10. O Melhor Jogador
Para a minha infelicidade, devido à chuva que tomei naquele dia, acabei ficando gripado. Precisei manter repouso por uma semana, enfrentando uma febre intensa e a incapacidade de sair da cama. Embora minha saúde devesse ser a principal preocupação, o que realmente me incomodou foi passar uma semana inteira sem poder falar com Luan.
Somente no sétimo dia, quando minha febre finalmente cedeu, me senti pronto para voltar à escola. Minha mãe, surpresa com meu repentino entusiasmo, queria que eu ficasse mais tempo em casa, estranhando minha mudança de comportamento. Até então, eu não era o maior fã da escola, preferindo muito mais ficar em casa jogando vídeo games. Mas agora, eu tinha algo que me motivava a pisar naquele "zoológico humano". Ou melhor, alguém.
Ao adentrar a sala de aula, fui saudado por Vinicius com um aperto de mãos caloroso.
— Olha só quem apareceu.
— O que aconteceu? — questionou Douglas, enquanto eu me sentava ao seu lado.
— Fiquei gripado. Mas agora já estou melhor — respondi, lançando um olhar esperançoso para o fundo da sala. No entanto, minha expressão de decepção se revelou quando percebi a ausência do garoto que ocupava meus pensamentos.
— Seu amigo também anda sumido. Não aparece na escola desde que você começou a faltar — Vinicius revelou, percebendo minha animação se extinguir.
Se Luan não estava aparecendo, isso significava que ele também havia ficado gripado, assim como eu?
🏀
Ao concluir que as frequentes ausências de Luan poderiam colocá-lo em risco de ser expulso do clube de basquete, que ele havia recém entrado, decidi abordar o treinador do seu time após as aulas para explicar a situação. Convencido de que Luan poderia estar doente e ter perdido os treinos iniciais, encaminhei-me à quadra fechada de basquete assim que o sinal de término das aulas tocou.
Fiquei chocado ao me deparar justamente com Luan ao chegar no local, imerso no seu treino, o que indicava que ele já não estava mais doente, se é que em algum momento esteve. A equipe da escola se dividiu em dois times, onde parte deles estava utilizando uma regata de cor vermelha e o time oposto usava uma branca, algo que conferia uma aura de energia à quadra.
O treinamento era intenso, com o som ritmado dos tênis squeak contra o piso ecoando pela quadra tal como do eco constante do som da bola quicando. Luan não havia percebido minha presença repentina, de forma que decidi me acomodar nas arquibancadas para observar o treino, maravilhado com a habilidade dele. Bom, talvez não fosse apenas as habilidades dele que eu estivesse admirando.
O suor escorria pelo seu rosto enquanto ele driblava habilmente entre os adversários, destacando-se no mar de jogadores. Enquanto Luan continuava a treinar, pude apreciar lances incríveis. Seus movimentos eram fluidos, e sua habilidade em roubar a bola dos adversários era notável.
Enquanto eu observava a partida de basquete, percebi duas garotas sentadas um pouco mais atrás de mim. Elas cochichavam entre si, seus olhares fixos nos garotos em ação no treino. Luan, além de se destacar como o jogador mais habilidoso naquele treino, também carregava consigo o título de mais gato do local. Ficou claro que o olhar encantado das meninas estava direcionado especificamente para o menino de olhos verdes.
Essa evidente admiração delas por Luan despertou em mim um sutil sentimento de ciúmes. Ao contrário delas, eu precisava disfarçar meu interesse por ele. Resolvi voltar minha atenção para a partida, tentando ignorar a presença das garotas e focando-me no jogo que se desenrolava diante de nós.
Luan, em uma jogada surpreendente, driblou dois defensores antes de lançar a bola em um arco perfeito que a fez mergulhar na cesta. Os demais jogadores, guiados pelo treinador, executavam jogadas estratégicas, explorando cada brecha na defesa adversária.
