21. A Dama das Sombras
— Kevin, acorda! — Senti um forte balançar em meu ombro, me sacudindo a fim de me despertar.
Eu ainda estava naquele pequeno momento em que acordamos atordoados e não nos recordamos de onde estamos, como chegamos ali e até mesmo quem somos. Meus olhos se abriram lentamente, percebendo que já era de manhã e que Luan permanecia ao meu lado sobre a areia. Ele, no entanto, tinha um olhar assustado voltado para frente.
Com os olhos semiabertos, olhei na mesma direção que Luan, levando um susto ao notar a figura postada alguns metros à nossa frente, nos encarando. A tal "Dama das Sombras", como era chamada por todos, ou Thalia, como Luan me contou ser seu nome no dia anterior, estava com um olhar vago voltado para nós dois.
— Escuta, não é nada disso que você está pensando. Dormimos bem longe um do outro, mas a maré deve ter vindo e empurrou o Kevin pro meu ombro — Luan tentou se justificar com a desculpa mais esfarrapada possível, afinal, nem molhados estávamos.
— Não ligo a mínima para o que os dois pombinhos fizeram ou deixaram de fazer. Se quiserem voltar para o acampamento, então me sigam — Thalia disse com uma voz profunda, dando as costas e começando a andar apressadamente pela areia com suas botas altas.
Eu e Luan trocamos olhares intrigados. O quanto Thalia viu? O quanto ela ouviu? Há quanto tempo estava ali? Como chegou lá? Eram tantas as dúvidas. Mas certamente a que mais preocupava Luan era se essa garota gótica iria contar a alguém sobre ter no flagrado dormindo juntos.
De qualquer forma, tratamos de nos apressar para nos levantar. Luan sacudiu sua camisa para tirar a areia dela e a vestiu. Eu, por minha vez, sentia meu rosto amassado pela forma como dormi ontem. Além disso, de nada adiantou dormir sobre o Luan, pois minha roupa estava igualmente suja de areia... Espera. Eu havia dormido em cima do Luan! Só então me lembrei disso, olhando para ele um tanto sem jeito com a lembrança.
Aproveitando que ainda estávamos descalços, nos aproximamos da margem do mar uma última vez para contemplar o oceano durante aquele nascer do sol. Fazia uns três anos que eu não vinha para a praia. E era também a primeira vez que íamos para a praia juntos, mesmo em circunstâncias adversas.
O som sutil de um clique fez-me voltar lentamente. Thalia estava tirando uma foto de nós dois com seu celular. Ela guardou o aparelho no bolso, virando-nos as costas sem demonstrar interesse em nossa reação.
Luan, ao perceber a situação, apressou-se em direção a Thalia, calçando os sapatos às pressas enquanto andava, de forma que quase caiu de forma desajeitada com o ato.
— Por que tirou essa foto agora?
Thalia, sem se virar, respondeu casualmente:
— Tem mais de onde veio essa. Tirei uma de vocês dormindo abraçadinhos de madrugada. Me passem suas redes sociais e eu mando as fotos para vocês.
A gótica nem notou que sua fala fez Luan engolir em seco e me encarar. Para ele, aquilo significava que ela claramente iria nos dedurar. Afinal, por qual outro motivo tiraria uma foto de nós num momento íntimo?
Além disso, se ela tirou uma foto nossa de madrugada, significava que ela estava por perto há horas. Poderia, inclusive, ter ouvido quando falei que amava o Luan... Aí caralho! Eu falei que eu amava o Luan! Nem estava me recordando dessa humilhação...
— Por que não se manifestou quando encontrou a gente ontem? Se estava nos procurando, não precisava ter esperado amanhecer — Perguntei enquanto adentrávamos a floresta.
— Procurando vocês? Tenho mais o que fazer — A garota lançou um rápido olhar para trás.
Foi então que percebi seus olhos, uma tonalidade amarela vibrante. Levei um susto ao vê-los. Será que ela realmente não era uma vampira, como os garotos sugeriram ontem?
— Lentes de contato — Se explicou, sem que eu tivesse sequer manifestado minha dúvida em voz alta.
— Hey, Luan. Na literatura vampiros conseguem ler a mente das pessoas? — Sussurrei para ele, ainda desconfiado. Luan balançou os ombros em resposta.
