Capítulo 131: POV Melody Hope
Eu respirei fundo uma vez, sentido o ar em meus pulmões só acelerarem ainda mais o meu coração. Eu podia jurar que era impossível ficar mais ansiosa do que eu estava. Quando o carro finalmente parou na frente do castelo e um guarda abriu a porta para mim, eu tive que me segurar nela para conseguir sair e ficar de pé.
Por um segundo, eu achei que talvez pudesse ser Thomas. Com um frio na barriga que praticamente me furava por dentro, eu levantei os olhos para ele. Mas a minha esperança morreu quando eu não o reconheci. Ele assentiu para mim, esperando que eu saísse do caminho para ele fechar a porta. Mas eu demorei mais um segundo para me recompor. Apesar de não ter sido o Thomas, meu coração já tinha chegado a uma velocidade rápida demais para eu conseguir me acalmar de novo.
Me equilibrei no meu salto e comecei a andar em direção as portas do castelo, onde Silvia estava parada segurando sua prancheta. Ela me avistou antes que eu chegasse até ela, depois rabiscou alguma coisa. Quando eu estava para passar por ela, ela levantou os olhos para mim.
"Lady Melody, poderia esperar um minuto?" Ela me pediu, logo tirando seus olhos de mim para ver alguma coisa por cima de meu ombro.
Meu instinto fez minhas pernas fraquejarem. Por um segundo, eu pensei que ela soubesse de Thomas. Não tinha nada de errado no que nós tínhamos - eu nem saberia definir o que tínhamos! Mas eu ainda senti um medo profundo de que tivesse e eu simplesmente não soubesse. Talvez pelo que tinha acontecido logo antes de eu ir embora. Ela podia ter descoberto. Podia estar aproveitando que eu tinha ido para o castelo para me punir.
Ainda bem que meu vestido era de tule, pois eu o segurava com as duas mãos fechadas, descarregando ali todo o meu medo. Até que Silvia chamou por Sky e eu relaxei.
"Senhoritas, o casamento será realizado na igreja real," Silvia explicou assim que Sky chegou do meu lado. "Vão até o jardim que vocês a avistarão. O rei e a rainha as esperam lá."
Me virei para olhar para a outra selecionada do meu lado, que sorriu para mim, bastante feliz.
"Quanto tempo!" Eu disse, quando nós começamos a entrar no castelo.
"Pois é," ela suspirou, olhando em volta do hall de entrada, como se fosse a primeira vez que entrasse ali. "Eu nunca pensei que pudesse sair tão rápido."
"Eu nunca pensei que voltaria aqui," eu falei, apesar de não ser verdade. Eu já tinha sonhado mil vezes em voltar ali.
"Ah, como não?" Sky se aproximou de mim, colocando seu braço em volta do meu. "Sempre achei que você fosse amiga de todas."
Eu dei de ombros. "Não de Beatriz," confessei. "E eu podia jurar que ela ganharia."
Sky olhou por cima do meu ombro e depois voltou a olhar para a frente, mas sem parecer que me ouvia. Nós já estávamos chegando perto do jardim e eu ainda não tinha visto Thomas. Eu me perguntava se ela procurava alguém também. Talvez Charles.
"O que você acha desse casamento?" Eu perguntei, como quem não queria nada.
Me lembrava bem da carta de Thomas, onde explicava o quão indesejado esse casamento era. Eu queria saber se Sky também sabia. Queria saber se ela sabia que Amélie estava grávida. Ou se era algum segredo de Estado que Thomas tinha se atrevido a me contar.
Ela deu de ombros, de novo sem parecer se importar. Depois de olhar mais algumas vezes à nossa volta e seu olhos caírem em mim, ela sorriu. "Acho legal que o Príncipe Sebastian também encontrou alguém para ele."
Então ela não sabia. Eu fiz uma anotação na minha cabeça de não falar mais nada.
Assim que saímos no jardim, seguidas de outros convidados, nós avistamos a igreja. Eu já sabia onde era, já a tinha visto mil vezes. Seria impossível não a perceber. Eu só nunca tinha estado ali. Era um caminho completamente diferente. Não íamos em direção à floresta, nem ao lado do castelo onde tinha acontecido a festa de Sebastian. Era do outro lado, com o caminho que levava até ela cheio de convidados vestidos em traje fino e chapéus extravagantes.
Nós mesmas tínhamos decidido não colocar nada na cabeça. Minha mãe até tinha insistido em um chapéu laranja para combinar com o meu vestido, mas eu queria chamar o mínimo de atenção possível.
