Capítulo 17: POV Beatriz Biersack
Eu queria agradecer a Charles por ter me feito praticamente desmaiar quando ele me disse para esperar com as outras cinco selecionadas. Eu vi as outras vinte e nove saindo do Grande Salão e meu coração se despedaçou. Ele obviamente não estava eliminando todas elas. Então quem tinha ficado é que estava perdida. Como eu.
"Eu sinto muito por fazer isso," ele disse vindo até nós. "Mas eu não quero que vocês percam seu tempo, nem se criem expectativa por uma coisa que não tem futuro," seus olhos as miravam com quase mais pesar do que eu estava sentindo, mas me evitam a cada palavra. "Vocês são meninas muito lindas e incríveis e eu tenho certeza que vão encontrar o homem certo para vocês e serão muito felizes. Mas infelizmente eu estaria mentindo se dissesse que vejo qualquer possibilidade de me apaixonar por vocês."
"Você deve estar brincando," a menina do meu lado soltou.
Charles só olhou para ela, sobrancelhas franzidas. Eu mesma decidi me concentrar no meu vestido. Está tudo bem, Beatriz, eu pensei. Você já sobreviveu a coisas piores. Você também sobreviverá a essa.
A imagem de Noah com a outra garota estava começando a aparecer na minha cabeça, quando a menina que estava ao meu lado se levantou, roubando completamente a minha atenção.
"Você não tem ideia do que está fazendo," ela gritou, indo na direção de Charles.
Ele recuou e dois guardas a agarraram um segundo antes dela chegar até ele.
"Você está perdendo o AMOR DA SUA VIDA!" Ela berrou, tentando fazer os guardas a largarem.
As outras meninas ao meu lado estavam tão assustadas que eu acho que elas nem conseguiam sentir a dor da rejeição. Eu mesma já tinha esquecido completamente porque sentia aquele amargo na minha boca.
Silvia ordenou que eles a levassem embora e Charles se virou de novo para nós.
"Me perdoe, de verdade," ele falou. As meninas só concordaram com a cabeça, enquanto eu evitava olhar nos seus olhos. "Beatriz, você poderia ficar mais um pouco?"
Fui pega de surpresa, mas não o contrariei. Pensei comigo mesma que não existia nada que ele poderia me falar que fosse fazer a situação ficar pior.
Estava vagamente ciente de que a menina ainda estava sendo arrastada para fora do salão e que algumas das outras choravam. Mas era como tudo à minha volta estivesse embaçado.
"Você não está eliminada," Charles me falou quando cheguei perto dele. "Desculpa ter te feito ouvir aquilo, achando que era para você."
"Como é?" Balancei a cabeça, tentando me fazer voltar a uma visão perfeita.
"Eu não queria contar para elas que você estava aqui por outra razão," seus olhos se viraram para a porta e depois voltaram para mim. "Te explico depois, desculpa."
"Charles," a voz de Sebastian ecoou pelo salão, chamando nossa atenção. "Me pediram para ver se vocês iam demorar muito."
Charles parecia incomodado com o tom de seu irmão.
"Já teve sua resposta?" Ele perguntou, tirando seus olhos de mim por um segundo. "Beatriz, você poderia nos dar um minuto?"
"Claro, Alteza," eu disse e fiz uma reverência.
Eu ainda não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, nem porque ele tinha me feito ficar lá se eu não tinha sido eliminada. Mas não queria o questionar ali e naquela hora. Saí o mais rápido que pude para não os incomodar. Quando fechei a porta atrás de mim, senti um impulso de deixar um pouquinho aberta ou encostar meu ouvido para tentar escutar a conversa.
Mas, felizmente, me segurei. Andei até a janela do outro lado do corredor e me ocupei de olhar o jardim. Não demorou muito para eu ouvir a porta abrindo atrás de mim e esperar Charles andar até onde eu estava.
"Você gosta?" Ele perguntou, se posicionando ao meu lado.
"Gosto de ver o vento nas árvores," falei.
A gente ficou em silêncio por um tempo, até que eu comecei a sentir sua mão levemente encostando na minha. Me odiei por isso, mas meu instinto foi me afastar dele e foi isso mesmo que eu fiz.
"Desculpa," pedi, quando dei um passo atrás.
