Capítulo 78: POV Victoria Marin

Eu já estava cansando daquilo. Não podia falar nada que alguma menina do meu lado me reprimia, dizendo que era insensível da minha parte. Eu não podia falar nada! Nada, tudo era inapropriado. Mas o que eu tinha a ver com o rei da Alemanha? Absolutamente nada. Então por que é que eu tinha que ser sensível? Por que eu tinha que me importar com ele?

Sem contar que eu tinha coisas mais importantes com as quais me preocupar. Rumores e rumores corriam pelos corredores de que Charles estava para fazer uma grande eliminação. Diziam que depois dos seus últimos encontros naquela semana ele tinha decidido que algumas meninas realmente não eram para ele. E eu precisava descobrir se eu estaria naquela lista. Ainda mais que hoje de manhã fui informada pelas minhas criadas que elas estariam criando minha fantasia para a festa de Halloween amanhã, mas que talvez Charles já fizesse a eliminação hoje. Eu não podia sair antes dessa festa. Não quando ela seria inteira gravada e tudo passaria na televisão. Era a minha grande chance de ficar famosa, mesmo que eu não tirasse nada dessa competição.

Eu estava determinada a descobrir antes se eu seria eliminada. E eu sabia o melhor jeito de conseguir chegar até aquela informação. Era só eu ir atrás de alguém que não resistiria em me contar. E era muito fácil saber quem. Eu só precisava esperar o momento perfeito.

Tínhamos acabado de ter uma lição de etiqueta com Silvia sobre como nos portar em um enterro. Tipo, sério. Eu já estava cansada daquele clima e ainda tinha que ouvir ela falar e falar sobre o que podíamos fazer e o que nunca deveríamos fazer. Toda a atmosfera do Salão das Mulheres estava pesada e a rainha foi embora com Silvia assim que nós terminamos. Todas as selecionadas foram instruídas a não saírem de lá para nada que não fosse para ir ao banheiro ou o nosso próprio quarto. Ainda não tínhamos toda a nossa liberdade de volta, o que dificultava o meu plano.

"Ai meu deus," Jenny soltou uma hora, enquanto eu e algumas das outras selecionadas nos servíamos de chá.

"Que que aconteceu?" Arya perguntou, soltando sua xícara vazia e correndo até ela na janela. "UOU," ela soltou quando viu o que Jenny via, só deixando todas nós completamente surpresas.

"O que vocês estão olhando?" Annabel perguntou, sem sair da sua cadeira. Ela já tomava seu chá, toda fresca e parecia que não perderia sua pose por nada no mundo.

"Os guardas!" Melody falou, já hipnotizada pelo que acontecia lá fora.

Eu cansei daquilo. Soltei a minha xícara aonde estava e fui bufando até elas, já sabendo que estaria perdendo o meu tempo com alguma coisa fugaz que elas achavam incrível e que estava completamente abaixo de mim.

Mas estava errada. Quando olhei pelas janelas, entendi o porquê de tanto alvoroço. Alguns guardas do castelo corriam pelo jardim, desviando de obstáculos, treinando embaixo do sol sem camisa. Eu tive que engolir a seco algumas vezes, até conseguir me recompor. Mas não era fácil. Mesmo eu, que queria me manter em controle o tempo todo, não podia negar que aquilo me distraía. Eu reconheci alguns, como o que estava sempre no corredor na frente da minha porta de noite.

Ele nem parecia estar cansado, corria de um lado para o outro seguindo o caminho proposto com muito menos esforço do que a maioria dos outros. Sua pele morena brilhava no sol de um jeito que me dava um pouco de inveja e muita vontade de tocá-la. Mordi forte, tentando ignorar a animação que aquela cena toda me dava. Quando percebi que já tinha minha pose de volta, dei de ombros.

"Prefiro o Charles," falei, fazendo algumas várias se virarem para me olhar.

"Você já viu o Charles sem camisa?" Beatriz perguntou, seu ciúme claro.

Dei de ombros de novo e voltei para a minha xícara de chá, me sentando depois do lado de Annabel.

"Uou," Sophie soltou, me fazendo querer olhar para ela. "Aquele é o príncipe Sebastian?"

Algumas meninas riram alto, e eu me odiei por ter me sentado antes delas terem percebido que um dos príncipes estava lá. Mas eu não podia simplesmente me levantar de novo e ir olhá-los. Não depois de já ter fingido que não me importava.

"Nossa, parabéns, Sebastian," Arya disse, fazendo todas rirem com ela.

Annabel na minha frente parecia ficar cada vez mais tímida com os comentários das outras.

"Qual vocês acham que é o mais bonito?" Abbie perguntou e eu arrisquei um olhar na direção delas.

Elas olharam uma para a outra, provavelmente ainda se questionando se deveriam dizer o que achavam ou não. Eu revirei os olhos com a covardia delas, aquele medo idiota de falar o que pensavam.

"Depois do Charles," eu disse, só para não me contradizer, "acho que o Oficial Wyatt."

"Qual é esse?" Sophie perguntou, se virando para a janela de novo.

"É o que fica no corredor de noite?" Gabrielle questionou e eu só concordei com a cabeça.

Era uma ótima desculpa para eu me juntar de novo a elas e o fiz satisfeita.

"Aquele ali," disse, apontando para o guarda que jogava água de uma garrafinha na cabeça, deixando-a escorrer pelo peito e esfregando a barriga e os braços, se refrescando.

Eu não precisava falar mais nada, ele já tinha me ajudado com o melhor dos argumentos. E nenhuma delas conseguiu me questionar pelos poucos segundos em que ele tinha todas hipnotizadas.

