma escola em outro país. Ainda tenho minha liberdade, porque eles acham que, quando chegar a hora, vou fazer o que querem. Só que não vou.
— Luan, mesmo assim...
— Acha mesmo que eu não adoraria ter pais como os seus? — O olhar perdido dele, após um breve silêncio, me fez encará-lo ansioso que prosseguisse. — Pais atenciosos, que te amam, e nunca te fariam mal ou te usariam. Mas, comigo, levar esse tipo de vida nunca foi uma possibilidade. Nem com James. Entendo sua preocupação, mas, de todo o meu coração, você entrou nas nossas vidas agora. Não pode achar que tudo se resolve com um simples estalar de dedos. Já estamos acostumados, sabemos lidar com isso. Sabemos ficar bem, porque sempre tivemos um ao outro. E, agora, temos você também ao nosso lado.
Inclinei a cabeça, reconhecendo minha derrota. Luan era quem melhor compreendia seus próprios sentimentos. Se ele afirmava que ficaria bem, restava-me confiar nele. Meu papel era oferecer apoio incondicional e permanecer ao seu lado, como prometido. E, de fato, eu ficaria. Porque o amava.
Ao desviar o olhar para baixo, deparei-me com os inchaços e roxos nas dobras dos dedos de ambas as mãos de Luan. Ele havia se ferido para me proteger durante a briga. Antes que eu expressasse minha preocupação, ele se antecipou e dirigiu seu olhar para mim com um semblante de apreensão.
— Está doendo? — perguntou, observando meu olho roxo.
— Não muito. Só quando fecho o olho com força.
— Não está tão ruim quanto pensei. Depois, coloque uma compressa fria sobre seu olho. Confie em mim, estou acostumado com isso. Aliás, se quiser manter isso longe do conhecimento de sua mãe, é melhor continuar usando óculos escuros perto dela por um tempo.
Por um momento, percebi Luan engolindo em seco. Sua mão soltou a minha, e ambas agora repousavam sobre seus próprios joelhos.
— Eu não queria que você visse aquilo — disse Luan com voz fraca, olhando para baixo. — Não queria que me visse perdendo a cabeça. Eu te avisei, eu tenho esse lado incontrolável. Quando o sangue sobe à cabeça, eu simplesmente a perco. E, então, quando dou por mim, estou lá brigando com alguém. Me desculpa, Kevin. Por fazer você ter que ver esse monstro que sou de verdade. Não quero que esse meu descontrole te afete em algum momento...
— Do que você está falando?! — Levantei sua cabeça, puxando levemente seu maxilar com os dedos. — Você me salvou, Luan. Por que eu teria medo ou decepção de alguém que fez isso por mim?
— Mas você chorou! Implorou para eu parar de bater neles. Seu olhar dizia tudo, Kevin. Você estava com medo de mim. E, também, não teve coragem de me contar sobre o que estava acontecendo.
Balancei a cabeça tão freneticamente que parecia que eu estava afugentando uma lagartixa das minhas roupas.
— Você entendeu tudo errado! Eu estava preocupado com você, seu idiota. E, não te contei nada, porque eu não queria ter que precisar da sua ajuda. Eu senti um pouco de vergonha...
— Você não tem que sentir vergonha de me pedir ajuda! — Luan bateu na própria testa, levemente irritado com minha fala. — Se precisar de alguém para te proteger, eu serei seu escudo. Se você estiver com frio, te dou minha blusa. Se estiver entediado, eu estarei lá com você para te entreter. Se seus lábios estiverem secos, eu estarei lá para te beijar. Se precisar de companhia para o sarau... Bom, faço quase tudo, mas aí já é demais.
Durante essa conversa caótica, foi o primeiro momento que ele conseguiu arrancar uma risada sincera de mim. Seu sorriso de volta em seu rosto constatava que ele estava igualmente feliz por ter arrancado um sorriso bobo de mim.
