Capítulo 148: POV Beatriz Biersack
"O que você está fazendo aqui?" Eu perguntei para Lukas logo antes de colocar meus braços em volta dele e apertá-lo com força.
Fazia tanto tempo que eu não o via! Era tão bom finalmente encontrar alguém familiar ali no castelo!
"Eu vim te ver," ele me disse, me fazendo afastar dele e segurá-lo pelos ombros.
"Como assim, você veio me ver?" Eu franzi as sobrancelhas, como se aquilo fosse me ajudar a vê-lo melhor.
Ele estava diferente. Ainda tinha o sorriso meio torto e evitava me olhar nos olhos. Mas ele estava arrumado para o casamento, de smoking. Era muito estranho vê-lo assim. Ele era o irmão mais novo da minha melhor amiga, eu o tinha visto crescer na casa do lado a vida inteira. Já o tinha visto de mil jeitos diferentes, mas não assim. E mesmo sendo praticamente da minha altura, só com alguns centímetros a mais, ele estava diferente. Não sabia se era o seu porte ou só a roupa, mas ele parecia mais velho. Como se tivesse crescido alguns bons anos do nada.
"Não pude falar com você antes que entrasse na Seleção," ele disse, dando de ombros.
"Ah, você não precisava ter vindo," eu me virei para o bar e me apoiei com os cotovelos, esperando que ele ficasse do meu lado. "Eu já vou para casa hoje mesmo."
"Eu sei," ele se colocou do meu lado. "Mas tinha uma coisa que eu precisava te dizer-"
"Como tá a Alyssa?" Eu o cortei sem querer. "Minha mãe disse que ela ia se casar!"
"Ela vai," ele concordou. "Mas Beatriz-"
"Quando?" Perguntei. "Quem vai ser a dama de honra?"
Ele franziu as sobrancelhas. "Não sei." Disse.
"Não é a Barb, é?" Perguntei. "Porque se for a Barb, eu JURO-"
"BEATRIZ!" Ele praticamente gritou meu nome, fazendo quem estivesse do lado olhar para nós.
Eu arregalei meus olhos. "Quê?" Perguntei, baixando bastante a minha voz.
Ele balançou a cabeça, me mirando. "Deixa," disse, se virando para o bar e pedindo uma taça de vinho.
DE VINHO. Eu nunca o imaginaria bebendo vinho.
"Como está a escola?" Eu perguntei, me sentando do lado dele.
"Uma confusão," ele disse. "Agora que mais duas castas estão extintas, ninguém sabe o que fazer."
Eu o assisti pegar a taça como se ela fizesse parte da mão dele e virar o vinho como se fosse água. Eu nem tinha passado tanto tempo assim longe de casa e ele parecia ter envelhecido uns bons três anos. Se o visse na rua, provavelmente juraria que ele já estava na universidade.
"Você também está perdido?" Perguntei, fazendo-o dar de ombros.
"Nunca tive dúvidas," ele virou mais um pouco de vinho na boca e me olhou de lado. Assim que nossos olhos se encontraram, ele voltou os dele para a taça. "Sabe qual foi a última vez em que eu te vi?"
"Hmm," eu pensei um pouco.
"No aniversário da minha irmã," ele respondeu por mim. "Duas semanas antes de você vir para cá."
"Verdade," eu disse.
Aquela festa tinha sido a última noite que eu tinha passado com Noah. A última noite em que eu dormi em seus braços. Para acordar sozinha com um bilhete de outra pessoa na minha porta.
Mas por que Lukas estava falando daquilo?
"O que você tem feito desde então?" Perguntei, tentando manter o assunto.
"Beatriz, eu estou tentando falar uma coisa aqui," ele praticamente me cortou, apesar de que seus olhos ainda miravam a mancha que o vinho tinha deixado na taça.
Tá, eu pensei comigo mesma. Ia falar, mas achei que talvez isso só pioraria.
Não estava entendendo direito. Ele parecia estar quase falando sozinho, tentando se convencer de falar a coisa que ele precisava. Eu não sabia o que podia fazer para facilitar. E estava disposta a fazer qualquer coisa! Cada segundo que se passava, eu ficava ainda mais nervosa.
"Lukas, o que quer que seja, você pode me falar," eu disse, colocando minha mão em seu ombro.
Ele quase pulou com meu toque e se virou para me olhar. Senti que deveria pedir desculpas, mas ainda não estava entendendo bem o que estava acontecendo.
"Lukas?"
"Eu fiquei esperando você ir falar com a minha irmã," ele me cortou. "Depois que descobriu de Noah, mas você não foi."
Não sabia bem o que dizer, mas ele parecia não precisar muito que eu dissesse alguma coisa.
