Capítulo 96: POV Abigail Neumann

 "Tem certeza de que quer fazer isso?" Andre me perguntou pela milionésima vez.

"Tenho," disse, olhando para fora do carro. "E pelo amor de deus, não me pergunte de novo, ou eu vou acabar mudando de ideia."

Nós estávamos chegando perto do Hotel Knout e eu pude ver várias pessoas descendo de seus carros, seus vestidos arrastando pelo chão, acenando para as câmeras, sorrindo para seus fãs, entrando e cumprimentando Duck.

Meus olhos ficaram presos nele enquanto nós passávamos bem pela frente e depois caíram sobre meu colo, uma vez que nós viramos a esquina.

"Me explica de novo, por que você quer fazer isso mesmo?" Ele pediu e eu só o mirei, irritada. "Não quero que mude de ideia, pelo contrário. Eu quero entender e talvez me explicar vá te ajudar a ter certeza de que é uma boa ideia," eu pensei um pouco naquilo, mas antes que pudesse responder, ele completou, "ou perceba que é besteira."

Eu sorri para ele, um pouco desanimada e alisei minha calça jeans, que me apertava nos lugares mais indesejáveis. Sério, por que as pessoas ainda usavam calças skinny? Eu mal conseguia dobrar os joelhos.

"Abbie?"

"Eu não vou mudar de ideia," falei, olhando-o nos olhos. "É o único jeito de eu saber que ele realmente gosta de mim pelo que eu sou. A irmã dele deixou bem claro que é isso que ele faz, conquista, depois supera. E eu não posso me colocar nessa posição."

"Concordo com isso," Andre disse, e eu senti o carro parando. "Agora, todos os olhos do país vão estar sobre você. Todos querem saber quem você vai namorar. Não pode ser alguém que não mereça ser comparado com o Príncipe Charles."

"Eu realmente espero que o Duck se compare," falei, quase que para mim mesma.

"E qual o seu plano?" Ele perguntou, tirando o cinto.

Eu fiz o mesmo. "Observá-lo," disse. "Talvez ver se ele me reconheceria, mesmo sem as câmeras do meu lado. Não sei, tem alguma coisa nele que me incomoda. É um instinto que me fala para sair correndo. E eu preciso saber se é porque eu não quero ser afetada ou porque eu já sei que ele não é bom para mim e só preciso admitir."

"É sua vida," Andre disse e me sorriu, tentando me confortar.

Mas a verdade era que eu estava bem. Realmente, eu estava. A pior parte de tudo para mim era ter que servir as outras pessoas só para poder participar daquela festa.

"Nós chegamos," ele completou depois de alguns segundos em silêncio.

"Eu vi," falei, abrindo a minha porta. Ele fez o mesmo, depois nós nos olhamos por cima do carro. "Me deseja boa sorte?"

"Boa sorte," ele sorriu.

Eu dei meia volta e andei até a pequena porta de metal que estava fechada, enquanto ele me observava. O homem de terno que ficava ali estava falando com um cara de branco, que carregava uma caixa de compras. Eu fui direito até ele, ajustando meu boné para cobrir bem a minha cara e ele não me reconhecer. Eu devia ter usado uma peruca, mas não tinha nenhuma que me deixasse bonita. Eu até aceitava passar uma noite como garçonete, eu só não queria desistir do meu cabelo ruivo amado.

Mas eu nem precisei me preocupar com ele.

"Nome?" Ele perguntou, sem nem levantar o rosto para me olhar.

"Sarah Neumann," falei, e ele checou seu papel, escrevendo alguma coisa depois de achar meu nome.

"Você está atrasada. Os uniformes ficam no final do corredor, procure a Ashley, ela vai te explicar tudo."

Eu só concordei com a cabeça e entrei pela porta que ele abriu para mim. Antes de começar a andar pelo corredor mal iluminado, eu me virei para olhar uma última vez para Andre. Não sabia se estava começando a me arrepender daquilo tudo, só sabia que precisava de um último sorriso de incentivo. Mas a porta fechou antes que eu pudesse vê-lo. E então eu estava sozinha.

