Capítulo 79: POV Charles Regen
Aquele tinha sido o pior final de semana de minha vida. Ou pelo menos o mais difícil. Estive à beira de jogar tudo para o alto o tempo todo. Não consegui dormir direito, mal consegui comer. Eu nunca tinha tido que lidar com uma situação como aquela e aquilo me deixava ainda mais apreensivo sobre como agir. Claro que eu tinha crescido como filho de um rei e eu mesmo acabaria me tornando um. Mas meu pai era mais do que rei, ele era meu pai. E eu não conseguia pensar nele de outro jeito. Já ver um cara ir de príncipe a rei soberano de um país com a influência da Alemanha era uma coisa inédita para mim. E eu entendi pela primeira vez a áurea que um homem ganha ao subir ao trono. Ele não estava nem em seu próprio território, mas já parecia vestir o manto de regente.
Ele estava acima de mim, mesmo que só em comportamento.
Mas não era por isso que eu o ressentia, não era isso que me incomodava nele, tão pouco na situação. Eu tinha, sim, ciúmes dele com a Melissa. Não gostava nem de pensar naquilo. Ela estava no topo da minha lista de candidatas perfeitas. Ela falava várias línguas, era determinada e madura, além de muito bonita. Ele tinha muita sorte de poder tê-la ao seu lado como rainha. E eu o invejava por isso, sem contar com os ciúmes de saber que alguém que já estava tão próxima de mim seria levada para longe por outro homem.
Mas esse não era o maior dos meus problemas. Isso tudo já me deixaria louco normalmente, mas nem de longe me deixaria no limite. O problema era aquela nuvem negra que tinha pairado sobre o castelo. A morte. Eu tinha crescido em uma época muito diferente, eu não tinha ido para o exército como o meu irmão, nem tinha passado por ataques rebeldes fatais. Eu nunca tinha tido muito contato com a morte, nunca tinha tido que encará-la. E a expressão no rosto de Theodore quando meu pai contou sobre o falecimento do seu me deixou pior do que eu pensava que ficaria. Eu me vi ali, no seu lugar, sentindo os dedos de meu pai soltando dos meus. Eu teria que engolir meu pesar como Theodore, eu teria que assumir o trono como ele. Ele era eu, só antes. E eu nem tinha como saber quanto tempo demoraria para a minha vez.
Aquela nuvem negra pairava sobre quase todos nós. Era inevitável pensar na própria mortalidade quando estava de frente àquela situação. Mas as selecionadas tinham sorte de não terem conhecido Hans, de não terem que pensar nenhuma vez que aquele homem saudável e forte que uma vez esteve na sua frente agora estava embaixo da terra. A realeza era cruel, com cada morte vinha um novo título. E nenhum de nós conseguiu evitar pensar em quanto tempo ainda tinha no mundo.
Mas aquilo não levaria a nada e eu precisava parar de pensar no que poderia acontecer comigo. O problema era que ter que lidar com a situação bem no meio da Seleção estava me cansando. Eu queria cada dia menos continuar com aquilo tudo, estava prestes a mandar todas embora. Só que toda vez que eu pensava que tinha chegado no meu limite, que não aguentava mais, eu me pegava imaginando a cena delas indo embora. E não dava, não tinha cansaço no mundo que me fizesse mandar Gabrielle deixar o castelo. Eu ainda tinha minhas dúvidas sobre ela e toda vez que ela me feria o orgulho, eu sentia um impulso de eliminá-la. Mas, por sorte, eu era um cara bem mais racional e nunca me deixaria tomar uma decisão como essa baseada em pura emoção.
O que eu precisava mesmo fazer era eliminar todas aquelas que eu não conseguia imaginar do meu lado. E, é claro, mais aquela que já não era minha, que talvez nunca tivesse sido.
Eu estava sentado na mesa de jantar naquela segunda-feira, olhando para elas, me perguntando se eu sentiria a falta de cada uma que iria embora naquela noite. Meus olhos caíram em Melissa e me perguntei se ela já tinha alguma ideia do que estava para acontecer. Mas a resposta era clara, já que ela tomava sua sopa com o mínimo de esforço necessário para levar a colher à boca. Era como se ela estivesse carregando todo o fardo da perda de Theodore, que a olhava do outro lado do salão. Ele não parecia ter acabado de perder um pai, ele parecia normal. Não feliz, mas normal.
E do lado de Melissa, estava Melody. Eu sabia porque ela teria que ir, mas me incomodava muito ter que eliminá-la. Ela tinha bom coração, era um doce de menina. Mas era só uma menina. Eu não conseguia pensar nela como minha companheira e seria ainda mais cruel deixá-la no castelo por mais alguns dias, crescendo sua esperança a cada um deles, só aumentando sua queda quando o inevitável acontecesse.
Eu não era bom em causar dor para ninguém. Eu era mole demais, essa era a verdade. Se eu pudesse, não eliminaria nenhuma. Eu deixaria todas no castelo para sempre. Mas isso era inviável e seria muito tolo mesmo da minha parte pensar que era uma boa ideia. Eu precisava escolher só uma. E elas sabiam disso, elas entenderiam, eu me convenci. Elas não ficariam tão mal.
Principalmente Abigail, pensei. Ela provavelmente só daria de ombros e sairia com o maior alvoroço que pudesse, dando entrevista atrás de entrevista depois sobre como nós tínhamos passado nosso tempo juntos. Não que nós tivéssemos passado qualquer tempo juntos, mas mesmo assim. Ela poderia inventar alguma coisa que vendesse seu próximo CD de músicas adolescentes. Eu não me importaria. Na verdade, se fosse ajudá-la a sair do castelo, eu até daria um pouco de corda.