"E quando eu fui na sua casa, sua mãe disse que você não queria ver ninguém," ele continuou.
"Desculpa," eu disse. "Eu realmente não queria ver ninguém."
"E eu entendo," ele se virou para mim, parecendo se animar com cada palavra. "Eu realmente te entendo, não te culpo. Eu fui lá para ver você, era de seu direito decidir ou não se queria me ver. Mas aí você se inscreveu para a Seleção."
"An-hãn," era tudo que eu podia dizer.
"E antes que eu conseguisse falar com você, você foi embora," ele continuou. Eu não estava entendendo porque ele estava me falando tudo aquilo. Ele deixou seus olhos encontrarem os meus e balançou a cabeça, como se negasse alguma coisa na sua cabeça. Até que sorriu. "Mas você não ganhou, né?"
"Ei," eu lhe dei um tapa no ombro. "Não foi nada fácil perder, okay? Não foi nada divertido."
"Talvez," ele disse, rindo mais ainda do meu tapa. "Mas não foi nada fácil te ver pela televisão tentando conquistar o coração do príncipe," seu tom ficou completamente sério de uma vez. "Não foi nada divertido para mim."
Eu demorei um segundo. Um segundo franzindo as minhas sobrancelhas. Um segundo para entender. E quando voltei meus olhos para os dele, ele soltou todo o ar que estava segurando.
"Tem uma coisa que eu preciso te contar, Bea," ele disse, acelerando meu coração.
Eu estava pronta para dar um passo atrás. Ele não poderia falar o que eu pensava que falaria. Não estava pronta para ouvir.
"Fui eu que te falei do Noah," ele disse e eu acabei dando mesmo aquele passo.
Mas mais por fraqueza. "Do que você está falando?"
"O bilhete," ele disse, enquanto eu só negava com a cabeça. "Eu que escrevi. Eu que deixei na sua porta."
"Espera-" eu dei mais alguns passos para trás, tentando entender o que ele me explicava.
"Eu tinha visto ele com aquela menina algumas vezes e eu não sabia como te explicar," ele me acompanhou, levantando suas mãos como se quisesse me tocar, mas tivesse medo. "Eu não queria que você me odiasse."
Ainda estava tentando conectar a parte dele ser quem tinha me deixado o bilhete até ele ter visto Noah com a menina várias vezes. Mas aquilo me fez parar para olhá-lo.
"Te odiar?" Perguntei.
"Achei que não fosse acreditar em mim," ele explicou, de novo fugindo de ter que me olhar nos olhos. "E que me odiaria se eu te contasse."
"Não," eu dei o último passo que tinha entre nós e segurei nas suas duas mãos. "Eu nunca te odiaria, Noah." Seus olhos encontraram os meus por um segundo. "Você é como um irmão para mim."
Ele recuou a cabeça na hora e logo depois me fez soltar de suas mãos. "Eu não sou seu irmão," ele disse, como se fosse a maior ofensa do mundo.
Engoli a seco. Sem querer, o que ele tinha dito me passou pela cabeça. Não tinha sido fácil para ele me ver na Seleção. Várias e várias vezes nos poucos segundos em que nós ficamos em silêncio.
"Lukas," eu comecei, sem saber muito bem o que falar. Eu não queria que ele me odiasse. Mas ele precisava entender.
"Deixa," ele disse, se afastando de mim. "Não se preocupe. Eu entendo. Eu entendo mesmo."
"Não-" eu falei, mas ele se virou de costas para mim e começou a andar para longe antes que eu conseguisse me explicar.
Eu poderia ter ido atrás dele. Mas eu não sabia o que falar. Mal sabia o que estava acontecendo. Ainda não tinha conseguido juntar uma peça na outra.
E era estranho demais, absurdo demais pensar nele daquele jeito. Do jeito que ele queria que eu pensasse. Ele era mais novo! Ele estava na escola! O que ele estava pensando? Ele realmente me via daquele jeito?
Eu conseguiria vê-lo do mesmo jeito? Não, era estranho demais! Estranho. DEMAIS. Ele era o irmão mais novo da Alyssa! Ele sempre seria o irmão mais novo dela, que ficava jogando video game e reclamando do cheiro de esmaltes que nós deixávamos pela casa.
Mas e se ele não fosse? Ele tinha 16 anos, o que me fazia contorcer, repetindo para mim mesma que ele era novo demais. Mas ele era? Um ano era novo demais? Ele parecia ser outra pessoa, mas ainda era ele. Eu tinha que lembrar que ainda era ele. Mas e se ele tivesse mudado? E se ele tivesse crescido na minha frente e eu só não tivesse visto porque eu não estava procurando? Podia ter me convencido que era só um menininho, enquanto ele virava homem.
