Capítulo 98: POV Gabrielle DeChamps
Eu não sei quanto tempo passou até eu acabar adormecendo de exaustão, mas acordei em uma cama bastante confortável. Abri os olhos e tudo que vi foi um travesseiro branco na minha frente. Por um segundo, esqueci de tudo que tinha acontecido e o fechei novamente, curtindo um pouco da posição confortável onde estava. Mas tentei levar uma mão ao travesseiro e senti um puxão enorme, que me impedia de alcançar o que queria. Abri de novo os olhos e busquei o que me segurava, encontrando a corda amarrada aos meus pulsos.
"Não queria que você tivesse que dormir sentada naquela cadeira," ouvi Gregor falar, enquanto eu ainda tentava me sentar na cama.
Minhas pernas também estavam presas, como meus braços, e eu fui descobrindo todo o movimento que conseguia fazer. Meu corpo tinha feito seu melhor para ficar confortável, mas ainda sentia meu pescoço doendo, minhas costas tortas, meus pulsos queimando com o áspero da corda.
"Mas não podia confiar que você não tentaria fugir," ele continuou, como se aquilo fosse normal.
Eu finalmente consegui sentar direito na cama, de frente para ele, que estava sentado, perna cruzada, mãos descansando sobre seu colo. Tudo normal.
Eu já não estava no porão, apesar aquela sala não ser muito melhor. Era tão cinza, tão escura quanto o porão tinha sido. Mas pelo menos tinha janelas, fechadas e tampadas com tacos de madeira, mas eram janelas. E eu gostei que pelo menos eu não me sentia mais tão fechada, sem ar. Era alguma coisa.
Mexi minha cabeça só um pouco e um raio de sol que conseguiu se livrar dos tacos me atingiu nos olhos, me fazendo os fechar e tentar levar uma mão para cobri-los. Mas a corda puxou meu braço para trás antes que eu conseguisse.
"Está de tarde," Gregor disse, provavelmente tentando explicar o sol. "Eu te dei um sedativo para tentar te acalmar, ele acabou te apagando por mais tempo do que eu esperava."
Que pena, né?, eu pensei. Mas não quis falar nada. Não queria abrir minha boca. Eu era a prisioneira e se ele queria me tratar assim, ele podia ir em frente. Ele só não poderia esperar que eu cooperasse e aceitasse aquilo numa boa.
Sem contar que eu já não tinha forças mais para tentar conversar com alguém que estava tão louco, que não percebia o absurdo daquilo.
"Gabbie, por favor, fale comigo," ele pediu, descruzando suas pernas e apoiando seus cotovelos em seus joelhos.
Eu o mirei, tentando ao máximo não parecer incomodada, apesar de que queria muito falar alguma coisa.
"Eu não queria que as coisas fossem desse jeito, mas eu realmente preciso de você," ele continuou e eu só levantei o queixo um pouco, como se o desafiasse a me explicar. Ele suspirou. "Eu ouvi dizer que você era a preferida do príncipe," ele disse, me fazendo sentir uma pontada no coração, que quase me fez falar. "Armaram para mim," ele esperou que eu perguntasse alguma coisa, mas eu não o fiz. "Eu tinha um parceiro. Ele foi assassinado e estão me culpando."
Eu quase quis gritar! Onde estava aquela história dele falar que tinha conseguido terminar uma missão que ninguém achava que ele conseguiria? Onde estava aquele cara tão incrível que tinha provado todos errados?
"Eu não vou entrar em detalhes, mas eu tenho provas de que foi alguém do castelo que plantou as provas contra mim e que apagou aquelas que levariam ao verdadeiro culpado."
"Você tá falando sério?" Eu perguntei, não conseguindo me controlar.
Seu corpo todo pareceu relaxar por um segundo, só para ele ficar ainda mais tenso depois.
"Estou, Gabbie," ele disse, se levantando e indo sentar na cama, do meu lado. "Alguém está tentando me fazer ser acusado e eu preciso provar que não fui eu! Eu não matei Walt, eu preciso que você acredite em mim," ele segurou minhas mãos entre as suas e me mirou, sério. "Ele era meu melhor amigo, sem ele eu não teria chegado a lugar nenhum. Eu preciso que você me ajude a entrar no castelo, os distraia, enquanto eu consigo as provas de que eu sou inocente."
Eu não estava esperando que ele fosse me tocar e realmente não estava esperando a eletricidade que aquele toque espalhou por todo o meu corpo. Seus olhos verdes me miravam, enquanto eu me lembrava de todas as vezes que eu tinha olhado para eles e prometido para mim mesma que eu nunca amaria alguém como eu o amava.
"Eu não sei, Greg," falei, olhando para os lados, tentando pensar claramente.
"Eu preciso de você, Gabbie. Eu preciso que você salve a minha vida," ele disse, levando uma mão ao meu queixo e o levantando, me fazendo encontrar seus olhos. "Você é a minha única chance."
Eu podia jurar que ele ia tentar me beijar, mas acho que ele sabia, tanto quanto eu, que aquela seria uma péssima ideia, pois ele acabou soltando de meu queixo e se concentrando na minha mão.
Seu dedão fez carinho na minha pele devagar, me distraindo de conseguir pensar claramente.
