Capítulo 105: POV Amélie Hollande
Eu me lembrava muito bem do dia em que eu tinha me apaixonado por Sebastian. Eu sempre queria ficar perto dele, mesmo que eu não soubesse por quê. Eu era magneticamente atraída por ele quando nós éramos crianças. Eu nem pensava no que estava fazendo, só sabia que queria estar com ele, aonde ele estivesse. Eu o seguia, como uma idiota.
Até que eu fiz doze anos e eu comecei a perceber porque eu corria tanto atrás dele. E eu comecei a fazer o contrário, eu queria fugir dele, não queria mostrar que me importava. Ele tinha crescido junto comigo, tínhamos praticamente a mesma idade, mas ele parecia não entender! Pelo contrário, ele vinha me perguntar porque eu estava estranha, porque eu parecia não querer mais passar tempo com ele! Ele não entendia que eu queria me afastar, porque eu queria ficar perto. Que eu não queria sentir aquilo, mas que eu realmente queria que ele sentisse o mesmo.
Eu sempre tinha tido essa ligação com ele, mas eu gosto de pensar que o momento em que eu me apaixonei por ele foi outro, foi específico. Com quinze anos, eu tinha me acostumado a gostar dele, eu sabia que ele era importante para mim, apesar de nunca nem admitir para mim mesma o quanto. Mas eu sabia me controlar, eu aprendi a voltar a ser amiga dele, sem demonstrar o que eu não queria.
Até um dia quando nós fomos a um zoológico de Angeles. Eu já tido ido a vários no meu país, já conhecia todos os tipos de alces que o mundo já tinha produzido. Mas eu gostava mesmo era de animais aquáticos. Em especial, o peixe-boi. Esse era um animal muito, mas muito raro mesmo. Eu já tinha me contentado em assistir pela TV e ver em livros, nunca pensei que fosse ver um de verdade.
Mas o zoológico de Angeles tinha um! Eu nem sabia. Nós estávamos andando nele, casualmente comentando sobre como felinos são lindos, quando Sebastian se virou para mim e me disse, "Olha lá, o animal que você gosta!"
Quando eu percebi de qual ele falava, eu comecei a dar pulinhos de alegria! Depois, é claro, eu fiquei me sentindo a pessoa mais ridícula do mundo por ter reagido daquele jeito. Mas eu não consegui me controlar! Eu corri pelo aquário, tentando acompanhar o bicho que nadava tranquilo. Só que eu não tinha câmera e a água estava tão turva, que eu só conseguia vê-lo quando ele chegava bem perto do vidro.
E então Sebastian, vendo a minha felicidade e as minhas tentativas, subiu no aquário, como dava, se apoiando na beirada mínima que tinha ali, só para conseguir chegar até a superfície da água e conseguir tirar uma foto para mim.
E enquanto ele se empoleirava ali, tudo que eu conseguia pensar era que eu amava ele. Eu amava ele, eu tinha certeza. E bem ali, eu percebi que não existiria nada no mundo que fosse tirar esse amor de mim. Era parte de mim, como meus ossos. Era o que me sustentava. Eu não saberia viver sem ele.
As fotos ficaram terríveis, como ele mesmo constatou. Mas depois nós tiramos algumas na frente do aquário e, por sorte, o peixe-boi resolveu se juntar a nós no último segundo.
Assim que eu consegui entrar no quarto dele na noite do resgate (os guardas estavam muito dispersos para perceberem!), eu fui direto para o seu mural. Sebastian insistia em falar que ele não gostava tanto de tirar fotos, que era uma coisa que ele herdou sem querer. Mas seu mural era enorme e lotado de fotos de tudo quanto gente. Ele não se importava tanto com paisagem, preferia mesmo pessoas. E eu fui olhando, foto por foto, algumas de nós quando éramos crianças, com o Leger e o Thomas, com a princesa da Escandinávia. Nós crescemos juntos, no quintal do castelo deles, e dava para ver isso pelas fotos.