— Sempre cuidei do James. Meu melhor amigo sempre foi a única pessoa que me importava de verdade. Ainda assim, nem ele eu consigo proteger totalmente. Já você, não sei Kevin, quando penso em ti, algo dentro de mim quer te agarrar e te proteger. Não deixar ninguém te fazer mal. É mais até do que com o James. É como se estivessem mexendo diretamente comigo, quando mexem com você. E quem mexe com Luan Pimentel, não vive muito para contar história.
Quase acreditei nessa última frase dele, se não fosse sua risada ao fim da fala para amenizar o impacto da sua ameaça para terceiros.
— Sabe, Luan, quando te conheci, meio que senti inveja de você. Você era o cara mais maneiro, aquele que todos queriam ter por perto. O mais gato, gostoso, a pessoa que sempre teria tudo o que quisesse aos seus pés. E isso me dava aquela invejinha. Mas, ao te conhecer melhor, percebi que eu não tinha por que ter inveja de alguém tão incrível como você. Talvez, eu mesmo tenha me tornado uma dessas pessoas que querem estar ao seu lado o tempo todo.
"Você está longe de ser perfeito como imaginei, mesmo que as aparências possam sugerir o contrário. A questão é: qual o problema em enfrentar seus próprios monstros? A sua ansiedade, por exemplo, é uma batalha constante, e você lida com isso fumando e tocando guitarra para desviar a mente. Embora eu aconselharia a parar com o cigarro, posso conviver com isso. E podemos encontrar maneiras de enfrentar os seus picos de raiva juntos".
Luan sorriu para mim, enquanto levava seu braço sobre meus ombros e encostava nossas testas em um momento de carinho. Porém, logo me afastei, causando estranhamento da parte dele.
— Você pediu desculpas, mas eu quem deveria estar me desculpando — falei meio sem jeito, recebendo um olhar de confusão dele. — Eu revelei ao diretor que o Rafael e Felipe estavam roubando os exames. Em um momento de desespero, acabei usando a informação que você me deu. Mais uma vez fiz algo sem seu consentimento, e por causa disso, tudo isso aconteceu.
— Eles estavam te perturbando muito?
Meio constrangido, apenas consegui responder gesticulando o dedo indicador como positivo.
— Então você fez o certo. Se não sentia confiança em mim, tinha que recorrer a uma forma de se livrar deles. Não estou bravo — Droga! O sorriso amável de Luan me tirava dos eixos.
— Claro que confio em você, seu idiota! — Empurrei o ombro dele irritado, fazendo meu parceiro rir em deboche de mim. — Sabe, eu estava aqui pensando, isso tudo ocorreu só por causa de uma simples prova. Fico me questionando, e no dia que revelarmos a todos o que somos. Digo, que estamos ficando. Vai ser tudo nesse nível para pior, não é?
Luan aparentemente também não sabia a resposta daquele questionamento. Ambos nos colocamos a olhar para frente, imaginando de forma melancólica o que essa droga de mundo era. Pessoas que estão dispostas a partir para a violência e o bullying, só porque se deparam com outras pessoas que são diferentes. Que vivem e fazem coisas que elas não compactuam. Esses imbecis se sentem no direito de atacar fisicamente e verbalmente como se fossem a régua do mundo. E o ocorrido com Rafael e Felipe parecia só uma amostra grátis do que ainda poderia estar por vir.
— Você já sabe o que é? — Ele perguntou de repente. Olhei para ele mais confuso do que cego em tiroteio. — Me refiro ao seu sexualismo.
— Sexualidade.
— Isso — confirmou assim que o corrigi.
— Eu acho... Não, eu não acho. Eu tenho certeza. Sou gay, Luan — Afirmei com convicção. Decidi encará-lo, mesmo temendo sua reação. — Depois que começamos a ficar, tentei de todas as formas me colocar à prova e tentar sentir atração por garotas. Mas isso não funciona. Eu me atraio apenas por homens. Além disso, me apaixonei por um.
Merda. Escapou de novo da minha maldita boca o fato de estar apaixonado por ele. Contudo, ele não pareceu se incomodar, mesmo que não tivesse respondido sobre isso propriamente.
