Capítulo 19: POV Melissa McQueen

A primeira coisa que pensei em fazer quando cheguei no castelo era ir à biblioteca. Eu já tinha lido todos os livros que tinha tido a oportunidade na minha vida, mas minha província não era grande o suficiente para o meu amor por conhecimentos novos. Só de imaginar a possibilidade de entrar em um salão enorme, completamente cheio de estantes e estantes de livros do mundo inteiro já deixava meus dedos formigando.

Tomei meu café da manhã super rápido, mas apesar de ter terminado antes de todas as outras, não queria ser a primeira a me levantar e sair. Além do mais, príncipe Charles ainda não tinha se juntado a nós e achei que seria visto como descaso da minha parte desaparecer antes de vê-lo outra vez. Não queria que pensasse que eu não me importava com ele, que não estava ali por ele.

Minhas intenções eram boas. Ótimas até. Mas Charles não voltava nunca! E quando algumas meninas começaram a sair antes de ele chegar, quando finalmente vi Sebastian se levantando e se retirando, decidi que já tinha ficado ali o tempo o suficiente.

Todas as minhas expectativas foram superadas quando eu entrei na biblioteca. Era o dobro do que eu esperava e mesmo que estivesse vazia, ainda seria deslumbrante. Não entendia como eles podiam viver naquele castelo sem passar todos os dias ali.

Fiquei tão hipnotizada pelas paredes e pelas colunas que quase não vi os livros. Mas quando vi um sobre a história de Illeá, lembrei o que mais queria ver ali.

Corri pelos corredores, meus olhos buscando a placa que indicaria os diários de Gregory Illeá. Estava quase ficando tonta, já nem sabia onde andava, se já tinha passado por lá ou não, quando finalmente achei o que queria.

Queria dar pulinhos de alegria quando vi todos os diários lá alinhadinhos em uma prateleira. Meus dedos estavam sendo atraídos por eles, chegando lentamente mais perto de tocá-los, quando ouvi alguém atrás de mim rir.

Me virei para encontrar o Príncipe Sebastian apoiado na estante do outro lado daquele corredor.

"Sabe que alguns anos atrás, ler esses livros seria considerado uma ofensa à monarquia?" Ele perguntou.

Me virei devagar para ele, já me sentindo um pouco incomodada com seu tom superior.

"Bom, não é uma ofensa agora, é?" Perguntei e ele só sorriu.

Então me virei de volta para a prateleira e tirei o primeiro diário de lá antes que ele falasse mais alguma coisa.

"O que exatamente você está procurando aí?" Ouvi Sebastian dizer chegando perto de mim.

"Quero saber o que levou a Rainha America a querer acabar com as castas," disse sem olhar para ele.

"Não foi só ideia da minha mãe," ele falou, se apoiando na parte da estante que era como uma mesa. "Meu pai também já tinha planejado como desfazê-las antes mesmo dela ter falado no Jornal Oficial."

"Ouvi dizer," eu disse, dando de ombros.

"Por que você admira tanto a minha mãe assim? Você por algum acaso é uma Cinco?"

Revirei os olhos e depois o encarei. "Não preciso ser uma Cinco para achar que o sistema de castas não é justo e não funciona. Não é porque eu tive uma vida boa que eu não quero outras pessoas vivendo bem também."

"Uou, desculpa aí," ele falou, levantando as mãos em rendição. "Não foi isso que eu quis dizer. Só queria saber se você se identificava com a minha mãe nesse nível."

"Nunca passei fome, se é isso que você quer dizer," eu disse. "Mas me identifico, porque vi vários amigos presos à sua profissão, querendo fazer uma coisa considerada 'menor'."

"É? Como quem?" Ele perguntou.

Fechei o livro e me apoiei pelo ombro na estante. "Como meu amigo Orlando, que é um Três como eu. Ele queria ser chef de cozinha, mas não pode, pois é uma profissão de Quatros."

"Fala para ele não se preocupar, logo meus pais vão liberá-lo desse problema," ele me deu um sorriso antes de se esticar e sair andando pelo corredor.