Ele tinha virado homem? Passei os olhos pela festa, procurando por ele, mas não o encontrei. Eu precisava olhar para ele mais uma vez, precisava pensar direito. E não conseguia pensar direito ali, com ele longe. Eu precisava tentar olhá-lo como se fosse a primeira vez.
Andei um pouco pelo salão, ainda o procurando. Não queria que ele me visse, porque ainda não sabia direito o que falar. Não podia prometer nada, eu só precisava ter certeza. Mas conforme eu fui passando pelas mesas, ficava ainda mais claro para mim que ele não estava ali.
E eu parei de pensar no que fazer quando o encontrar, em me esconder para que ele não me visse olhando para ele. Eu só precisava encontrá-lo. Ele não podia ter ido embora antes de falar comigo, eu não podia ter perdido a chance de pelo menos considerá-lo.
Fui até o jardim, mas ele não estava em lugar nenhum. Até comecei a andar pelos bancos, encontraram aqui e ali alguma selecionada que flertava com os convidados. Até vi Victoria beijando loucamente um cara que eu não reconhecia. Ela superou rápido todos aqueles que ela tinha insistido para nós que estavam atrás dela.
Mas eu não me importava. Nem fiquei mais do que dois segundos pensando naquilo. Ele não era Lukas e eu precisava encontrá-lo.
Era simplesmente errado deixá-lo ir embora assim. Eu precisava conseguir pensar, mas também não queria que ele fosse embora. Não tinha como ele ficar ali, do meu lado, enquanto eu pensava naquilo? Era tão difícil assim ele me dar um tempo?
Voltei para o salão, checando duas vezes cada cantinho. Não era possível que ele já tivesse mesmo ido embora. A festa mal tinha começado! E como ele iria embora? Ele já estava dirigindo?
Ele já podia estar dirigindo. Que estranho! Ele já dirigia, ele já bebia, ele já devia sair com os amigos. Será que ele já tinha tido alguma namorada?
Não, não que eu me lembrasse. Não se ele-
Eu respirei fundo, parando de andar um pouco. Era até estranho pensar naquilo. Até então, eu nem tinha me deixado pensar na frase. Não queria ouvir as palavras. Por que eu insistia tanto na negação?
Vamos lá, Beatriz, eu falei na minha cabeça. Só fale.
Ele. Gosta. De MIM?! Argh, mais convicção, Beatriz.
Respirei fundo mais uma vez, tentando ignorar o frio na minha barriga.
O Lukas. Gosta. De mim. O Lukas gosta de mim. O Lukas gosta de mim?! Meu deus do céu, o Lukas gosta de mim! Ele realmente gosta de mim. Será que ele pensa em mim? Ele deve pensar em mim. E ele me assistiu pela televisão. Me viu tentando conquistar o coração do príncipe. Não foi nada fácil. Ele sofreu por mim? Ele gosta de mim.
Meus olhos tinham começado a lacrimejar e só percebi isso quando olhei de novo pelo salão, buscando pelo seu cabelo loiro. Eu precisava falar com ele. Mesmo que eu ainda não conseguisse entender, mesmo que tudo ainda parecesse de cabeça para baixo, eu precisava que ele esperasse um pouco. Só um pouco mais.
Corri de novo pelo salão, dessa vez bem mais depressa, bem mais determinada. E não demorei até sair pela porta principal, correndo até o hall de entrada do castelo. Olhei para os dois lados, mas os corredores estavam vazios.
Eu parei do nada. Era estranho, mas aqueles corredores vazios estavam deixando um buraco enorme em meu peito. Me perguntei se talvez aquela fosse a última vez que eu os veria. Eu sabia que não era. Mas alguma coisa me pesou por dentro, como uma necessidade de ficar ali, relembrando cada segundo que eu tinha passado ali. Como se fosse a minha última chance de memorizar cada dobra das cortinas, cada brilho dos castiçais.
Mas o barulho de conversa da festa me faz sair do encanto e voltar a urgência de ir atrás de Lukas. E se aquela fosse a minha última chance de memorizá-lo? Tudo estava acontecendo rápido demais, eu já estava começando a perder algo que eu nunca nem soube que tinha. Não conseguia nem saber se eu estava lutando por aquilo porque o queria ou só porque não queria perder sem antes escolher. Era muito ruim pensar em perder sem nem ter tido uma chance de olhá-lo de novo, olhá-lo sabendo o que ele sente.
Mais alguns passos e eu estava fora do castelo. Os guardas da porta me olharam estranho, mas não me impediram de sair. E não tinha ninguém ali. Não sei o que estava esperando encontrar, se seria ele simplesmente andando para fora do castelo, o longo caminho que levava até o portão. Ou se seria ele no seu carro - que carro ele teria? Eu só sabia que realmente achava que o encontraria ali.