— Não sei se faz sentido. Você não parece gay. Você não gosta de cantoras pops como Lady Gaga e Taylor Swift. Não gosta de moda, afinal anda com essas roupas tão "normais". E como dançarino, você é um ótimo escritor.
— Otário! — Joguei o meu travesseiro nele entre risadas, conforme ele falava mal das minhas roupas e do meu jeito desastrado de dançar. — Isso são estereótipos. Nem todos os gays gostam dessas coisas. E você, Luan? É o que então? — Cruzei os braços, um pouco apreensivo com a resposta dele, mas tentando não demonstrar.
— Bom, eu ainda sinto atração por garotas. E, depois que comecei a ficar com você, vi uns vídeos a fim de tentar me entender melhor. Você sabe... — Ele gesticulou a mão no ar em movimentos de vem-e-vai em forma de cone, deixando claro o teor adulto desses "vídeos educacionais dele". — Percebi que eu gosto de caras também. Então, sou bissexual.
De certa forma, vê-lo revelar sua sexualidade a mim me trazia uma paz reconfortante. Temia que ele apenas se considerasse um "hétero curioso" que gostasse de "brotheragem", e que tudo isso que estamos vivenciando fosse apenas um passatempo para si.
— Bom, então está aí. Você não é menos gay do que eu, só porque é bi — Falei sorridente, me inclinando na cama.
— Claro que não! Sou cinquenta por cento hétero, boboca — Luan se deitou na cama ao meu lado, levando o dedo a minha bochecha a fim de implicar comigo.
— Cinquenta por cento hétero, meu pau de óculos só se for.
Apesar de tudo, naquele momento, eu estava feliz. O sorriso radiante daquele garoto extremamente lindo ao meu lado indicava que ele ficaria bem, mesmo sem estar mais sob a proteção dos meus olhos.
— Então, significa que agora tenho o dobro de concorrência? — perguntei, sentando-me novamente na borda da cama, sem demonstrar ciúmes em meu tom, embora Luan me conhecesse bem o suficiente para saber que eu era sim ciumento.
— Talvez.
— Hum. Posso te fazer uma pergunta?
Ele assentiu ao se sentar ao meu lado novamente.
— Quantas garotas, ou garotos, você pegou desde que começamos a ficar? — Por favor, zero. Por favor, zero. Por favor...
— Não fiquei com mais ninguém ainda. Não senti vontade até então.
Luan se levantou da cama, espreguiçando-se. Isso me trouxe alívio, mas ao mesmo tempo, a conversa que tivemos na excursão ainda ecoava na minha mente. Ele deixou claro que ficaria com alguém quando sentisse vontade, afinal, não tínhamos nada sério. Que raiva!
— Meninos, a mãe do Luan está chamando. Se despeçam e desçam — minha mãe abriu a porta novamente de forma súbita, saindo de lá tão logo quanto entrou.
O tempo que a mãe de Luan deu para ele falar comigo já havia se esgotado. Levantei-me da cama descontente. Ficamos parados por um tempo, olhando um para o outro, até que ele finalmente ergueu os braços para me abraçar. No entanto, desviei, ignorando seu gesto. Luan me olhou chocado, enquanto abraçava o ar.
Dirigi-me rapidamente para o outro lado do quarto, mexendo nos fios que conectavam meu videogame ao televisor.
— O que está fazendo? — Ele perguntou, se aproximando confuso.
— Quero que fique com isso — Estendi o videogame com os controles em sua direção, deixando-o estarrecido.
— O quê? Está louco, Kevin?! Claro que não posso aceitar isso.
— Não se recusa presente — Coloquei o videogame em uma sacola e forcei-o a segurar. — Além do mais, não estou te dando. Apenas emprestando. Depois que começamos a jogar juntos, não veria mais graça em ficar jogando sozinho aqui no meu quarto sem o meu "player 2". Você disse que seus pais não vão mais te controlar, então eles não podem te impedir de ter um videogame. Fica com ele, para treinar e ficar melhor. E quando você vier aqui em casa novamente, traga-o para jogarmos juntos.
Luan olhava incrédulo para mim. Ainda assim, um sorriso doce desabrochou de seus lábios, conforme nos abraçávamos.