Eu não sabia porque Sky tinha escolhido se manter longe desse acessório.
Ela ainda insistia em olhar para todos os lados possíveis, parecendo até mais nervosa do que eu. E essa sua procura estava me distraindo completamente! Eu já nem me lembrava mais de Thomas, pelo menos não sentia tanta urgência de encontrá-lo. A curiosidade estava me matando, mas nós chegamos até a fila para cumprimentar o rei e a rainha antes que eu pudesse perguntar. E eu tinha medo de ela falar alguma coisa que fosse a constranger na frente deles.
Mas eu não precisei me preocupar. Quando nós finalmente chegamos até eles, um guarda largou apareceu do lado deles. E eu podia jurar que era por ela que ela procurava. Sua cabeça que girava para todos os lados parou. E ela o mirou como se eles guardassem o segredo que eu tinha na minha garganta. Ele falou rapidamente com o rei, mas logo antes de se distanciar, ele olhou para ela. E em um segundo, eles seguraram o olhar mais tenso do universo.
Assim que ele saiu de perto de nós, eu senti um aperto no meu coração. Eu queria aquilo. Eu queria ir atrás de Thomas.
"Com licença, Majestade, mas será que eu poderia usar o banheiro?" Eu pedi, me arrependendo da minha ideia desesperada na hora em que as palavras saíram da minha boca.
Ela virou o rosto só o suficiente para mostrar que estava surpresa com o pedido e que mal sabia como responder. Eu sorri para ela, nervosa, tentando fazer papel de alguém que realmente precisava ir ao banheiro - ao mesmo tempo que eu tentava não exagerar. Não queria ser inconveniente.
"É claro," ela disse depois de alguns segundos em silêncio. "Mas você terá que voltar ao castelo."
Eu fiz cara de descontente, mas por dentro eu estava comemorando. Se ela me indicasse um banheiro dentro da igreja, eu já estava pronta para pedir algum que eu conhecesse o caminho. Dei um beijo no rosto de Sky e a deixei entrar na igreja sozinha, pedindo para ela guardar meu lugar.
A verdade era que eu nem fazia questão de estar presente para aquele casamento.
No meu caminho de volta ao castelo, eu passei por Jenny, que me perguntou se era a Sky que tinha estado comigo. Ela ficou bastante animada quando eu confirmei. Logo atrás dela vinha Abigail com um cara que eu conhecia de vista, mas não sabia direito quem era. Ela mal olhou para mim e eu segui meu caminho feliz.
Estava quase chegando no banheiro, quando lembrei que aquela era só uma desculpa. Estava tão distraída que até acreditado nela eu mesma! Mas eu já estava ali e meu estômago estava me deixando tão enjoada, que eu aproveitei para entrar.
Mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Eu me mirei no espelho, apertei minha barriga, tentei respirar fundo. Mas nada ajudava. Eu estava nervosa demais! O melhor que eu podia fazer era encontrá-lo logo e parar de sofrer por antecipação.
Antes de sair, eu molhei um pedaço de papel e coloquei contra as minhas bochechas que estavam quentes de nervosismo.
Depois respirei fundo mais uma vez e abri a maçaneta. Lembrando da minha missão - finalmente! - eu virei para o lado contrário ao caminho até o jardim e continuei no corredor até encontrar as portas da cozinha.
Eu podia ouvir as pessoas lá dentro de longe e quando eu abri as portas, senti como se estivesse sendo atingida na cara com o barulho e o cheiro quente de comida. Foi um conforto rápido que me acalmou de uma vez, mas logo meu próprio nervosismo o superou. Tentei passar despercebida até chegar no salão comum. Algumas pessoas me perceberam, mas ninguém chegou a falar comigo o suficiente para eu ter que parar. No máximo me falam um oi.
Quando eu finalmente cheguei no corredor dos quartos dos criados, eu me lembrei da vez em que o tinha encontrado ali de madrugada. A lembrança não ajudou em nada no meu enjoo e eu tive que esfregar a minha barriga para conseguir pensar direito.
"Com licença, a senhorita é a Lady Melody?" Ouvi uma voz grossa atrás de mim perguntar. Por um segundo, eu pensei que fosse Thomas. Não fazia sentido, não pelo que ele tinha me perguntado. Mas parecia tanto com a voz dele, que meu coração bateu ainda mais forte, mais pesado.
