Capítulo 4
Na noite de sábado, após muito custo fiz com que Thomas aceite minha proposta de ir até a boate, e assim que terminasse a hora de Pyrus, ele poderia me levar a qualquer lugar que quisesse. Foi a única maneira de ter os dois juntos, sem me desfazer de nenhum.
Era minha primeira vez em um lugar como aqueles. Havia garçonetes em todos os lados, era mais organizado que eu pensei.
Pelo menos Pyrus garantiu uma mesa na área VIP.
Várias luzes coloridas iam e vinham, brilhavam e piscavam com a batida da música enquanto o número das strippers terminava, e logo revezariam com os Gogoboys. Pyrus era o terceiro da lista, seria uma tortura para Thomas ver os homens dançado em uma barra daquela maneira, mas ele seria recompensado no final.
-- E aí, quer algo para beber? - Ele pergunta, olhando para o cardápio.
-- Talvez depois. - Eu respondo, insegura sobre minha péssima tolerância ao álcool.
-- Qual é, hoje é seu dia de folga, e também nosso primeiro encontro. Vamos aproveitar, é por minha conta. - Ele diz, sorrindo. Tom gostava muito de sorrir, isso era algo dele.
-- É sério, eu prefiro permanecer sóbria até a vez do Pyrus. - Eu digo.
-- Você é quem sabe, não vou te forçar. - Ele deu os ombros, assim voltando para o cardápio.
Não pude deixar de notar alguns olhares em Thomas, me deixava um tanto desconfortável. Eu sei que sua banda é bem conhecida por aqui, ele chama bastante atenção por ser o vocalista conhecido por se parecer com Lúcifer de Alexandre Cabanel.
Olhando para o palco, logo foi anunciado o início da sessão dos gogoboys. E logo a primeira música começou a tocar, e um homem vestido com um uniforme sexual de vaca entrou, todos gritavam seu nome, que aparentava ser Blerry. As paredes tremiam com sua presença no palco.
Olhei para a mesa ao lado, um homem incrivelmente lindo olhava para o dançarino. Ele tinha o cabelo negro preso em um rabo de cavalo, e olhos incrivelmente claros. Eu evitei ficar olhando para ele, então percebi que um de seus amigos estava me olhando de forma curiosa, ele era um pouco menor de altura e tinha cabelos loiros.
Thomas segurava a risada, percebendo para o homem que eu olhava.
-- Você tá' olhando para o marido da Stripper que acabou de sair do palco, foi mal avisar. - Thomas acabou soltando a risada.
-- E-Eu não sabia. Não os conheço. - Eu disse.
-- Não tem mal, eu também já dei umas espiadas na esposa dele. - Ele lançou um olhar sapeca em minha direção.
-- Que casal abençoado. - Eu digo.
-- Pois é.
Com Thomas, papo vai e papo vem, até que fomos surpreendidos com um ritmo agitado de um estilo de música incomum. O grave da música fazia o chão vibrar, nós olhamos para o palco.
-- Meu Deus, que música é essa? - Eu pergunto.
-- Parece de Carnaval. - Ele responde, confuso.
Assim as luzes ao lado do palco se ascenderam, e então fogos saíram das maquinas enquanto as luzes piscavam com mais frequência, escondendo a identidade do dançarino. Logo grandes asas azuis apareceram no fogo, revelando uma gigantesca arara azul.
Em um passe de mágica, a fantasia de arara virou uma incrível roupa sensual, como as de Carnaval. (Pra quem quer mais detalhes da roupa, é como se fosse a da Mayra Dias representando a deusa do sol).
A música axé tomava conta e dava destaque de todo o ambiente, parecia até um espetáculo de um teatro ou cinema de luxo.
Logo, o dançarino mascarado começou a fazer seus movimentos coloridos e rápidos na barra de poledance, sua roupa havia todas as cores do arco íris em forma de penas e plumas para todos os lados.
Quando menos esperado, a máscara de arara cospe fogo para cima, o fogo acabou caindo da fantasia, e logo as cores foram trocas, saindo de uma arara azul a uma fênix flamejante que realmente pegava fogo. O dançarino derrubou propositadamente sua máscara, ainda permanecendo com um grande cocar de penas flamejantes. Era tão óbvio. Ele relevou seu rosto, percebi o queixo de Thomas caindo, reagindo ao começo do espetáculo de Pyrus enquanto a boate inteira entrava em choque, reagindo as habilidades de Pyrus, coisa que um humano jamais faria.
Mas o moreno não saiu do foco de derrubar o queixo de todos, então fazendo seus movimentos exóticos e hipnotizantes enquanto sua roupa flamejante não se apagava.
