Capítulo 84: POV Abigail Neumann
Andre foi a primeira pessoa que eu vi depois que saí do castelo. Pelo menos, a primeira que eu conhecia. Meus pais não se importaram o suficiente para ir me receber, mal tinham me escrito enquanto eu estava na seleção. Mas Andre estava lá, sempre fiel, segurando um buquê enorme de tulipas roxas.
Foi só quando eu o vi ali, parado do lado da minha limusine, que eu percebi o quanto eu sentia a sua falta! Não sabia explicar a minha relação com ele. Era um pouco de irmãos, um pouco de pai e filha. Ele era mais do que só o meu assistente, agente, manager. Ele era meu melhor amigo.
"Abbie, como você tá?" Ele perguntou, ainda me abraçando.
Eu me afastei um pouco dele e percebi que estava lacrimejando. "Cansada," falei e ri.
Nós entramos no carro e ele colocou um pouco de champanhe em duas taças para nós.
"O que nós estamos comemorando?" Perguntei, apesar de achar que álcool era a melhor ideia que alguém poderia ter naquela hora. "O meu enorme fracasso?"
Ele sorriu, saboreando o segredo que estava prestes a me contar.
"Você não fracassou, pelo contrário," disse, dando uma batidinha na minha taça com a sua. "Seu CD está em primeiro lugar nas paradas faz três semanas. Ninguém consegue tirá-lo de lá. Você tem quatro singles no Top 10. Essa seleção foi qualquer coisa, menos um fracasso."
Não pude evitar regalar meus olhos, tentando absorver aquilo. "Você tá brincando, né? Não tem graça, Andre."
Ele balançou a cabeça, animado, e pegou seu tablet do banco do lado dele. "Não estou, não," disse, virando-o para mim.
E lá estava eu, em uma foto que eu tinha tirado pouco tempo antes de entrar para a Seleção, a foto que fazia parte do editorial do meu último single, "I Hate Boys". Fui passando a página para baixo, vendo que o single estava em primeiro lugar. E em terceiro, estava o meu, "Ode to a Jerk". Depois vinha outro meu, "Miss Drama Queen". E em sexto lugar, a minha música favorita, "On Hopes And Lulabies".
"Então deu certo?" Perguntei, hipnotizada pela tela onde minhas fotos brilhavam.
"Se deu certo? Ninguém fala de outra coisa," Andre disse, rindo consigo mesmo. "Eu tenho recebido tantas ligações implorando para você posar para a capa de várias revistas, querendo uma entrevista, uma declaração, qualquer coisa. Todos querem saber de você, do seu tempo no castelo, de como foi encontrar com o príncipe. E "Corações Partidos" te quer de volta."
"Como eles podem me querer de volta?" Perguntei, baixando o tablet para olhar para ele. "Eles mataram a minha personagem. E, até onde eu sei, a novela não é sobre zumbis. A não ser que eles tenham mudado isso no tempo em que eu fiquei aqui."
Ele riu, divertido. "Não, não mudaram. Não querem que você volte como zumbi, ou vampira, ou nada desse tipo. Eles disseram que vão inventar uma personagem para você, uma irmã gêmea, o que fosse."
Enquanto ele falava, eu imaginei a cara que o diretor faria, mentindo na minha cara, me bajulando para me conseguir de volta. Aquilo sim era vingança.
"Não," falei, de repente. "Nada no mundo vai me fazer voltar para aquela novela."
"Ótimo," Andre concordou, para a minha surpresa. "Porque eu tive uma ideia melhor."
"Qual ideia?" Perguntei, enquanto meus olhos eram distraídos pelas câmeras que esperavam do lado de fora dos portões do castelo.
"Uma série," ele disse, orgulhoso de si mesmo. "Como você como protagonista. Uma das outras meninas da seleção, Sky Brodovisk, ela tem um contrato com a IBT para vinte capítulos e ela gostaria muito que você participasse."
"Ela é atriz?"
"Não, modelo, mas quer começar a ser atriz," ele explicou.
"Eu nem sei direito quem é," confessei.
"Não importa, ela quer embarcar nessa sua nova fama e eu acho que você deveria aproveitar essa oportunidade," ele deslizou para a beira do banco, chegando mais perto de mim, tomando totalmente a minha atenção. "Imagina, Abbie. Vocês duas, amigas formadas no castelo, fazendo uma série sobre o que vocês quiserem. Vocês poderiam aparecer em programas de televisão, capas de revista, tudo juntas. E todos se apaixonariam pela sua amizade, loucos para saber se o que eles veem na série é de verdade."
"Ela não foi uma das meninas que saiu pelo negócio da piscina?" Perguntei e ele engoliu em seco.
"Tá, foi," ele disse e eu balancei de leve a cabeça. "É por isso mesmo que ela precisa de você. Mas ela também tem uma coisa que você não tem, ela tem esse contrato. E ela já deixou bem claro que você seria a principal, ela só faria a sua melhor amiga ou coisa assim."
"Ela já tem ideia sobre o que quer fazer a série?" Perguntei, tomando o último gole de champanhe da minha taça e me servindo de outro.
"Eles queriam fazer alguma coisa que tivesse a ver com o castelo, com o príncipe, mas eu acho apelação demais," ele disse, se reclinando de volta no banco. "Eu acho que vocês deveriam apostar no público jovem, que ainda sonha com a realeza, mas tem vidas normais. Poderia ser algum tema adolescente, romântico e divertido. Tanto faz, a gente contrata alguns roteiristas e eles cuidam disso."
"Está bem," disse, dando de ombros. "Com ou sem essa Sky, eu sempre quis ter uma série. E se você acha que esse é o próximo passo..."
