Capítulo 146: POV Gabrielle DeChamps

Antes que algum guarda viesse com um guarda-chuva para nós levar até o salão de festas, Charles me pegou pela mão e me puxou para o jardim, deixando que a chuva nos alcançasse. Ele ria alto, e eu não sabia se era porque nós estávamos nos livrando do guarda-chuva ou pela chuva em si. Mas eu entendia. Sem nem pensar no que estava fazendo, eu ria com ele, que me girava, segurando firme em minha mão. Quem visse de fora, poderia jurar que era o nosso casamento. E eu me sentia mesmo como se fosse. Não o final de uma história, mas talvez de uma corrida. Nós tínhamos cruzado a linha de chegada junto com todo mundo que era importante para nós. E agora sim viriam os louros, o pódio, as entrevistas, a fama. Agora sim nós podíamos comemorar.

Não tinha música nenhuma ali, mas aquilo não era problema para Charles. Enquanto alguns convidados corriam da chuva e outros esperavam guardas para levá-los para dentro, ele me puxou para ele, colocando uma mão na minha cintura e segurando a outra. Eu o deixei me guiar na dança, só porque ele estava sorrindo para mim como se não tivesse nada no mundo que pudesse deixá-lo mais feliz. Ele me mirava como se eu fosse a coisa mais bonita do mundo. Era engraçado pensar que eu tinha certeza de que não existiria nada no mundo que ganhasse dele nisso.

"Nunca pensei que nós pudéssemos estar aqui, assim," eu disse, tentando olhar para os lados, mas um milésimo de segundo sem olhar para ele era demais para mim.

"Sério? Pois eu tinha certeza," ele riu. "Desde a primeira vez que eu te vi, vestida de criada no meu quarto."

"An-hã," eu falei.

"Eu tinha," ele me girou e voltou a me segurar firme antes de eu conseguir entender o que ele estava fazendo. "Era essa certeza que me dava medo."

Aquela tinha sido a primeira vez em que algum tipo de medo me tinha feito sorrir.

"Você era tão diferente no começo, Charles," eu disse, fazendo-o perder seu sorriso por um segundo.

"Diferente?"

"É," eu lhe dei um beijo rápido. "Eu nunca poderia imaginar que algum dia você estaria dançando na chuva comigo. Você era tão...comportado."

Ele riu alto de novo, jogando a cabeça para trás. Eu tive que me segurar para não o beijar de novo. Como ele podia ser tão lindo?

"Eu ainda sou...comportado?" Ele fez uma careta quando falou a palavra, depois riu de novo. "É você que me faz perder a linha."

Eu balancei a cabeça, se conseguir parar de sorrir. Minhas bochechas estavam começando a me doer.

"Ei, posso te perguntar uma coisa?" Eu falei do nada, me lembrando de uma dúvida que tinha.

"Claro," ele respondeu, me fazendo girar de novo e rir quando quase escorreguei.

"Por que o Sebastian falou aquilo da chuva e do mar? Não entendi direito."

Charles olhou para o lado, um pouco pensativo. "Você viu o desenho dele?"

"Não, qual desenho?"

"Eu te mostro depois," ele me girou mais uma vez. Eu estava começando a ficar tonta, mas não me importava. "Nina tem um nome do meio que significa mar em Alemão. E Sebastian e eu temos um que significa chuva."

"Você também?" Eu perguntei, tentando quebrar a minha cabeça para me lembrar do nome do meio dele.

"Sim," ele disse. "Regen. Charles Regen Schreave. De qualquer jeito, acho que ele acredita que é alguma coisa de destino os dois terem esse nome."

Nós paramos de dançar e ele colocou as duas mãos na minha cintura, me trazendo para perto dele. Eu já tinha até me acostumado com as gotinhas que insistiam em ficar entre nós.

"Então quer dizer que se você tivesse se apaixonado pela Nina," eu falei, "vocês seria a chuva e o mar?"

"Não," ele disse, sorrindo. "Porque eu nunca me apaixonaria pela Nina. Eu poderia ter o nome dela no meu, até o endereço da casa dela, se você quiser. Mas o meu destino era me apaixonar por você."

Eu fiz uma careta. "Tá, é verdade," concordei, fazendo-o rir.

"Eu não acredito em destino, para falar a verdade," ele disse. Talvez eu tenha ficado um pouco surpresa demais, porque ele riu da minha expressão. "Está bem, talvez um pouco."

Eu me coloquei nas pontas dos pés até nossos lábios se encontrarem.

"Alteza, o rei e a rainha estão pedindo para vocês entrarem," a voz de um guarda quebrou nossa bolha e nós olhamos em volta. Todos já tinham entrado e só tinha nós dois ali.

"Vamos," Charles disse, mantendo uma mão na minha cintura. "Nós não podemos perder a primeira dança do casal."