— Ah, como eu queria te beijar agora, cara — Ele sussurrou no meu ouvido.
— Não podemos aqui. Mas sinta-se beijado mentalmente, meu bissexual favorito — Brinquei, assim que desfizemos o abraço e nos dirigimos em direção a porta do meu quarto.
— Que ódio!
Ambos descemos a escadaria para o andar inferior. Meu pai já havia chegado e estava ao lado de minha mãe, ambos um pouco mais distantes de Vivian, que estava na porta apenas aguardando o filho para ir embora.
— Mãe, emprestei meu videogame para o Luan. Não tem problema, né?
— Claro que não, filho — O sorriso bondoso de minha mãe demonstrava o quanto ela aprendeu a gostar de Luan.
— Bom, é isso — Luan, com sua mochila nas costas, seu saco de roupas e o videogame em mãos, virou-se em direção a meus pais e a mim. — Agradeço imensamente por terem cuidado de mim nesses dois meses, senhora Rosana, senhor Téo.
— Imagina, Luan. Você é sempre bem-vindo aqui — Meu pai se aproximou dele, dando um leve tapinha em suas costas.
— Sua amizade faz muito bem ao Kevin — Minha mãe disse ao abraçá-lo. Ela então direcionou o olhar para Vivian sob os ombros, que apenas encenava estar se importando, possivelmente julgando tudo como um "melodrama" barato em sua cabeça. — Eles parecem até irmãos.
Ah, mamãe, se as paredes falassem...
— Luan, tira a tua bola de basquete de debaixo da sua cama! Não precisa mais escondê-la lá — disse em voz alta enquanto acenava para ele da escadaria, apenas para ver sua mãe me olhar levemente irritada. Afinal, seus pais detestavam basquete, mas agora ele podia fazer o que bem entendesse em sua casa.
Meus pais e eu os conduzimos até o portão. O choque de minha mãe ao avistar uma limusine estacionada em frente à nossa casa foi consideravelmente engraçado. Ela olhou em direção a Vivian, buscando entender de onde surgiu aquele veículo. Minha mãe com certeza não precisava saber que eles eram podres de ricos. E Vivian, ciente disso, tratou de criar uma desculpa:
— É o carro da empresa. Depois de viajarmos, eles só ficam satisfeitos quando nos deixam na porta de casa — ela fingiu casualmente, dando um beijo em minha mãe sem sequer se encostarem e um aceno no ar para meu pai. Eu me irritava só em estar próximo a essa mulher. Se meus pais soubessem o que ela já disse sobre o quão pobres e insignificantes somos para ela...
Vivian entrou na parte de trás do carro, seguida por Luan. Ele acenava para nós da janela, conforme retribuíamos o gesto. Viramo-nos e nos dirigimos de volta para dentro de casa. Casa essa que a partir de hoje seria um pouco mais solitária sem ele por perto.
Entretanto, o som da porta do carro se abrindo e Luan gritando para esperarmos fez com que nos voltássemos antes que pudéssemos entrar novamente.
— Senhora Rosana, senhor Téo. Esperem só um momento — Luan pediu, de forma que meu pai abriu o portão novamente. A porta do veículo ao seu lado ainda estava aberta, Vivian olhando sem compreender e Luan correndo em nossa direção. Ele tomou fôlego antes de falar: — Só queria dizer que vocês dois têm um filho incrível. Sintam orgulho dele, porque ele é demais. Vocês cuidaram bem dele — Luan sorriu, e antes que qualquer um de nós pudesse dizer algo, correu de volta à limusine, fechou a porta ao seu lado, e por fim o veículo deu partida.
Meus pais permaneciam parados, olhando para a rua pelo portão aberto, conforme o carro se distanciava. Ambos sorriam. Eu, de igual maneira, sorria com esse gesto daquele idiota.
— Por que está de óculos escuros? — Depois de um tempo, minha mãe finalmente me perguntou, ao perceber que já estava prestes a anoitecer.
— É moda, mãe! — Prontamente entrei de volta em casa, fugindo dos olhares curiosos de meus pais.
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