Capitulo 15


Pov Marina

Isso já tinha se transformado em um habito, uma rotina, ou melhor, a melhor parte da minha rotina. Nas manhas de segunda sexta nos encontramos por meia hora, juntos e a sós, na parte mais isolada da empresa e então nós... juntamos nosso café da manhã e fazemos uma espécie de piquenique sob o céu com a segunda melhor vista da cidade. Talvez não fosse a coisa mais romântica do mundo, mas nenhum de nós queria algo romântico, na verdade aquela era a coisa mais adorável e casual do mundo, o Inverno estava quase no fim e a Primavera chegaria logo, no terraço do maior prédio da cidade sentíamos essa mudança na pele, no ar, no céu e em nós mesmos, naquele alto tudo era mais intenso.

Nas semanas sombrias em que Alice sumira e que tomaram um terço do Inverno eu disse um dia para ele:

- Porque esse tempo cinza e úmido combina tanto com você? Porque esses dias miseráveis se parecem tanto com seu rosto agora?

Naquele dia eu toquei sua pele pela primeira vez, ele estava gelado e pálido como morto naquele inverno no alto do céu, o céu cinza e pesado fazia sua pele parecer ainda mais pálida, fazia parecer seus olhos mais escuros e densos, embaixo dos seus olhos algumas olheiras roxeadas e os lábios ressecados e vermelhos.

Minhas palavras pareciam duras, mas no meu coração eu só sentia uma tristeza imensa e uma paixão doida ao ver seu rosto assim, talvez ele soubesse, pois ele não me disse nada, apenas aceitou meu toque e esboçou um sorriso conformado. Meu coração doía em ver como o céu e sua imagem caia miseravelmente e lindamente bem, como se ele fizesse parte daquela densidão.

- Sempre foi assim. Talvez... seja sempre assim, eu pertenço ao Inverno – Se conformou.

Seu rosto se mexeu na minha mão e eu mexi mais uma vez, num carinho, suas bochechas pálidas criaram cor em meio ao cinza do céu.

- Não, não pertence, não a esse inverno. Vamos entrar.

Hoje, estamos perto da Primavera.

- Estamos quase na primavera e você está linda, Marina.

Julian disse de repente, tão casualmente como se dissesse Bom Dia. Ele me completava sereno, com um sorriso divertido nos lábios.

- O que...?

- É sim. Você fica ainda mais bonita na primavera, como se você pertencesse a ela, como se fosse a própria primavera, você merece ela. Você está linda e eu mal posso esperar pra te ver no verão.

...

Desviei o rosto ardente, queimava como meu coração naquele momento, rezei pra que ele não ouvisse as batidas tão fortes que quase doíam, as vezes Julian era absurdamente espontâneo e contrariava toda a sua personalidade. Era intenso e quente, eu nunca sabia qual o próximo absurdo que ele poderia dizer.
Olhei pro seu rosto fingindo irritação, ele deu uma risadinha boba e desviou o rosto para o outro lado. Sorrio e me inclino em direção a ele.

- E eu mal posso te esperar pra te ver no verão também. Eu te disse antes... sua imagem não pertence ao Inverno, você não pertence ao inverno... você pertence ao um verão novo e feliz... comigo.

Seus olhos se levantaram levemente, depois de segundos de uma contemplação atônita, por fim ele sorriu sincero.

- Vamos sair antes do verão chegar, só nos dois.

- ... sim, só nos dois.

Perto da primavera o sol voltou a aparecer e o céu azul e interrupto também. O tempo estava mais quente e o meu coração também, o frio do inverno do coração de Julian derretia e esquentava junto, a cor do seu rosto voltava.

Estávamos perto da Primavera e Julian estava lindo. 
                            

               
{...}


Eu estava esperando a mais de cinco minutos e já tinha perdido a conta de quantas vezes eu já tinha checado o relógio, dez minutos, Julian estava atrasado dez minutos e isso não era do feitio dele. Será que eu tinha errado o dia? A hora? Será que eu tinha sido enganada? Eram raras as vezes que eu não sabia o que algo significava. Alice saberia o que fazer, se fosse com ela... com apenas dez minutos de atraso ela sairia marchando e nunca mais olharia na cara dele, não importa a desculpa, tenho certeza que ela faria isso.

