Capítulo 11
Quebra de tempo
Eu estava boba caminhando com Pyrus até o hotel que ele diz que havia alugado por três dias.
Nunca havia visto nada assim.
Passávamos ao lado de um imenso rio, aonde havia muitos barcos de várias cores, tamanhos e modelos diferentes.
Sem contar das decorações típicas e a grande diversidade de árvores na cidade, nunca havia visto algo assim.
Pyrus parecia mais feliz do que o normal, olhando para os lados e suspirando várias vezes para sentir o ar de lembranças de lá.
-- Estamos em Parintins. Não é bonito? - Ele questiona.
-- É diferente, eu gostei. - Eu digo.
-- Você vai amar conhecer o Rio ou Salvador. Vamos evitar viajar para o Rio Grande do Sul, não te tirei do frio para te fazer passar frio. - Ele diz.
-- Espera, você ainda pretende ir para mais lugares? - Eu questiono.
-- Claro! Quero te levar para conhecer meus lugares favoritos! Você vai adorar, é sério. - Pyrus diz, confiante.
-- Nós temos reais para viajar aqui dentro? - Eu questiono.
-- Aham! Apesar do real não ser tão valorizado, consegui trocar uma boa quantia. - Eu digo. - Acho que dez mil vai ser o suficiente para termos o melhor por poucos dias.
-- Quanto custa dez mil reais? - Eu pergunto.
-- Quase dois mil dólares. - Ele responde.
-- O que?! Você não acha um exagero? - Questiono, impressionada.
-- Ah... Não, porque realmente as coisas na Brasil estão cada vez mais caras. - Ele diz. - Não se dá pra comprar muita coisa com 100 reais como daria para comprar com 100 dólares.
-- Oh... Talvez o país esteja em mãos erradas. - Eu digo.
-- Pois é. Mas não vamos olhar para o lado ruim. - Ele sorri em minha direção. - Oh... Está muito calor por aqui, havia me desacostumado.
Notei Pyrus puxando sua camisa para cima, tirando-a no meio da rua e a colocando em seu ombro.
-- Ei, o que está fazendo?! - Eu o repreendo.
-- Andar sem camisa é algo bem comum por aqui. É um clima tropical, esqueceu? - Ele diz. - Ninguém vai olhar, pode ficar de boa.
-- Isso é muito esquisito. De fato nunca moraria em um país desse. - Eu digo.
-- Pois é, eu também não queria morar no Canadá aonde o biquíni das mulheres parecem shorts. - Ele diz.
-- É o tamanho ideal, vocês que andam pelados, seus índios! - Eu digo.
-- E vocês? São Canadenses ou Árabes? - Pyrus retruca.
-- Ugh... Os errados são vocês, saibam disso. - Eu permaneço.
-- Me mama, S/N! - Ele diz, irritado. - Tanto faz, mudando de assunto, quer um caldo de cana?
-- Não me lembro de ter tomado isso antes. - Eu digo.
-- Vamos lá, você vai amar! - Ele segura minha mão, me levando até uma espécie de barraca que estava parada na rua, em frente a calçada.
Havia uma máquina manual que não sabia identificar, e alguns pedaços do que eu acho que seja bambú presos ao seu lado. Pyrus chama pelo vendedor, um senhor com sua camisa de botão aberta com um semblante triste e cansado. Pyrus pega o cardápio e começa a escolher o que há de ser pedido.
-- Boa tarde. - O senhor diz.
-- Ahm... S/N, você quer em um copo de 300ml, 500ml ou 850ml? - Ele pergunta.
-- Copo do que? - Eu questiono. Eles servem caldos em copos?
-- Caldo de cana. É como um suco, S/N. - Ele diz.
-- Oh... Do menor. - Eu digo.
-- Quero dois de 500ml. - Pyrus diz ao vendedor.
Pyrus me puxa para perto de si, me fazendo olhar para o processo da extração do caldo daquele bambú.
-- O que? Está saindo água do bambú? - Eu questiono.
O moreno começou a rir escandalosamente de minha pergunta, sua risada foi tão contagiante que a triste expressão do senhor foi embora, e começou a rir junto a Pyrus enquanto maneja a máquina.
-- O que a estrangeira disse de tão engraçado? - O senhor diz, ainda rindo.
-- Ela perguntou por quê está saindo água do bambú. - Pyrus o responde.
Os dois conversavam em português, eu de fato não entendia nada que eles falavam, nem se eu quisesse adivinhar.
Poucos segundos depois, Pyrus entregou uma nota para o senhor, e pegou os copos da mão do mesmo.
Pyrus me deu um deles após de se despedir do vendedor.