Mas minha solidão não durou muito. Logo um cara saiu pelas portas duplas de metal que estavam bem no começo do corredor, afobado. Ele passou por mim como se eu fosse invisível, carregando uma bandeja vazia. Achei que fosse ficar sozinha, mas as portas se abriram de novo e outros dois garçons passaram com um carrinho cheio de morangos e um balde de champanhe.

Eu até me inclinei para eles, mas eles passaram rápido demais, não me deixando me fazer de boba e ser atraída quase magneticamente pelos morangos. Eu comecei a andar atrás deles, sem a menor vontade de continuar com aquilo. Não era tarde demais para eu desistir de tudo e simplesmente aparecer como eu mesma, não é? Eu poderia muito bem entrar pela porta da frente, cumprimentar Duck e passar a noite inteira com ele.

Ou eu poderia convidar algum outro ator famoso para me acompanhar! Por que eu não tinha pensado nisso antes?

Talvez até Jason! Por que mesmo eu não pensei nele antes? Ele seria perfeito! A novela conseguiria um pouco de atenção sem eu ter que trabalhar para eles e ele me ajudaria a fazer ciúmes em Duck!

Eu estava realmente considerando essa opção, quando uma menina apareceu no final do corredor, uma prancheta na mão.

"Ei, você é a Sarah?" Ela perguntou, mas não me esperou responder. "Você deveria ter chegado uma hora atrás! Não espere ser contratada de novo!" Ela desapareceu pela porta de novo e eu fiquei ali, paralisada, até um pouco ofendida com o seu comentário. Alguns segundos depois ela apareceu de novo. "Mas será possível você simplesmente me acompanhar?"

Ela não precisava ser tão grossa, ela não imaginava a sorte que tinha de me ter como sua empregada! Mas eu a segui, sem contrariar. Na verdade, eu ainda estava tentando pensar em um jeito de desistir daquela ideia, enquanto ela me explicava o que eu tinha que fazer. Ela não queria confiar em mim para servir champanhe, vinho ou qualquer coisa que quebrasse. Legal da parte dela pensar que eu não conseguia lidar com tudo aquilo. Então eu teria que ficar limpando mesas e recolhendo as taças vazias.

Ela falava tanto e com tão pouca pausa, que eu logo esqueci de quem era e porque eu estava ali. Eu comecei a realmente ficar preocupada com o serviço. Eu devia sempre me manter atenta, não podia deixar nenhuma taça vazia parada nas mesas, em qualquer lugar. Seria desleixado e o Hotel Knout não era desleixado. Ela estava me dando bronca antes mesmo de eu começar.

E me disse que eu era a base da cadeia alimentar de garçons. Que eu deveria lavar o que me pedissem, que eu deveria limpar o que tivesse que limpar. Qualquer ordem que me dessem, eu teria que obedecer. E se eu não fizesse direito, sairia do meu salário, que já não era grande.

Tudo palavras dela. Me perguntei porque ela era a organizadora de tudo aquilo, se ela só sabia fazer com que as pessoas nunca mais quisessem trabalhar ali.

Ela falava isso, enquanto me guiava até um quarto muito mal iluminado que não tinha nada além de várias cadeiras de plástico e um espelho minúsculo em cima de uma pia. Depois ela me apontou meu uniforme e disse que eu tinha que usar uma máscara das que estavam em um armário. Quando ela estava para sair, uma menina entrou, com o seu uniforme cheirando muito mal. Ela mesma ficou com cara de nojo assim que viu o estado da camisa da menina, enquanto eu só virei o rosto, não querendo aquela imagem na minha cabeça.

"O que aconteceu?" Ashley perguntou, e eu pude perceber que elas eram amigas."

"Mark," a garçonete disse, mas foi o suficiente para Ashley entender.

"Ele começou cedo esse ano," ela disse e a menina concordou com a cabeça, começando a tirar sua camisa ali mesmo. E então Ashley se voltou para mim. "Você tem exatamente dois segundos para se trocar e se apresentar na cozinha. Procure pelo Chris," eu concordei com a cabeça e ela começou a sair, mas parou antes para se virar de novo para mim. "Ah," ela disse, levantando um dedo no ar e apontando para mim. "Fiquei longe de Duck Knout. Para o seu próprio bem."