Quando me virei, eu entendi porque. Era seu pai. Eu só tinha visto de perto uma vez, mas tinha feito questão de observá-lo todas as vezes que eu o vi depois da noite com Thomas ali.
"Me desculpe se eu estou enganado," ele disse, presumindo que meu silêncio era porque ele tinha errado.
"Não, sou eu mesma," eu falei, de repente consciente de tudo em mim. Do meu vestido, da minha pose, como meu cabelo estava, do gloss que podia estar grudando com cabelo. E se a minha maquiagem estivesse borrada? E se eu falasse alguma coisa e ele simplesmente decidisse que eu não era boa o suficiente para o seu filho?
"Meu nome é Carter," ele disse com um sorriso que deixava seus olhos com a mesma expressão que Thomas tinha quando ria. Não era justo os dois serem tão parecidos. "Eu sou o marido da Marlee, ela já me falou muito de você."
"Ela falou?" Eu perguntei, sentindo minhas bochechas esquentarem ainda mais. O que ela poderia ter falado de mim?
"Sim," ele confirmou, franzindo as sobrancelhas para mim. Era como se ele tivesse até um pouco de dó de como eu estava demorando para raciocinar. "E Thomas também."
Eu não consegui evitar, meu queixo caiu na hora. "Ele fala de mim?" Eu perguntei, toda tonta e apaixonada. Se eu tinha alguma intenção de tentar esconder que eu sentia alguma coisa por Thomas, eu podia ir desistindo da ideia.
Carter sorriu ainda mais largo e eu tive que morder meu lábio para não desabar a falar o quanto eu me importava com o filho dele. Não era justo mesmo! Era impossível pensar direito quando eu o vi ali nos olhos do pai!
"Sim," ele disse. "Ele fala de você o tempo todo. E eu quero que você saiba," ele deu um passo à frente, se aproximando de mim, "que Marlee e eu aprovamos. Sei que ainda não a conheço, mas pelo que os dois falam, eu mal posso esperar para conhecer."
Ele estava sendo o mais simpático possível. E tudo que ele me falava me fazia praticamente acender de felicidade. Mas ao mesmo tempo, eu senti o calor das minhas bochechas se espalhar pelo meu rosto todo, descendo pela minha nuca. Eu não queria estar tão exposta assim, ele estava praticamente dizendo que sabia o que eu sentia por Thomas. E isso me fazia querer me enterrar no chão.
Eu queria ouvir mais. Mas naquela hora, eu só queria sair dali.
"Muito obrigada," eu disse, sem saber o que mais eu poderia falar. Mirei o chão, rezando para ele mesmo entender que se era para a gente se conhecer, que fosse outra hora.
"Você veio aqui procurar por ele?" Ele perguntou, fazendo meus olhos me traírem e voltarem a mirá-lo. Eu mordi meu lábio e esse pequeno gesto me denunciou. Ele sorriu de novo, quase orgulhoso de alguma coisa. "Ele não está aqui," ele disse. "Ele é um dos padrinhos do príncipe. Acredito que esteja no quarto de Sebastian."
Eu concordei com a cabeça, pensando loucamente em outra coisa para dizer. Mas minhas pernas já estavam praticamente tremendo para começar a se mexer e me tirar dali. Então eu só o agradeci e assim que ele me falou para dispor, eu dei a volta nele e mirei a porta que levava de volta ao salão comum.
"Lady Melody," ele me chamou um segundo antes de eu estar livre. Eu respirei fundo antes de girar para olhá-lo. "Nós gostaríamos muito de poder conhecer seus pais," ele disse, fazendo um arrepio frio me descer pelas costas. Aquilo era bem mais sério do que eu tinha pensado.
"Pode deixar," eu soltei antes de conseguir me parar. Era só meu desespero falando. E logo depois de ele sorrir para mim, eu voltei a me virar para a porta e saí de lá o mais rápido possível.
Meus sapatos não eram altos, mas minhas pernas estavam tão fracas, que andar até o quarto de Sebastian foi um enorme desafio. E era longe! Muito longe! Longe demais e cada passo só me deixava ainda mais nervosa!
Quando eu passei pelo andar dos quartos das selecionadas, eu resolvi parar por um tempo. Sem querer, eu andei até o meu quarto e abri a porta, que estava destrancada para a minha surpresa. Foi só eu senti-la abrindo facilmente que me caiu a ficha que eu já não morava mais ali. Mas eu entrei e fui me sentar na cama.