"Não, eu que devia pedir desculpas," ele se virou para mim, seus olhos me olhando com toda a culpa do mundo. "Depois de tudo que você passou, eu te fiz pensar que você estava indo embora," ele passou os dedos pelo cabelo, tentando pensar em algo mais para dizer. "E depois," ele continuou, "quando a Juliette ficou daquele jeito, eu achei melhor não falar na frente dela. Achei que só iria piorar a situação."
"Eu entendo," falei, olhando para baixo. "Não se preocupe, Alteza."
"Mas eu preocupo," ele falou, dando um passo em minha direção. "E eu quero te mostrar que me importo com você."
Ele não precisava fazer nem metade do que fez. Quando abriu as portas da Sala de Música, fiquei maravilhada. Nem sabia se ele ainda estava ali, pois saí andando entre os instrumentos, completamente hipnotizada por cada um deles. Queria pegar todos eles, tocar cada um deles ao mesmo tempo, mas assim que parava para olhar um, tinha outro que chamava minha atenção pelo canto do olho.
"O que acha?" Charles me perguntou, me fazendo virar para olhar para ele.
Mas não consegui deixar meus olhos nele por mais de um segundo, tive que olhar para o piano de calda no canto da sala e ir até ele.
Charles andou devagar até mim enquanto eu estava fascinada por cada uma das teclas.
"Pode testar, se você quiser," ele disse.
Sem me virar para olhar para ele, me sentei cuidadosamente na frente do piano. Posicionei meus dedos no ar e esperei para soltá-los. Era um momento tão importante que achei que deveria me preparar psicologicamente antes dele acontecer.
"Algum problema?" Charles perguntou atrás de mim.
"Não sei se estou pronta," admiti, o que fez ele rir e colocar as mãos nos meus ombros.
Me encolhi minimamente com seu gesto e acabei soltando minhas mãos em cima do piano sem querer. Uma vez lá, decidi testar algumas poucas notas, enquanto rezava para ele parar de me distrair com seu toque.
"Beethoven?" Ele me perguntou, suas mãos escorrendo dos meus ombros.
"Para Elise," eu disse, enquanto ele se sentava do meu lado.
Sem falar mais nada, ele entrelaçou os braços nos meus, tomando conta de uma parte da música, me completando. No começo, fiquei um pouco surpresa, mas rapidamente me recuperei e acompanhei as notas dele sem deixar faltar nenhuma.
Mas minha determinação em tocar direito desapareceu quando ele chegou seu rosto bem perto do meu, tentando alcançar teclas que estavam muito longe dele. Tirei meus dedos do piano e os escondi no meu vestido. Ele percebeu minha apreensão, porque parou de tocar também, e se juntou a mim observando o piano à nossa frente.
O silêncio que ficou entre nós parecia infinito, mas eu o preferia a ter que falar no que tinha pensado ao vê-lo tão perto assim de mim.
Ele, em compensação, queria saber.
"Não quero te fazer ficar mal," ele falou. "Mas eu gostaria muito de saber o que aconteceu com o cara que te machucou tanto."
Mordi o lábio, tentando ganhar tempo, mas sabia que uma hora ou outra eu teria que contar. Eu estava ali para ficar com ele, era natural ele querer saber de quem veio antes.
"Se você precisa saber," eu disse, meus olhos fixos nas teclas à minha frente, "eu estava noiva de um cara chamado Noah," senti um nó na minha garganta quando falei seu nome. "Ele era um três," comentei antes de lembrar que ele tinha falado para esquecer as castas.
Mas ele não falou mais nada, então continuei depois de respirar fundo. "Um belo dia, acordei com um bilhete na minha porta que dizia para eu ir até um restaurante no almoço, que o que eu veria mudaria a minha vida," parei de falar um pouco quando a imagem daquele dia voltou à minha cabeça. "Eu não sei quem mandou esse bilhete, mas quem quer que seja, estava bem certo. Nada mais poderia mudar a minha vida como aquilo," finalmente virei-me para olhar para ele. "É engraçado pensar que enquanto eu ficava fazendo planos para uma vida ao lado dele, ele passava seu tempo mentindo para mim do lado dela."
Charles assentiu com a cabeça, me mostrando que me entendia. Ele não falou mais nada sobre o assunto, e eu fiquei agradecida. Depois de mais alguns minutos desconfortáveis, sua mão encontrou a minha e ele a segurou firme. Era tudo que eu precisava ouvir.
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