Capítulo 110: POV Charles Regen
Quando eu abri meus olhos, eu não sabia direito onde estava. A primeira coisa que percebi quando acordei foi o cheiro de limpeza que enfestava o quarto, como se tivessem acabado de limpar o chão com alvejante. Depois eu senti frio, o que me fez encolher um pouco e passar minhas mãos pelos meus braços. E então foi quando eu senti que minhas mãos estavam enfaixadas.
Foi só aí que eu abri os olhos e olhei em volta, meus olhos indo direto para Sebastian, que estava sentado em uma poltrona do meu lado. Eu me ajeitei na cama, tentando sentar um pouco mais ereto, mas não conseguia ficar confortável. Meu corpo só doía ainda mais. E na segunda vez que tentei, me estiquei de um jeito que me chamou atenção para a atadura perto da minha costela. E foi quando eu lembrei de porquê eu estava ali.
Sebastian dormia profundamente, bem melhor do que eu estava me sentindo. Ele estava completamente torto, eu já podia prever que ele não gostaria nem um pouco das dores que ganharia assim. Mas eu não queria acordá-lo. Era legal vê-lo ali, todo sofrendo para conseguir dormir, mas mesmo assim ficando do meu lado. Ele tinha uma cama ótima esperando por ele, mas insistia em ficar do meu lado.
Nos poucos minutos em que eu fiquei em silêncio, eu dei uma olhada pelo quarto, esperando algumas respostas. Mas não tinha nada ali que pudesse me explicar o que tinha acontecido desde a última vez em que Gabrielle tinha me falado que ia buscar ajuda.
Antes que eu pudesse decidir me levantar para chamar alguém, Sebastian abriu os olhos e se endireitou.
"Bom dia," ele disse, bocejando logo depois.
"Está de dia?" Eu perguntei, o fazendo olhar no relógio.
"Não exatamente," ele falou. "São nove da noite."
"Como assim, nove da noite?" Eu perguntei. "Espera, é quinta-feira?"
Sebastian ficou um tempo em silêncio, depois abriu um sorriso. "É domingo."
"DOMINGO?!" Eu tinha perdido quase quatro dias?
"Sim, domingo," ele falou, se esticando na cadeira e juntando suas mãos sobre o peito. "Não se preocupe, ninguém questionou sua ausência no Jornal Oficial."
"Nossa, ainda bem, Bastian. Eu estava realmente preocupado," eu falei, sarcástico.
"Disponha, irmão. Sempre bom poder acalmar seu coração," ele me sorriu.
"Por falar nisso," eu falei, "e a Gabrielle? Ela está bem?"
"Perfeita," ele respondeu. "Bom, não perfeita. Dizem que ela não está conseguindo levantar os braços direito, mas nada que não passe."
"Levantar os braços?"
"É, ela está com os ombros machucados," ele explicou.
"E como é que eu consegui dormir esse tempo todo?" Eu perguntei. Não era possível que uma ferida de bala pudesse me deixar em coma. Não podia ser.
"Remédios," Sebastian falou. "Sei lá, queriam acelerar sua recuperação, acharam que te apagando e te enchendo de antibiótico fosse uma boa ideia. Você vai ficar com uma cicatriz, aliás. Duas, na verdade."
"Da hora," eu falei e sorri, ele me imitou. "Mas a Gabrielle está bem?"
"Está ótima, não precisa se preocupar," ele me assegurou. Depois sentou direito e se inclinou para a frente, me olhando nos olhos. "Mas eu tenho más notícias. Más e péssimas. Qual você quer primeiro?"
"As más," eu disse, sem pensar direito.
"Bom, aquela selecionada que estava no hospital foi vista hoje na Irlanda," ele falou e eu tive que parar um pouco para checar na minha cabeça se aquelas palavras significavam mesmo o que eu achava que tinha ouvido.
"Como é?"
"Lady Arya. Foi embora. Com o Príncipe Jack," ele falou, como se eu fosse idiota.
Por um segundo, eu pensei em perguntar de novo do que ele estava falando. Como é que aquilo podia ser possível?
Mas aí todo o meu corpo gritou que não tinha forças para se importar e eu só dei de ombros.
"Que seja," eu disse, para a surpresa, e depois alegria, de Sebastian. "Já chega de Seleção. Pode mandar todo mundo embora, eu já tenho a minha escolha."