A chuva não estava nem um pouco forte, de um jeito que nem pegou muito na saia do meu vestido e a parte do corpete era preta, então as marcas das gotinhas eram imperceptíveis. O problema eram meus ombros que, pelo vestido ser tomara-que-caia, tinham levado a pior. Eu só percebi o quanto estava com frio quando entrei no salão de festas e comecei a tremer. Mas Charles e eu fomos levados para uma sala ao lado, aonde algumas criadas nos secaram e me ajudaram a arrumar a minha maquiagem.

Pouco tempo depois, nós entramos de volta no salão. Não estavam mais tocando música alguma. Pelo contrário, o cantor usava o microfone para outra coisa.

"Senhoras e senhores," ele dizia, animado. "Eu vos apresento o Príncipe Sebastian Schreave e a Princesa Nina Schreave."

Todos bateram palmas e se viraram para olhar para a porta de onde eles sairiam. As palmas foram diminuindo conforme o tempo foi passando e nada acontecia.

"O Príncipe Sebastian Schreave e a Princesa Nina Schreave," o cara do microfone repetiu mais alto, como se o problema talvez fosse que os dois não estivessem ouvindo bem o suficiente.

Na hora, eu imaginei mil coisas que poderiam estar acontecendo. Minha cabeça começou já pelo mal, tudo que poderia dar errado. Mas aí um guarda correu até o cara do microfone e falou algo em seu ouvido. E eu já imaginei os dois chegando pendurados pelo teto, talvez até fazendo uma grande apresentação de mágica. Até que a voz do cara do microfone tomou conta do salão.

"O Príncipe Sebastian e a Princesa Nina pedem desculpas, mas eles tiveram um compromisso ao qual não podiam faltar," ele disse, fazendo todos trocarem olhares surpresos.

Até Charles olhou para mim, franzindo as suas sobrancelhas. Eu estava vagamente consciente de que deveria estar ainda me perguntando onde Nina e Sebastian estavam, mas só conseguia pensar em como Charles ficava graça me olhando daquele jeito.

"Mas a festa continua," o cara do microfone falou. Até que seus olhos caíram na gente. "Já que o Príncipe Sebastian não está aqui," ele continuou, "eu vos apresento o outro novo casal de Illéa. O Príncipe Charles Schreave e Lady Gabrielle DeChamps."

Eu fiquei congelada, desde o momento em que ele olhou para mim até quando ele falou meu nome. Mas Charles se animou e começou a me empurrar até a pista de dança e eu fui. Parecia que ele tinha ensaiado, pois me girou até estarmos na posição exata para começar. E quando ele começou a me guiar, era como se eu não precisasse fazer nada. Eu nunca nem tinha conseguido aprender a dançar muito bem, mas simplesmente fluía com ele.

E eu comecei a rir daquilo. Era engraçado demais pensar em como eu ainda não tinha pisado no pé dele.

"Tá tudo bem?" Ele me perguntou, sorrindo com o meu pânico.

"Incrivelmente, sim," eu respondi. Meus olhos vasculharam o salão e todos os olhos em nós, mas eu rapidamente voltei a mirá-lo. Se eu pensasse demais em quem estava nos olhando, eu definitivamente erraria o passo. "Acho que ainda preciso me acostumar com esse negócio de princesa."

"Você vai ter tempo, não se preocupe," ele realmente não parecia preocupado. Não tirava seus olhos de mim, mas ainda assim parecia bastante ciente de todos que estavam ali.

Alguns casais começaram a se juntar a nós, incluindo o rei e a rainha, e eu me acalmei um pouco. Foi nessa hora em que eu senti o pé de Charles embaixo do meu.

"Desculpa!" Eu falei, já me soltando dele para parar de dançar.

Mas ele não me deixou, me segurou mais firme perto dele, deixando nossos rostos a poucos centímetros um do outro. "Eu vou ter que adicionar mais uma coisa que eu amo em você naquele caderno," ele disse, me fazendo olhá-lo confusa. "Eu amo quando você pisa no meu pé."

Eu olhei para baixo, um pouco envergonhada de ser tão desajeitada. Mas era estranho, porque ao mesmo tempo eu me sentia adorada. Será que era possível sentir as duas coisas ao mesmo tempo?

"Que bom que você gosta da sua princesa sem jeito," eu falei.

"Eu não gosto," ele me corrigiu. "Eu amo."

Antes que eu pudesse respondê-lo, ele me deu um beijo que só foi interrompido porque alguém pigarreou do nosso lado.

Era o rei, que nos olhava divertido. "Posso roubá-la de você?" Ele perguntou para Charles, que praticamente depositou minha mão na dele.

Pronto, eu pensei. Se já não fosse ruim o suficiente eu pisar no pé de Charles, eu pisaria no do rei. Por que que dançar parecia muito mais fácil para mim quando eu estava na chuva?