Ele dizia que tirava fotos pelo momento, que não era pela composição, que ele não se importava se saía ruim. Mas nenhuma ficava ruim, mesmo aquelas que era ele quem tirava, elas eram ótimas. Ele tinha herdado não só o gosto, mas o talento do pai. E eu podia ver que ele não tinha parado com aquela sua mania. Ele tinha foto das selecionadas, ele tinha fotos da festa dele, que eu tinha certeza que não tinha sido ele que tinha tirado. Cheguei até a encontrar uma de nós juntos no seu aniversário. Ele estava apoiado em uma das colunas que segurava a tenda, e eu estava me inclinando para ele, rindo de alguma coisa. Eu lembrava bem daquele momento e estava começando a revivê-lo, quando meus olhos encontraram outra foto.
Era daquela selecionada, que estava sempre junto com ele agora, que tinha até sido levada para o resgate da outra. Lady Nina. Mas não era uma foto comum, parecia quase uma foto de passaporte. Ela sorria, alegre e tentando muito ser encantadora, seus olhos brilhando para a câmera na frente de um fundo cinza. E foi esse fundo que me fez perceber que aquela era a foto dela de inscrição para a Seleção.
Eu não queria acreditar que podia ter alguma coisa entre eles, eu não queria nem pensar na possibilidade. Só de ver aquela foto, eu já senti como se o chão estivesse se transformado em um buraco negro que me puxava com todas as forças para baixo.
Mas então eu percebi outra coisa. Vários papéis, dobrados, uma carta grossa, presa ali, logo embaixo da foto. Eu hesitei por um segundo, pensando nas mil coisas que poderiam estar escritas ali. Mas o fato era que não era uma escolha que eu tinha que fazer. Tudo em mim dizia que ler aquilo seria errado, mas eu sabia no fundo, que eu leria. Não tinha escolha, eu precisava saber. Eu não conseguia ser boa o suficiente para preservar a privacidade dele. Não, não existia privacidade que ganhasse da minha curiosidade. E se era para eu ter meu coração quebrado, melhor que fosse logo.
Quando eu finalmente admiti que eu ia mesmo ler a carta, eu a tirei correndo de lá e fui até a cama. Eu me sentei, porque saberia que minhas pernas não aguentariam o que quer que fosse que estava escrito ali.
Eu estava esperando que fosse alguma coisa que ele tivesse escrito, mas era bem o contrário. E linha após linha, eu fui me segurando para não gritar de raiva daquela menina, que achava que tinha o direito de vir aqui, passar algumas semanas com ele, e achar que ele era dela. Ela não o conhecia de verdade, não como eu conhecia. Ela nunca poderia amá-lo como eu amava! Ela não sabia do que ele gostava, do que ele fazia. Ela não sabia de nada! Ela tinha vindo para o castelo para ficar com o irmão dele, mas não sabia o seu lugar. Ela tinha passado cinco minutos com ele e achava que já estava no direito de se apaixonar por ele. Mas não era verdade! Ele tinha que ficar COMIGO! Eu o vi PRIMEIRO! Eu o vi antes de ele virar quem ele era! Ele era MEU!
"O que você tá fazendo aqui?" Eu ouvi a sua voz e rapidamente enfiei a carta embaixo de mim, sentando em cima dela e rezando para ele não ter percebido o que eu estava lendo.
"Eu precisava falar com você," eu disse, cruzando a perna e apoiando meu cotovelo no joelho.
"E por isso, você achou que podia pegar uma carta que não era para você para ler?" Sebastian perguntou, apontando para onde eu tinha enfiado os papéis correndo.
Droga, pensei. Não tinha sido rápida o suficiente.
"Ah, desculpa," eu disse, me inclinando para pegar a carta de novo. Ela estava completamente amassada e isso quase me animou. "Sabe como é, sou um pouco curiosa," eu exagerei no meu sotaque, rezando que aquilo fosse distrai-lo.
