Capítulo 10: POV Gabrielle DeChamps

Quando entrei no Salão das Mulheres, metade das meninas já estavam lá. Algumas em um sofá, conversando entre si. Outras ainda sentadas em cadeiras na frente de espelhos, várias pessoas à sua volta, mexendo nos seus cabelos, nas suas unhas. Silvia nos indicou cada uma de nossas araras e eu andei até a minha. Olhei vestido por vestido, cada uma mais lindo do que o outro. Não sabia nem escolher qual eu preferia, qual eu usaria quando. Sentia que escolher um iria fazer os outros se sentirem abandonados, e eu não queria que nenhum deles achasse que eu não me importava com ele, que ele não era tão bonito quanto os outros.

Eu sei, parece besteira, mas me deu vontade de abraçá-los, grata por tê-los comigo.

"Você é Gabrielle Dechamps?" Ouvi um homem me perguntar atrás de mim e me virei para encará-lo.

"Sim," disse e ele rapidamente me pegou pelo braço e me levou a uma cadeira na frente de um espelho enorme e muito iluminado.

Me sentei e ele começou a mexer no meu cabelo. Ia perguntar o que ele estava planejando fazer comigo, quando uma mulher se juntou a nós e pegou minha mão sem me perguntar nada. Ela começou a esfregar um algodão na minha unha, tirando meu esmalte, sem nem saber se eu queria aquilo.

Pensei em um jeito de lhe falar que eu gostava daquela cor, que tinha passado um tempão procurando aquele esmalte e que ainda estava perfeito. Mas antes que tivesse a chance de abrir a boca, uma segunda mulher sentou na minha frente e tirou meu sapato.

"Evelyn, traz pra mim a tinta número 7.46?" O homem falou para uma mulher que passava atrás da gente.

Ela concordou com a cabeça e foi até o fundo do salão.

"Espera, tinta de cabelo?" Eu perguntei, tentando me afastar dele antes que ele pudesse arruinar tudo. "Eu nunca pintei o cabelo."

"Deu pra ver," ele disse sem olhar para mim. "Mas não se preocupe, vamos consertar esse erro rapidinho!"

"Não, espera," eu estava tentando me virar para ele, mas a mulher que segurava a minha mão não me deixou mexer.

Senti uma pontada em uma das minhas unhas quando ela começou a tirar minha cutícula, mas ela não pareceu se alarmar com meu grito de dor.

A que segurava meu pé estava acabando de tirar todo o meu esmalte, quando a tal Evelyn chegou com duas embalagens de tinta. Eu vi pelo espelho que era um tom avermelhado e o pânico dentro de mim se alastrou.

"Espera," eu disse, puxando meu pé e minha mão com força para longe das criadas. "Eu preciso tomar uma água, alguma coisa antes da gente começar," eu me levantei da cadeira, deixando os três assustados e sem saber o que estava acontecendo. "Eu volto logo, prometo," disse ao ver a cara deles.

Corri para trás dos sofás que estavam perto da porta, onde tinha uma mesa com pequenas comidas e bebidas. Uma criada que estava de pé ao seu lado se ofereceu para me servir, mas eu recusei. Eu precisava ficar sozinha, pensando sozinha, sem pessoas do meu lado querendo fazer tudo por mim.

Mas o copo de água que eu bebi correndo não ajudou como eu esperava. Tentei fechar os olhos e me imaginar em um lugar completamente diferente, talvez no castelo de Chambord, na França. Mas as conversas, os barulhos de câmeras e secadores de cabelo, tudo isso fazia minha fantasia impossível. Eu não estava em um castelo vazio e afastado. Eu estava em um cheio de meninas tentando ficar o mais bonitas possível para competir pelo coração de um príncipe.

E aquele barulho estava me incomodando como uma coceira. Não estava conseguindo respirar, eu precisava sair dali. Avistei um par de sapatos simples perto do sofá e sorrateiramente coloquei-os nos meus pés. Aí fui andando devagar, olhando em volta para ver se mais alguém estava me vendo, até chegar na porta, que abri cuidadosamente e me exprimi para sair sem chamar atenção.

Felizmente, não tinha mais ninguém no corredor e eu pude correr e me esconder o mais longe possível daquele Salão. Não queria estar ao alcance de ninguém que fosse me mandar de volta para lá. Mas eu ia voltar, eu sabia disso. Eu só precisava respirar um pouco.

