Capitulo 12


Pov Marina

Desde que o trimestre começou, eu e Alice temos estudado como nunca e ela diz que está prestes a enlouquecer a cada dia, por mas que ela diga isso eu vejo muita melhora nela e até em mim mesma, e hoje, hoje é o dia em que veremos o resultado de todo esse esforço. Poucas semanas se passaram desde o começo do trimestre e ela já tinha uma prova marcada, chequei o relógio pela milésima vez na aula, o tempo parecia se arrastar para o intervalo chegar e eu vê-la de novo, e se eu já me sentia nervosa eu nem quero imaginar ela, que esteve uma pilha de nervos a semana inteira desde que foi anunciada a prova.

Perdida em meus pensamentos eu demorei a ouvir o som do sinal tocando e todos os alunos se apressando em sair da sufocante sala de aula, a aula tinha sido desgastante e ouvi lamentos e alívios enquanto saia apressada, eu mal tinha prestado atenção e a única coisa que me cansei foi da espera, enquanto a procurava me dei conta de quanto aquilo com ela tinha se tornado importante pra mim a ponto de eu não ligar para uma aula e me perguntei o que eu faria por ela da próxima vez, mas eu não podia evitar - eu sabia que ela estaria me procurando também quando saísse.

Não tinha quase mais ninguém nos corredores e eu estava prestes a procura-la em outro lugar quando um corpo me embraçou por trás e logo depois os braços passarem pelo meu torso até suas mãos chegarem ao meu rosto e cobrirem meus olhos, as mãos seguravam alguma coisa e eu sentia papel tocando meu rosto levemente.

- Adivinha quem é? – Uma voz feminina cantarolou em meu ouvido, tão perto que eu sentia o calor do seu hálito.

As mãos se desgrudaram dos meus olhos e seguravam um papel a minha frente, com os braços apoiados em meus ombros eu ouvia risadinhas bem conhecidas do corpo atrás do meu, fazendo cócegas na minha nuca, ignorei a sensação e analisei a folha a minha frente, no canto superior marcado em vermelho o número 10 circulado em um grande círculo se destacava pela surpresa que era ao lado do nome Alice Fernandez escrito lindamente na folha.

- A Alice que não pode ser, essa nota é impossível!

Seu corpo se desgrudou do meu e pulou pra minha frente, seu sorriso estava ainda maior que o meu e tão grande que duvidei que se alargaria mais - e se era o maior sorriso que eu tinha dado em um bom tempo, para ela devia ser uma eternidade – ela dava pulinhos de alegria e me agradecia e falava milhares de outras coisas que eu não consegui entender de tão rápido que falava, mas eu imaginei que mais que eu que tinha a ensinado tudo, ela estava ainda mais orgulhosa de si mesma, eu sabia que no fundo ela realmente se odiava e pela primeira vez essa era a única coisa que tinha para se orgulhar, então eu logo estava pulando com ela comemorando essa única alegria para nós e principalmente para ela.

Quando finalmente nos acalmamos e notamos os olhares das pessoas que restavam nos corredores, nem ligamos, ela apenas observava o papel que segurava admirada.

- Então... você vai mostrar para os seus pais? – Tentei perguntar da forma mais casual possível, pois eu sabia que era um assunto delicado pra ela.

- Acho que não, eles estão muito ocupados e eu já conheço a peça, eles nem vão ligar – Seus olhos fitaram o chão e eu notei ela amassar levemente a folha – Eu já parei de tentar chamar a atenção a muito tempo... nem ligo.

Seu tom indiferente e dar de ombros parecia muito convencível, mas era doido de se ver, as vezes parecia que conhecer Alice era cada vez mais dolorido, porque suas ações eram cada vez mais justificáveis e tristes de se ver, não passavam de uma mentira de perna curta que escondiam muito mal a verdade, que você percebia na hora, como agora.

- Tenta. É uma coisa importante pra você, talvez também seja pra eles.

- Esse é o problema! É importante pra mim e eles vão estragar isso. Eu sou a filha deles, sou eu que vive naquela casa.

- Mostra, se não for pra conseguir um parabéns então que seja para se exibir, esfrega na cara deles que você tirou um dez pela primeira vez na sua vida e que minhas aulas estão dando resultado... não foram eles que duvidaram de você em primeiro lugar? Eu sei que é isso que você quer fazer...