"Eu acho!"
"Então pode ligar de volta para ela e avisar que estou dentro."
Eu tinha me esquecido de quanto eu gostava de ser famosa, de verdade. Lá dentro do castelo, eu era só mais uma das selecionadas. Eram muitas modelos para alguém se importar comigo. Mas aqui fora eu era eu. A estrela, a menina que todas as outras queriam ser iguais. Minha música tocava na rádio o tempo todo, todos me queriam na capa das suas revistas. Eu tinha me esquecido de quanto isso tudo era divertido, pelo menos enquanto eu estava na rua.
E o caos que vinha com a fama era viciante! Eu não conseguia entender como tinha passado todas essas semanas longe dessa loucura e ter sobrevivido.
Assim que o carro parou na frente da minha casa, eu decidi descer. Eu podia muito bem passar pelos portões e ir direto para a paz do meu quarto. Mas eu queria poder ver meus fãs, eu queria ficar um tempo curtindo a adoração deles.
Andre desceu primeiro, me ajudando a sair do carro. Não que eu não soubesse andar de salto, mas as pedrinhas da rua não facilitavam a minha vida.
O povo foi à loucura. Todos já me esperavam, balançando suas fotos e suas canetas, gritando meu nome. E eu não conseguia parar de sorrir. Andre foi comigo, sempre atrás de mim, caso alguma coisa acontecesse. Dois dos seguranças que ficavam no portão também se colocaram à minha volta, me protegendo.
A maioria das minhas fãs eram meninas, quase sempre mais novas. Elas me falavam que eu era maravilhosa, que elas queriam ser como eu, que eu deveria ter ganhado a seleção. Enquanto isso, eu agradecia, assinando do melhor jeito que dava cada uma das fotos que elas me entregavam. Eu perguntava se elas tinham gostado da seleção, falava que era a vida, que às vezes se perdia, deixando-as mais inconformadas ainda que eu não tinha ganhado. Era legal ver gente que nem me conhecia torcendo para mim. Aquela era, de longe, a melhor parte de tudo que eu fazia.
Continuei meu caminho, não parando muito tempo para falar com ninguém, tentando atender a todos. Andre já estava impaciente para eu voltar para o carro, mas eu vi algumas câmeras ali, e quis mostrar para todo mundo que eu era legal, que eu estava de volta. Acenei para elas, tirei fotos com todas as pessoas que me pediam. Eu estava felizmente presa àquela bolha de fama e adoração e não estava com a menor pressa de entrar para a minha casa vazia e gelada.
Até que uma voz mais grossa me pediu um autógrafo e eu levantei os olhos para encontrar Duck ali. Ele sorriu para mim, se divertindo com a minha expressão de surpresa.
Meu instinto foi tentar chegar até ele, tentar beijá-lo, mas anos de experiência no ramo me impediram de fazer uma besteira como aquela na frente de todo mundo. Sem saber direito como reagir, eu peguei a foto que ele segurava na minha direção e a assinei, minha mão tremendo de leve.
Foi a pior assinatura que eu já tinha feito em toda a minha vida e eu me odiei por não poder refazê-la. Mas ignorei o sentimento de estupidez que senti por não conseguir fazer minha letra sair bonita e lhe devolvi a foto.
"Posso tirar uma foto com você?" Ele perguntou, enquanto outras meninas balançavam fotos entre a gente.
Eu queria muito falar não, mas não dava. Eu não podia escolher quais fãs podiam tocar em mim e quais não podiam. Eu tinha que ser justa. E para todas as pessoas com câmeras ali, ele era só mais um. Qualquer outra reação minha só denunciaria que eu o conhecia, que tinha alguma coisa entre a gente.
E que coisa!, eu pensei.
Acabei concordando, e ele chegou perto de mim, segurando seu celular no ar, mirando-o para mim. Ele me abraçou, como quase todos os fãs tinham feito, e sua mão no meu ombro era muito desconcertante. Mas não mais do que o cheiro de seu perfume e seu pescoço logo ali. Eu arrisquei um olhar para ele e não pude evitar imaginar como seria legal arranhar seu rosto de leve, só para sentir sua barba por fazer.
A foto deve ter saído terrível. Eu estava olhando para ele, completamente distraída, completamente perdida, quando o flash me cegou. Pronto, pensei. Ali estava a prova da minha fraqueza.
Ele se afastou de mim, e eu respirei fundo, pensando que pelo menos o pior tinha passado. Eu até me virei para uma outra menina ali e perguntei seu nome, mas quando fui pegar o encarte do meu CD que ela queria que eu assinasse, ele colocou uma caixa entre nós.
Uma caixa pequena, adorável, que não devia caber nada além de um anel. Meus joelhos fraquejaram àquela imagem, mas meus dedos não hesitaram, sendo atraídos pelo laço branco que estava delicadamente amarrado à caixinha azul.
Quando levantei os olhos dela para olhá-lo, ele tinha desaparecido no mar de gente. Eu o procurei por um tempo, mas era impossível. Tinha muita gente ali, gente demais. E mesmo que ele fosse alto e desse para reconhecê-lo em uma multidão, se ele não quisesse ser encontrado ali, seria bem fácil para ele desaparecer.
Eu assinei mais alguns encartes, algumas fotos, mas nem tentei ficar muito tempo ali. Eu estava louca para abrir a caixinha.
Assim que Andre fechou a porta da limusine atrás dele, eu puxei as pontas do laço, desfazendo-o, e depois levantei a tampa, para encontrar um convite para uma festa.
Hotel Knout, 19h, Festa de Halloween. Venha fantasiado.
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