-- Experimenta a água do bambú, S/N. - Ele diz, zombando de mim. - Que vergonha.
-- Você não me disse o que é. - Eu digo.
-- É cana, S/N. De onde vem o açúcar. Ou você pensa que dá em fábrica ou em pomares? - Ele diz.
-- Eu não sei nada, Pyrus. Só saí daquela cidade uma vez. - Eu o respondo.
-- Lamentável. Mais aí, toma um gole para você ver. - Pyrus diz.
Olhei para aquele líquido estranho, sentindo um cheiro estranho e adocicado, não se parecia com o cheiro do açúcar. Pensei duas vezes para encostar minha boca naquele copo transbordando caldo de cana. Respirei fundo, então virei um gole sem nem sentir o gosto.
-- Ah, S/N! Assim não tem graça! Para ele um pouco na sua boca para você sentir o gosto.
-- Eu senti! Tem gosto de açúcar!
-- Não tem não! Bebe direito! - Ele diz.
-- A gente já brigou por causa das roupas, agora por causa do caldo de cana? Eu tô achando que você vai me matar se eu falar alguma coisa desse festival. - Eu digo, arqueando uma de minhas sobrancelhas.
-- É, que bom que você sabe. - Pyrus responde. - Você também vai se virar sozinha, vai ter que aprender a conviver com as pessoas aqui.
-- O quê?!
Quando eu olho para Pyrus, uma dupla de garotos com óculos espelhados coloridos passam devagar enquanto me encaram pelas costas sem que eu perceba, Pyrus os acompanhou com os olhos, foi viu os mesmos olhando para trás sorrindo novamente.
-- PERDEU SEU CU NELA SEUS FILHOS DA PUTA? - Pyrus grita na direção dos rapazes.
-- Pyrus pelo amor de Deus. - Eu saio andando em sua frente, fingindo que não o conheço.
Vejo os meninos darem meia volta na mesma hora, eu rapidamente voltei para tentar tirar Pyrus dali, afinal, se ele apanhasse, eu também me machucaria. Quando eu tentei o empurrar, ele não moveu um músculo para trás.
-- Que foi, estrangeiro? - Um dos meninos olha para Pyrus.
-- Encararam ela por quê, hein? Ela não trafica maconha. - Pyrus diz.
-- Pode olhar mais não? O olho é meu! - O outro garoto o repreende. - Melhor comer com o olho do que com o-
Antes do garoto terminar, ele gritou no meio da frase. Arremessou seus óculos para longe enquanto chorava desesperadamente com a mão cobrindo seus olhos, sangue pingava no chão pelo vão de seus dedos. O outro garoto entrou em desespero, tentando ajudar seu amigo com os olhos sangrando.
Pyrus cobriu meus olhos com as mãos para que eu não veja os buracos fundos no lugar dos olhos do garoto. Pyrus arrancou os olhos do garoto sem nem sequer se mover?! Mas ele está quase sem seus poderes, como ainda tem esse tipo de coisa?
-- Você quer também? - Pyrus sorri na direção do outro garoto, que ajuda seu amigo a sair correndo de lá.
Pyrus removeu sua mão de meus olhos. Ele olhou em volta, então pegou o óculos espelhado que o garoto havia derrubado, então colocou em seu rosto, um pouco para baixo no nariz para que enxergasse por cima do óculos.
-- Pyrus, o que caralhos você fez?! - Eu digo.
-- Não se deve confiar nesses moleques que usam esses óculos de mosquito, nem sempre são coisa boa. - Ele diz.
-- Eu me refiro aos olhos dele!
-- Ah, eu os espetei com a minha cauda sem que ele percebesse. - Ele diz, tão tranquilamente. - Mas foi tão rápido que não vão ter provas que fui eu.
-- Cara, você é problemático. - Eu digo. - Você faz isso parecer normal.
-- Mas é normal! Um par de olhos é tudo o que ele não precisava. - Ele diz. - Vamos esquecer isso. Eu vou te levar para o hotel e ir fazer minha inscrição.
-- Oh... Eu não posso ir junto com você? Sabe, não quero ficar sozinha em um lugar que eu não faço ideia de como se olha para as pessoas. - Eu digo.
-- Bom, eu acho que não tem problema. Para chegar na arena do Bumbódromo é só virar esse quarteirão e andar mais um pouco. - Ele diz. - Depois que eu fizer minha inscrição, você vai querer ir para o hotel, dar uma passada na feira de artesanatos ou conhecer uma praça que tem perto dos barcos?
-- É com você, agora é você quem manda. - Eu digo.
-- Nesse caso, vamos nos três lugares, ainda é bem cedo. - Ele diz, sorrindo.