Thalia parecia conhecer o caminho de cabeça sem consultar mapa algum. Eu e Luan, por outro lado, nos sentíamos como palermas seguindo seus passos. Ela virava para os lados, contornava árvores, tudo como se soubesse o caminho de volta como as palmas da mão.
— Se você não estava nos procurando, você se perdeu também? — Tentei mais uma vez. Ela suspirou pesadamente antes de responder, dessa vez sem se virar.
— Não sou burra que nem vocês para me perder. Eu saí propositalmente. Calhou que ontem enquanto eu vagava pela floresta, vi dois idiotas perdidos e apavorados à deriva pela floresta. E então os segui. Preciso mencionar quem eram eles?
Não, ela definitivamente não precisava. Foi então que me dei conta que o som misterioso que acreditei ter ouvido ontem, era na verdade ela nos seguindo pelas penumbras da noite.
— E o que faremos quando chegarmos lá? Estarão todos preocupados com o sumiço de nós três. — Luan se aproximou, manifestando sua dúvida. — Precisamos inventar uma desculpa.
— Não, não estarão — A menina vestida de negro, respondeu de imediato. — Duzentos e dezenove alunos nessa excursão. Apenas cinco professores e um diretor para vigiá-los. Acha mesmo que eles têm controle se estão faltando um, dois, três, ou até dez alunos? Não é de hoje que dou uma escapada nas excursões, e volto sem ninguém perceber que sumi.
Não sei se eu botava fé em sua fala. Eu tinha amigos no acampamento. Fora que éramos um trio, não um indivíduo isolado como Thalia. Além disso, com todo o respeito, ela era praticamente invisível para todos. O mesmo não se aplicava para mim e Luan. Certamente já haviam montado equipes de busca ao nosso resgate.
Chegamos ao acampamento de maneira surpreendentemente rápida. Estávamos tão perto, e nem fazíamos ideia. Várias tendas estavam expostas na clareira, todas fechadas, indicando que ainda era muito cedo e ninguém havia acordado. Pela tranquilidade do local constatei que, infelizmente, a gótica tinha razão. Ninguém notara nossa ausência.
— E agora? Em qual barraca entramos? — Luan sussurrou, buscando uma solução ao olhar ao redor. — Se entrarmos em qualquer uma, corre o risco de acordarmos alguém.
— Entrem nessa — Thalia abriu lentamente o zíper de uma barraca mais afastada. Aproximei-me curioso, mas, para minha surpresa, estava vazia. — Eles sempre me deixam de lado, para minha sorte. Ninguém quis ficar comigo, por isso, antes de sair ontem, deixei essa barraca separada apenas para mim.
— Não sei se é uma boa ideia. Quando virem eu e Kevin saindo de uma barraca com uma outra garota... E ainda mais essa garota sendo você...
— Entrem logo! — Thalia deu um forte empurrão em nossas costas, nos jogando para dentro da barraca. Ela entrou em seguida, usando o zíper interno para nos fechar dentro da barraca.
A cabana era razoavelmente grande e quente, podendo acomodar facilmente umas seis pessoas. Thalia se acomodou no canto da tenda, afastada de nós dois. Curiosos, eu e Luan a observávamos, enquanto ela se mantinha agarrada aos próprios joelhos, olhando em direção à porta da tenda como se esperasse por algo.
E logo veio, um som estridente de apito sendo usado várias vezes seguidas. Do lado de fora, algum dos professores o utilizava para acordar todos do sono. Luan confirmou isso ao olhar pela pequena brecha da abertura.
— Certo, todos estão saindo. Tenho uma ideia, primeiro saímos eu e Kevin. Você espera uns cinco minutos e então sai também quando ninguém estiver olhando, assim não vão achar que dormimos juntos — Luan compartilhou seu plano em um sussurro.
Thalia, entretanto, não parecia ter paciência para rodeios. Quando eu abri sutilmente o zíper da cabana, ela nos empurrou para fora, fazendo com que caíssemos de quatro diante de todos e chamando a atenção de quem estivesse por perto.
Totalmente despreocupada, Thalia saiu da cabana passando entre nós dois caídos no chão, como se aquele espetáculo não significasse nada para ela. Nossos amigos, os alunos desconhecidos e até mesmo os professores desviavam o olhar, enquanto continham o riso que claramente queriam soltar. Afinal, todos acreditavam que eu e Luan havíamos dormido na mesma tenda que a gótica sombria!