"Então," Sebastian falei, seu sorriso quase morrendo. "Eu precisava falar com você sobre isso mesmo."
"Aconteceu mais alguma coisa?"
Ele engoliu em seco. "Eu preciso que você continue com a Seleção por mais um tempo," ele falou. "Só mais um pouco. E você não pode mais eliminar ninguém, senão você vai ter que escolher muito rápido, e eu preciso de mais tempo."
"Tempo para fazer o quê?"
"Para jogar a Amélie pela janela," ele falou, com o sorriso maligno no rosto.
"Vou fingir que não ouvi isso," eu disse. "Por mais que ela seja um pouco irritante, ela ainda é a Amélie, Sebastian. Você só precisa aprender a lidar com ela, que ela nunca vai te atrapalhar de verdade."
"É, então," ele disse, suspirando. "Ela já está me atrapalhando de verdade."
"Vai, fala," eu lhe dei um tapa no ombro. "O que foi que ela fez agora?"
Ele respirou fundo mais uma vez, mirando suas próprias mãos apoiadas na minha cama. Seu rosto ficou todo sério e eu percebi a gravidade da situação antes que ele falasse mais alguma coisa.
"No meu aniversário," ele começou, parecendo ter quase nojo daquelas palavras.
"Vocês ficaram juntos," eu completei.
"É," ele disse. "E agora ela está..."
Eu esperei que ele continuasse, mas parecia que aquilo era demais para ele, que virou o rosto para o lado contrário a mim, olhando o resto do quarto. Eu esperei até ele conseguir se recuperar, até ele se conter. Mas eu já sabia dentro de mim o que podia ser o resto daquela sua frase. Então eu me inclinei para a frente e o segurei pelo ombro.
"Ela está-" ele tentou falar de novo, mas eu o cortei.
"É certeza?" Perguntei, e ele concordou com a cabeça.
"Ele fez uns mil testes com a Marly, todos positivos."
Foi a minha vez de engolir em seco. Mas ainda tinha alguma esperança dentro de mim. Não era justo alguém como ele perder a chance de ficar com quem ele tanto amava. Sebastian não era do tipo de se deixar apaixonar assim, ele não precisava de mais nenhuma prova de que não valia a pena. Ele já acreditava nisso. Ele precisava era de alguém que mostrasse para ele que não existia nada no mundo mais bonito do que aquilo. Como a Nina. Como a Gabrielle era para mim.
"Mas e agora?" Eu perguntei.
Ele levantou as mãos no ar e depois as deixou cair de novo na cama, ainda sem me olhar. "Agora nosso pai não quer nem olhar para mim direito. E aquela-" ele mesmo se cortou, rangendo os dentes. "E a Amélie marcou nosso casamento. CASAMENTO," ele repetiu, balançando a cabeça, como se ainda estivesse tentando se acostumar. "E o pior era que tudo estava bem," ele se virou para me olhar e eu vi que ele lacrimejava. "Estava tudo perfeito, Charles. Eu-"
Sua voz falhou e ele desistiu do que ia falar. Eu dei uma apertada no seu ombro, como para mostrar que eu estava lhe apoiando. O movimento me fez sentir os nós dos meus dedos doendo, como se algo os impedissem daquela ação, mas eu insistia.
"De qualquer jeito," Sebastian falou depois de um tempo, passando as costas da mão nos olhos, "eu preciso que você mantenha a Nina aqui por mais um tempo."
"Ela pediu para sair?" Eu perguntei.
Ele deu de ombros, sem parecer que tinha conseguido parar de chorar. "Não sei, mas se ela pedir, fala que não. Por favor. Eu não sei o que eu vou fazer, mas eu tenho que fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Eu preciso conseguir parar com isso. Não vou me casar com a Amélie, de jeito nenhum. Eu preciso de mais tempo, Charles."
"Eu entendo."
"Tempo para explicar para a Nina que eu não quero isso, que eu não estou feliz," ele respirou fundo uma vez, depois enxugou o rosto com as costas da mão de novo. "Inventa alguma coisa, fala que você precisa que ela fique aqui, porque a Arya fugiu e você não quer ter que decidir tão rápido a Seleção."
"Mas não está claro para todo mundo que eu já vou escolher a Gabrielle?" Se não estivesse, eu pensei que gostaria muito bem de sair falando para quem aparecesse no mundo caminho até ela.
