Capítulo 2
Na faculdade de artes, eu estava sentada em frente ao cavalete, usando meu máximo para pintar o modelo que estava posando entre o círculo de cavaletes de outros estudantes. O ângulo que estava não favorecia o homem nu encenava uma pose dramática de joelhos ao chão em tristeza. Meu cavalete estava posicionado poucos graus para a direita em suas costas, não era o tipo de coisa que eu gostava de desenhar, não as costas.
Enquanto pintava, lembrava-me de Thomas, e isso me motivava a fazer uma boa obra. Se ao menos ele gosta dos meus trabalhos, não devo desapontá-lo, então irei aprimorar cada vez mais e minhas habilidades se aumentaram junto ao meu deleite.
Eu sei que parece ser sonhador. Mas por algum motivo eu admiro qualquer demonstração afetiva masculina. Talvez seja por não conseguir orgulhar meu pai, nunca tive sua atenção. Ele ignorava minha presença, e eu vangloriava a sua. Talvez a falta de afeto vindo de homens esteja vindo a tona dessa vez.
Colocando minha cabeça em ordem enquanto dava pinceladas leves na tela. Eu troquei meu pincel por um mais fino para fazer os fios loiros dos cabelos do modelo. Era a mesma coisa toda vez. Pegar o pincel, revestir sua ponta com óleo de linhaça, passá-lo na tinta para voltar a fazer os mesmos detalhes que por outros olhos serão ignorados. Era isso o que eu pensava, mas ainda assim insistia em deixar os mesmos detalhes ignorados, com a esperança de que um dia sejam notados.
Deixando minha assinatura ao canto da tela, virei o painel para assinar a data atrás e assim terminar o trabalho.
Felizmente, era a última aula, portanto me liberaram mais cedo para evitar vagando pelos corredores aleatoriamente.
Fui até a sala de aula, pegando minha mochila, guardando meus materiais de pintura em uma maleta e a colocando lá dentro. Estavam todos sujos, pois tinha o costume de limpá-los em casa com mais cuidado do que somente esfregá-los no detergente.
Virei-me para ir embora, dando uma última olhada na sala antes de voltar aos corredores, buscando pela escadaria.
[...]
Chegando em casa, tinha acabado de tomar mais um banho para me preparar para dormir, mas antes fui até a cozinha procurar algo para comer, pois tive que me sustentar o dia todo apenas com uma xícara de café durante a manhã.
Abri a geladeira, então tirando uma fatia de bolo que havia ganhado como um brinde pelo atendimento da cafeteria.
Peguei um garfo, assim dando pequenas perfuradas na massa branca e macia coberta de chantilly e enfeitada com ganache de chocolate e recheada com creme belga.
Estava de fato uma delícia, com certeza Kelly(confeiteira da cafeteria) havia o preparado, ela nunca erra em suas receitas.
Após terminar de comer a fatia de bolo, eu joguei fora a embalagem, lavei o garfo para secá-lo e guardá-lo na gaveta junto aos outros garfos prateados.
Confesso que a vida adulta era complicada, e olha que estava somente no começo. Era tudo tão escuro e tão sozinho, aonde minhas companhias são as agências bancárias e os carteiros que vinham me entregar minhas contas todo mês.
Depois de arrumar as coisas na cozinha, eu voltei à trajetória para meu quarto, e assim passando lentamente pelo ateliê. Senti uma grande tensão após passar pela escultura, como se fosse um imã me levando até ela. Eu a espiei por baixo do tecido que a cobria, então notando que os ombros e os biceps estavam esculpidos. Não me lembro de ter moldado aquela parte, pois havia começado pelo seu abdômen e desde hoje de manhã havia acabado de terminar suas costas, nem sequer intervi em outras partes. Realmente não me lembrava de ter começado os braços, mas a estátua não se moldaria sozinha. Deve ter muitas coisas na minha cabeça, ao ponto de ter esquecido disso. Apesar de eu desconfiar, não faria sentido a teoria que algo ou alguém está a esculpindo enquanto estou fora. Olhei profundamente para o peitoral da estátua, notando um movimento de sobe e desce quase discreto. O cansaço está me fazendo ver coisas, óbvio que mármore não estaria respirando.
Eu sai debaixo do tecido, por fim voltando ao meu quarto.
Chegando lá, me joguei em minha cama como se estivesse pulando de paraquedas em céu aberto, me relaxando totalmente. Eu me deitei de barriga para baixo, olhando meu celular. Eram 1:50 da manhã, mas se não fosse agora, não seria outra hora. Eu retirei o cartão em kraft da capinha do celular, olhando para o número de Thomas.