Foi como se alguém tivesse me puxado o tapete e eu tivesse caído de boca no chão, apesar de que eu nem me mexi. Então Enny estava certa. E todos sabiam disso, menos eu. Ótima ideia aquela, ir trabalhar lá. Mas eu já tinha conseguido a confirmação que eu queria, eu precisava mesmo levar aquilo até o final?

Sim, eu precisava. Não dava, eu já estava ali. E parecia que eu não conseguia acreditar completamente. Não, pelo contrário. Eu estava começando a criar uma dúvida na minha cabeça. Meu lado racional me tinha levado ali, mas meu coração ainda queria acreditar no que ele queria. Se eu tivesse que quebrá-lo para fazer com quem entendesse e concordasse com a minha cabeça, era isso que eu faria.

E não foi tão difícil quanto eu pensava. Eu imaginei que Duck seria discreto no seu próprio hotel. Eu jurava que teria que o seguir para um canto ou quarto vazio para vê-lo fazendo alguma coisa que não fosse tão escandalosa. Mas não.

Na primeira parte da festa, eu não tive que fazer nada além de recolher champanhe e servir. Aparentemente uma garçonete tinha tido uma emergência e Ashley foi forçada a pedir para eu servir as pessoas. Ela só me implorou para não derrubar champanhe em ninguém.

E eu não derrubei, pelo contrário. Eu consegui até chegar bem perto de Duck sem que ele me reconhecesse ou que eu ficasse tão distraída. Eu nem joguei o resto de uma garrafa inteira em cima de uma menina quando eu ouvi ele dando em cima dela. Eles estavam no bar, sentados, um virado para o outro. Ele se comportava, aquela era uma festa de família. Mas ele estava claramente dando em cima dela, praticamente a um centímetro dela. E ele falava como ela era bonita, perguntava sobre a vida dela, se ela gostaria de ser dona de todo o império do pai dele.

Que, vamos falar a verdade, nem era um império. Mas ela só deu risadinhas, tocando seu braço, se inclinando para ele. Qualquer coisa que ele falasse para ela, ela reagia assim. Eu quase me intrometi para falar para ele que ela já estava ganha, que se ele oferecesse um quarto, ele conseguia.

Mas eu não queria que ele me reconhecesse. Nem queria mesmo que eles fossem para um quarto. E, principalmente, naquela hora, Ashley me chamou para outro serviço.

"Esse é um trabalho especial," ela disse, sem me explicar que especial naquela frase significava ruim. "Você foi uma das garçonetes escolhidas para servir Duck Knout e Mark Reves na cobertura."

"Eu fui?" Eu estava achando que ele finalmente tinha me reconhecido.

"Sim, pelo Mark mesmo," ela disse, estragando a minha esperança. "Você vai acompanhar Lorelai até lá e ajudar a preparar as coisas antes que eles cheguem."

Ela me deixou sozinha na frente de um elevador de serviço. Eu esperei ali, enquanto outros garçons chegavam e esperavam comigo. Estava demorando, então eu dei uma olhada em volta e vi a porta que levava ao corredor por onde eu tinha chegado.

Eu realmente já podia ir embora. Eu já tinha visto Duck dando em cima de tanta menina que eu não conseguia nem contar. Eu já tinha visto quando ele usou a sua história triste para deixar uma menina com dó dele. Eu já tinha percebido que todo mundo que o conhecia sabia de sua reputação. O que mais eu precisava fazer ali? Eu precisava de um tapa na cara literalmente para acordar e desistir dele de vez?

Ajustei minha máscara mais uma vez no rosto, tentando decidir naquele segundo se eu deveria subir com os outros garçons. Alguma coisa em mim me dizia que se eu continuasse ali, um tapa na cara era o que eu ia receber. E mesmo que eu ficasse repetindo isso na minha cabeça, minhas pernas andaram até o elevador quando ele chegou.

E andaram para fora quando cheguei na enorme cobertura. Era de um quarto daqueles que eu precisava na minha vida! Eu deveria realmente considerar a opção de me mudar para um hotel! Eu nem tinha uma casa fixa, aquele poderia ser o meu próximo lar!