"É, está," ele concordou, desanimado, baixando os olhos para o chão.
E eu senti um aperto no peito de vê-lo daquele jeito, desolado. E lembrei de quando ele tinha ficado do meu lado.
"Pode deixar," eu falei do nada, fazendo-o levantar o rosto para me olhar, um pouco confuso. "Gabrielle foi sequestrada, eu posso falar que eu preciso dar um tempo para ela se recuperar, que ela precisa de uma amiga," eu parei para pensar um pouco. "A Nina e ela são amigas, certo?"
"Certo," ele disse, já mais animado. "Ela não sai do lado da Gabrielle ultimamente, anda até dormindo no quarto dela."
"Perfeito então," eu falei. "Está decidido. Eu a eliminaria, mas a Gabbie precisa dela. E eu não quero colocar a pressão do casamento e da Seleção em cima dela agora. Eu preciso dar tempo para ela se recuperar."
"Charles, eu nunca vou conseguir-"
"Não me entenda mal, Sebastian," eu disse, levantando uma mão para impedi-lo de me agradecer. "Isso daqui não é um favor que eu estou fazendo para você depois me recompensar. Isso daqui já sou eu te agradecendo por ser o melhor irmão que alguém poderia ter."
Droga, eu pensei, meus olhos tinham que sentir o que eu estava dizendo? Eles precisavam mesmo resolver chorar junto com o Sebastian?
Ele levou uma mão à minha que ainda estava em seu ombro.
"No que eu puder ajudar," eu continuei, "mesmo se o seu plano for um assassinato de uma francesa aí, o que eu espero que não seja, é só você me falar."
"Achei que você não a achasse tão ruim assim, sua amiga de infância."
Eu sorri de lado, apesar de não sentir nenhuma alegria dentro de mim.
"Blood is thicker than water."
Depois de um médico vir me ver e constatar que eu estava bem, que só precisaria aparecer ali uma vez por dia para tomar outra injeção de antibiótico, eu me vesti nas roupas que me esperavam em uma cadeira e subi com Sebastian.
Ele parecia exausto, abatido. Me disse que só estava dormindo, que não fazia mais nada além de tentar fazer com que Nina falasse com ele, e eu pude ver isso em seus olhos. Eu o deixei em seu quarto, falando que ia dormir também. Mas quando fui abrir a porta do meu, eu pensei melhor. Dei meia volta e desci as escadas devagar.
Eu andei o mais silenciosamente que podia, cumprimentando os guardas só com a cabeça, que pareciam bastante felizes de me ver. Quando cheguei ao final do corredor, Thomas estava de pé do lado da porta de Gabrielle.
"Alteza," ele disse, quase cochichando.
"Lady Nina está aí?" Eu perguntei, apontando para o quarto de Gabrielle.
"Não, Alteza," ele falou. "Acabou de sair. Mas acredito que volte."
"Thomas, depois de tudo pelo que passamos, você sabe que pode me chamar de Charles," eu disse.
Ele sorriu, mas logo voltou a ficar sério. "Estou tentando me manter profissional em horário de trabalho, Alteza," ele disse, mas logo se corrigiu. "Charles."
Eu assenti com a cabeça, depois pensei um pouco. "Thomas, eu nunca vou conseguir te agradecer por tudo que você fez por mim e pela Gabrielle nesses dias."
"Não precisa agradecer," ele disse. "Não só porque é meu trabalho. Um pouco por isso, talvez. Seus pais me dão vontade de trabalhar para eles. Orgulho. E você e o Sebastian são a prova de que o nosso futuro vai ser tão brilhante quanto nosso presente. Senão mais."
Eu pensei só em sorrir. Mas eu não aguentei. Não sei se era pelos remédios ou por tudo que tinha acontecido. Eu só dei um passo à frente e abracei Thomas como eu abraçava meu pai. De uma vez, forte e significativo. Ele pareceu meio confuso, mas me abraçou de volta. E em dois segundos, nós tínhamos nos afastado.
"Eu que tenho orgulho de ter você trabalhando para a gente," eu disse, já sentindo de novo que eu poderia começar a chorar.
Mas que droga de remédio era esse que eles tinham me dado que só me deixava emotivo?
"Eu vou aproveitar agora para entrar," eu disse, apontando para a porta da Gabrielle, "enquanto Lady Nina não volta."