Os cantos da sua boca se curvaram num sorriso perverso que dava um pouco de medo, confesso, mas logo eu estava me juntando a ela, num plano improvisado de vingança em que só ela faria parte.

- Se for pra isso... então eu vou. Quem diria que suas aulas dariam algum resultado afinal de contas... – Ouvi ela comentar baixinho.

- Você também duvidou de mim?! Pois fique sabendo que isso deu certo porque eu sou muito boa no que faço e você não é tão burra assim.

Ela pôs a mão no coração, se fazendo de ofendida e eu me segurei pra não rir e manter a postura de brava.

- Mudando de assunto, seu rosto ainda está meio vermelho e eu senti seu coração disparar quando eu te abracei por trás... por acaso você pensou que era o Julian?

Senti meu sangue conjelar. Deveria saber que Alice era mais experta e percebia tudo. Ela nem mesmo se esforçava para esconder a brusca mudança de expressão em seu rosto, que estava sério e apático.

- ... N- Não! Eu só fiquei assustada... Afinal Julian não tem um grande par de peitos prensado contra as minhas costas.

Seu rosto se paralisou em choque e ela piscou muitas vezes antes de rir por muito tempo da minha frase inusitada, o som do seu riso ecoou pelos corredores até esbarramos em Julian num deles, quando o viu, ela
gargalhou ainda mais.


{...}

Pov Alice

“ É algo para se orgulhar ”. Marina me disse, eu também me orgulhava é claro, eu não sou muito inteligente na escola e esse é o único e primeiro dez que eu tirei na minha vida. Eu estava muito feliz, mas porque agora eu me sinto tão nervosa.

Foi o que eu fui remoendo todo o caminho exaustivamente por todo o caminho de casa, eu prometi a Marina e a mim mesma que eu mostraria essa bendita prova para os meus pais, eu prometi também que era apenas para provar o que eles tanto duvidaram, há muito tempo eu e eles paramos de nos importar ou a menos de tentar fingir uma relação boa e saudável que não existe, desistimos de impressionar, nos desculpar ou se incomodar, não tentamos nem ao menos reatar, nós três. Eu tinha certeza disso e ainda assim, estou plantada em frente a porta fechada do escritório a tanto tempo que me pergunto se eles já pressentiram minha presença, minhas mãos tremem e amassam o papel, apenas por estar aqui, tentando impressionar.

Toco a maçaneta e a aperto com força, o ranger da porta que nunca esteve ali aparece apenas para aumentar minha ansiedade, eu tinha certeza disso, meu cabelo cobria quase toda minha visão, mas ainda conseguia ver suas silhuetas me observando paralisados, eles estavam tão surpresos quanto eu, caminhei hesitantemente até eles e finalmente levantei a cabeça, papeis e mais papeis cobriam a mesa quase que por completo e eu me sentia insignificante em meio a pedaços de papeis, sem saber o porquê.

- Aconteceu alguma coisa...? Você está pálida.

Minha mãe fechou o notebook em seu colo e se levantou, ela parecia preocupada, consegui desviar de sua mão que tentava tocar meu rosto e me afastei ainda mais, de canto de olho eu via ela parar e abaixar sua mão lentamente.

Meu coração se apertava, mas eu não sabia se ela estava triste de verdade, ou apenas fingindo.

- Não eu só... eu – minha voz não saia, eu tinha na ponta da língua a prova do meu valor, mas porque aquilo parecia tão humilhante?

- Você...? – Ele não tinha ao menos se levantando da cadeira, e sua expressão conseguia ser indiferente e irritadiça ao mesmo tempo, era como um maldito dom.

- Eu...! Eu só queria mostrar isso... – Depositei minha folha em meio a tantas outras em cima da mesa, o número dez em vermelho e um garrancho de números com formulas intermináveis era a única coisa que se diferenciava dos outros papeis ali, me perguntei se aquilo fazia uma diferença para eles – Eu tirei um dez na minha prova de física, é só isso.

- Isso é ótimo Alice! Nós estamos muito orgu...

Um riso frio e penetrante ecoou pelo quarto e interrompeu a doce voz da minha mãe.

- É.… isso é ótimo mesmo.

Ele tinha pegado o papel e o segurava baixo em sua mão, um sorriso de lado, quase que maldoso e olhos fulgentes eram o suficiente para avisar o que estava por vir, ele deu uns petelecos na folha, a amassando ainda mais e a jogou em meio aos outros papeis. Seu olhar se levantou sem pressa ao meu, me olhando como um inseto.