"Ei," eu falei, fazendo-o virar para mim. "Por que você não faz uma seleção para você?"

Ele pareceu surpreso com a pergunta, mas logo recuperou sua pose confiante.

"Não faço questão de me amarrar a mulher nenhuma," ele disse e piscou um olho só.

Fiquei pensando naquilo enquanto o assistia se virar e continuar seu caminho pela biblioteca. Era engraçado como ele poderia ser tão diferente do que o irmão dele parecia ser.

Quando já estava sozinha, peguei mais dois diários de Gregory Illeá e um dicionário de Russo e fui para uma das grandes mesas ali perto. Vi outra selecionada algumas mesas depois, mas ela estava tão mergulhada em seu computador, que nem percebeu que eu estava ali. Eu mesma peguei um bloco e uma caneta que tinha na mesa e comecei a fazer anotações sobre o que Gregory contava nos diários. Queria poder conhecer o nosso país do melhor jeito possível, entendendo a parte boa e a ruim do nosso sistema.

Era o mínimo que uma rainha podia fazer. Além de falar várias línguas e se ocupar o máximo de tempo possível planejando projetos sociais que poderiam ajudar o país. Pelo menos, é o que eu acho.

Depois que terminei de ler os diários, coloquei-os de volta na estante e me prometi que voltaria ali para ver os outros.

Caminhava para fora da biblioteca, dicionário embaixo do meu braço, quando ouvi a voz de Sebastian me chamando.

"Ei, selecionada Três," ele falou.

Tive que respirar fundo para não jogar o dicionário de dois quilos na cabeça dele.

"O que foi?" Perguntei, me virando para ele.

Ele fez uma careta pela minha atitude. "Tenho a leve impressão de que faltou alguma coisa nessa sua pergunta," ele estava sentando em uma poltrona e apoiou o livro no seu colo.

Demorei um segundo para perceber do que ele falava.

"Me desculpe, Alteza," eu falei, fazendo uma reverência, apesar de que, dentro da minha cabeça, eu estava ainda tentando decidir se jogava o dicionário na cabeça dele ou não.

"Muito bem," ele falou, se levantando e andando até mim. "Você, por algum acaso, está levando esse livro para fora da biblioteca?" Ele apontou para o que eu carregava.

"Sim," disse, tirando-o debaixo do meu braço. "Não posso?"

Seus olhos caíram no dicionário entre nós e ele esqueceu de me responder.

"Para que você precisa de um dicionário de Russo?" Ele perguntou, tirando-o de mim e folheando-o nos seus braços.

Senti que teria mesmo que dar adeus a ele e trazer o livro que eu estava lendo da próxima vez que precisasse dele.

"Russo é a língua que eu falo pior. Ainda preciso de uma certa ajuda quando estou lendo um livro como 'Crime e Castigo'."

"'Crime e Castigo', é? Nunca pensei que uma de vocês leria livros como esse," ele segurou o dicionário no ar para eu pegar de volta. "Você fala outras línguas?"

"Francês, chinês e Alemão," falo, pegando o livro, orgulhosa.

"Nossa! Mas para que tudo isso?"

"Meus pais," expliquei, "eles são professores de línguas e eu também quero ser."

"Então a sua casta não é um problema para você?" Ele perguntou, levantando uma sobrancelha só.

"Eu tive sorte," falei. "Sorte que quase ninguém tem," cruzei meus braços, ainda segurando o dicionário.

Ele estava um pouco pesado e eu estava sofrendo para manter meus braços cruzados sem derrubá-lo.

"Ei, não precisa me convencer," Sebastian disse, quase se rendendo de novo, "eu também sou a favor de desfazerem as castas, só queria saber a sua opinião."

Sorri, pensando que já tinha tido o suficiente daquela interação.

"Eu posso levar o dicionário para o meu quarto?" Perguntei, descruzando os braços e segurando-o contra mim.

"Claro, vá em frente," ele disse e eu comecei a andar para a porta. "Não está esquecendo de nada?"

Girei de volta para ele, fiz uma reverência sem vontade e depois continuei andando em direção ao meu quarto.

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