Assim, disquei seu número, mandando mensagem para o mesmo destinatário. "Oie, aqui é a S/N, espero que não tenha se esquecido de mim.", foi o que eu escrevi, e em segundos foi respondido pelo mesmo de forma doce e atenciosa. A conversa seguiu por longas horas, o suficiente para nos conhecermos.
[...]
No dia seguinte, cá eu estava, trabalhando na escultura novamente. Já que supostamente havia feito até os bicecps, tive a iniciativa de começar a esculpir o restante dos braços, tomando muito cuidado com os mínimos detalhes como alguns poros e veias destacadas. Possivelmente não conseguiria terminar o segundo braço hoje, realmente era muito pouco tempo para uma escultura tão grande assim.
Martelava as pontas dos formões que usava para dar forma ao braço esquerdo.
Olhei para cima, limpando meu suor com a costa das mãos, então percebi que o pescoço da escultura estava entalhado. Eu comecei a ficar com medo, desta vez eu realmente tinha certeza que eu não teria sequer pensado em moldar aquela parte. Mas o que eu faria? Quem acreditaria se eu dissesse que a estátua está se construindo sozinha?
Minhas mãos começaram a tremer enquanto eu pensava sobre aquele evento sobrenatural, foi quando sem querer acabei mirando minha mão com o formão, e por técnica martelando sua ponta com força.
Eu gritei de dor, arrancando o formão preso em minha mão, o choro acabou vindo com o desespero. Não estava preocupada com a dor, e sim com a mancha avermelhada que escorria pelo braço da estátua inteira branca.
Eu me levantei, indo ao banheiro para lavar o machucado, fiquei nervosa ao saber que não havia nenhuma ferramenta de primeiros socorros em casa, eu suspirei pesado enquanto segurava para não chorar. Ter a mão atravessada por uma lâmina não é uma sensação suportável.
Eu coloquei papel higiênico para enrolar o machucado, então trilhei o caminho até o quarto, nem sequer notando o brilho forme que vinha da estátua.
Chegando no quarto, peguei meu celular para chamar um uber até o hospital. Eu não podia simplesmente deixar o machucado forrado com papel higiênico pelo resto do dia.
[...]
Na cafeteria, cheguei poucos minutos atrasada devido a demora pelo atendimento no hospital, fui correndo até a sala do gerente para me pronunciar. Chegando lá, ele me recebe com uma expressão confusa vendo todo meu desespero.
-- Aconteceu alguma coisa, S/N? - Ele pergunta, olhando fixamente para minha mão com ataduras.
-- Eu acabei me acidentando durante um projeto, eu tive que ir ao hospital antes de vir, desculpe o atraso. - Eu disse sem sequer dar uma pausa para respirar.
-- Sua mão não vai te atrapalhar para trabalhar, não é? - Ele pergunta. - Se for incômodo, posso pedir para que Jack troque de lugar com você.
-- Não, está tudo bem. Não vai me atrapalhar em nada. - Respondi, como forma de aliviá-lo.
-- Se você diz, tudo bem. - O gerente sorri de forma simpática. - Agora, comece seu turno, um cliente já veio me perguntar sobre você.
-- O que? - Perguntei, com incerteza.
-- Um rapaz ruivo. - Assim que ele terminou de falar, arregalei meus olhos, sem pensar duas vezes antes de voltar ao caixa.
-- Tudo certo, obrigada por me dizer. - Eu acenei em despedida para o gerente, voltando correndo para o balcão.
Encontrei Thomas com seu grupo de amigos como todos os dias, sentados no mesmo lugar de sempre e com os mesmos pedidos de toda vez que chegam até aqui.
Thomas imediatamente veio até o balcão, ele parecia um tanto preocupado, olhando para minha mão antes de conferir meu rosto.
-- Ei, tudo bem, S/N? - Ele pergunta, segurando minha mão machucada com cuidado. - Você passou correndo, nem sequer me respondeu, alguma coisa aconteceu?
-- Não é nada de mais, obrigada pela preocupação. - Eu digo, tentando ser simpática, mas lá no fundo eu estava surtando com o contato físico, e ainda mais com sua preocupação comigo. - Desculpe, eu nem percebi que estava ali, eu acabei me atrasando hoje pela minha mão.
-- Deixa eu adivinhar, foi com a escultura, não é? - Ele pergunta.
-- Como você sabe? - Perguntei, com ironia.
-- A sua faculdade vai te deixar maluca, ao menos é o que aparenta da forma que você a descreveu ontem a noite.
-- Não é algo tão difícil, apenas a estátua está dificultando as coisas. - Eu digo, até pensar nos detalhes da estátua, insegura se ele acreditaria em mim se eu dissesse, deixei essa opção de lado.