Mas a noite tomava conta do caminho escuro e não tinha nenhum carro se mexendo. Nenhum carro indo embora.
"Você tá bem?" Ouvi uma voz me perguntando e me virei com tudo de volta pra porta.
Era ele. ERA ELE!, eu quis gritar. E quis correr para abraçá-lo. Mas minhas pernas me pararam.
"Onde você tava?!" Eu perguntei, frustrada. Tentei respirar direito, mas estava difícil.
"Aqui," ele disse, abrindo os braços. "Você tava me procurando?"
Droga, pensei ao ver a esperança nos olhos dele, que baixaram assim que encontraram os meus.
Por que ele tinha que fazer aquilo? Por que ele tinha que ficar daquele jeito do meu lado?
Eu queria abraçá-lo, consolá-lo, dizer que não precisava ficar daquele jeito, que não precisava tentar me agradar. Mas e se isso fosse só a amizade? E se isso só piorasse tudo?
Ele estava sentado do jeito que dava na beirada da parede, mexendo em sei lá o quê nas suas mãos. E, não. Ele não parecia tão novo.
Eu dei um passo atrás para vê-lo melhor.
Era ele, eu sabia que era ele. Mas ele não era como eu me lembrava. Ele tinha mesmo crescido. Mas crescido o suficiente para eu conseguir lhe dar uma chance?
O barulho de um carro atrás de mim o fez levantar os olhos. "Minha carona está aqui," ele disse, se levantando.
"Então você não dirige," eu soltei sem pensar, o fazendo me olhar confuso.
"Não," ele disse. "Por quê? Isso mudaria alguma coisa?"
E lá estava aquela esperança de novo em seus olhos, disposta a fazer tudo para que eu a deixasse viver.
"Não," falei. "Não, não mudaria. Não por mal," acrescentei quando vi o desânimo tomar conta de seus ombros. "Nem por bem, sei lá."
Ele assentiu, como se o que eu tivesse falado tivesse feito mesmo muito sentido.
"A gente se vê então," ele disse," passando por mim.
Eu me virei para vê-lo entrar no carro que o esperava, mas assim que ele abriu a porta, senti um pânico tomando conta de mim.
"Lukas, espera," eu corri até ele.
Quando cheguei na sua frente, me peguei imaginando como seria se eu o beijasse. Mas não arrisquei. Eu só estragaria tudo. E não podia fazer aquilo com ele. Podia?
"Eu não quero te dar esperança à toa," falei, fazendo-o concordar de novo com a cabeça. "Mas você precisa saber-"
"O quê?" Era incrível como ele conseguia fazer sua esperança aparecer em cada sílaba que falava.
"Não é tão impossível assim," eu completei.
E ele sorriu. Mas um sorriso estranho, como se estivesse tentando não sorrir. Seus olhos encontraram os meus e eu rezei para que, pelo menos daquela vez, ele não fugisse de mim.
"Não?" Ele perguntou, me fazendo sentir mais vontade ainda de beijá-lo.
Droga, Beatriz, eu pensei comigo mesma, respirando fundo.
"Não," eu respondi. "Eu preciso de tempo."
"Eu te dou o tempo que quiser," ele disse, animado.
Pensei que talvez eu não devesse deixá-lo se animar tanto. Mas era tão graça vê-lo daquele jeito, com os olhos brilhando. E por minha causa! Não porque eu tinha dito que sentia o mesmo. Só porque eu tinha dito que existia a possibilidade.
"Sério," ele continuou. "O tempo que você quiser."
"Tá bom," eu disse, rindo do seu jeito.
Ele ainda me olhava e eu pensei comigo mesma que aquilo deveria ser um recorde para ele. Então decidi que ele precisava de uma recompensa.
Dei o último passo que tinha entre nós e, ao chegar perto dele, me inclinei até que meus lábios pousassem em sua bochecha. Senti sua mão passando de leve em meu braço, mas quando me afastei, ele já tinha também me soltado. E seus olhos não conseguiam chegar nem perto de olhar para os meus.
"Te vejo amanhã?" Eu perguntei, enquanto observava o quão vermelhas as suas bochechas conseguiam ficar na sua pele tão clara.
"Amanhã," ele repetiu, sorrindo para ele mesmo e assentindo com a cabeça.
Ele entrou no carro e fechou a porta atrás dele, tudo sem me olhar de novo. Mas antes que o carro começasse a se afastar, eu pude jurar que vi seus olhos buscando o meu no vidro negro da janela.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top