Sinto um arrepio na espinha ao pensar nela e Julian juntos, não! É... não, eles nunca dariam certo, isso nunca aconteceria.

Luto contra um impulso de mandar mensagem pra ela, ela sim saberia o que fazer. Contei a ela sobre hoje, sobre isso...

Ela também saberia o que eu deveria vestir. Eu decidi usar um vestido branco de tecido fino e rendado, sua delicada renda fazia uma manga até meu cotovelo e o seu tecido rodante só ia até um pouco acima do meu joelho. Era o mesmo vestido que eu tinha escolhido no shopping aquele dia com Alice, e um dos poucos que eu realmente gostei. Decidi não usar salto, não estava nem louca! Estaria mentindo se dissesse que não queria ser carregada por Julian de novo, e não sentir seu cheiro e sua voz bem perto de mim, ou sentir seu corpo e suas mãos e...

Pronto! Eu estava viajando de novo. De qualquer jeito nem o meu desejo era maior que o medo da dor de andar de salto de novo.

Meus cabelos estavam amarrados num rabo de cavalo alto, uso meu celular como espelho e soltos algumas mechas perto da minha orelha e na minha testa. É, agora estava bem melhor.

- Que bom que não veio de salto, eu não queria ter que te carregar nas costas até o final do dia.

Sua voz suave me fez perder o folego e eu olhei pra trás, lá estava ele.
Eu não sabia se era porque o sol reluzia nele ou se eu só estava feliz demais, mas ele parecia mais incrível a cada dia que passava, hoje especialmente, uma blusa preta cobria seus braços, mas uma gola de corte V revelava um pouco do seu peito, sua blusa estava enfiada por debaixo da calça jeans clara e um cinto preto simples, nós pés, apenas um par de tênis brancos. Na verdade, todo o seu look era simples, mas combinava com ele como se fosse sua segunda pele, talvez Alice reclamaria, mas eu achava maravilhoso.

Ele sorriu de orelha a orelha e correu até mim, eu permaneci parada, quando chegou ele estava meio ofegante - dava para ver que tinha corrido - as bochechas um pouco vermelhas, nenhum de nós disse nada, apenas admirávamos um ao outro. De perto dava para ver seu cabelo molhado e penteado pra trás, ainda meio bagunçado umas mechas caiam sobre seu rosto, umas gotas molhavam seu pescoço e escorriam pela sua pele, eu acompanhei cada movimento delas, que faziam sua pele clara brilhar contra a luz do Sol, de perto sua blusa parecia um pouco justa e marcava seu corpo bonito que começava a ficar adulto, só acompanhei até onde o tecido não cobria e levantei meu olhar pra ele, com muito esforço.

- Te fiz esperar muito? Me desculpa eu...

- Não... está tudo bem – O tranquilizei – Eu não esperei muito.

Ele sorriu aliviado, se eu observasse bem eu podia ver ele apertando suas mãos fortemente, estava nervoso, seus olhos não paravam em mim, olhavam pra mim intensamente e depois se censuravam e olhavam pra outro lugar. Era sexy e adorável ao mesmo tempo.

- Então o que preparou para o nosso encontro? – Perguntei brincalhona, da forma mais casual possível, tentando o tranquilizar.

Ele sorriu nervosamente e eu sorri maroto, era divertido assistir.

- Tem um parque japonês aqui perto e um restaurante dentro do parque das cerejeiras onde você pode comer debaixo de uma delas, é primavera e elas desabrocharam, as flores não vão durar muito, mas eu queria te levar pra ver antes que caíssem de novo... E depois...! Depois a gente pode dar uma volta pelo parque, tomar um sorvete. O que você acha?

Sorri maravilhada, ele tinha planejado tudo mesmo.

- Parece perfeito!

Ele sorri em resposta e pega minha mão sem aviso, esquecendo de todo o seu nervosismo de antes. O caminho era curto e o fizemos um silencio, comtemplando a cidade a nossa volta, que brilhava debaixo do céu azul e o sol estonteante de meio dia, sentia minha mão quente e a dele também, o coração quente, o rosto quente, virei meu rosto e fiquei o observando, ele estava bem diferente do Inverno, me derretia o coração o ver bem assim, nem que seja apenas olhando para o céu, seu rosto estava sempre tão atormentado e frágil, os traços finos e delicados não aguentariam essa dor desconhecida que ele carregava. Só hoje e apenas para mim, ele me parecia em paz.