A longa cauda da arara deixava várias faíscas escaparem para todos lados enquanto girava na barra, iluminando o ambiente ainda mais. De sua roupa, tirou uma bandeira do Brasil, e logo amarrou em seu quadril, e por incrível que pareça, a bandeira de tecido não pegava fogo.
-- Puta merda, quem é esse cara?! - Thomas olhava hipnotizado para Pyrus. - Como ele consegue dançar com a roupa pegando fogo e nem sequer se machucar?! - Ele diz indiginado.
-- A roupa está pegando fogo, e ele está se machucando. - Eu respondo, vendo as partes que as roupas entravam em contato com sua pele, estavam mais escuras que as demais, e os olhos de Pyrus derramavam lágrimas que ele abria um grande sorriso para que ninguém possa reparar.
Eu reparava em todos os detalhes possíveis, era algo meu. E não pude notar de ver o quão doloroso aquilo era para Pyrus. E era incrível a maneira que ele hipnotizava as pessoas com sua dor.
Ele derramava tudo aquilo por algum motivo muito especial.
Ele me encontrou na plateia, estendendo sua mão em minha direção, apenas para me mostrar ao público.
Eu me levantei para ir até ele, mas Thomas segurou meu braço para que não o deixasse.
Olhava para Pyrus, que se segurava no alto da barra enquanto chamava visualmente por mim.
-- Você vai mesmo? A roupa dele tá' pegando fogo, S/N! - Thomas diz, como forma de me proibir de ir.
-- Pyrus não vai me machucar. - Eu digo.
-- O fogo vai. Nada controla o que é natural, S/N. - Ele segura meu braço com mais força.
Olhei para o palco, Pyrus ainda estava lá, esperando para que eu segurasse sua mão. Eu queria ir até lá, mas como me justificaria para Thomas?
Eu olhei para o ruivo ciumento, que não soltava meu braço e apertava cada vez mais forte.
Pyrus percebeu a situação assim que estendi minha mão em sua direção, e tão ele fez com que caíssem uma faísca de fogo ao lado de Thomas, que o fez me soltar com o susto de que possa ter caído em sua roupa.
Eu corri na direção de Pyrus, então ele segurou minha mão, me puxando para cima, me segurando pela cintura, me colocando sentada em sua perna presa na barra.
Ele colocou sua máscara de pássaro em minha cabeça, e o fogo não me machucava, não fazia nada além de me aquecer de forma confortável. Pyrus me apresentava para todos ali, com orgulho, e seus olhos brilhantes, como uma criança olhando para sua mãe após sua primeira apresentação. A roupa flamejante de Pyrus se envolvia ao meu redor, enquanto ele me segurava, e suas grandes asas de fogo se abrem atrás de si.
-- Sua roupa está combinando com a fantasia. - Pyrus diz em meu ouvido.
-- Até parece que faço parte do seu número. - Eu zombei.
-- Obrigado por vir. - Ele sorriu em minha direção, realmente contente. Nessa proximidade, podia ver com clareza uma lágrima que passava por seu rosto.
-- Quero falar com você depois, tudo bem? - Eu digo.
-- Pode me encontrar no camarim, eu digo que estou te esperando lá. - Ele diz. - Agora se segura, vamos descer com estilo!
-- Como assi- Antes que eu possa terminar de falar, Pyrus pulou da barra, caindo pé após ter feito um rodopio do ar, me segurando com força enquanto voava fogo para todos os lados, na boate, mas sem queimar uma única coisa. Logo, ele formou a arara azul novamente após o fogo ter sido apagado com o movimento.
A boate tremeu com os aplausos, e o exigiram para que ficasse um tempo no palco para interação.
Ele me abraçou antes de me liberar para voltar ao meu lugar.
Eu voltei para a mesa de Thomas, mas meu lugar estava ocupado por uma outra mulher que o ruivo parecia estar entre os flertes. Eu olhei ao redor, sem saber reagir a situação.
-- Ah... Tom? - Eu o chamei, ele me olhou de canto, mas fingiu que não me ouviu, enquanto prestava atenção na mulher sentada em meu lugar.
Eu bufei frustrada, então fui a mesa somente para pegar minha bolsa, então caminhando em direção a saída. Era um desconforto tão grande no meu peito ver aquilo. Aparentemente Pyrus notou ambas situações, pois ao me ver próxima a saída, saltou do palco, correndo até mim, segurando minha mão cuidadosamente.
-- S/N, aonde você vai? - Ele pergunta.