Mas ele não parecia nem um pouco feliz, praticamente arrancou os papéis da minha mão e depois ficou os alisando com cuidado. Eu não falei nada até que ele tivesse colocado a carta de volta embaixo da foto da menina.
"Amélie, eu sei que eu devia ter te falado isso antes," ele começou e eu praticamente segurei minha respiração, com medo do que estava prestes a ouvir, "mas não tem nada entre nós."
"Como assim?" Eu perguntei, enquanto meu coração achava que ele estava falando que não tinha nada entre ele e a menina.
"Você é uma menina incrível," ele disse, vindo se sentar do meu lado na cama. "Você é uma das minhas melhores amigas," ele se esticou até segurar na minha mão. "Mas não tem nada entre nós dois. Eu estou com outra."
"A tal Nina?" Eu perguntei, mas ele só me mirou, sem responder. "Essa menina que você conhece faz dois segundos e que está aqui para competir para ficar com o seu irmão?"
"Ela já não está aqui por ele mais," Sebastian disse, mas eu mal ouvia.
"Então vocês estão juntos?"
Ele deu de ombros. "Meio que estamos," ele falou, seu olhar se perdendo pela cama, um sorriso idiota aparecendo em seus lábios.
Eu senti como se tivesse levado um tapa na cara, estava momentaneamente tonta. Não podia ser, como eu não tinha visto? Por que eu tinha dado o benefício da dúvida para essa idiota? Eu me convencia de que ela estava aqui pela Seleção, que não seria possível alguma coisa como essas acontecer!
Depois de um tempo sem falar, eu recuperei a minha pose e comecei a ficar era com raiva. O teto não estava caindo em cima de mim, eu que ia quebrar tudo à minha volta. Se ele achava que seria tão fácil assim, que eu simplesmente ia dar um passo ao lado e deixar com que ela tomasse de mim a vida que eu tinha sonhado durante tanto tempo, ele estava muito errado! Eu não seria como a minha mãe! Eu não passaria o resto dos meus dias assistindo de camarote alguém viver a minha vida.
"Sinto muito," eu disse, pegando Sebastian de surpresa.
"Como é?" Ele perguntou, e eu puxei minha mão de volta, cruzando os braços.
"Sinto estragar sua fantasia," eu falei, "mas vocês não podem ficar juntos."
Ele riu, como se o que eu dizia fosse ridículo, e só aproveitei ainda mais o que eu tinha para falar.
"Desculpa, Amélie, mas não tem nada que você possa fazer," ele disse.
Foi a minha vez de rir, sarcástica. "Não, mas tem uma coisa que nós dois podemos fazer," eu falei.
Ele franziu a sobrancelha, mas logo as arqueou de novo, provavelmente entendendo aonde eu queria chegar.
Ele se levantou, deu dois passos em direção à porta, depois voltou a andar até mim.
"Do que você tá falando?" Ele perguntou, e eu pude ver o medo se espalhar pelos olhos dele.
Eu quase desisti de falar, quase mandei que esquecesse. Eu não podia deixá-lo arrasado daquele jeito, me doía por dentro.
Mas eu sabia que era pelo próprio bem dele. E, afinal, já não tinha mais o que eu pudesse fazer. Era verdade, e eu teria que aceitar tanto quanto ele. Não existia possibilidade de eu virar a minha mãe e ainda ter que carregar um filho junto.
"Eu estou falando," eu comecei, "que você já não tem escolha."
Ele franziu a sobrancelha de novo. Homens são tão idiotas! Será que ele não percebia que eu não queria ter que falar? Não dava para entender pelas entrelinhas?
E então eu pensei em uma entrelinha infalível.
Eu me levantei e levei minhas duas mãos à minha barriga, acariciando-a devagar. "Você sabe do que eu estou falando," eu disse, enquanto seus olhos observavam o meu movimento.