- Você se salvou minha filha, você está de parabéns... eu já estava começando a considerar que você fosse especial, uma deficiente mental! Você nunca chegava a tirar nem um 7 na sua média, como você iria um dia comandar minha grande empresa?! Ah... eu fico feliz que você fez algum processo e agora eu não tenho que te por numa escola de educação especial. É por isso que eu estou realmente feliz.

Um silencio morto se instalou na sala, de canto de olho notei minha mãe paralisada, sua boca se tremia levemente e ela parecia tão atônita quanto eu, ou apenas estava fingindo e concordava com meu pai, era isso que eu nunca deixava de pensar. Dentre as coisas ruins que meu pai me disse deficiente mental nunca foi uma delas, e apesar de tudo, eu não esperava. Senti meu sangue esquentar lentamente e não duvidei que meus olhos estivessem vermelhos, seja de raiva ou pela imensa vontade de chorar, isso parecia alimentar meu pai, que parecia querer que eu explodisse nele apenas para que minha mãe e minha irmã me odiassem mais, senti raiva de Marina também, ela que tinha me convencido a fazer aquilo, mas talvez não fosse justo, ela não sabe sobre como as coisas funcionam aqui e eu pareci ter esquecido disso também.

Eu sorri feliz a observar o rosto do meu velho murchar ao ver que eu não explodiria, caminhei sem pressa a sua direção e identifiquei minha prova sem dificuldades no meio de tantas.

- Não se preocupe, você não tem que se dar o trabalho, eu estou perfeitamente bem e admiro sua preocupação. Só é bem engraçado você fazer tanto estardalhaço por conta disso, porque eu não vi para conseguir a sua aprovação ou orgulho paternal, em algum momento eu falei isso? Eu só vim pra te provar e esfregar na sua cara que as aulas particulares que você tanto duvidou e te mostrar minha capacidade, o meu valor que você também duvidou. Então não se atreva a duvidar da Marina ou de mim de novo, pois é só por ela e por mim que eu me submeto a essa humilhação e o desgosto de vir falar com você, e nunca foi por você.

Ouvi minha mãe tentando falar algo, mas as palavras pareciam presas em sua garganta.

- Não precisa falar nada mãe, você já está queimada a muito tempo, a partir do momento que você decidiu não falar nada, você já se tornou pior que o pai.

Dei meia volta e não olhei para trás para ver o estrago, ou não que eu tinha causado, o silencio que se permeou lá continuou por muito tempo e eu o acompanhei por muito tempo cansar por detrás da porta. Imaginei que isso foi o suficiente.


{...}


As batidas na janela já tinham se tornado um habito e anunciavam que Marina estava esperando por mim em cima do meu telhado a metros de distância do chão, podia parecer clichê ou até coisas de amantes, talvez até simples demais, mas era uma das coisas que eu mais adorava e quem sabe ela também. Limpei minhas lagrimas e sorri, ela não precisava me ver daquele jeito, ninguém precisava.

Seu corpo se encolheu e ela adentrou pela janela, se sentando no parapeito da janela. Eu a observava ternamente encostada a minha cama, ao meu lado, minha prova estava quase completamente amassada e depois de tudo, para mim, não tinha mais significado, ao menos um bom.

- Isso é a prova?

Marina questionou e se inclinou para pega-la, tentei a impedir mas ela foi a mais rápida, e a puxou violentamente para si lendo-a logo em seguida, sua expressão se tornou sombria, mas não tanto quanto a minha.

- É. Mas não é mais importante, meu pai apenas debochou e me disse que achava que eu era uma deficiente mental, e minha mãe... eu nem sei.

Seu rosto ainda estava escondido na sombra, o meu também mal se via, mas eu a ouvi engolir em seco e um longo silencio se instalou, talvez ela estivesse se culpando ou talvez achasse eu que a estaria, não se dava pra ver o rosto uma da outra, mas eu torci pra que ela talvez sentisse o mínimo de culpa.

- Mas eu achei que você não se importava, achei que só queria provar a eles que a gente conseguiu.

- Bom parece que eu me enganei! Você não sabe como as coisas funcionam por aqui.