Bom, não aquele hotel, mas algum outro. Algum concorrente daquele que me mereça.

Eu fiquei tão preocupada com as advertências da tal Lorelai, que mal conseguia distinguir meu nervosismo entre o que me esperava naquela festa e o que eu provavelmente veria em Duck.

Trabalhar em um mundo adulto quando se é ainda adolescente não é fácil. E quando eu era menor, era ainda mais difícil. As festas onde eu ia não eram para a minha idade, nem de longe. E eles não se importavam. Contanto que eu fosse famosa, eu poderia entrar em qualquer lugar. Mesmo que eu não quisesse ser atingida por uma enorme fumaça de maconha, ou assistir enquanto meninas anoréxicas cheiravam coca, eu tinha sido exposta a tudo aquilo.

E eu tinha passado por aquela fase em que eu também queria ser notada, eu também queria que os meninos pensassem que eu era cool e que eu aguentava tudo. Mas já tinha superado tudo aquilo, já sabia que eu não precisava impressionar ninguém e que era aquilo sim que me fazia importante. Eu já não estava na fase de ficar vendo meninas levantarem a blusa e fingir que aquilo não me incomodava. Eu realmente não queria ter que passar por aquilo com Duck perto.

Mas essas eram as advertências de Lorelai. A festa na cobertura não teria regras e que nós podíamos esperar de tudo. Eu quase gritei para o meu coração que batia acelerado. Quase perguntei alto e em bom tom se ele estava entendendo tudo, se ele estava preparado para o que ele veria.

O que eu tinha visto na festa oficial nem se comparava ao que eu vi naquela cobertura, mas eu fiquei feliz de ver que Duck não se juntou a nenhuma das meninas que se beijavam para chamar atenção, ou dos caras que competiam para ver quem cheirava uma fileira maior de coca.

Eu realmente estava começando a me esquecer que eu não estava ali para ver se ele tinha caráter ou não, que eu precisava era ver se ele seria o cara certo para mim. Eu me enchi de orgulho quando um cara tentou lhe passar um cigarro de maconha e ele recusou.

Mas meu orgulho virou pó quando duas meninas retardadas o puxaram para um sofá, dançando em volta dele, praticamente se esfregando nele. Ele não precisava daquilo, será que ele não via isso? Ele não precisava se contentar com meninas idiotas que nem se importavam com ele. Ele realmente preferia acordar do lado delas do que de alguém que realmente gostava dele?

O que eu não conseguia entender era porque ele nem parecia se preocupar com o fato de que eu não tinha ido à festa. E olhando para ele tentando dançar com elas foi quando isso me ocorreu. Eu estava ali, eu sabia disso, então eu ainda não tinha tido tempo de perceber isso. Mas ele não sabia, ele não tinha me visto. Então por que ele não se preocupava? Ou ele tinha me percebido e estava era fazendo showzinho para mim?

Eu cansei, essa é a verdade. Ele podia não ser tão ruim quanto todos os outros ali, mas o nó na garganta que eu sentia só de ver como ele estava se portando era grande o suficiente. Eu tinha cansado e eu queria ir embora. Dei meia volta e fui até a cozinha, onde esperava encontrar Lorelai. Ela estava no cômodo do lado, onde nós estávamos guardando todas as garrafas de cerveja que tinham acabado de trazer para cima.

"Lorelai?" Chamei, mas ela estava tirando umas garrafas da caixa e tinha as costas para mim, que me apoiei no batente da porta.

Ia chamá-la mais uma vez, mas ouvi a voz de Duck atrás de mim, recusando ajuda de um garçom. Fiquei bem quieta, tentando ouvir tudo, mas não me mexi, mantive minhas costas para ele. Não sei direito o que aconteceu, mas ouvi um barulho estranho e depois ele soltou um grunhido, seguido de uma risada. Acabou pedindo para o garçom levar as garrafas mesmo.