Eu não sabia bem que reação eu estava esperando, mas definitivamente não era aquela que eu esperava. Ele ficou imóvel por um segundo, depois começou a rir alto, jogando a cabeça para trás, colocando as mãos na barriga, como se não tivesse se aguentando.
E aquilo me irritou! Eu só não o empurrei para fora da janela, porque ainda tinha alguma coisa naquela risada que parecia deslocado. Era como se ele estivesse se forçando a rir, tentando ao máximo tirar o meu crédito.
Mas não tinha nada que ele podia fazer, era verdade. E eu sabia que era eu quem iria rir por último.
"Você deve estar de brincadeira," ele falou finalmente, fingindo se recompor. "Sério, você não acha mesmo que eu vou acreditar nessa, não é? Ah, pelo amor de deus, Amélie! Tenha um pouco de dignidade!" Ele se endireitou e apontou para mim, o que só me deixou ainda mais irritada. "A gente ficou junto, quando? Duas semanas atrás. Nem dá para você saber de uma coisa dessas!"
"Claro que dá!" Eu gritei, minhas mãos fechando em punhos. "Eu estava atrasada e eu já fiz um teste!"
"Muito fácil falar, não é?" Ele perguntou, com um ar tão arrogante, que eu quase me perguntei se eu o queria mesmo na minha vida. Mas eu sabia quem ele era, ele só tinha que entender o que eu falava, só precisava acreditar em mim. "Muito fácil falar, quando ninguém consegue provar o contrário!"
"Pergunta para a minha criada," eu falei, lembrando do dia em que eu tinha tirado o teste. Bom, do dia em que finalmente tinha dado positivo. "Vai lá, pergunta para ela. Eu não estou mentindo, Sebastian! Eu estou carregando o seu filho!"
Bem na hora em que eu estava gritando a frase que deixava mais claro do que nós falávamos, um guarda abriu a porta. E por cima do ombro dele, lá estava ela, a selecionada que Sebastian tanto insistia em cortejar.
A cara de assustada dela era tudo de que eu precisava para recuperar a minha confiança. Só faltava ela desmaiar, sério. Ela quase cambaleou para trás.
Sebastian estava de costas para a porta e nem percebeu o guarda até que ele estivesse do seu lado.
"Perdão, mas a Lady Nina gostaria de falar com a vossa Alteza," ele disse, como se não fosse nada.
Sebastian arregalou os olhos e se virou de uma vez, só para vê-la indo na direção contrária, voltando para as escadas rapidamente.
"Nina, ESPERA!" Ele gritou, correndo atrás dela. Mas antes de começar a descer os degraus, ele brecou e voltou até mim. "Desaparece!" Ele disse, apontando para mim com toda a raiva que ele tinha dentro dele.
Eu juro que estava até esperando que ele fosse me bater.
"Eu não vou desaparecer!" Eu insisti, com o máximo de convicção que eu conseguia. "Eu não vou ter esse filho sozinha, Sebastian!"
"EU JURO," ele disse, dando mais um passo na minha direção, "que se você continuar com essa LOUCURA, eu te mato, com ou sem filho nessa sua barriga!"
Eu tive até que inclinar para trás, ele estava quase me acertando. E depois de praticamente cuspir na minha cara, ele se virou de novo e saiu correndo escada abaixo.
Tudo bem, eu pensei comigo mesma. Ele precisaria mesmo de um tempo para se recompor, para entender o que estava acontecendo. E eu lhe daria esse tempo. Eu sabia que ele ia acabar percebendo que esse filho era tudo que ele queria, tudo.
E enquanto ele tentava explicar para a sua selecionada que não teria jeito de eles ficarem juntos, eu precisava conseguir que a criada falasse que tinha visto o teste, que era verdade.
Porque era verdade! Eu podia sentir dentro de mim que era verdade!
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