-- Bom, é... Aconteceu um imprevisto, acabei ficando sem lugar. - Eu tentei inventar uma desculpa.
Pyrus olhou para a mesa aonde eu estava, vendo Thomas próximo a aquela mesma mulher.
-- Ah... Esse desgraçado... - Pyrus soltava fogo pelos olhos, vendo aquela cena.
-- Vamos deixar passar. Eu converso com você em casa. - Eu digo.
-- Não deixa esse patife estragar sua noite, eu ainda posso melhorar ela! - Pyrus diz. - Vou fazer ele se arrepender.
-- Não é necessário. - Eu digo, com um sorriso nervoso em meu rosto.
-- É merecidamente necessário. Vamos, você me ajuda com as perguntas no palco. - Assim, Pyrus me arrastou até o palco, se sentando á beira, me ponto sentada em seu colo sem segundas intenções. Pude ver o que ele estava fazendo ali.
-- Pyrus, qual a música que estava tocando? - Uma mulher perto ao palco pergunta.
-- É um remix de Baianá, uma Axé music. - Assim ele responde, logo outra pergunta surge.
-- Como você fez a transição da fênix para a arara? - Outra pessoa acaba perguntando.
-- Se eu relevar, acaba perdendo a graça. É um truque que eu aprendi com umas práticas de Maculelê e dei uma improvisada. - Ele respondeu.
-- Enquanto a essa mulher, quem é? - Um homem distante do palco pergunta. Percebi a atenção de Thomas ao palco assim que mencionaram a existência de uma mulher no palco.
-- Bom, vocês podes acreditar no que quiserem. Podemos ser primos, amigos, namorados, irmãos ou o que vocês queiram. - Ele responde como uma forma de não me deixar desconfortável.
Enquanto ele dava sua entrevista, notava suas queimaduras nos ombros, então ele realmente havia se queimado.
Olhei para Thomas, que olhava furioso em nossa direção, enquanto deixava a mulher falando sozinha, assim como fez comigo.
Percebi quando ele levantou e começou a caminhar em nossa direção, virei o rosto de Pyrus para o meu.
-- Pode me ajudar dessa vez? - Eu o pergunto.
-- O que foi? - Ele fica confuso.
-- Apenas não me deixa no vácuo. - Eu respondo.
Assim, me aproximei de Pyrus, beijando-o enquanto Thomas paralisava no meio do caminho, me olhando incrédulo. Pyrus entendeu o sinal, retribuindo o beijo, para que pareça ser o mais real possível. O que era para ser falso, acabou entre as pegadas firmes de Pyrus enquanto nossas línguas ficavam em perfeita sincronia durante o beijo, que só foi interrompido pela falta de ar. Ele realmente não se importou em ter que fazer isso no meio de todos ali. Por algum motivo me sentia segura invés de constrangida. A mulher ao lado de Thomas segurou seu ombro, o olhando com lamentação.
-- Valeu, eu acho que deu certo. - Eu digo, olhando de canto para Thomas, que passava sua mão em seus olhos.
-- Isso foi inesperado, mas obrigado. - Ele sorriu de maneira boba.
-- Você combina com penas. - Sorrio em sua direção, tentando não olhar para sua boca, o convidando para outro beijo que não foi sequer iniciado.
-- Que tal sair daqui? Vamos curtir em outro lugar. - Pyrus diz.
-- Por mim tudo bem. Eu te espero lá fora. - Eu o respondi.
Assim, Pyrus me soltou de seu colo. Eu desci do palco, recebendo alguns olhares enquanto caminhava em direção a saída.
Me apoiei na parede, esperando Pyrus em frente ao estacionamento. Enquanto lembrava de seu show, eu acordei para a realidade. Eu realmente beijei um demônio que eu não conheço para esnoubar o homem que eu mais desejava na fase da terra?!
Uma coisa devemos concordar, Pyrus é um cafajeste, ele não vai levar uma lembrança para o coração, e que Thomas de fato estava sendo muito possessivo e ciumento, algo muito avançado para uma amizade de poucos dias.
Pensando sobre todos esses acontecimentos, Thomas se apoiou na parede ao meu lado, eu olhei para ele, sem saber o que dizer.
-- O que foi aquilo? - Ele pergunta.
-- Eu é quem devo perguntar. - Eu viro meu rosto, evitando olhar para ele.
-- Eu perguntei primeiro. - Ele aumentou um pouco seu tom de voz.
-- Se você não tivesse simplesmente agido feito um babaca no nosso primeiro encontro, isso não teria acontecido! - Eu bufei, enraivecida.