Chegamos no restaurante em poucos minutos e meus olhos não paravam quietos num lugar, admirando a cada canto o lugar era esplendido, sua estrutura era toda no estilo japonês e combinava muito bem com as cerejeiras que estavam por toda a parte, o rosa único das flores e de algumas pétalas que voavam pelo vento me encantava.

- Então você gostou do lugar? Eu amo aqui... não sei... imaginei que você fosse gostar também, é a sua cara.

- Eu adorei... não sei como você me conhece tão bem.

- Para falar a verdade nem eu sei, acho que você e eu somos muito parecidos.

- Talvez. Sim... nós dois merecemos isso.

Sorrimos cumplices e sem precisar de uma palavra, caminhamos juntos e de mão dadas pelo lugar, procurando por uma mesa.

Não demoramos muito até achar uma debaixo de uma cerejeira, eu já ia puxar minha cadeira quando Julian a alcançou e a puxou pra mim, permaneci parada por uns segundos, atônita, eu olhei pra ele, mas ele não olhava pra mim, mantinha a cabeça por outro lado, me inclinei e notei um sorriso, ele se segurava pra não rir e eu sorri junto, me demorei e me sentar e quando o fiz ele empurrou a cadeira um pouco pra frente. Éramos imaturos e rimos durante todo o processo, rimos baixinho, se segurando como se ainda nenhum de nós tivesse notado o riso do outro. Não de nervoso, porque toda aquela situação era engraçada.

Quando o garçom veio até a nossa mesa ainda riamos um pouco.

- Escolha o que quiser... você vai ajudar a pagar mesmo.

Rimos sem nem nos preocupar, de canto de olho eu vi o garçom segurar o riso. Passei meus olhos pelo cardápio, era um prato mais deliciosos que o outro, passos que eu sempre quis experimentar.

- Eu quero... – Passei os olhos pelo cardápio, mas uma vez e um prato me chamou a atenção, Era um prato vegetariano e parecia delicioso – Eu quero um espaguete mediterrâneo, por favor.

Ele anotou o pedido e olhou para o Julian.

- Eu quero um Espaguete Carbonara, por favor – ele pegou nossos cardápios e entregou para o garçom, que anotou o seu pedido e foi embora.

Observamos o garçom ir até ele sair da nossa vista e nos olhamos, sozinhos de novo.

- Por acaso... você é vegetariana? Desde que eu te conheci eu notei que você nunca comia carne.

- Sou sim, faz uns anos já.

- Entendi...

Um silencio desconfortável se formou e olhamos para lados opostos, comtemplando o cenário como se fosse a coisa mais importante do mundo. Nenhum de nós pensou antes em como isso seria estranho. Nunca saímos sem a Alice, no trabalho era diferente, mas agora que estávamos num encontro de verdade e sabíamos muito bem a intenção que tínhamos, sabíamos muito bem a intenção de um encontro romântico, nenhum de nós sabia o que fazer. A ideia do encontro agora me parecia quase absurda, éramos dois amigos agora, mas e depois? Quão de experiência nos temos?

- É tão estranho, não é?... Sair sem a Alice – Ele foi o primeiro a declarar a triste verdade, junto a uma risada nervosa.

Ele passou a mão no cabelo, sem graça, o rostinho contido e uma sombra de um sorriso tímido. Junto com a sua característica e adorável risada, eu senti que era a primeira vez no dia que Julian agia realmente como o Julian.

- Sim... – Suspirei – Afinal só nos conhecemos por causa dela.

- É uma das poucas coisas que temos que agradecer a ela.

Nós dois rimos, o tempo passava e essa implicância dos dois não passava, mas acredito que pra nós três isso agora só era algo simbólico, como uma piada interna.

- Não fale assim dela... afinal, foi ela que concordou em olhar o Nicolas hoje pra que eu pudesse vir. Ela sabe da gente.

- Ela falou alguma coisa? – Julian perguntou de repente, numa urgência esperançosa, fiquei olhando pra ele surpresa, sem nenhuma reação.
Senti um incomodo momentâneo, me remexi na cadeira e espantei aquela sensação a força.

