⁵|Eu odeio você
Um mês antes
— Há quanto tempo você sabe? — perguntei, sentindo um incômodo atrás dos meus olhos. Não iria chorar. Eu me recusava.
— Quanto tempo eu sei? — Patrick franziu as sobrancelhas, depois reconhecimento tomou seu olhar, então culpa. — Lola, eu não… Eu… — Foi a primeira vez que vi Patrick sem palavras. E isso não era um bom sinal. — Eu fiz vasectomia, Lorelei.
Com quatro palavras, mais de dez anos de relacionamento foram jogados no lixo. Senti um nó na garganta, que me impediu de respirar por uns segundos. Eu teria me sentido menos traída se ele tivesse me contado que havia me traído com a secretária ou algo genérico assim.
Mas isso… muda tudo. E, de certa forma, explica muita coisa.
— Quando? — perguntei baixinho.
Patrick hesitou, mas respirou fundo ao dizer:
— A viagem para a Escócia.
A viagem de negócios que ele precisou fazer seis meses depois que nos casamos.
Dou-lhe as costas, encarando qualquer lugar que não seja o seus olhos.
— Eu era jovem. — Ouço sua voz acima do rugido em minha mente. — Quer dizer, aos vinte e oito anos, é muito cedo para ser pai. Eu via nossos amigos se casando, tendo filhos, e aquilo nunca me pareceu certo para mim. Eu gostava da nossa vida, do nosso ritmo. E você sempre foi tão ambiciosa, tão focada, achei que um filho nunca fosse ser uma prioridade para você.
Ele dá um passo para trás, como se tentasse se defender de algo invisível.
— Quando você começou a tentar… eu entrei em pânico. Não sabia como dizer que eu não queria. Eu… não queria perder você. Então, fui me convencendo de que, se esperássemos tempo suficiente, você desistiria.
Não posso ficar aqui ouvindo suas tentativas de justificar o injustificável.
Pego minha bolsa. Preciso ir embora enquanto ainda consigo me manter sob controle.
— Lorelei. — Mas o aperto em meu braço me impede de executar o meu plano. — Querida…
— Não — digo a Patrick ao lhe encarar. É a última vez que eu desejo vê-lo. E não me importo que sua última imagem de mim seja meu rosto manchado de lágrimas. Ele precisa saber a dor que me causou. — Eu nunca odiei ninguém, mas eu odeio você agora por tudo o que me fez passar. Sabe quantas vezes chorei, segurando um teste de gravidez negativo, me culpando por não ser o suficiente? Sabe o que isso fez comigo? Como teve a coragem de olhar nos meus olhos e dizer que me amava? Que 'daria certo na próxima', quando sabia que nunca daria certo porque você se certificou disso? Como você pôde?
— Sinto muito. Sinto muito mesmo, mas eu nunca quis ter filhos, Lorelei. Nunca incentivei você…
— Mas também nunca disse abertamente! — Minha voz sai tremida, quebrada, como vidro estilhaçando no chão. Meu peito sobe e desce rápido, e eu sinto, pela primeira vez, que posso sufocar de verdade. — Achei que você só estava preocupado com a nossa rotina, que tinha medo de não termos tempo um para o outro quando um bebê chegasse. Nunca passou pela minha cabeça que você desprezasse totalmente a ideia. — Sinto que estou gritando, mas não consigo me controlar. É como se uma barreira tivesse se rompido dentro de mim. — Você via como eu ficava deprimida por me achar incapaz de te dar um filho, e tudo o que você fazia era me seduzir de volta para a cama, sussurrando que talvez não fosse a hora, mas que poderíamos continuar tentando.
Patrick me solta, balançando a cabeça e me olhando como se eu fosse louca.
— Nunca obriguei você a nada. Nunca.
— Esse não é o ponto, caramba! — Engulo em seco, o gosto amargo da traição descendo pela minha garganta. Meus dedos tremem quando passo a mão pelo rosto, como se eu pudesse apagar as lembranças, os anos jogados fora. Como se eu pudesse apagá-lo. — Você mentiu para mim. Você dizia que me amava, mas mentia para mim. Você alimentava minhas esperanças, porque sabia que sem isso eu pediria o divórcio. Desde quando isso é amor? Se ao menos tivesse sido sincero comigo…
— Você teria me deixado. Você teria ido embora de qualquer jeito. Eu só queria um tempo para mostrar a você que podíamos, sim, ser felizes sozinhos. Mas eu e o meu amor não fomos o suficiente para você.
Eu poderia explicar a Patrick que, sim, eu teria terminado o nosso relacionamento muito antes, mas que isso não significava que eu o amava menos, mas sim que eu o estava deixando ir para poder ter o que tanto queria, mas com outra pessoa. Eu teria feito com ele o que eu gostaria que ele tivesse feito por mim. E esse simples fato me faz perceber que eu o amava, sim, mas ele amava o nosso casamento, o status, não a mim, Lorelei.
— Quero que você me esqueça — peço, minha voz um pouco mais controlada. — Mas quero ainda mais que você vá para o inferno.
— Lorelei…
— Adeus, Patrick
Lhe dou as costas e fico aliviada quando ele não me segue.
Paro na calçada do meu prédio, minha respiração irregular enquanto luto para recuperar meu fôlego.
Achei que sair para correr depois de semanas fosse uma boa ideia. Quem sabe espairecer um pouco. Essa tarefa, no entanto, tem se tornado cada vez mais impossível.
Antes de cruzar o corredor do meu andar, já estou ouvindo a voz da minha irmã. Havia esquecido que tínhamos marcado para tomar café no meu apartamento.