Arrumei a saia do meu vestido o melhor que podia com a mão que não segurava a do rei. O preto do meu corpete ia até a saia, mas desaparecia em um degradê de roxo com branco muito bonito. Eu poderia ficar olhando para ele o resto da noite se eu não tivesse que segurar no ombro do rei e arriscar toda a minha reputação ao dançar com ele.

"Achei que estava na hora de nós conversarmos," ele me disse depois dos primeiros passos que nós fizemos e eu senti meu estômago dar algumas voltas dentro de mim.

Sempre tinha visto o rei como um herói. Meus próprios pais os adoravam, apesar de nunca nos deixar esquecer de como o Rei Olivier era importante para a nossa família também. Mas ver o Rei Maxon ali, dançando comigo, pronto para me falar uma coisa que ele já achava que estava na hora de falar, tudo contribuía para o meu nervosismo aumentar. O que ele poderia falar?

"Eu sei que nós nunca tivemos muito contato," ele começou. "Essa seleção realmente saiu um pouco do nosso controle."

Eu só ouvia, com medo de falar a coisa errada, me concentrando bem mais nos meus pés do que nas suas palavras.

"Mas eu quero que saiba que eu confio muito na opinião de Charles," ele continuou. "E mesmo se não confiasse, eu consigo ver, no pouco que sei de você, que ele fez a escolha certa."

Naquela hora, eu tirei meus olhos dos meus pés e olhei para ele. "Sério?" Eu perguntei, toda tonta.

Ele abriu um sorriso. "Sério," falou. "E eu queria te dar as boas-vindas à nossa família. Oficialmente," eu voltei a olhar para baixo, sentindo minhas bochechas corarem. Eu era da família. "Tenho certeza de que nem preciso me preocupar, mas mesmo assim eu espero que vocês dois sejam muito felizes. Sei que vão se dar muito bem no trono, mas eu quero dizer um com o outro.

"Claro que Charles é meu filho e eu espero que você nunca o faça sofrer," eu engoli em seco, achando que agora viria a grande advertência dele, "mas se ele algum dia fazer qualquer coisa para você, pode vir falar comigo. Que eu acabo com a raça dele."

Eu soltei uma risada, que logo cobri com a mão. "Desculpa."

"Não, pode rir," era estranho demais pensar que era o rei que estava falando aquilo para mim. E ele mesmo estava sorrindo. "É verdade, mas pode rir. Só não vá falar com a America. Que eu tenho certeza de que ela sim que acabaria com ele."

Eu só ri mais ainda, morrendo de vergonha por estar assim na frente dele.

"Honestamente, Lady Gabrielle," ele parou de dançar e me mirou sério. "Você é parte da família agora. E o que quer que aconteça, você sempre será como uma filha para nós. No que você precisar, tenha a ver com Charles ou não, você pode contar conosco."

"Mesmo se for para me ajudar a enterrar um corpo?" Eu perguntei, mordendo meu lábio.

Por que minha imaginação tinha que me levar logo para essa suposição?

O rei riu. RIU! Ele simplesmente riu da minha pergunta. "Até," ele disse. "Sem perguntas, só vir falar conosco e nós te ajudaremos a enterrar o corpo." Eu assenti com a cabeça. "Que eu espero que não seja do Charles," ele completou, franzindo a sobrancelha como se estivesse um pouco assustado, bastante surpreso.

Nunca na minha vida eu poderia imaginar que veria o rei de Illéa assim. Ele realmente já parecia da família.

Naquela hora, Charles chegou do nosso lado e nos chamou para nos juntar a ele e a rainha na mesa. O Rei Maxon foi primeiro, enquanto Charles me deu um beijo na bochecha antes de começarmos a andar.

"Charles?" Eu o chamei baixinho, logo antes de chegarmos na mesa.

"Sim?"

"A Nina já é princesa?" Ele parou de andar e se virou para mim. "Quer dizer," eu continuei, "é só que eu não sei pelo que eu vou ter que passar..."

"Por uma coroação," ele disse. "A Nina ainda não é princesa. Nem você. Mas pode já se considerar," ele chegou mais perto de mim até que seus lábios pousassem nos meus. "E vai aproveitando," ele disse quando se afastou, "porque logo você vai virar rainha."

Eu arregalei os olhos, fazendo-o rir. "Acho que nunca vou conseguir me acostumar com essa vida."

"Ótimo," ele disse, sorrindo. "Eu não me importo de acordar todas as manhãs e ter que correr para você para te contar que você é uma princesa. Ou uma rainha."

"Como assim, correr para mim? Se você acha que eu vou dormir longe de você, está muito enganado!"

Ele jogou a cabeça para trás, rindo. "Combinado," disse, quando já se inclinava de volta para mim. "Minha princesa."

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top