Se dependesse de mim, poderia passar toda a tarde admirando os músculos de Luan se destacando por debaixo de sua regata enquanto treinava. Enquanto fitava seu olhar determinado para ganhar aquela partida. Poderia até ter que esconder meus sentimentos e atração por ele dos outros, mas pelo menos agora não precisava esconder isso de mim mesmo.
Entretanto, o som do apito do treinador cortou o ar, fazendo com que todos parassem seus movimentos. O treino havia chegado ao fim. Mesmo sem saber a pontuação final, ficou evidente que os camisas vermelhas, o time de Luan, ganharam de lavada dos camisas brancas.
Enquanto alguns membros guardavam as bolas e limpavam o local, outros se dirigiam ao vestiário no fundo da quadra. Foi nesse momento que Luan aproveitou para pegar sua garrafa de água no chão a fim de se hidratar. Enquanto bebia, o olhar dele se voltou para a arquibancada, e finalmente, ele notou minha presença.
As garotas atrás de mim, acanhadas e imaginando que Luan estivesse olhando para elas, saíram aos tropeços da arquibancada e dirigiram-se para fora da quadra, satisfeitas pelo simples ato de receberem uma suposta olhada do maior gostoso da escola. Quero dizer, do maior marginal. Droga!
Não posso negar que também fiquei um pouco sem jeito quando o vi se aproximando. Não nos falamos desde o dia do sarau, desde o dia em que ele me beijou...
Ele parecia um tanto quanto relutante sobre se deveria ou não se aproximar. No entanto, uma vez decidido, Luan se sentou ao meu lado. Meu olhar estava trêmulo, mas fiz um esforço para focar nos seus olhos.
— E aí — finalmente disse, enquanto tomava mais um gole de água de sua garrafa. — Andei meio sumido. Fiquei doente depois daquele dia.
— Eu também — afirmei, soando um tanto receoso das palavras seguintes.
— O que deu em você agindo assim todo tímido? Até parece que nunca me viu.
Luan riu, mas eu não consegui compartilhar da descontração dele naquele momento. A verdade é que, por mais que não tivesse conseguido tirá-lo da minha cabeça nos últimos dias, eu nunca cheguei a pensar no que dizer quando chegasse o momento de nos encontrarmos.
Agora, com nós dois sentados lado a lado na arquibancada, eu buscava as palavras no meu íntimo enquanto observava os jogadores restantes deixarem a quadra, empurrando o carrinho com as bolas de basquete. Estávamos finalmente a sós.
— Por que você age como se nada tivesse ocorrido? — perguntei, cabisbaixo, entrelaçando os dedos das minhas mãos. — Você sabe o que quero dizer... Você me beijou naquele dia, Luan.
Quando olhei para ele, percebi que sua expressão se fechou imediatamente diante da minha fala. Seu jeito descontraído desapareceu, como se estivéssemos retornando exatamente de onde paramos naquela noite.
— Ah, sobre aquilo. É só esquecer isso, mano. Eu fiz aquilo porque foi a única forma que pensei em fazer você calar a boca. Você me tirou do sério.
— Me beijou para que eu me calasse? Se estava com tanta raiva de mim, por que não deu um soco na minha cara então? É o que qualquer cara faria, em vez de beijar outro!
Exaltei-me mais do que planejava, mas a forma como ele falou me deixou irritado. Ao mesmo tempo, tentei evitar demonstrar maiores sinais de minha decepção.
— Relaxa, cara. Sei que foi vacilo meu fazer isso, mas foi só duas bocas se encostando, nada além disso. Nem acho que deveria contar como beijo. Eu só não queria te bater, mesmo que você estivesse merecendo naquele momento. Ou vai me dizer que você pensou bobagem depois que fiz aquilo?
— Não, claro que não! Ainda bem que foi só algo de impulso. Sai fora se você tivesse a fim de mim, curto isso não — me defendi imediatamente, tentando fazer a risada mais forçada da minha vida soar natural. O sorriso no rosto de Luan voltou a iluminá-lo após eu falar isso.