Ele concordou com a cabeça, depois deu um passo ao lado, abrindo caminho para mim. Meu primeiro instinto era bater, mas a visão da faixa em volta da minha mão na hora em que eu tentei fechar um punho me lembrou de que aquilo não seria uma boa ideia. E talvez ela já estivesse dormindo.
Eu abri a porta de leve, chamando-a pelo nome bem baixinho, para não atrapalhar caso estivesse. Mas fiquei em silêncio assim que percebi a luz apagada. Abri a porta devagar, a procurando pelo quarto, até a encontrar na cama. Ela dormia, um pouco até sentada, como em uma cama de hospital. Mas ela respirava fundo, e o ritmo dessa sua respiração me acalmou um pouco.
Eu fiquei um tempo ali, com a mão ainda na maçaneta, olhando-a dormir. Não sabia se chegava mais perto, tinha medo de assustá-la. Mas aí eu percebi que se ela acordasse e me visse ali, eu provavelmente a assustaria de qualquer jeito. E que talvez a luz que vinha do corredor até a atrapalhasse a dormir.
Então fechei a porta devagar, sem tirar os olhos dela. E, sem nem pensar no que eu estava fazendo, eu comecei a andar até ela. Era tão bom vê-la ali, segura e sã, dormindo como se não existisse mal no mundo que a pudesse alcançar. Eu me agachei do lado da sua cama prometendo para mim mesmo que eu nunca deixaria alguma coisa como aquela acontecer com ela de novo. Eu passaria o resto dos meus dias tentando sem parar evitar que ela tivesse alguma dor.
Eu não consegui me controlar, eu vi sua mão apoiada na cama e a minha simplesmente foi atraída pela dela, se apoiando com cuidado sobre sua pele quente. Só que aquilo a fez mexer um pouco, então eu tirei minha mão para evitar que ela acordasse e me levantei. Depois de alguns segundos imóvel, esperando para ver se ela tinha despertado e percebendo que não, eu me inclinei para ela e a beijei na testa.
De novo, ela se mexeu um pouco e eu me senti culpado de estar atrapalhando. Por sorte, ela continuou dormindo, sua respiração voltando ao ritmo normal e profundo antes que eu pudesse estragar tudo.
Eu dei alguns passos atrás, não querendo ir embora, realmente me perguntando se existia alguma possibilidade de eu dormir ali com ela. Mas antes que eu pudesse tomar uma decisão, uma luz invadiu o quarto e eu virei para encontrar Nina entrando com um copo de água.
Ela pareceu se assustar com a minha presença, mas logo fechou a porta atrás dela. E então, quando eu achava que ela ia me perguntar o que eu estava fazendo ali, ela só apontou para as portas da varanda e foi até ela.
Eu a segui, fechando as portas e a encontrando no meio do frio da noite.
"Como ela está?" Eu perguntei, querendo adiar ter que ouvir que ela queria sair da Seleção, como eu imaginava que faria.
"Bem," Nina olhou de volta para dentro do quarto, segurando o copo com as duas mãos. "Está dormindo melhor agora. Ela teve muito pesadelo no começo, mas agora está conseguindo dormir a noite toda."
Enquanto ela falava, eu podia perceber em seus olhos aquela mesma expressão abatida de Sebastian. Eu dei um passo à frente para falar alguma coisa, mas ela me cortou antes que eu pudesse abrir a boca.
"Charles, eu gostaria que você soubesse que eu sou muito grata pela oportunidade que você me deu," ela disse, sem encontrar meus olhos. "Mas eu sei que seu coração pertence à Gabrielle. E o meu, infelizmente, não está em condições de lutar contra isso. Contra qualquer coisa, para falar a verdade."
"Eu entendo," eu falei, já pronto para contestar.
"Então eu queria que você me eliminasse," ela levantou os olhos para encontrar os meus. "Eu preciso que você me deixe ir para casa. Eu não quero mais ficar aqui, eu preciso ir embora."
Eu engoli em seco, tentando não deixar seu olhar influenciar minha resposta. Eu precisava ser forte, eu precisava fazer o que Sebastian tinha pedido.
"Eu entendo," eu disse de novo. "Sebastian me contou tudo," na hora em que eu falei isso, ela virou os olhos para o jardim e foi se apoiar na grade. "Faz tempo que eu sei, aliás. De tudo. Eu lhe dei minha benção quando ele me disse o que estava acontecendo-"
"Isso não importa mais," ela disse, um pouco alto demais para quem estava do lado de fora do quarto de alguém dormindo. "Isso já não importa mais."
