Capítulo 104: POV Sebastian Regen
Eu fiquei sentado atrás de Silvia, enquanto ela explicava para as selecionadas da Elite e aos nossos convidados o que tinha acontecido. Já eram dez da noite, mas nós tínhamos decidido que eles mereciam respostas. Não os deixaríamos dormir sem que entendessem o que tinha acontecido naquela noite, porque eles tinham precisado se esconder e aonde Charles estava.
Eu não prestava atenção em Silvia, meus olhos estavam caídos no chão, perdidos como meus pensamentos. Nina não estava ali. Ela ajudava Gabrielle a se trocar, a se ajustar. Ela precisava de companhia, eu entendia isso. Mas eu também precisava dela depois de um dia como aquele.
Eu não a escutava, mas eu sabia mais ou menos o que Silvia dizia. Ela explicava quem Gregor Laeddis era, porque ele tinha sequestrado Gabrielle. Ela falava sobre como eles tinham se escondido, pois eles acreditavam que Laeddis iria acabar mandando alguém para o castelo. Ela falou que ele mesmo que veio. E ele chegou até o escritório do rei, onde ficavam os arquivos de casos onde pessoas como ele tinham se virado contra o próprio povo. Ela explicou a história dele, como ele tinha cometido, caso entendesse ou não, uma traição ao Estado. E então ela contou sobre sua briga com Charles.
Eu não devia ter falado para ele que nós ainda tínhamos que procurar Gabrielle no outro endereço. Se eu não tivesse falado, ele teria ficado seguro, ele não teria ido atrás de Laeddis ele mesmo.
Quando Silvia chegou na parte em que Charles levou um tiro, quase todos no Grande Salão soltaram gritos de surpresa. May parecia realmente assustada, mas Gerad a puxou para ele, colocando um braço à sua volta.
Charles estava bem, como Silvia disse. Ela falou sobre como ele insistiu em ir buscar Gabrielle, que ele tinha ouvido alguma coisa do sequestrador e que sabia onde ela estava. Nós não tínhamos grandes detalhes sobre como ele a tinha encontrado, mas ele a encontrou. Ele teve que sacrificar a minha moto para isso, mas eu não me importei.
Os médicos nos explicaram porque Charles tinha conseguido ir atrás dela sem sentir dor. Era medo, adrenalina dele mesmo, junto àquela que ele tinha se injetado. Ele estava em choque, seu corpo inteiro estava em choque, não o deixando sentir a gravidade de seus ferimentos. Mas quando a encontrou, ele deve ter relaxado, sentindo pela primeira vez a dor de tudo pelo que ele tinha passado.
Silvia explicou que a ferida da bala estava começando a inflamar, mas que não era nada grave. Ele estava internato para tomar antibióticos na veia, mas que ele ficaria bem. E depois ela falou de Gabrielle. Ela explicou que ela tinha estado no lugar da troca o tempo todo, mas que estava embaixo do píer não em cima. E falou que nós, que tínhamos ido buscá-la, acabamos seguindo para o outro endereço onde o cara nos tinha mandado. Que se não fosse por Charles, ela não teria sido salva.
Ela também estava na ala hospitalar, mas era só para ficar sob observação. Eles tinham medo que alguma coisa tivesse acontecido com ela e que ela, como Charles, estivesse ainda em choque e não percebessem. Fizeram vários exames, mas até agora nada.
Silvia pediu a colaboração de todos nesse momento, nos garantiu que tudo estava sendo feito para encontrar todos os culpados do sequestrado, todos os envolvidos. E então os dispensou.
Eu fiquei sentado até que ela mesma também desaparecesse pela porta e eu ficasse sozinho.
E eu fiquei ali, no silêncio, quase sem me mexer, por horas. Eu queria aquele nada. Foram dois dias de muita coisa acontecendo, eu precisava ficar um pouco parado. Era um jeito de eu garantir que nada de ruim ia acontecer. Era como uma certeza de que tudo estava bem. O silêncio era reconfortante. E eu fiquei olhando para a porta, torcendo para que ninguém passasse por ela, para que ninguém tivesse alguma notícia ruim para me dar.