Mas essa questão se torna insignificante quando outra voz surge. Com quem ela está conversando?
Minhas suspeitas são confirmadas ao virar o corredor e encontrar Jocelyn e meu novo vizinho conversando.
— Posso trazer umas mudas que tenho lá em casa — Jô está dizendo, quando Anthony nota minha presença. O puro calor que sinto é devido apenas ao fato de que eu estava correndo quase uma maratona há cinco minutos atrás e o meu corpo ainda não se recuperou. — Ah, Lola!
— Oi. Bom dia.
— Bom dia — é normal que a voz dele seja rouca às seis da manhã de um sábado. Então por que eu sinto um arrepio?
— Anthony e eu estávamos conversando sobre aquelas plantas da mamãe…
— Tenho certeza que Anthony tem coisa mais importante para fazer do que ficar conversando sobre plantas num sábado de manhã, Jocelyn. — Pego da sua mão a cópia da minha chave que eu havia lhe dado.
— Na verdade, a conversa estava bem interessante — Anthony interrompe. Só faltou ele dizer “até você chegar”.
— Podem continuar, então. — Abro a porta e entro no apartamento, sem me preocupar com despedidas.
— Sempre simpática. — Ouço o murmúrio do meu vizinho.
Eu reviro os olhos, mas, por algum motivo, um calor incômodo se espalha pelo meu peito.
— Ignore-a. Ela só está sendo a chata rabugenta que sempre é. — A última parte parece ter sido dita diretamente para mim, como se minha irmã soubesse que ainda estou atrás da porta fechada.
— Ah, eu sei bem como é — Anthony murmura novamente.
Revirando os olhos novamente, sigo para a cozinha, deixando os dois pombinhos conversarem sobre plantas em paz.
Só quando termino de preparar meu café, ouço a porta abrir e fechar.
— Então, Miss Simpatia, quando você ia me contar que seu novo vizinho é um gostoso? — Ela se junta a mim na cozinha, e percebo o que não vi antes, pois estava distraída: ela pintou o cabelo. Seus cachos, que emolduram seu rosto, agora têm um tom de castanho escuro, que combina com seus olhos, e de alguma, com seu sorriso também. Jo e eu temos sete anos de diferença entre nós – ela tem vinte e seis, e eu trinta e três – e não podíamos ser mais diferentes uma da outra. As diferenças vão da aparência – não somos irmãs de sangue – à personalidade. O último, com certeza, é o que mais nos diferencia.
— Ouvindo você falar assim, parece até que gosta da fruta.
— Não mude de assunto. — Jo senta na ilha, me olhando com os olhos semicerrados ao tomar um gole do meu café. — Senti uma hostilidade entre vocês, do tipo que só está presente em pessoas que já se conhecem. Quer me contar alguma coisa?
É muito bom ter sua irmã como sua melhor amiga, mas também muito chato, como quando acontecem momentos como esse, onde ela resolve xeretar a minha vida
Porém, como eu disse, somos muito próximas, o que significa que eu a conheço o suficiente para saber que ela não vai me deixar em paz até eu contar.
Dou-lhe as costas, preferindo me ocupar com a cafeteira, afinal, ela roubou o meu café.
— Já trabalhamos juntos e também fomos padrinhos dos casamentos dos irmãos dele com as minhas amigas.
— Ah, rá! Eu sabia que o rosto dele era familiar.
Não digo nada.
— O que você não está me contando? Por que vocês não se gostam?
— Temos opiniões divergentes sobre o final de Jogos Vorazes. — É uma mentira, claro. Nem sei se Anthony já assistiu a este filme. Provavelmente leu os livros. Como diria Jo, faz a “vibe” dele.
— Adoro como você não se esforça para mentir — Jo dá risada.
Espero por mais alguma insistência da sua parte, mas parece que eu estava errada sobre minha irmã, porque ela parece esquecer o assunto.
No entanto, quando ocupo o lugar de frente para ela na ilha, Jo está com aquele olhar e isso é pior do que qualquer questionamento que ela teria para fazer sobre Anthony.
— Como você está? — pergunta, então.
— Bem. Ótima, na verdade. Saí para correr — eu sei que ela sabe sobre a última parte, mas é melhor do que dizer “Não precisa se preocupar comigo. Por favor, pare de se preocupar comigo, pare de me olhar assim. Está tudo bem. Eu estou bem”.
Mas é como se eu tivesse dito, porque Jo assente, como dissesse também “Estou tentando.”
É estranho isso, porque sou a mais velha, e minha obrigação é cuidar dela, não ao contrário. Mesmo que sempre estaremos lá uma para a outra, eu ainda tenho que cuidar dela mais do que ela de mim e é incômodo pensar que ela só está aqui para garantir que eu estou me alimentando ou que saí da cama hoje.
No entanto, sou grata. E por isso, vou aguentar de bom grado as visitas da minha irmã.
— Então, estávamos falando sobre o seu vizinho…
Reviro os olhos e tomo um grande gole do meu café.
Pensando bem, essa pode ser a última visita da minha irmã.
💚
Oi, morês!
Oq acharam desse capítulo? Saber oq vcs estão achando é muito importante pra mim, viu? Eu leio cada comentário!
Tivemos 3 coisas importantes nesse capítulo:
A conversa que mudou tudo entre a Lorelei e o ex-marido.
Uma leve intriga entre ela e o Anthony.
E vcs conheceram a Jo! (ela é um amorzinho, espero que tenham gostado da diva!)
Por hoje é isso. Até sexta!😘😘
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2bjs, morês 💚🫶🏽
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