-- Você me deixa sozinho no encontro para ir no palco com um prostituto, alguém teria que preencher a cadeira vip, não é? - Ele retruca.
-- Você é o mocinho da história, sendo assim?! - Eu olho para ele.
-- Porra, S/N! Admite de uma vez que quem vacilou foi você! Que porra... - Ele arranha seus cabelos com raiva enquanto olhava para mim.
-- Acontece que se você não monitorasse cada partícula de ar que eu duvido com qualquer pessoa, eu não teria que sair de perto de você pra ir no palco! - Meu nariz começou a arder, eu não era acostumada com brigas desde que havia começado a morar sozinha, digamos que gritos era um dos meus gatilhos.
-- Não se faz de vítim- Ele levantou seu dedo, mas se interrompeu quando me viu limpando uma lágrima de meus olhos. - Perai, você está chorando?
-- Óbvio que não! - Eu limpo as demais que não conseguem ficar presas em meus olhos. - Por que não volta para dentro?! Nosso plano não era acabar com a noite um do outro, ao menos não era o meu!
Thomas abaixou sua mão, me olhando silenciosamente enquanto tinha um olhar chateado em minha direção. Eu via seus dedos tremendo, fechando seu punho.
Logo, ele me abraçou fortemente, sem dizer uma única palavra.
-- O que é isso?! Me solta, seu louco! - Eu grito de forma abafada, tendo meu rosto prensado contra seu peitoral coberto.
-- Só quando a poeira abaixar. - Ele responde, afagando meus cabelos de forma afetiva, assim como fiz com os seus ontem na cafeteria.
-- Vai morrer pendurado em mim, é melhor que você me solte enquanto eu não tento sair daqui! - Eu o ameaço.
-- Olha, vamos recomeçar, S/N. Eu juro que vou ser diferente, eu não queria ser tão tóxico com você. Eu tenho medo que você simplesmente se deixe levar por outro alguém! - Ele diz, de forma dramática. - Eu fiquei com tanta raiva que contratei uma prostituta para compor seu lugar na mesa enquanto você estava com o Pyrus.
-- Por que todo esse drama?! Não vai ser como antes. - Eu respondi, já sem paciência.
Ele havia sido avisado, então eu o empurrei com força para longe de mim, soltando-me de seu abraço, então o deixei cambaleando enquanto caminho em direção ao meu carro.
Quando abri a porta, Thomas a chutou para fechá-la, logo me prendendo contra o carro, sem que eu possa fazer nada ele roubou um beijo meu. Não imaginei que beijá-lo seria tão desagradável. Eu recolhi meus lábios para dentro de minha boca, impedindo-o de iniciar outro.
-- Por favor, S/N. A magia que nós tínhamos não sumiu com um passe rápido desse jeito. - Ele disse. - E eu sei que você não quer isso, você me quer mais do que eu quero você, e eu tenho certeza disso.
-- Sabe, eu até quis você, mas nunca precisei de você. - Eu digo, logo o ruivo arregalou os olhos, surpreso. - Podemos fingir que nada disso aconteceu se você se apressar em sair daqui.
-- Eu demorei para conseguir sua atenção, não quero que eu perca todo meu esforço por ganância da minha parte. - Thomas diz. - Por favor, eu faço o que você quiser, S/N!
-- Me esquece. - Eu digo.
Logo, Pyrus apareceu segurando suas roupas do pole dance. Ele nos entreolhou confuso.
-- Vocês dois tão que nem couro de pica, não sabe se vai ou se fica. - O moreno diz, abrindo a porta do carro, colocando suas roupas no banco do carro. - Eu estou atrapalhando algo?
-- Nadinha, vamos embora, Pyrus. - Eu disse.
-- Estamos ocupados, se importa de terminar de se prostituir lá dentro? - Thomas respondeu.
-- Humph... Me mama. - Pyrus diz, entrando no carro, logo pegando seu celular.
(Só para informar, grande parte das coisas que o Pyrus tem são coisas que ele comprou, ao vender todas suas moedas de ouro da época em que era adolescente, cada moeda valia em torno de 600 dólares, e vendeu um saco delas com mais de dois mil unidades, e ainda tem um baú cheio que enterrou em um cemitério de uma freira que cuidou dele quando criança. Então, ele já tem dinheiro suficiente e conhecimento suficiente para entender o mundo atual).
-- S/N, por favor, pensa direito nisso, tudo bem? Quero que você saiba que eu tenho muitos planos com você ainda, e eu prometo que vou fazer o meu máximo para que todos sejas efetuados sem você se chatear de novo. - Ele diz, acariciando minha bochecha.