🧛♀️🖤
Com meu boné em minha cabeça para esconder os vestígios de areia em meu cabelo, tentando evitar explicações desnecessárias, eu e Luan decidimos, enfim, andar na linha pelo restante da excursão, apesar do cansaço evidente pela noite mal dormida.
Nossa exótica salvadora Thalia, seguia à frente, imersa em sua própria jornada solitária pela floresta, ocasionalmente recebendo chamadas de professores por estar longe demais de suas vistas, que ela prontamente ignorava.
No meio de nossa desventura, uma onda de risadas ecoou pelo ambiente quando Lucca, em uma tentativa audaciosa de imitar um esquilo recém-observado, decidiu escalar uma árvore imensa. No entanto, o galho não suportou seu peso, resultando em uma queda abrupta ainda no início de sua escalada. Os professores ficaram furiosos com a sua imprudência, enquanto os demais se deleitavam com risos diante de seu infortúnio. Até mesmo Luan, normalmente contido, não resistiu e deixou escapar uma risada genuína ao testemunhar a cena engraçada de Lucca se espatifando no chão.
Indo ainda mais fundo na floresta, nós nos deparamos com uma visão impressionante: algumas araras azuis, com suas penas vibrantes, descansavam nos galhos das árvores. Empolgados, todos tentamos nos manter silenciosos a fim de não assustar as aves e podermos contemplá-las. Contudo, um repentino espirro de um catarrento atrás de mim ecoou pelo ambiente, desencadeando um frenesi alado enquanto as araras levantavam voo, colorindo o céu com a beleza encantadora delas.
Na nossa pausa para o almoço, encontramos um refúgio repleto de plantas exóticas e flores vibrantes, cujos perfumes e beleza cativavam mais as meninas do que nós, garotos. A pausa e o ambiente escolhido também se tornaram propícios para que muitos de nós iniciassem nossas atividades de pinturas das paisagens naturais.
Já eu esboçava cuidadosamente em meu caderno, enquanto Luan, por fim, decidiu seguir o mesmo caminho, embora suas habilidades artísticas não parecessem ser um de seus talentos. Eu me garantia na arte de desenhar, por mais que não fosse um Leonardo da Vinci nem nada do tipo. Mas Luan, meu Deus! Seus desenhos eram tão indecifráveis que pareciam hieróglifos feitos com uma língua morta. Quem sabe no futuro se acharem seu caderno de desenho, ele não se torne uma figura a ser estudada.
Após lancharmos alguns sanduíches, percebi repentinamente a cabeça de Luan pendendo em meu ombro. Assustado, olhei em sua direção, apenas para me dar conta de que ele havia sucumbido ao sono que nos consumia. Eu estava me sentindo o rei do mundo em tê-lo aconchegado junto a mim, assim como ele fez o mesmo quando passamos a noite juntos. Eu definitivamente não queria acordá-lo. Mas, também tinha consciência de que logo menos alguém o veria aconchegado em meu cangote, mesmo que estivéssemos mais distantes de todos.
Agindo rapidamente, retirei meu boné e o coloquei sob a cabeça de Luan, ocultando seus olhos ao inclinar a aba para frente, evitando que o fato de estar dormindo fosse descoberto.
— Calma, Luan. Sei que a Dama das Sombras rejeitou seu pedido de namoro, mas esse não é o fim do mundo. Não precisa chorar — Falei em voz alta, me certificando de que a maioria que estivesse próxima pudesse escutar, enquanto dava leves tapas em suas costas.
Pronto. A merda já estava feita. Luan seria alvo de piadinhas pelo resto da vida por, supostamente, ter sido rejeitado pela gótica que todos evitavam. Ao menos, ninguém suspeitaria de nossa relação, pensando que eu estava apenas o confortando.
🐾🐱
A noite já estava caindo quando embarcamos no ônibus de volta para casa. Caminhando pelo corredor, ouvi uma pigarreada atrás de mim, chamando minha atenção.
— Senhor Drummond, poderia me dizer o que é isso?
Girei lentamente, receoso do que poderia vir — temendo que fosse alguma evidência de minha escapada na noite anterior —, enquanto Luan dirigia-se para o fundo do ônibus despreocupado.