Achei que ele já tivesse ido embora, então arrisquei um olhar por cima do ombro. Mas ele estava ali, apoiado na ilha da cozinha, piscando várias vezes, tentando enxergar um palmo na sua frente. Ele acabou notando uma garrafa de cerveja que já estava quase vazia e a pegou, sem questionar, virando-a em cima dele, como um jogador de futebol faz durante uma partida.

Não sabia se ele estava tentando se refrescar ou qual a loucura que se passava dentro da cabeça dele, mas aquela cena me deixou bastante deprimida. Eu me perguntei se era assim que ele tinha me visto na festa de Sebastian, se eu tinha estado daquele jeito. Ele parecia tão à beira do precipício, como se estivesse prestes a cambalear para frente e cair. E o pior de tudo era que ele achava aquilo muito engraçado. Era triste, de verdade.

Ainda mais quando ele pegou outra, de novo sem se importar que algum dos bêbados nojentos na sala tinha colocado a boca dele ali, e a virou, dessa vez dentro da boca, cuspindo-a logo depois, rindo ainda mais. E quanto mais a sua risada se ecoava pela cozinha, mais pena dele eu sentia. Aquele não era o cara que eu tinha visto, não era quem eu queria que ele fosse. Era bem diferente mesmo do que eu tinha imaginado, do que eu tinha conhecido na festa de Sebastian.

E então eu percebi que toda a imagem dele que eu tinha construído na minha cabeça desde então estava errada. Era só isso, uma ilusão completa das minhas próprias necessidades. Eu estaria melhor fingindo um relacionamento com um ator qualquer só por publicidade. Pelo menos eu não estaria me apaixonando pela ideia de um cara que não existia, que era só a fachada de outro tão perdido.

Quando ele começou a sair da cozinha, eu senti um impulso de ir até ele, tentar falar com ele. Nem tentei ser gentil ou conversar, eu sabia que ele já não estava bem o suficiente para entender coisas complicadas. Só tinha uma coisa que eu precisava dizer para ele e eu precisava deixar aquilo bem claro. Ou pelo menos tentar.

Eu tirei a minha máscara e a larguei na bancada da cozinha, chegando até ele antes que ele conseguisse começar seu caminho pelo corredor de volta par a sala. E então eu o empurrei, até entrar no quarto onde Lorelai nos tinha proibido de entrar. Ela tinha dito que era o quarto dele e que se alguém fosse pego lá dentro, seria demitido. Como eu não precisava daquele emprego, nem questionei a minha escolha. Ele ficou ainda mais perdido comigo o empurrando, tentando entender o que estava acontecendo. Mas eu não tinha tempo para explicar e o convencer a me seguir. Então eu só parei uma vez que estava lá dentro.

E juro que a minha ideia era só fazê-lo entrar e falar o que eu tinha para falar. Mas ele, naquela cabecinha oca que só pensava em mulher, tinha decidido que o que eu queria era ficar com ele. E sem nem me perguntar meu nome, ele me puxou para ele, tentando fazer nossos lábios se tocarem.

Infelizmente, eu só consegui o empurrar para longe tarde demais, ele tinha conseguido me roubar um beijo e feito meu coração pular que nem louco no meio peito.

Mas meu nervosismo só me ajudou a ter forças para derrubá-lo na cama.

"Uou, qual é?" Ele perguntou, irritado, e eu só revirei os olhos.

Não que desse para ele me enxergar, eu não tinha me importado o suficiente com acender a luz.

"Eu tinha CERTEZA de que vir nessa festa era uma péssima ideia!" Eu falei, andando até a janela, olhando a vista de tirar o fôlego que ele tinha lá de cima.

Uau, eu pensei, perdendo um pouco do que eu estava falando. Eu realmente deveria considerar morar em algum hotel do centro.

Mas a sua respiração instável me fez olhar de novo para ele e lembrar o porquê de eu estar ali. Então me virei de novo para a janela.

"Eu devia ter ficado em casa, devia ter confiado no meu instinto," eu falava, talvez baixo demais para ele entender.

Alguma coisa me dizia que ele não conseguiria prestar atenção no que eu estava falando, mesmo se quisesse. Então todo aquele discurso, todo aquele momento, ele seria guardado dentro da minha cabeça, não da dele. Eu podia falar o que fosse, só eu mesma estava me ouvindo.