- Eu realmente não sei! Mas... isso não se trata só sobre você, é importante para mim também! Eu também fiz parte disso, eu fiquei tão feliz quanto você esse é o nosso orgulho! – Não tive reação, eu nunca tinha a visto tão extasiada assim, quando se acalmou parecia tão surpresa quanto eu e após um longo silencio, ela limpou a garganta e continuou – Deixa eles pra lá, não estraga esse sentimento.

Não respondi, parecia que em algum momento eu tinha esquecido que eu tinha pensado a mesma coisa a não muito tempo atrás, eu nem sabia o que dizer. Senti ela se sentar ao meu lado na cama, e depositar a bendita prova entre nós, a alisando com as mãos em cima do fino pano, tentando miseravelmente a desamassar.

- Para algo tão importante ela está tão acabada – Marina se lamentou, balançando a cabeça e desistindo da tarefa.

- Assim como você.

- E você - Ela completou.

Ninguém se ofendeu, afinal nós duas sabíamos que isso era verdade. A senti se levantar e ficar a minha frente, levantei o olhar e acendi o abajur ao lado da cama, seu rosto se iluminou e nele um sorriso sincero e tristonho pendia.

- Talvez eu não possa arrumar essa folha, mas tem outra coisa que nós podemos criar e se orgulhar, nós duas.

{...}


Pov Marina

A presença de Alice lá em casa ainda não era coisa comum, tanto par mim, para ela ou a minha família. Era até engraçado observar ela perambulando devagar e varrendo os olhos pela casa, ela parava e ficava olhando a gente conversar e interagir, eu e meu irmão, meu pai e minha mãe, depois a gente chamava ela junto e ficávamos todos conversando, tomávamos um café e ela ia brincar com o Nicolas, eu poderia dizer que ela é mais próxima dele do que de mim fácil, e ao contrário do que eu pensava ela parecia adorar ele, e mesmo que ele não parasse de contar histórias sem sentido ou simplesmente a arrastava para ver algum desenho, ela não parecia incomodada de jeito nenhum, as vezes eu chegava a pensar que ela parecia mais feliz com ele do que com sua própria irmã.

Pra falar a verdade eu não sabia de nada, eu só tinha uma ideia de como as coisas funcionavam na sua família mas eu sabia que tinha algo errado ali. Alice sempre parecia encantada com tudo apesar do luxo em que ela vive, mas eu nunca conseguia ler seus olhos quando ela apenas parava e observava, com uma expressão apática no rosto, estaria com inveja? Triste? Lamentosa? Ou genuinamente feliz?

Eu a levei pro quarto e ela se deitou em minha cama, eu fiquei a observando, ela suspirou e fechou os olhos, um esboço de sorriso se formou em seus lábios e quase quis deixa-la dormir e descansar naquele ambiente, pois ela parecia exausta. Mas tinha uma coisa que eu queria fazer faz tempo, balancei a cabeça e abri a porta do meu armário, não foi difícil achar uma roupa velha pra ela usar, toquei seu pé e ela ainda estava acordada.

- Vista isso e desça – Eu ordenei e sai do quarto, fechei a porta e esperei uns segundos para ouvir ela reclamar, mas nada, ela mal tinha forças para isso.

Me dirigi até a sala e todos faziam suas respectivas tarefas.

- Família! Vamos fazer alguns vasos!


{...}


Duvidei que as luzes fossem se acender de tanto tempo que não eram usadas, e quando se acenderam, ainda piscando um pouco, um silencio morto se instalou e sufocou nossas gargantas com palavras que ninguém se atrevia a dizer junto com a poeira e o mofo, aquelas luzes só revelavam mais o bueiro que nossa antiga lojinha se tornou, todos completavam incrédulos e assustados o lugar, mesmo nas sombras tínhamos uma ideia de como esse lugar estaria e se negamos a acender a luz mas nada se compara a isso. Ninguém estava muito feliz quando eu dei a ideia e o motivo era obvio, mas eu esperava que todos tentassem agir normalmente quando Alice chegasse, ela não precisava se sentir pior.

Sua silhueta apareceu no topo da escada e ela comtemplou tudo por quase um minuto, seus olhos passeavam e seu sorriso maravilhado crescia cada vez mais, apesar da poeira e do abandono do espaço, as cores vividas, as formas e desenhos trabalhosos dos vasos e esculturas da argila se destacavam e deixavam tudo um pouco mais bonito.