O diretor estendia sua mão aberta, onde um simples papel de bala repousava. O mesmo que eu havia acabado de jogar no chão da floresta antes de embarcarmos no veículo. Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios.
— Um papel de bala, ora — respondi prontamente. Risadas ao redor ecoaram diante da resposta, irritando ainda mais o diretor.
— Um papel de bala! — Ele repetiu, encarando-me com irritação. — Você vem para a natureza e, em vez de ter aprendido a cuidar do meio ambiente, o trata com desprezo? Pegue-o de volta e jogue no local apropriado. Pela infração, na próxima excursão de nosso colégio, você estará suspenso.
Enraivecido com a atitude do diretor, agarrei o papel de bala e, frustrado, o guardei no bolso. Retomei meu caminho pelo corredor do ônibus, ciente do olhar incisivo do maldito diretor sobre mim.
No caminho do meu assento, deparei-me com Thalia, solitária na fileira do meio. Ela estava imersa em seus fones, observando a paisagem lá fora pela janela. Ao perceber minha presença ao seu lado, desviou um olhar sombrio na minha direção.
— Nem ouse se sentar aqui — ela falou friamente, jogando sua mochila no assento vago ao seu lado, enquanto retirava seus fones dos ouvidos.
— Alguém irá se sentar, de qualquer forma. Estamos em número par nesse ônibus, com todos os assentos ocupados. Se esqueceu da ida?
Não tinha intenção de me juntar a ela na volta para casa, ainda assim a intrigante preferência de Thalia pela solidão despertava minha curiosidade.
— Esqueceram um aluno na floresta. Só vão se dar conta no meio do caminho, ou até mesmo só depois que chegarmos. Sendo tarde demais para retornarem — ela comentou em tom baixo, exibindo um sorriso meia lua pela primeira vez. — Eu não vou contar da ausência dele, você vai?
Diante de suas lentes amarelas que me fitavam, balancei a cabeça negativamente. Ele ficaria bem, certo? Se eu sobrevivi a uma noite perdido na floresta, com fome, sede e frio; ele também sobreviveria.
Thalia parecia acostumada a situações desse tipo. Seu olhar observador notou a ausência de alguém que até mesmo os professores desatentos, responsáveis por nós, não perceberam.
Acreditando que não tínhamos mais assunto, ela colocou os fones de volta e virou o rosto. Contudo, eu ainda tinha algo a dizer:
— Obrigado por hoje. Não tive a chance de agradecer mais cedo, mas somos muito gratos. Eu e o Luan.
Embora tenha tido a impressão de vê-la esboçar um sorriso, não pude confirmar, já que ela não virou o rosto. Satisfeito, finalmente me encaminhei para meu assento com a mochila nas costas.
— Por que tenho a sensação de que todos estão rindo de mim? — Luan indagou assim que cheguei ao seu lado, ambos nos últimos assentos do ônibus.
Enquanto guardava minha mochila na plataforma acima dos bancos, dei de ombros, como se estivesse alheio ao assunto. Luan me mataria se descobrisse que tive que inventar que Thalia o rejeitou.
— Deve ser impressão sua.
— E então? O que o diretor queria contigo dessa vez?
— Nada demais, apenas estou proibido de ir ao próximo passeio, tudo por causa de um papel de bala — comentei ao finalmente me sentar ao seu lado. — Esse velho é insuportável, exige perfeição de mim, sendo que o filho dele é cem vezes pior.
De longe, observei o diretor animadamente conversando com um dos professores nas primeiras fileiras. O ônibus começou a se mover, fazendo Luan direcionar o olhar pela janela.
— Posso te perguntar uma coisa? — indaguei, com algo que estava encucando minha cabeça há um bom tempo. Luan olhou em minha direção, curioso. — O filho do diretor, Rafael, e o amigo dele, Felipe. Por que você é amigo desses dois?
— Por que essa pergunta assim do nada?
— Eu quero saber, Luan. De todos os mistérios que te permeavam no começo, esses dois parecem ser os únicos que ainda não sei nada a respeito. Estavam lá quando nos conhecemos, e você arriscou ser expulso para ajudar o Rafael a pregar uma peça no diretor, mas hoje parece que nem são mais próximos.