Não, eu não tinha tanta raiva assim dela. Só me incomodava pensar que ela poderia estar no lugar de alguma menina que tivesse saído depois da festa do meu irmão.
Que me tinha roubado Nina. Ele me falou que não estava pronto para tomar uma atitude, o que significava que eu teria que mantê-la ali por mais um tempo, mesmo que não tivesse nenhum encontro com ela. Então seria assim, ela seria uma Elite, porque meu irmão era covarde demais para admitir que estava apaixonado por ela. O engraçado era que ele achava que negar seus sentimentos fazia dele forte. Se ele pelo menos soubesse!
Annabel seria o maior choque das eliminadas, já que todo o público a amava. Claro, ela tinha mais porte de rainha do que a minha própria mãe. Mas eu não tinha o menor interesse nela, pelo contrário. Eu já era duro demais para ficar com ela, precisava era de alguém com o riso fácil e a imaginação de Gabrielle do meu lado. Se eu a escolhesse como minha mulher, nós seríamos o casal mais chato do universo. Eu precisava de alguém que não fosse tão formal e séria como eu. Eu precisava de um oposto.
Victoria era um oposto, mas não um oposto bom. Era bem terrível, para falar a verdade. Eu não podia esperar para tirá-la da competição. E sua irmã também. Não tinha nada de errado com Vanessa, nada mesmo. Mas isso era um dos problemas. Nós não tínhamos a menor química, não conseguíamos falar sobre nada. Era tudo muito tosco, parecíamos primos distantes obrigados a interagirem quando tudo que eles queriam fazer era sair correndo. As duas seriam eliminadas.
Além delas, tinha uma outra que eu estava pensando em tirar da competição. Mas essa me criava muita dúvida. Era a Sophie, minha maior fã. Ela tinha boas intenções, eu podia ver isso. E ela gostava mesmo de mim, mais até do que fã. Ela se importava comigo e sempre tentava me mostrar nas menores coisas. Mas eu não sabia se conseguiríamos passar por aquilo e nos tornamos algo mais. Eu deveria eliminá-la ou dar-lhe outra chance?
Tinha algumas que eu sabia que continuariam. Arya, Enny, Beatriz, é claro. Beatriz tinha um jeito meio determinado que me agradava. Ela era honesta e fazia o que lhe dava na telha. Às vezes podia ser um pouco louca demais, fazendo coisas inesperadas, mas ela estava sempre disposta a tentar tudo uma vez e eu gostava muito disso. Mas confesso que talvez toda a minha atração fosse pelo simples fato de que ela tinha sido tão machucada por outro cara. Eu era meio tipo salvador, sempre queria ajudar. E quando pensava que alguém tinha a tratado tão mal, minha vontade era de tratá-la como rainha, para provar para ela que ela merecia aquilo, que ela poderia ser feliz.
E depois tinha Gabrielle, que eu não tiraria por nada. Pensei nisso, tomando o último gole do meu vinho, meus olhos a mirando. Mas e se ela não me quisesse?, me perguntei. Eu estaria disposto a forçá-la a ficar quando ela não me quisesse? Ela não tinha olhado para mim nenhuma vez durante o jantar todo. Eu tinha tentado ir atrás dela no dia anterior, tinha lhe mandado uma mensagem pedindo para me encontrar, mas ela tinha me negado. Eu já não sabia mais o que fazer para agradá-la. Tá, eu tive que dispensá-la no sábado, mas não era minha culpa! Eu tinha acabado de testemunhar Theodore ouvindo que seu pai tinha morrido e que ele agora era rei. Ela tinha simplesmente escolhido o pior momento possível para ir falar comigo e eu não tinha tido tempo de explicar o porquê de tudo. Mas agora ela já deveria entender.
Mas parecia que não entendia. Ela estava me evitando nessa brincadeira de quem se mostrava menos interessado. Eu corria atrás dela e ela corria atrás de mim. Ela me rejeitava, eu a dispensava. A distância entre nós nem era tão grande, mas era quase palpável. Ela tinha perdido aquele brilho dela de alguns dias atrás, ela quase nem existia. Só estava ali, porque tinha que estar. Só respirava, porque tinha que respirar. Mas eu queria mais do que aquilo. E eu não suportava pensar que estava lhe causando tanto desânimo, que lhe estava sugando a vida. Eu lhe daria a chance de escolher seu futuro.
Tudo em mim queria brigar contra aquela decisão, mas eu teria que resistir, decidi de uma vez. Era a vida dela, ela tinha que poder escolher. Se ela já não me queria, ela poderia ir embora. Eu teria que lhe dar uma chance de me deixar, mesmo que eu não quisesse. Não poderia agir como tinha feito no aniversário do meu irmão. Eu não tinha bebido, eu não estava com raiva. Não estava tomando decisões no calor do momento, eu tinha pensado sobre aquilo. Eu precisava ser justo com ela e precisava entender que talvez o melhor para ela não seria do meu lado. E eu queria muito o melhor para ela. Se eu fosse fazê-la ser qualquer coisa menos do que a mulher mais feliz do mundo, eu tinha que deixá-la seguir seu caminho para buscar essa felicidade em outra pessoa. Ou coisa, outra coisa seria melhor. Não queria nem imaginar ela com outro cara.
Então aquilo seria a coisa mais difícil do mundo para mim, mas eu precisava mostrar para ela que ela não era uma prisioneira. Ela era livre para me escolher se quisesse, como era livre para me esquecer.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top