-- Quando você terminar de fazê-la, posso te chamar para sair? - Ele pergunta, olhando para vários cantos do meu rosto, em principal a minha boca.
-- Hum... Por que não? - Eu sorrio, nervosa. Como deveria reagir?
-- Eu te espero até lá. - Ele devolve o sorriso, então olha para trás, vendo seus amigos o chamando.
Ele acenou para mim em despedida, então voltando para a mesa com seus amigos.
Poucos minutos depois, o pedido da mesa deles ficou pronto, e como a garçonete estava com atestado, tive que fazer seu trabalho.
Eu segurei a bandeja com as canecas e copos de plástico com uma de minhas mãos, levando até a mesa deles. Não percebi o olhar brilhante de Tom em meu rosto enquanto eu separava os pedidos, colocando-os na mesa.
-- Então essa é a sua namoradinha, Tom? - Uma das garotas pergunta. Ela era tão bonita, tinha os cabelos bem curtos com ondas castanhas. Seus olhos castanhos e suas sardas eram encantadoras.
-- Ela não é minha namorada, Kim. - Ele discorda, percebi o rubor em suas bochechas.
-- Aww, vocês combinam. - A garota insiste.
-- Eu te disse, S/N. - O garoto bufa.
-- Tá tudo bem. - Eu sorri nervosa. Rapidamente equilibrando a bandeja em meus dedos. - Apreciem suas bebidas.
Eu voltei para o balcão, pondo a bandeja de volta na cozinha.
[...]
Após voltar da faculdade, secava meu cabelo com a toalha, esfregando-a nos fios com cautela.
Passando pelo ateliê, notei que o tecido branco que cobre a escultura estava com um volume muito baixo.
Eu removi o pano e...
Aonde estava a escultura?
Comecei a olhar em pânico, obviamente ela não caiu, e como e porquê a roubariam.
A raiva começou a tomar conta de mim, tendo mil palavrões passando em minha mente nesse exato momento.
Eu já não estava indo com a cara dessa estátua, e ela ainda some de repente!
Assim que me virei para trás, acabei me esbarrando em algo levemente macio, eu olhei para cima, vendo então aquele par de olhos amarelados que brilhavam no escuro.
Eu gritei pelo susto, e o gigante avermelhado gritou junto comigo.
-- QUER ME MATAR MULHER?! - Ele diz, gritando enquanto olha para mim.
-- QUERO! - Respondo, levantando minha arma riscada que estava na mesa atrás de mim, apontando para sua cabeça.
-- ABAIXA ESSE CARALHO! - Ele retruca. - Você sabe que eu posso simplesmente te esmagar, não é?
-- Cala a boca, seu monstro. - Respondo, abaixando o tom junto a ele.
-- Monstro?! Olha como você fala sua humana estúpida! - Ele exclama. - Meu nome é Pyrus, para sua informação.
-- Cala a boca Pyrus!
-- Você não tem jeito, né? - Ele respira fundo. - Tá legal, nós começamos pelo pé esquerdo. Deixe me apresentar, eu sou o Pyrus, o incubo da sua escultura. Eu não faço ideia de como você me libertou, mas tudo bem. Eu fui selado há um tempo atrás, e minha punição foi estar selado em um bloco de mármore, e eu só seria liberto de fosse esculpido dos pés a cabeça a minha verdadeira forma. Como você soube como eu sou?
-- Eu tirei da minha cabeça, não sei como você surgiu.
-- Amiga, você mente mal. - Ele estala os dedos com deboche. - Do nada você pensou em um incubo peladão que por coincidência teria literalmente as mesmas características que a minha? Você deve ter visto em algum livro de história, eu sempre estou nos livros de história.
-- Por que você estaria? - Eu pergunto, confusa.
-- Me apaixonei por um anjo durante uma guerra, e como Deus iria puni-lo por ficar ao meu lado, eu meti o chifre naquele brilho branco do caralho(E UM DEUS E UM ANJO DO UNIVERSO DELEEEEEEES, N OS DA BIBLIA PLMDSS).
-- O QUE?! VOCÊ É O DEMÔNIO QUE TENTOU MATAR DEUS?! - Eu berro, surpresa.
-- O próprio. Como acha que acabei quebrando um de meus chifres, tendo metade dos meus poderes reduzidos e sendo selado em um pedaço de mármore? - Ele levanta uma de suas sobrancelhas, até que eu percebi um detalhe.
-- Você é de que país? Seu sotaque é estranho. - Eu pergunto, saindo do rumo da história.