Quando percebi que já era quase uma da manhã, eu me levantei e saí, meus passos era tudo que eu ouvia. O castelo inteiro dormia e os guardas nem se mexiam. Se fosse possível, eu queria lhes dar uma folga. Eles também tinham passado por aqueles dias, eles também tinham estado o tempo inteiro trabalhando.
Eu fui direto para ala hospitalar, cumprimentei os médicos e enfermeiros que estavam perto da entrada de plantão, e continuei meu caminho pelo corredor. Passei pela sala de emergência onde Charles tinha estado, mas continuei andando até chegar ao seu quarto. Eu abri a porta devagar, para não o acordar. Ele dormia tão profundamente, eu me perguntei se ele se dava conta de tudo que tinha acontecido. Ou se aquele sono já o tinha feito esquecer.
Eu sentei do seu lado, assistindo seu peito inflar e esvaziar, como se aquilo fosse um filme. Ele parecia uma pessoa completamente diferente, usando roupas de hospital, cabelo bagunçado. Era quase engraçado de ver, logo ele que sempre se importava tanto em estar bem alinhado.
Eu comecei a rir, pensando em como ele reagiria se estivesse olhando de fora. O que ele pensaria se tivesse assistido outra pessoa fazer o que ele tinha feito? Ele tinha ameaçado um médico com um bisturi, tentando andar de moto na areia, fugido do castelo. Era tão absurdo, que eu não conseguia parar de rir, pelo contrário, eu só ria mais cada vez que eu o imaginava. Eu nunca pensaria que ele fosse fazer tudo aquilo, mas até fazia sentido, depois de como ele tinha ficado ontem. Eu ria tanto, que tinha começado a chorar.
E minha risada aumentou quando eu lembrei de como ele tinha esmurrado a janela. Tanta raiva, tanto desespero. Mas logo meu riso foi diminuindo, e eu já chorava de tristeza mesmo. De medo, até. Medo de tudo que já tinha acontecido, de tudo que podia ter acontecido. E raiva! Charles tinha se esquecido de mim! Ele tinha saído, se arriscado, sem pensar em como EU ficaria se alguma coisa acontecesse com ele! Ele era um idiota, mas eu não sabia o que seria da minha vida sem ele. Ele devia ter pensado em mim, ele devia ter pedido a minha ajuda!
Eu apoiei meus cotovelos na cama dele e levei as mãos ao rosto, tentando me acalmar. Mas eu só piorava e estava solução tão alto, que nem ouvi quando Nina entrou no quarto. Eu só a senti me abraçar de trás, apoiando sua cabeça na minha.
"Shh, está tudo bem," ela disse baixinho, e eu tirei as mãos do meu rosto para buscar as dela. "Está tudo bem," ela repetiu.
Eu queria falar que eu sabia, que aquilo era ridículo! Eu não entendia porque eu estava chorando, já tinha passado tudo. Nada mais ia acontecer. Eu sabia disso, o que só me fazia sentir ainda mais burro de não conseguir parar de chorar.
Mas eu não falei nada. Deixei que ela passasse sua mão nas minhas costas, enquanto eu segurava a dela e olhava para Charles. E eu fui me acalmando, apesar de ainda me sentir idiota. Uma vez que já não estava mais chorando, eu me virei para olhar para a Nina.
"Como você soube que eu estava aqui?" Eu perguntei.
Ela sorriu, um pouco triste. "Eu estava com a Gabrielle no quarto ao lado," disse.