Um sorriso se desenhou em meu rosto também. Mas, isso era apenas por fora. A partir daquele beijo, percebi que tinha sentimentos por Luan. No entanto, ao saber que não era recíproco, me restava apenas fingir que estava tudo bem. Fingir que eu não estava gostando dele. Por dentro, eu estava dilacerado.
— Me desculpa — ele disse, me encarando. Fiquei surpreso com seu gesto repentino. — Você me disse que nunca beijou ninguém, e eu fui lá e estraguei isso. Veja só, logo seu primeiro beijo sendo com um amigo. Definitivamente não é algo que vai sair contando orgulhoso por aí.
Neguei com a cabeça, mostrando que não era minha intenção contar para ninguém sobre o ocorrido – Ele não precisava saber que Leh já sabia. De toda forma, quando ele me pediu desculpas, pensei que ao menos estaria se referindo ao seu comportamento no sarau de poesias.
Mas nem isso ele foi capaz de fazer. Ele não percebia o quão errado e injusto foi comigo naquele dia. Eu nem sabia mais por que estava ali. Tinha todos os motivos do mundo para odiá-lo. Um beijo não deveria ter mudado tanto minha opinião sobre si, especialmente agora que soube que foi um beijo sem significado algum para ele.
Estava criando expectativas e enxergando nele qualidades que talvez nem existissem. Estava projetando nele o cara mais incrível que já conheci, a pessoa que eu mais gostaria de estar perto. Mas, talvez, não passasse disso. Talvez fosse apenas uma projeção da minha cabeça.
— Ainda não foi se trocar, Luan? — uma voz de forte entonação quebrou o silêncio entre nós, fazendo-me olhar para frente.
Christian, o ficante de Letícia, saía do vestiário e, de uma certa distância, acenou para Luan. Sua mochila pendia em seu ombro, enquanto dirigia-se à saída da quadra.
— Mandou bem hoje no treino — finalizou, acenando para Luan, que retribuiu o gesto.
Eu nem sequer havia notado que Christian fazia parte do time de basquete. Mais do que isso, Luan parecia se dar bem com ele. O rebelde ao meu lado finalmente estava começando a criar novos vínculos de amizade dentro do seu clube?
Bom, pouco me importava saber disso agora. Só precisava fingir por um tempo que estava tudo bem entre nós, para não passar a ideia errada, e depois me afastar de vez, a fim de não me magoar mais do que eu já estava.
Conforme outros alunos do time de basquete foram saindo do vestiário após tomarem uma ducha, Luan se levantou ciente de que deveria se apressar para tomar um banho antes de ir embora.
Ele acenou com a cabeça em despedida, e eu retribuí o gesto com um sorriso amarelo. Fomos para lados opostos, ele para o vestiário e eu em direção a porta da saída quadra.
Antes que minha mão tocasse no puxador da porta da quadra, meu ombro foi puxado violentamente, fazendo-me virar. Luan estava diante de mim, seu olhar travesso, de volta ao seu rosto, me fitava bem próximo.
Confuso com seu repentino retorno, olhei ao redor, percebendo que todos já haviam saído. Mesmo assim, temendo que alguém pudesse ouvir, Luan aproximou seus lábios da minha orelha, sussurrando de forma que pude sentir sua respiração próxima:
— Esqueci de mencionar uma coisa. Ninguém gosta de ouvir isso, mas é melhor ouvir de um amigo do que de alguma garota que você beijar. Você beija mal, Kevin. Te devo uma por ter estragado a experiência do seu primeiro beijo. Então, caso queira, posso te ensinar a como beijar de verdade. Claro, apenas para não passar vergonha quando sair com uma garota.
Meu coração começou a acelerar freneticamente diante de sua proposta. Ele estava mesmo sugerindo o que eu penso que estava?!
— Se você quiser, posso te ensinar a beijar de jeito e com pegada — ele repetiu a proposta, ainda sussurrando próximo ao meu ouvido. — Quando estivermos sós, podemos colocar em prática o seu treinamento. O que me diz?
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