-- Me deixa em paz, Thomas. - Eu respondo, então, abri a porta do carro, então me sentando no banco do motorista, trancando a porta do carro, deixando-o sozinho.
-- O que rolou ali? - Pyrus pergunta.
-- Ele se arrepende de ter feito aquilo. - Eu respondo.
Assim, liguei o carro, saindo do estacionamento e dirigindo em direção a minha casa.
-- Mereceu, ele sentiu a pressão. - Ele diz, dando uma risada nasal.
-- Sabe... Eu senti um peso tão desconfortável quando ele fala aquilo. - Eu respondo. - Eu acabei chorando na frente dele.
-- Ele está fazendo sua cabeça, para te sensibilizar e fazer com que sinta pena dele, para você se sentir a vilã da história. - Pyrus responde. - Ou talvez eu esteja errado.
-- Isso foi estranhamente específico. - Eu respondo.
-- Experiência própria. - Pyrus diz, logo percebendo a energia pesada dentro do carro, então mudando de assunto. - Mas e aí, você gostou da minha dança?
-- Você quis dizer, do seu espetáculo? Cara, aquilo foi surreal! - Eu acabo me animando enquanto lembro de todo aquele fogo saindo de suas roupas, toda aquela explosão de cores e de música. - Foi a coisa mais diferente e mais bonita que eu já vi.
-- Caraca... Bom, o Carnaval no Brasil começou ontem, cheguei a tempo nesse mundo. - Ele diz, levemente chateado. - Não tem Carnaval nesse país. Como as pessoas se divertem aqui?
-- Oh... Com coisas normais como festas, encontros, ou até lendo livros ou comendo. Com que incubos brasileiros se divertem? - Eu o questiono.
-- Os brasileiros se contentam com coisas mínimas. É só ver alguém escorregar na rua que ganhamos nosso dia. - Pyrus diz. - Eu não gosto daqui, não tem cores e nem pessoas escorregando. Não tem praias cheias, nem cachorros de rua amarelos, raves, pessoas com havaianas em lugares chiques, não tem Carnaval, não tem nada.
-- Ainda diz que se contentam com coisas mínimas. - Eu zombo dele.
-- Mas é diferente, aqui não tem nada além de grupo de adolescentes rebeldes, casas na cor bege e branca, praia nublada e vazia, valentões, crianças chatas e... Ugh... Você entendeu.
-- Então você quer voltar para o Brasil? - Eu pergunto.
-- Eu até queria, mas não posso te deixar aqui. - Ele diz.
-- Como assim? Eu não estou te forçando a ficar aqui, você faz o que quiser com a sua vida. - Eu digo, incrédula sobre o que ele disse.
-- Eu não te disse, mas a partir do momento que você derrubou seu sangue em minhas mãos, você criou um laço comigo digamos que é... Um pacto. Faz parte da minha maldição, me desculpa.- Ele diz, um tanto desconfortável. - Se ficamos muito longe um do outro, nós dois enfraquecemos até morrer. Nós morremos com uma distância de 1200km entre nós, mas até lá nos somos torturados dolorosamente. O campo de distância no máximo que devemos manter é 40km um do outro para que isso não comece. Ultrapassando isso, os sintomas de enfraquecimento começam a surgir.
-- O que?! Isso é um absurdo!! Pyrus, isso não tem graça! - Eu exclamou desesperada.
-- Eu tô' falando sério. Essa maldição dura por 5 anos e foi selada em minha mão esquerda, a mão que você derrubou seu sangue. - Ele diz. - Se fosse em qualquer outro lugar, não aconteceria nada.
-- Ah, puta merda! - Eu bufo, sem saber como reagir.
-- Mas pelo menos há uma distância aceitável para que a tortura não comece. 40km não é pouco. - Ele diz, nervoso.
-- Isso é muita coisa para a minha cabeça, podemos continuar em casa? - Eu pergunto nervosa, tirando uma risada divertida de Pyrus.
-- Como quiser. Se eu resistir até lá. - Ele diz.
-- Como assim? - Eu pergunto, logo o corpo de Pyrus desabou no banco, eu entrei em desespero, parando o carro em um estacionamento aleatório.
Eu chacoalho os ombros do maior, ele nem sequer se desperta.
Verifiquei seus batimentos cardíacos, que ainda estavam perfeitamente bem.
-- Pyrus, porra, acorda! - Eu grito em seu ouvido, que ele afirma ser muito sensível, mas sem resposta.
O desespero cresceu mais ainda, Pyrus realmenre havia desmaiado, o que eu diabos eu tenho que fazer?!
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