Ele limpou a garganta e se endireitou na cadeira logo de imediato.

- Ela não pareceu se importar muito... você sabe como ela é. Ela só brincou um pouco com a gente, ela sabe que é o nosso primeiro encontro, o meu primeiro encontro da vida também. Isso pode ficar mais estranho?

- É o meu primeiro também! Eu sempre pense que seria ruim, mas não é, é só estranho! – Ele se aproximou e pôs os braços na mesa – Eu estava com medo de você não ser você mesma hoje... mas eu fiz a mesma coisa!

- Talvez... mas acho que agora estamos realmente agindo como nós mesmos.

Sorrimos sinceros, o frio na barriga continuava em mim mas meu corpo e mente se sentiam mais leves, tínhamos finalmente derrubado essa primeira barreira.

- Também acho – Respondeu por fim.

                                              

{...}


Depois que comemos formos passear pelo bosque. Não sei quanto tempo andamos, a conversa fluía tão bem que eu mal percebia o cenário a minha volta, suas palavras e sua voz soavam como música para os meus ouvidos não importa o assunto que conversávamos, tudo fluía tão naturalmente que nem me surpreendi quando ele segurou minha mão e a apertou fortemente, me guiando por todo aquele rosa, só o que se mantinha eram o morno prazeroso nas minhas mãos com a sua e as borboletas no meu estomago, da primeira vez quando alguém embraça sua mão assim.

A única coisa que conseguiu nos distrair daquela conversa foi uma grande cerejeira, a maior e mais bela de todo o parque, suas pétalas cobriam quase todo o chão e mais algumas pelos ares, e ainda assim incontáveis flores a cobriam. Muitas pessoas estavam tirando fotos embaixo dela, casais, famílias ou até pessoas sem nenhuma companhia.

- Quer tirar uma foto ali? – Perguntou, mostrando seu celular.

- Claro! Mas vamos esperar esse pessoal sair um pouco.

A multidão se dissipava rapidamente com a nova atração que o parque anunciava pelos altos falantes espalhados, e em cinco minutos a grande cerejeira estava sozinha de novo. Andei em passos largos para debaixo da última e em um giro me virei para Julian, que já estava com o celular preparado. Ajeitei o cabelo da melhor forma que pude e enlacei as mãos para detrás do corpo, juntei um pouco minhas pernas e inclinei a cabeça genuinamente para o lado, por sim, eu sorri. A brisa que fazia as flores desabrocharem e pétalas voarem pelo ar passou de novo, e uma pétala pequena e lisa caiu da arvore direto em meu nariz. O barulho do flash ecoou pelo ar e a foto fora tirada.

- Fique parada... – Disse gentilmente.

Estávamos a poucos metros de distância e Julian veio em minha direção, olhei para a pétala que ainda descansava em meu nariz e sorri achando graça, ele deu uma risadinha, lembrei que devo ter ficado vesga e logo voltei ao normal. Ele parou a poucos centímetros do meu rosto, sua respiração estava calma, ao contrário da minha que começava a acelerar, o coração batia tão forte que a cada detalhe do seu rosto que eu agora tão perto podia ver. Seus dedos finos e pálidos pegaram com toda a delicadeza a fina pétala em meu nariz, e a pôs entre nossos olhos.

- É um coração...

Por qualquer força nesse universo que seja, uma pétala que se parecia um coração estava entre nós. Ficamos bons segundos ponderando sobre o que aquilo significava, olhando fundos nos olhos um do outro, tentando entender um ao outro, conversando com os olhos. Num segundo seu olhar se desviou e eu o acompanhei, ele tirou a pétala entre nós e deslizou sua mão pelo meu braço, passando levemente a pétala pela minha pele, aquilo fazia cocegas e eu ri um pouco, sua mão chegou a minha e entrelaçamos os dedos, a pétala fechada entre nossas palmas, sua outra mão segurou gentilmente meu queixo e me puxou para mais perto, fechei os olhos, senti sua respiração cada vez mais perto, e mais perto...