Andei até o final do corredor, virei à direita e não parei até encontrar uma pequena entrada que acabava em portas duplas de madeira. Me sentei no banquinho que tinha ali, finalmente me sentindo a quilômetros de distância de toda aquela confusão.

"Ei, você é Scarlet?" Um homem apareceu na porta e se virou para mim.

"Oi?" Eu perguntei, sem saber o que ele tinha falado.

"Você é Scarlet? Era para você ter chegado meia hora atrás," ele checou seu relógio. "Vamos, temos muito que fazer."

Eu fiquei parada, sem entender, enquanto ele abria de volta uma das portas.

"Você vem ou não?"

Não que eu fosse a Scarlet, eu não era. Não que eu soubesse do que ele estava falando. Mas senti um impulso de fazer o que ele estava mandando que não pude controlar. Me levantei e o segui por uma cozinha complicada e lotada de pessoas. Todos que passavam por mim me cumprimentavam, mesmo sem saber meu nome. Ele me guiou até um vestiário que ele me disse era das criadas. Falou que meu uniforme estava no compartimento com meu nome e que eu tinha um segundo para me trocar.

Tinha algo na urgência da sua voz, na forma como ele se portava que não me dava outra escolha. Eu tinha que fazer o que ele falava.

Antes de sair do vestiário, parei para me olhar no espelho. Era até engraçado como eu não questionava aquilo. Era como se eu estivesse brincando de me fantasiar. E a possibilidade de fingir ser outra pessoa por um dia era de certo modo bem atraente. E se não me ajudasse em mais nada, pelo menos poderia me dar uma experiência nova que eu poderia usar talvez em um próximo livro.

Ele teve que bater na porta para chamar minha atenção e me fazer sair do vestiário. Uma vez lá fora, ele me apresentou a Emily e Lily, as outras duas criadas que me acompanhariam todos os dias no castelo. As cumprimentei, pensando comigo mesma que teria que tentar imitá-las o máximo possível.

Nós tínhamos que levar uma certa arrumação de cama para um quarto. Então as segui, meus braços sentindo o peso de todas aquelas cobertas que carregava. Subimos escada atrás de escada, que pareciam não acabar nunca até chegarmos à porta tão esperava. Eu estava prestes a soltar um comentário sarcástico quando entramos no quarto e eu ouvi vozes vindo da varanda.

"Eu não consegui ver direito, Charles," ouvi um garoto falar. "Silvia não me deixou trocar mais de duas palavras com todas elas. Mas eu posso te falar o que eu consegui ver."

Tive que abafar um gritinho de surpresa quando percebi que o garoto se referia ao príncipe Charles.

"Não sei se vai ajudar muito," Charles disse, sua voz mais grossa do que eu a tinha imaginado. "Eu precisava saber de alguma coisa que fosse ajudar nas entrevistas amanhã."

Emily me olhou um pouco brava e corri para ajudá-la a trocar o lençol da cama enorme que não ocupava nem metade do quarto.

"Bom, eu posso te adiantar que você vai ter um ataque," o outro garoto disse, rindo.

"Por que um ataque, Sebastian?"

Ouvindo que o outro garoto era o príncipe Sebastian só me deixou ainda mais nervosa.

"Elas são lindas! Muito lindas, você não tem ideia! E todas de uma vez," ele riu com o pensamento. "Sério, não sei como você vai sobreviver."

"Que bom que você está se divertindo com o meu desespero," Charles disse e suspirou.

"Não, sério agora," Sebastian parou de rir. "Você se preocupa à toa. Sim, elas são todas maravilhosas e bonitas demais para você. Sim, elas estão mais no meu nível do que no seu. Mas elas estão aqui para você. Pensa, você nem precisa impressionar nenhuma. Elas já estão impressionadas. Elas já te escolheram. Agora você só tem que escolher uma delas."

Um sorriso tímido apareceu no meu rosto, enquanto eu ajudava Lily a colocar a colcha na cama.

"Ah, mas eu preciso te avisar uma coisa," Sebastian falou antes que Charles pudesse responder. "Tem gêmeas."

"Como assim, tem gêmeas?" Charles perguntou.