Não era possível que eu estava tão perdida assim! Eu conhecia Thomas, eu já o tinha visto várias vezes! Eu já tinha lhe falado mil coisas por cartas! Por que a ideia de o encarar me parecia tão assustadora?
Eu me soltei na cama e deitei de costas, com meus pés ainda no chão. Talvez fosse bem por isso! Porque eu já tinha falado muita coisa por cartas! Coisas que eu nunca conseguiria dizer pessoalmente! Mas vê-lo seria como se eu repetisse todas pessoalmente. Ele se lembraria de todas. Ele olharia para mim e pensaria, "olha aí a menina que sonha comigo todas as noites". Seria estranho demais!
E se ele estivesse brincando comigo? E se tudo não se passasse de uma brincadeira de mal gosto? E eu o encontrasse e ele simplesmente risse na minha cara? E se ele me ignorasse? Fingisse que não me conhece e eu ficasse como a idiota que corria atrás de alguém que nem se importava com ela?
"Senhorita?" Uma voz me chamou, me fazendo sentar na cama de uma vez. "Melody!"
Era Juliette, uma das minhas criadas. Ela correu para me abraçar e eu a encontrei na metade do caminho.
"Como você está bonita!" Eu falei, a abraçando tão forte, que nós balançávamos.
"Você que está!" Ela disse, se afastando de mim e me segurando pelos ombros enquanto me olhava de cima a baixo. Juliette era bem mais velha do que eu e sempre tinha me tratado como mãe. Era ela que tinha me mantido sã no meio de toda aquela competição. "Eu estava esperando poder te ver no casamento!"
"Eu também," falei mais por bondade. Na verdade, eu nem tinha chegado a pensar nas outras pessoas que eu encontraria voltando ali. Nem mesmo nas outras selecionadas ou no Príncipe Charles.
Ela me contou um pouco das outras duas criadas, algumas fofocas sobre o castelo que Thomas já tinha me contado e depois nós nos abraçamos de novo.
"Eu preciso ir ajudar a terminar de arrumar a suíte da princesa, mas eu te vejo na festa!" Ela me disse, logo depois de me dar um beijo no rosto e subir as escadas. Eu a esperei desaparecer de vista, e depois eu a segui. Não queria que ela me visse, mas eu ainda precisava ver Thomas!
Foi só quando eu cheguei na frente do quarto que eu sabia que era de Sebastian que eu percebi o que estava fazendo! Qual era meu plano? Chegar lá e perguntar por Thomas? Mas e se os príncipes não soubessem de nós dois? E se Thomas realmente me ignorasse, para não ter que demonstrar que ele também gostava de mim?
Ai, meu deus. E se ele não gostasse mesmo de mim?
Ainda tentando decidir se eu devia continuar ou dar meia volta, eu andei até a porta. Levantei minha mão para bater, mas esperei com ela no ar, me dando uma última chance de mudar de ideia.
E eu tinha mudado de ideia. No milésimo de segundo em que eu comecei a baixar a mão para dar meia volta e descer correndo para o jardim, a porta se abriu com tudo. Era Charles, que franziu as sobrancelhas com vontade ao me perceber ali.
Eu fiz uma careta na hora, sem saber como me explicar. Mas então meus olhos caíram em Thomas atrás dele, que se virava da janela. E quando ele me viu, ele abriu um sorriso e vem em minha direção.
"Lady Melody, o que você-" Charles começou a perguntar, mas Thomas passou por ele, praticamente empurrando-o para o lado e chegando até mim.
Ele pegou meu rosto com as duas mãos e deixou seu sorriso desaparecer em um beijo que pareceu relaxar todos os meus sentidos. Por sorte eu me agarrei em sua camisa e consegui ficar de pé. Ele gostava mesmo de mim! Não tinha sido só uma brincadeira! Ele não tinha me ignorado! Pelo contrário, ele nem se importava com quem estava por perto, ele tinha me beijado! Ele tinha ido até mim e me beijado!
Ele se afastou um pouco de mim e me mirou por um segundo, a felicidade em seus olhos era tão clara, tão brilhante, que me contagiava. Eu queria abraçá-lo, queria enterrar minha cabeça em seu peito e sentir seu cheiro. Eu queria beijá-lo de novo, queria seus braços em volta de mim, me sustentando, me levantando, me relaxando. Mas eu não queria por nada que ele tirasse seus olhos de mim. Eu não conseguiria tirar os meus dele!
"Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?" A voz de Charles pediu, ameaçando o nosso encanto.
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