Até parar completamente.
Senti seu corpo se desgrudar do meu de repente e abri meus olhos surpresa, um grupo de pessoas tinha se aproximado para tirar foto com a bendita cerejeira. Elas nem tinham nos notado, mas ele pegou minha mão e me arrastou para longe, afastados do grupo o suficiente, ele a soltou imediatamente.

Senti meu rosto queimar e minha garganta fechar, não conseguia dizer uma palavra.

- Hm... – Ele olhou pra mim um segundo e depois desviou o olhar para baixo, apontou o dedo para um lugar aleatório em volta, pra sua sorte uma barraquinha de sorvete que parecia cara estava plantada logo ali – Você quer tomar sorvete? Eu pago!

Não tive coragem de olhar na sua cara, mas de canto de olho eu percebia ele tão vermelho quanto eu, a cara pra baixo. Sentia o arrependimento tomar conta de todo o meu corpo, então só tive forças para murmurar um sim.

No caminho para o sorvete ele também não segurou minha mão, eu também não queria, não sabia o que estava sentindo e o seu toque apenas me confundiria mais. Na fila do sorvete um homem nos abordou timidamente, era um homem de figura engraçada e parecia ter saído de um filme, era alto e esguio, um bigode fino acima dos lábios e debaixo do queixo combinava com o seu rosto magro, junto com óculos grandes e redondos, era realmente muito engraçado se você olhasse para ele por muito tempo. Junto a suas roupas hippies uma câmera Polaroid amarrada em uma corda em seus ombros pendia pelo seu corpo.

- Desculpa incomodar vocês crianças, eu não quero parecer um pervertido ou algo assim, mas eu estava tirando fotos das cerejeiras aqui perto e vim para a grande cerejeira quando vi vocês... novamente não me levem a mal, mas não tinha ninguém por perto e vocês estavam tão bonitos que eu não resisti... tive que tirar uma foto de vocês.

Ele me entregou uma foto timidamente, o corpo encolhido.

- Essa é a única que eu tirei, eu juro.
Julian aproximou seu rosto do meu e nós dois observamos a foto maravilhados. O fotografo conseguiu capturar uma boa parte da cerejeira, e aquele chão que parecia rosa como magica, e ainda claro... nós dois. Perto o suficiente para qualquer um ver que éramos nós dois, estávamos como a minutos atrás, nossas figuras coladas, sua mão em meu queixo e seu rosto tão perto do meu, as mãos dadas e o olhar um no outro como se nada mais existisse. Não me senti envergonhada, muito pelo contrário, me sentia feliz, sorri boba e involuntariamente, aquele momento que acabou tão rápido quanto começou, agora estava eternizado nessa foto.

Esquecemos a presença do fotografo e nem notamos quando ele disse algumas palavras sobre alguma coisa e se foi. Ainda estava sorrindo quando olhei pra Julian, ele também sorria genuíno, um pouco chocado com a nossa imagem tão próxima que ele mesmo podia ver, o rosto um pouco vermelho. Demoramos a nos lembrar do desconhecido dono da foto e varremos o olhar em volta a sua procura, o lugar estava cheio de pessoas de novo, mas nenhuma delas era ele.

- Marina... Olha.

Segui seu olhar para a foto, não tinha vento e as pétalas nem voavam mais, porem encima da foto, como se estivesse sido posta lá, a mesma pétala que caiu em meio rosto, a mesma pétala que nossas mãos seguraram juntas quando estávamos tão perto, aquela pétala de coração, delicada e pura. Aquela mesma pétala estava a nossa frente agora.

- Isso é impossível... eu não trouxe ela pra cá, eu juro que ela caiu das nossas mãos quando saímos de lá. Você trouxe Julian? Foi você que trouxe ela?

Julian se limitou a negar com a cabeça, intrigado. Eu estava tão assustada quanto, pois a pétala não estava ali na primeira vez que olhamos para a foto.

Procuramos o fotógrafo por todo o parque.

Ele não estava mais lá.

No fim do dia, decidimos que eu que ficaria com a pétala. No fim da noite finalmente decidi aonde a guardaria, em um retrato minúsculo e vazio, a pétala estaria preservada pelo seu vidro, guardei-a em um lugar que só eu sabia, e principalmente, na minha alma.

Até hoje eu me pergunto, se aquele fotógrafo realmente existiu.








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