"Eu sei," falei, indo ficar do seu lado na grade. "Mas eu não posso te eliminar," ela se virou para mim na hora, me olhando como se eu tivesse acabado de admitir a pior traição do universo. "Me perdoa, Nina, de verdade. Se eu pudesse, eu te deixaria ir. Mas eu não posso?"
"Por quê?" Ela perguntou e eu pude ouvir na sua voz como aquilo a machucava. "Ele te pediu para fazer isso? Ele quer mesmo que eu fique para assistir?"
"Não," eu menti. "Não, não é por Sebastian. Ele não merece tanta honra assim," eu mentia, porque eu ainda estava do lado dele. Mas eu tinha prometido para ele que ela ficaria no castelo e eu não podia medir esforços para cumprir essa promessa. "Eu preciso que você fique pela Gabrielle," eu expliquei. "Ela precisa de você agora."
Seus olhos se viraram de novo para o quarto e eu pude assistir em seu rosto quando ela aceitou que aquilo era verdade. Eu nem precisava falar mais nada, era o suficiente. Ver que alguém precisava desse sacrifício dela era o suficiente para fazer ela ficar. Naquela hora, eu quase a abracei, agradecendo tanta bondade, tanta nobreza de caráter.
Quase até comecei a chorar e a xingar aquela droga de medicamento que claramente estava me afetando. Mas me mantive sério.
"Lady Arya foi embora," eu continuei, fazendo-a se virar para me olhar. "São só quatro agora. Se eu te deixar ir embora, eu vou ter que escolher em três dias a vencedora. E, apesar de eu não precisar nem de mais três segundos para a escolher, ela precisa de um pouco mais de tempo para se recuperar," Nina concordou com a cabeça, baixando os olhos para o copo de água que ela segurava. "Não quero essa pressão em cima dela, não agora, depois de tudo que ela passou."
"Eu entendo," ela disse, ainda bastante incomodada.
"Quando você precisar," eu disse, dando um passo à frente e levantando o seu rosto com a mão, "você pode vir falar comigo. Quando você quiser xingar Sebastian, ou a Amélie, ou tudo na sua vida. É só vir falar comigo. E eu te prometo, que assim que eu ver que a Gabrielle está melhor, eu te deixo ir."
"Está bem," ela disse.
"Eu não estou fazendo isso para te prejudicar-"
"Eu entendo," ela olhou nos meus olhos e parecia que ia sorrir, mas não conseguiu. Então deu um passo atrás. "Eu não me importo de ficar para ajudá-la," disse. "Obrigada mesmo assim."
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela voltou para o quarto. Eu a acabei seguindo, indo direto para a porta, enquanto ela apoiava a água no criado-mudo. Eu abri a porta e estava para sair, quando ela me chamou pelo nome.
"Eu vou cobrar sua oferta," ela disse, bem baixinho. "De ir atrás de você quando estiver com raiva."
Eu sorri, rezando para que aquilo pelo menos tivesse ajudado um pouco.
"Eu vou estar esperando."
Eu não sabia o quanto eu precisava da minha cama até que eu me deitei nela. Tudo era incrível. As cobertas, os mil travesseiros, o colchão, tudo. Eu não conseguia me contentar, eu queria poder dormir para sempre. E, de preferência, nunca mais ter que me sentar em uma cama de hospital.
Já fazia alguns minutos que eu estava deitado, eu estava quase adormecendo, quando percebi uma luz no meu quarto. Eu não abri meus olhos, eu me mantive imóvel. De vez em quando, mesmo com Sebastian e eu mais velhos, nossos pais vinham nos ver no meio da noite, para saber se estávamos dormindo bem. Fazia tempo que eu não os via fazendo isso. Eu não sabia se era porque eles tinham parado, ou porque eu sempre estava dormindo quando eles vinham.
Eu ainda não sabia qual dos dois era, até que a minha mãe fechou a porta e veio deitar do meu lado, me fazendo sentir seu perfume. Na hora, eu pensei em simplesmente mostrar que estava acordado. Mas ela acabou me abraçando, fazendo carinho no meu cabelo, e eu decidi que não era importante. Era até melhor que eu não falasse nada, eu não queria que ela parasse.
Eu adormeci logo depois.
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