Seus olhos miraram o chão, quando eu queria que ela olhasse para mim. Então eu me levantei, dei a volta na cadeira e a segurei pelo rosto. Mil coisas passaram pela minha cabeça enquanto ela olhava para mim. Eu queria falar tanta coisa, eu queria agradecer, eu não sabia como ela conseguia perceber quando eu precisava dela, eu queria agradecer por ela ter coragem de se importar comigo, de não esconder isso de mim. Mas eu não conseguir decidir o que falar, nem como falar.
Então só trouxe seu rosto para mim, deixando que meus lábios encostassem nos seus, e torci para que ela entendesse tudo que eu estava pensando sem que eu precisasse falar. Ela me beijou de volta, colocando seus braços em volta de mim com cuidado. Tudo naquele momento parecia tão frágil, até nosso toque. Mas eu sentia a segurança de como ela se importava comigo. Eu sabia que ela sempre estaria ali, que eu não precisava ter medo de perdê-la. Mas eu tinha, eu ainda tinha.
"Ei," ela disse, se afastando um pouco de mim. "O que você queria me dizer?"
"Como assim?" Eu perguntei, ainda de olhos fechados, brincando de leve com o cabelo em sua nuca.
"Quando você falou para eu te encontrar na cozinha hoje," ela explicou. "Você queria me dizer alguma coisa?
Nós tínhamos nossas testas encostadas uma na outra, e eu abri meus olhos para encontrar os dela me mirando, cheios de expectativa.
Parecia mil anos atrás, quando eu tinha deixado aquele bilhete para ela. Eu não sabia tudo que aconteceria, eu estava mais pensando em conseguir um tempo sozinho com ela, para perguntar se ela estava bem, como ela tinha passado o dia. Naquela hora, não tinha como eu saber que ela participaria de praticamente tudo naquele dia, que ela teria sido peça principal em nos ajudar a domar a situação.
Mas ainda tinha uma coisa que eu queria falar para ela. Então aproveitei a oportunidade.
"Eu queria te pedir para ficar aqui comigo," eu disse, e ela franziu a sobrancelha, confusa. "No castelo, por mim. Eu queria te falar que você é a melhor pessoa que alguém pode conhecer e eu que eu preciso de você na minha vida," eu passei meu dedo de leve em seu rosto, sentindo a delicadeza de sua pele, enquanto ela abria um sorriso. "Eu queria te dizer que eu realmente queria te odiar," ela recuou um pouco o rosto, bem a reação que eu queria. "Eu queria muito te odiar, mas eu não consegui. Tudo em você só me fez me apaixonar mais e mais por você a cada dia. Eu te amo, Nina."
Ela soltou de mim, e por isso eu não esperava. Ela deu um passo atrás, se virou para a parede, com uma mão na cintura. Eu entrei em pânico por dentro, eu podia jurar que ela estava só pensando em um jeito de me rejeitar. Mas aí ela se virou, seus olhos lacrimejando, e ela pegou meu rosto com as duas mãos.
"Você sabe que eu te amo também, não é?" Ela perguntou, se colocando na ponta do pé para ficar na mesma altura que eu.
Eu coloquei meus braços em volta da sua cintura, a sustentando. "Agora eu sei," eu disse. Mas foi ela que acabou com os poucos centímetros que tinha entre nossos rostos.
Eu saí da ala hospitalar alguns minutos depois bem mais leve. Se Gabrielle não tivesse acordado gritando, eu não teria tido que me separar de Nina. Mas a deixei ir cuidar da sua amiga, não só por saber que ela era importante tanto para Nina, quanto para Charles. Mas porque eu já estava eufórico o suficiente para conseguir esperar até o dia seguinte.
Eu andei até meu quarto sem tirar os olhos do chão. Eu nem sei direito o que eu via, eu nem sei como consegui chegar até lá sem tropeçar, porque eu estava realmente perdido em meus próprios pensamentos.
Mas eu cheguei, quase cantando, murmurando uma melodia qualquer. Eu entrei e fechei a porta atrás de mim. E então eu levei um susto com a menina sentada na minha cama.
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