- Sempre que eu entrava e passava por esta escuridão me perguntava o que diabos vocês escondiam aqui – suas pernas desciam os degraus dois a dois e logo ela estava com a gente, admirando o espaço – Só não imaginei que fosse ser tão bonito... porque você estava escondendo isso nas sombras esse tempo todo?

- Isso não importa agora – Procurei o olhar da minha família procurando por apoio, eles ainda estavam atordoados - Você faz suas roupas e elas sempre ficam tão bonitas, mas hoje eu vou te mostrar a minha arte, nossa arte! Hoje você vai fazer arte, minha cara.

- Fazer...?

Eu estava prestes a explicar quando meu pai brotou ao lado da Alice, dando um susto em nós duas, ele exibia um sorriso orgulhoso e falava da maneira mais eloquente possível sobre argila e a arte de se fazer um vaso, Alice simplesmente me esqueceu e ouvia tudo atentamente em questões de segundos. Eu nem deveria estar surpresa, foi meu pai que fundou nossa loja e que nos ensinou a esculpir argila pacientemente, ele era o verdadeiro apaixonado e o verdadeiro talento, é claro que mesmo nessa situação ele não deixaria de ensinar o que ama, me sentia envergonhada por duvida-lo.

Deixamos os dois e fomos procurar pelos equipamentos num pequeno deposito na parte de trás da loja, fazia muito tempo desde que ponhamos a mão em argila mas sabíamos exatamente aonde e o que procurar.

- Eu estava com tanto medo...

Uma voz tremula sussurrou perto de mim, reconheci minha mãe e engoli em seco, eu já deveria saber...

- Eu sabia que aquele lugar estaria ruim, mas não tanto assim, eu fiquei mais é preocupada com seu pai, não olhávamos e limpávamos aquele lugar a tanto tempo, e o seu pai foi o último a parar, eu imaginei como ele reagiria e fiquei com medo... só eu sei como seu pai ama aquela loja e vê-la naquele estado, aquilo só quebraria ele.

- Mas não quebrou, olha eu também fiquei com medo, eu não tinha certeza como eu ou todos nós iriamos reagir e eu ainda tomei o risco e acendi as luzes...! Mãe você precisa entender que todos nós precisávamos disso, todos nós precisávamos da verdade pra seguir em frente.

Ela ficou calada num silencio tenso e refletivo, eu sabia que Nicolas estava ali também e ele prendia a respiração, não tinha coragem de dizer uma palavra.

- É porque fui eu que presenciei sua paixão desde o começo e vi as lutas que ele teve que lutar pra conseguir abrir essa loja comigo, vivi todos esses anos com ele e vocês e a argila foi maravilhoso, vocês também viram quando a loja faliu, eu sou a mulher dele e por isso que eu sinto mais, mas ainda assim vocês deveriam entender a minha preocupação com ele! Vocês simplesmente não sabem como é difícil seguir em frente.

- Talvez. Mas você não deveria o subestimar tanto, não viu como ele reagiu e como parecia feliz de novo ensinando a Alice? A quanto tempo não vemos papai assim?

- ... acho que você tem razão. Talvez seja mais difícil para ele seguir em frente, mas talvez... só talvez, ele consiga.

- Isso não é só sobre Alice, é sobre a gente também. As vezes a gente precisa viajar no passado para seguir para o futuro, eu tenho certeza disso, que isso é bom para todos nós.

- Isso é o que vamos ver – Ela respondeu.


{...}


Não é preciso de muitas palavras para dizer o quão incrível foi o tempo que se estendeu com Alice e minha família durante aquela noite. Viajamos para o passado e daquela vez era real, daquela vez podíamos mesmo sentir a gélida e molhada argila massageando nossas mãos e moldar com tanta facilidade como se nunca tivéssemos parado, e as cores manchavam nossas mãos e almas lindamente, e mesmo Alice, que nunca tinha feito nada igual antes, parecia ter anos de experiência.
Em algum momento uma guerra começou e bolas de argila voavam para todo lugar, e no fim, tínhamos argila em lugares que nem podíamos limpar, coberta de argila molhada e suja, surpreendentemente Alice não reclamou um segundo. Era contagiante, Risos e sorrisos e gritos ecoavam pelo lugar, a alegria era palpável.

Como a muito, muito tempo não era.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top