"Tem duas irmãs gêmeas participando," Sebastian explicou. "Ambas loiras de pele clara e olhos azuis. Quem sabe a gente podia dividi-las," ele mal terminou de falar a frase e já começou a rir. "Brincadeira, brincadeira. Todas suas," ouvi ele dar um tapinha no ombro de Charles.

"Duas irmãs competindo, é?" Charles perguntou, pensativo.

Emily apontou para eu pegar as roupas que estavam apoiadas em uma cadeira perto da varanda. Andei devagar até chegar lá, não querendo que eles me ouvissem. Mas não precisava ter me preocupado, pois enquanto eu empilhava as roupas no meu braço, ouvi os passos deles entrando no quarto.

Emily e Lily pararam o que estava fazendo na hora e lhes fizeram uma reverência. Eu imitei.

"Senhoritas," Charles disse, nos cumprimentando.

"Alteza, podemos voltar outra hora se preferir," Emily disse enquanto eu observava os príncipes na minha frente.

Era muito esquisito estar tão perto deles depois de ter passado minha vida assistindo eles crescerem pela televisão e pelas revistas. Sebastian era mais alto do que Charles e parecia mais confortável com toda a situação. Ele se dirigiu a uma poltrona e sentou, apoiando uma perna em cima da outra. Ele discretamente desabotoou seu blazer enquanto Charles falava com Emily.

"Não precisa, Emily," ele disse. "Mas se vocês pudessem nos trazer um café, ficaria agradecido."

Charles sorriu para ela, educado. Ele parecia um pouco nervoso, apesar de claramente já conhecer Emily e Lily. Esfregava uma mão na outra discretamente, só parando para passar a mão pelo cabelo, fazendo-o perder o penteado e caindo nos seus olhos. Tinha o cabelo e os olhos um pouco mais claros que os de seu irmão, mas seu nariz era impecável. Eu tinha passado minha vida inteira odiando o meu, e vê-lo de perfil e constatar sua sorte em ter um nariz perfeito me fez sentir uma estranha ligação a ele.

"Claro, Alteza," Emily respondeu, enquanto eu tinha meus olhos presos no príncipe de pé à minha frente. "Scarlet, você pode buscar o café para os príncipes?"

Eu estava tão hipnotizada pela proximidade de Charles de mim que demorei um minuto para perceber que ela estava falando comigo. Na verdade, foi ele se virando para mim que me fez lembrar que não estava ali como Gabrielle, e sim como uma criada chamada Scarlet.

"Claro," falei quando me dei conta de que todos esperavam uma resposta minha.

"Você é a nova criada?" Charles me perguntou.

"Sim, Alteza," coloquei minhas mãos atrás das minhas costas, tentando esconder meu nervosismo.

"É daqui?" Ele perguntou.

"Perdão?"

"Seu sotaque não parece de Illéa," ele deu um passo em minha direção e eu senti uma vontade enorme de fazer o mesmo.

"Sou nascida aqui," falei, olhando fundo nos seus olhos. "Mas cresci na França. Meus pais são franceses," expliquei.

"É um sotaque muito bonito," ele disse, me dando um meio sorriso que me fez sentir meu coração derretendo dentro de mim.

"Muito obrigada, Alteza," agradeci, olhando para meus pés.

"Scarlet, pode ir pegar o café agora, por favor?" Emily me pediu.

"Claro," levantei os olhos para encontra os de Charles e ele me deu um sorriso educado.

Fiz uma reverência e saí do quarto.

Quando a porta estava seguramente fechada atrás de mim, comecei a correr escada abaixo, tentando chegar o mais rápido possível ao vestiário das criadas. Passei por muita gente na cozinha, mas nenhum deles parou para falar comigo. Quando terminei de colocar de volta o simples vestido que estivera usando antes, olhei bem à minha volta para não passar por ninguém que achasse que eu era Scarlet e saí de lá.

Com um pouco de cuidado, consegui voltar sã e salva ao Salão de Mulheres. E ninguém lá parecia ter sentido minha falta. Na verdade, tudo parecia estar do mesmo jeito que eu tinha deixado. Respirei aliviada por não ter sido pega, mas senti um pouco de culpa por não estar levando o café para Charles e deixar ele esperando mesmo assim.

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