"Por que você teve que me trazer aqui assim?" Eu perguntei e ele levantou o rosto para me olhar.
"Eu não posso entrar no castelo, me prenderiam assim que eu aparecesse no portão," ele disse, engolindo a seco, como se estivesse tentando bloquear um nó em sua garganta. "E eu não conseguia imaginar como você reagiria quando descobrisse que eu..." ele deixou sua voz sumir, mas eu sabia muito bem o final daquela frase.
Nós ficamos em silêncio mais um pouco, enquanto suas palavras pairavam no ar. E então eu falei.
"O que você quer que eu faça?" Perguntei, fazendo seu rosto acender de alegria. "Não estou falando que farei, mas eu quero saber antes de poder te dar uma resposta."
"Está bem, é justo," ele disse, sem perder a sua animação. "Eu preciso que você faça um vídeo para mim, pedindo seu resgate. E depois eu preciso que você os ocupe aqui, que fique aqui até que eles a venham salvar."
"O que você ganha com isso?" Eu perguntei.
"Acesso ao castelo no momento em que eles terão menos guardas," ele explicou. "E provavelmente nem a família real ficará lá. Pelo menos, não o seu príncipe."
"Meu príncipe," eu repeti baixinho, quase como se aquela fosse a única parte da conversa que realmente importava para mim.
Gregor só suspirou de leve. "Eu te prometo que você não vai se machucar no processo," ele disse. "E que ninguém nunca vai saber que você me ajudou. Você será livre para se casar com ele. E ser feliz, como você merece."
Meus olhos encontraram os seus, que pareciam estar lutando contra as palavras que ele dizia. Era engraçado ver que, mesmo que fosse pequeno, ele ainda sentia um certo incômodo em pensar em mim com outro cara.
"Você é inocente?" Eu perguntei, só para ele ver que eu precisava ter aquela certeza.
"Eu juro, eu não matei meu parceiro," ele disse, soltando minha mão, levantando as suas no ar, como se quisesse me provar que não estava cruzando nenhum dedo.
"Está bem, então," eu disse finalmente. "Eu faço o vídeo, eu os distraio enquanto você procura o que tiver que procurar e tenta limpar seu nome. Eu só te peço que você nunca mais me procure depois disso."
Ele concordou com a cabeça, apesar de parecer incomodado com o meu pedido.
"Obrigado, Gabbie-"
"E que não me chame assim," eu o cortei. "Eu faço o que você está me pedindo, mas porque eu odeio ver alguém pagar por algo que não fez. E não por você. Para mim, você morreu no dia em que eu vi seu caixão sendo enterrado. E eu não quero nunca mais ter que pensar em você como alguém que faz parte da minha vida."
Ele se levantou, dando um passo atrás, como se sentisse nojo do que eu tinha falado. Mas não me importei.
"Eu vou arrumar tudo e depois venho te buscar," ele disse, assim que eu me deitei na cama de volta, ainda sentindo o limite dos meus movimentos.
"Está bem," eu falei.
E depois o ouvi saindo pela porta e falando alguma coisa para quem quer que estivesse lá fora.
Eu não sabia quanto tempo eu tinha, mas eu tinha que pensar em alguma coisa que eu pudesse falar no vídeo que avisasse Charles do que estava acontecendo. Eu não acreditava na história de Gregor por nem um minuto. Nem um mísero segundo. Mas eu precisava que ele acreditasse que eu estava do lado dele. Eu precisava que ele continuasse achando que era o cara mais inteligente entre nós, aquele seria o jeito mais fácil de fazer com que ele errasse. Eu não podia me dar por vencida por completo, não seria normal que eu simplesmente o perdoasse. Mas só de fazê-lo pensar que eu acreditava em sua história seria o suficiente. Era tudo de que ele precisava mesmo, de alguém que acreditasse nele. Eu não sabia se ele estava falando a verdade, mas se estivesse, eu cuidaria disso depois, quando estivesse no castelo.
Ele queria que eu fosse uma agente dupla? Eu seria a melhor que ele já tinha visto.
O problema de agentes duplos é que nunca dá para saber em que lado eles estão. Sempre há alguma dúvida, eles sempre podem mudar de lado a qualquer segundo. Ele não contava que eu poderia pensar assim, que eu pudesse ver um final. Ele realmente achava que conseguiria simplesmente me fazer obedecer ao que quer que fosse que ele me pedisse. Ele realmente não percebia o que estava fazendo, só porque achava que eu não tinha a competência de ganhar dele.
Mas eu não ia fazer aquele jogo do jeito que ele queria, não mesmo. Se ele me queria no tabuleiro, eu jogaria pelas minhas regras, mesmo que fingindo estar seguindo as dele. Eu precisava ser mais esperta que ele. Era o único jeito de eu sair daquilo com minha dignidade, meu caráter e ainda buscar justiça no final de tudo.
E a única coisa que eu tinha que fazer naquela hora era pensar em um jeito de fazer com que Charles entendesse uma mensagem que Gregor nunca perceberia. Mas não era tão fácil quanto podia parecer. Eu não tinha a mínima ideia de por onde começar a pensar e eu não tinha como saber quanto tempo teria até ter que gravar o maldito vídeo de resgate.
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