"Abigail? É você?" Ele perguntou, depois de alguns segundos em silêncio.

Eu fiquei realmente ofendida! Ele podia pelo menos me reconhecer, né?

"Claro que sou eu," eu falei, me virando para olhá-lo. Ele estava de pé, na frente da cama, ainda tentando se equilibrar, nunca conseguindo. "E você é um idiota," eu o empurrei de novo, acabando com aquela sua agonia de tentar ficar parado.

"O que você tá fazendo aqui?" Ele perguntou, fazendo uma cara de confuso tão absurda, que eu senti uma vontade de empurrá-lo de novo.

Mas ele já estava na cama, eu não podia bater em alguém caído, não é?

"Você me convidou!" Eu disse, um pouco alto demais, transformando a minha vontade de derrubá-lo em frustração.

Ele se esforçou e conseguiu se levantar, depois andou até mim. "Para a festa, não para trabalhar para mim."

Eu o deixei se aproximar, apesar de estar gritando na minha cabeça que eu precisava ficar longe dele. Eu queria era ficar perto. Meu coração idiota não tinha sofrido o suficiente, ainda queria lhe dar outra chance. Ele começou a se inclinar para baixo para mim, e eu provavelmente teria me deixado levar.

Mas o cheiro de cerveja que vinha da sua blusa e o bafo de álcool da sua boca me fez mudar de ideia, me afastando dele antes que eu pudesse me arrepender.

"Era uma festa à fantasia, certo?" Falei, andando até a janela de novo. "Bom, estou fantasiada."

Eu abri meus braços, como se mostrasse a minha linda fantasia de calça e camisa de garçonete, mas ele não parecia conseguir enxergar nada ali. Eu até cheguei a me perguntar quanta certeza ele tinha de que eu era eu mesma. E se eu fosse outra menina, tentando enganá-lo? Ele acreditaria em mim?

"E você veio," ele disse, ainda de longe, enquanto eu o observava lutar contra si mesmo para se manter o mais sóbrio o possível.

O que pessoas bêbadas não entendem é que não tem porque tentar parecer sóbrio. Tudo que se faz depois da milésima cerveja parece embriagado. E quando se tenta parecer normal, aí sim fica claro que não está bem.

"Não vai se achando por isso," falei, me virando completamente para olhá-lo. "Eu só vim para confirmar minhas suspeitas de que sou boa demais para você."

Eu esperei que ele protestasse, que ele brigasse comigo. Eu queria que ele acordasse, que percebesse o que estava acontecendo. Mas percebi que ele não estava no mesmo nível que eu, ele não estava pronto para uma conversa como aquela. Ele não percebia a gravidade do problema, pois ele só andou até mim, colocando as mãos na minha cintura, como se nós fôssemos mesmo um casal!

Eu me deixei ser puxada para ele, apesar de estar com bastante nojo da mancha enorme de cerveja em sua camisa. Ainda tinha um pedacinho de mim que gostava de ter suas mãos em mim, mesmo que esse pedacinho fosse estúpido e minúsculo.

Mas ele tentar me beijar de novo foi ridículo e diminui aquele pedacinho até virar nada! Ele não estava só completamente ignorando o que eu tinha falado. Ele realmente achava que tinha alguma chance, no estado que ele estava! E aquilo só me provava ainda mais que era verdade, que eu era boa demais para ele.

"Não, Duck," eu falei, conseguindo me livrar do seu abraço a tempo e andando até a porta.

Eu estava cansada daquilo. Eu não queria passar mais nem um segundo tentando fazê-lo entender. Eu queria falar o que precisava falar alto, para eu mesma ouvir e entender. E se ele ia prestar atenção ou não, isso era problema dele. Eu precisava daquele ponto final para mim.

"Você tem muita garota atrás de você, não vai precisar de mim. Eu só queria que você nunca mais viesse falar comigo."