Tinha conhecimento de que a curiosidade matou o pobre do gato, ainda assim eles tinham me chantageado. Não queria revelar isso ao Luan, mas ansiava por uma moeda de troca se eles viessem atrás de mim. Além disso, certamente aqueles terceiranistas não eram imunes a escândalos. Seria útil ter uma prova de que o filho do diretor era pior do que eu.
— Se lembra que mencionei que antes de entrar para o time da escola, eu jogava basquete de rua? — Luan perguntou e eu assenti. — Pois então, conheci Rafael e Felipe lá, pouco antes das aulas começarem. Eles não são do time da escola, mas de vez em quando jogam como hobby nas quadras públicas do bairro.
"Eu meio que criei uma certa identificação com eles nessa época. Não eram exatamente o tipo de caras que eu queria ter por perto, mas, ao mesmo tempo, achei que não conseguiria fazer outros amigos em nossa escola com minha personalidade. Ao menos eu teria pessoas que compartilhavam do mesmo hobby que eu. Nunca imaginei que a pessoa que eu mais me tornaria próximo, no entanto, seria um nerd idiota."
Luan sorriu adoravelmente em minha direção, e desta vez optei por relevar o fato de ele ter me chamado de nerd.
— Mas eles eram encrenca, Kevin. Mais do que estou acostumado. Me convenceram de que Rafael tinha acesso às chaves do diretor e, com isso, poderíamos roubar as provas antes dos exames para saber as respostas. As provas bimestrais, semestrais e os exames finais. Nosso plano era invadir a sala de provas da escola e roubá-las nas respectivas datas.
"Eu estava disposto a ajudá-los. Eu não me importava com nada. Estudar química? Sem chance. Mas então, eu conheci você. E foi então que comecei a me importar com coisas que até então não me acrescentavam nada. Por isso, eu pulei fora. Falei para eles que não participaria mais disso."
— E aí parou de falar com eles?
— Meio que sim, Kevin. Sei que eles não fizeram nada de mal a mim, mas na real já não tinha mais sentido querê-los próximos a mim. Não tenho mais tempo de jogar com eles, e nem temos mais nada em comum. Não os vejo como pessoas más, apenas não acho que queira mais a amizade deles. Ainda assim, vez ou outra eles me cercam, puxam assunto de forma forçada. Não falam diretamente, mas imagino que seja para se assegurarem de que não vou abrir o jogo sobre eles estarem roubando as respostas dos exames. Nem é minha intenção dedurá-los.
Coloquei a mão em sua coxa, buscando transmitir que estava tudo bem. Isso explicava muita coisa. Rafael e Felipe me ameaçaram, preocupados que Luan tivesse compartilhado sobre as provas e temendo que ele expusesse suas ações.
Ponderei sobre contar a verdade a ele, revelar que esses dois estavam nos rondando, dispostos a qualquer coisa para evitar que os entregássemos. No entanto, antes que pudesse fazer isso, meu celular vibrou com uma notificação.
Ao pegá-lo, notei uma nova mensagem de um número desconhecido. Depois de abrir o aplicativo, deparei-me com fotos de nós dois: eu dormindo sobre o peito de Luan na noite anterior na praia e outra ao amanhecer de nós dois em frente ao mar.
Não fazia ideia de como Thalia conseguiu meu número, mas a foto de perfil de um gato preto indicava que só podia ser ela. Sorri com as imagens enviadas, guardando o celular antes que Luan pudesse bisbilhotar.
— Sabe, sobre a Thalia, não precisa se preocupar. Ela não vai dizer nada a ninguém. Acho que ela é gente boa.
— Hum — Luan me olhou com a sobrancelha erguida. Não sabia se foi meu sorriso para ele ou se já estava prestes a comentar, mas ele falou de repente: — Bom, tenho que admitir que você estava certo. Me diverti bastante nesse passeio, Kevin. Obrigado por fazer desses uns dos melhores dias da minha vida.
Mordi os lábios inferiores, acanhado, apenas balançando levemente a cabeça. Não tinha percebido até então os sacrifícios que Luan fez para estar ali, como faltar dois dias no trabalho e enfrentar sua suposta fobia social — se é que a tinha de fato. Mesmo sem ter respondido à minha declaração de amor na noite anterior, sentia que ele estava desenvolvendo sentimentos por mim, possivelmente de forma mais lenta do que eu. Sob as expectativas do futuro, não pude conter meu sorriso.
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