-- Passei a vida inteira no Brasil. Digo, antes de ser um mármore há anos atrás. - Ele responde.
-- Você? Brasileiro? - Eu pergunto.
-- Exatamente meu anjo.
Em um passe de mágica, ele reduz sua altura, ficando com mais um menos 1,85. Sua longa cauda eram como lâminas que cortavam os ares.
-- Mas agora vou morar com você, querendo ou não. - Pyrus diz.
-- O que?! Você não pode ficar aqui! - Eu digo, espantada. Isso já era de mais.
-- Uhum, e por que não? - Ele cruza os braços. Ele não para de debochar da minha cara.
-- Eu não consigo nem me sustentar, quem dirá sustentar um demônio!
-- Até parece que nós somos consumistas que nem os humanos. - Ele põe a mão na cintura, esperando uma resposta mais convincente.
-- Não sem espaço pra você aqui.
-- Eu posso ter a forma que eu quiser. Posso ser tanto uma formiga quando um titã. - Ele se refere a sua metamorfose.
-- Só não dá, você tem que ir embora. - Eu tento o empurrar para a porta, mas ele nem sequer se move.
-- Olha meu ombro, sobe e desce. - Ele aponta para seu ombro, fazendo os mesmos gestos que ele havia listado. - Eu não dou trabalho, você deveria até ser grata por eu estar ao seu favor, fofinha.
Eu bufo com raiva, e logo ele abre seu olho direito, e abre também suas duas bocas extras, olhando para mim de uma forma perturbadora.
-- Eu quero ficar aqui pela sua vontade.- Ele diz, como forma de me intimidar. Ele realmente era macabro, não sei como estava conseguindo olhar em seus olhos.
-- Eu deixo você ficar, desde que comece a ter hábitos humanos, inclusive arrumar um emprego. - Eu digo.
-- Fácil, fácil. Arrumo um amanhã mesmo. - Ele se sentiu provocado, tenho até medo de que emprego ele arrumaria.
-- E coloque umas roupas também, devo ter umas masculinas no meu guarda roupa. - Eu gesticulei para que ele me seguisse até meu quarto, logo abri meu guarda roupa.
Antes que eu possa escolher uma roupa, ele pega uma bermuda de algodão que eu usava como pijama, ficava incrivelmente grande em mim, mas assim que ele vestiu, ficou perfeita nele.
-- Não preciso de mais nada. Amanhã eu compro as minhas. - Ele diz. - Eu roubaria, mas você não quer que eu faça algo sobrenatural, fazer o que.
-- Muito bem. Agora você pode ir dormir no sofá. - Aponto meu dedo para a sala.
-- Teu cu.
-- Pyrus, para a sala. - Eu repito.
-- S/N, Teu cu.
-- Eu te disse meu nome? - Pergunto.
-- Eu sei de tudo sobre você, meu anjo. Agora anda, vamos dormir.
Assim, ele se deita em um dos lados da cama de casal de meu quarto.
-- Eu não vou dormir com você.
-- Vai pra sala então. Eu que não durmo no sofá. - Ele diz. - Para de graça, eu não vou encostar em você.
-- Eu deveria confiar em um demônio que suga a energia vital das pessoas através do sexo enquanto elas dormem? - Eu o questiono.
Ele me puxa para a cama, me deitando a força no lado em que a cama era encostada na parede.
-- Se eu quisesse te foder, acha que eu não teria feito isso? - Ele diz. - Você tá se achando.
-- Ugh... Como você é insuportável! - Eu digo.
-- Cala a boca, menina.
-- Eu vou dormir, pelo menos não vou precisar olhar pra sua cara.
-- Eu tenho como escolher o que fazer com você enquanto você dorme. Então é melhor que você pare de me xingar. - Ele diz.
-- Argh! Que seja! Foda-se você. - Eu me viro de costas para ele, fitando a parede enquanto me esforçava para cair no sono.
[...]
Acabei acordando durante a madrugada, percebendo um peso sobre meu braço, então eu olhei para baixo, vendo o braço avermelhado preso em minha cintura. Confesso que sua pele era quente e confortável, ele estava em um sono tão profundo, até parecia uma criança dormindo com seu urso de pelúcia. E olha que ele disse que nem escostaria em mim.
Pyrus não parecia ser alguém ruim, se ele foi capaz de enfrentar a deus por uma paixão, acho que ele não seria totalmente frio.
Eu deixei com que ele me abraçasse, então eu cobraria isso dele assim que ele acordar. Então, me aconchegando como a conchicha menor, eu voltei à pegar no sono.
GENTEEE MH AMG LIBEROUU
Fotinha do Pyrus aq gentee
Um grande gostoso pqp
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