"Não é assim," ele disse, começando a andar até mim, e eu coloquei minha mão na maçaneta, tentando mostrar que aquela conversa tinha acabado. "Abbie-"

"Olha, não estou falando que eu me arrependi do que aconteceu," eu falei, o cortando. "E quem sabe até algum dia nós vamos ser amigos. Mas eu não posso ter você na minha vida agora. Eu não quero ter que ficar olhando por cima do ombro, me perguntando se você vai estar sempre pensando em outra, se lembrando de outra. Eu preciso de um cara só para mim. E você não é esse cara," era estranho que tudo o que eu falava me doía mais do que ele parecia ser afetado. E de novo eu senti como se falasse só para mim mesma, como se ele nem conseguisse registrar as minhas palavras. Então eu desisti de esperar com que ele falasse alguma coisa. "Eu só queria te pedir para não vir atrás de mim. E te dizer adeus."

Eu sorri para ele, esperando que aquilo amenizasse o que quer que ele estivesse pensando. Mas depois eu percebi que ele provavelmente ainda nem estava entendendo nada. Então eu só me virei e saí do quarto.

Pude ouvir quando ele me seguiu, mas me mantive forte, andando pelo corredor, mirando a sala. Eu passei por mais algumas meninas gargalhando, outras dançando em cima da mesa, algumas gritando na varanda, mas eu nem olhei para os lados. Eu fiz meu caminho até a porta e saí.

Lorelai deve ter ficado assustada, pensando que eu tinha ido embora sem dar satisfações. O que era verdade, mas eu não me importava. Eu finalmente tinha terminado o que eu tinha ido fazer ali. Então, me explica por que eu continuei cogitando a possibilidade de subir de volta para a cobertura e esquecer tudo o que eu tinha dito? Até na hora em que eu estava me trocando de volta para as minhas roupas comuns, eu ainda pensava que talvez eu pudesse dizer adeus amanhã, que eu pudesse passar só uma noite com ele.

Mas eu precisava esquecer aquilo. Eu merecia coisa melhor, essa era a verdade. E eu precisava cortar aquele mal pela raiz, enquanto eu ainda não me importava tanto com ele.

Quando Andre chegou, eu já estava do lado de fora do prédio, dessa vez na porta da frente. Já passava das três da manhã, mas os paparazzi estavam ali. Eu deixei que eles me fotografassem de jeans, falando que eu estava vestida de uma garota comum para o Halloween. Eu sabia que aquela era uma história idiota e que eu deveria ter saído de novo pela porta dos fundos, mas eu queria aquela atenção. Por mais superficial que ela fosse, era melhor do que eu tinha recebido de Duck.

Até que um cara com uma câmera a colocou na minha cara e me fez a última pergunta que eu esperava que ele me fizesse.

"Abigail Neumann, o que você pensou quando soube do ataque ao castelo?" Ele perguntou, como se não fosse nada, como se ele tivesse me perguntado sobre um desfile em Paris.

Juro que meu coração parou de bater por um segundo e meu queixo caiu. Que ataque? Do que ele estava falando?

Andre tinha acabado de chegar e ele me carregou para o carro antes que eu pudesse responder. Ele pediu para o motorista começar a dirigir, enquanto eu ficava ali, ainda tentando entender do que o cara tinha falado.

"Andre, o que aconteceu no castelo?" Eu perguntei e ele esfregou a testa, só me deixando ainda mais nervosa.

"Eles foram atacados durante a festa de Halloween," ele disse, franzindo a sobrancelha.

"Mas eles estão bem? Alguém ficou ferido?" Eu comecei a lembrar de todas as meninas que ainda estavam lá, das minhas criadas, da rainha, até de Charles, de Thomas, de todo mundo que eu conhecia.

Eu precisava ter certeza de que todos estavam bem! Eu não queria que alguma coisa acontecesse com eles.

"Todos estão bem," Andre disse, mas tinha alguma coisa na sua voz, alguma coisa errada.

"Andre?"

"Sim, Abbie?" Ele perguntou, casualmente, tentando esconder o que quer que fosse.

"Tem mais alguma coisa?"

Ele engoliu em seco antes de abrir a boca. "Eles não têm certeza absoluta, ninguém está falando muita coisa, ninguém quer deixar a notícia sair-"

"Andre!"

"Lady Gabrielle foi sequestrada."

E meu coração parou de bater por um segundo de novo.

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