"Eu gosto mais daquele," Melody disse, apontando para um garoto alto de cabelo quase loiro.

"Eu também," Abbie concordou, fazendo Melody olhá-la assustada.

Ela parecia ter levado um tapa na cara com aquilo, o que me fez ficar curiosa para saber que história tinha por trás daquilo.

"Não, o de cabelo escuro é muito mais bonito," Jenny disse. "O contraste da pele branquinha com o cabelo castanho escuro é lindo."

"Aquele é o italiano, não é?" Beatriz perguntou, super atenta ao cara que fazia flexões pendurado por uma vara de madeira.

"Ah, ele cara dá em cima de todo mundo," falei, cruzando os braços.

"Ele não dá em cima, só cumprimenta," Beatriz disse, se virando para mim. "Eu saberia se ele tivesse dado realmente em cima de mim."

Levantei uma sobrancelha, enquanto pensava que ela era tonta demais por não ter percebido. Mas depois pensei que talvez ela estivesse certa, talvez ela fosse a única que ele não dava em cima. Talvez ele não a achasse tão bonita assim.

"E você, Enny, qual prefere?" Sophie perguntou, dando uma ombrada de leve na amiga.

"Nenhum," ela disse, dando de ombros, e todas nós nos viramos para ela.

"Vai, escolhe um," Abbie insistiu, só porque podíamos ver que Enny não queria fazer parte daquilo.

"Tanto faz," ela disse, mas tinha muito mais por trás daquilo.

"É só uma brincadeira," minha irmã falou, tentando convencê-la. "Ninguém vai te julgar."

Eu mesma teria sido um pouco mais dura para tentar fazê-la deixar de ser boba e falar de uma vez. Mas aparentemente a doçura da minha irmã funcionou. Enny deu de ombros, mas depois falou:

"Se eu tivesse que escolher, mas só se tivesse mesmo," ela olhou de volta para a janela e seus olhos tomaram um ar um pouco sonhador demais para o meu gosto, "eu escolheria aquele."

Meu olhar seguiu para onde seu dedo apontava, chegando a o maior de todos os caras ali, tanto de altura, quanto de músculos. Ele era grande de verdade e não consegui evitar imaginá-la do lado dele, toda frágil e delicada, enquanto ele a carregaria facilmente nos braços.

"Mas ele é velho!" Jenny soltou, contrariando completamente o que minha irmã tinha prometido a Enny.

Isso só a fez ficar mais fechada, indo até o sofá, desistindo completamente da brincadeira. Jenny pediu desculpas, e Enny disse que não tinha problema. Mas logo as outras se voltaram para a janela, discutindo quem tinha o melhor abdômen, quem tinha os braços mais largos e as pernas mais bonitas. Eu estava me divertindo com o jeito que elas falavam deles, como adolescentes inexperientes, mas tive que deixá-las quando percebi que Wyatt estava entrando no castelo.

Aquela era a minha hora! Discretamente as deixei lá e saí do Salão. Vi Annabel me olhando esquisito enquanto eu fechava a porta, provavelmente questionando se eu deveria ir contra as regras. Mas ela não sabia que eu estava quebrando nada. Eu podia muito bem estar indo para o meu quarto.

Mas é claro que eu não estava. Nem parei para dar chance aos criados de me perguntar o que eu estava fazendo, fiz meu caminho até a cozinha com o máximo de convicção que podia.

Quando cheguei lá, me virei para as portas, dando de cara com Wyatt saindo. Ele carregava uma bola nas mãos e me olhou como se eu fosse a última pessoa que ele esperaria encontrar lá. E talvez eu fosse.

"Lady Victoria," ele disse, franzindo as sobrancelhas.

"Lukas, era você mesmo que eu estava procurando," falei, só o deixando ainda mais confuso.

"Você precisa de alguma coisa?" Ele perguntou, enquanto eu o pegava pelo braço e o levava até a janela, de um jeito que eu visse todos que fossem passar por nós bem antes de passarem.

"Só de uma," eu disse, baixinho. "Preciso saber se o príncipe está pensando em me eliminar."

Ele me olhou sério, balançando a cabeça. "Eu não posso te falar isso."

Eu bati os pés algumas vezes no chão. "Pode sim!" Falei, um pouco alto demais. "Você sabe de absolutamente tudo nesse castelo, você tem que saber se ele vai ou não me eliminar!"

"Eu não disse que não sabia, disse que não podia te falar," ele me corrigiu, o que me deixou só mais irritada. E o pior era que ele ainda parecia estar se divertindo com tudo aquilo.

"Eu não vou contar para ninguém," prometi. "Nem vou falar que veio de você, juro!"

"Não é por isso," ele falou. "É contra as regras. Charles confia em mim, não posso sair quebrando a sua confiança só por você."

Eu torci o nariz de raiva daquilo, até que me veio uma ideia. E depois que pensei naquilo, não conseguia acreditar que tinha me demorado tanto tempo para considerar aquela opção.

Foi tão fácil entrar no clima que eu queria, me inclinando sugestivamente para ele, que continuava sem camisa e completamente confortável com aquilo. Apoiei minha mão em seu peito, sem nem me preocupar com quem poderia ver.

"Vai, Lukas," falei, minha voz manhosa e enjoada, "me conta, vai. Por mim."

Ele me olhou estranho, mas a proximidade do meu rosto ao seu estava surtindo efeito, amaciando-o devagar. Então tentei o último golpe, que eu sabia que não iria falhar.

Dei de ombros de leve, fingindo incômodo. "Eu só queria saber se eu vou ter que me despedir de você," disse, franzindo a sobrancelha, tentando mostrar o quanto aquilo significaria para mim.

E funcionou.

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