Pyrus segurou minha mão para continuarmos a caminhar até a arena.
Quebra de tempo
Chegando no bumbódromo, Pyrus foi até uma barraca aonde o anfitrião do festival estava para monitorar a decoração. Eles tiveram uma longa conversa antes de entrarem em um acordo, enquanto isso eu fiquei admirando aquele lugar, detalhe por detalhe. Se de dia era encantador, imagino durante a noite.
Minutos depois, Pyrus voltou para mim, todo alegre.
-- E aí? - Eu o pergunto.
-- Consegui ser o Pajé do garantido, o outro está incapacitado para apresentar na primeira noite, então vou substituir ele. - Ele diz. - A música vai ser O Baiá, eu não vou precisar ensaiar com eles, eu já sei a coreografia, então só vou fazer uma demonstração para eles avaliarem.
-- Oh, parabéns, eu sabia que você conseguiria. - Eu digo, sorrindo em sua direção.
Ele me devolveu o sorriso, senti um clima estranho durante essa breve troca de olhares. Mas quando uma voz feminina gritou por seu nome, ele olhou na direção da mulher, que vinha correndo em sua direção de braços abertos.
Ele sorriu mais ainda, ficou muito feliz quando a abraçou bem apertado, a girando levemente, não a soltando por nada.
Ela era linda, tinha a pele morena, um belo corpo, um rosto lindo com um olhar hipnotizante e seus cabelos eram box braids em um degradê de preto e vermelho.
-- Meu deus, é você mesmo! Eu senti tanto a sua falta! - Ele diz, acariciando os cabelos da mesma.
Confesso que não me senti muito bem com todo esse contato peculiar. Seria essa a maneira em que brasileiros se cumprimentam?
-- Eu também senti sua falta, Pyrus. - Ela diz. - Muito mesmo. Você finalmente voltou.
-- Demorou um pouco mais do que o esperado, mas cá estou eu novamente. - Ele diz, sorrindo para a garota, algo me diz que ele estava segurando suas lágrimas. Eles são namorados ou algo do tipo?
Eles se separaram dos abraços, então Pyrus trouxe-a para perto dele novamente, segurando a mulher com um braço atrás de suas costas. Ele olhou para mim, a mesma fez igual.
-- Foi ela quem me trouxe de volta. - Ele diz.
-- Foi ela? - A garota toda empolgada se aproxima de mim, me abraçando também, não soltando por nada, o que me deixa sem reação. - Muito obrigada mesmo! Eu não sei o que eu faria se ficasse mais um ano sem ver o meu irmão.
-- Seu... Irmão? - Eu pergunto.
-- S/N, essa é a Claryus, minha irmã mais nova. Claryus, essa é a S/N, minha... Ergh... Humana? Minha melhor amiga. - Ele diz, nervoso para encontrar o apelido correto para me titular.
Fotinha da Claryus:
-- Oh... É um prazer te conhecer, Claryus. - Eu digo.
-- O prazer é todo meu, S/N. - Ela diz, sorrindo em minha direção.
Sério, como não se passou na minha cabeça que esses quase gêmeos eram irmãos? Eles são idênticos em muitos sentidos!
-- Eu também tenho um humano, ele está descansando no hotel agora, foi uma longa viagem de Salvador até aqui. - Ela diz. - Na verdade foi o avião que deu uma série de problemas, e cada aeroporto tivemos que trocar.
-- Que sorte a nossa então, nós viemos do Canadá. - Ele diz.
-- O que?! O que caralhos você estava fazendo no Canadá se você foi preso aqui?! - Ela questiona.
-- Não faço ideia. Eu meio que estava morto. - Ele diz. - Mas não é o caso, o que importa é que eu voltei para ficar! Ergh... Só por uma semana.
-- Aww... Por que você não fica? - Ela pergunta.
-- Bom, aconteceu um pacto entre mim e S/N, que nos enfraquecemos até morrer quando estamos longe um do outro. Fora o mármore, também foi causado pela maldição. - Pyrus explica. - E também toda dor que nós sentimos, é compartilhada um com o outro.
-- O que?! Isso é um absurdo! Da próxima vez eu te ajudo a matar aquele canalha daquele mestre dos anjinho- ...- Pyrus interrompe Claryus.
-- Eeei! Que próxima vez? Tá louca? - Ele questiona.
-- Você entendeu.
-- Ahm... Desculpa perguntar, mas... A Claryus é um demônio também? - Eu questiono. Não acho que seja uma pergunta idiota, afinal, Pyrus disse que havia muitos irmãos humanos pelo mundo, já que seu pai era um cafetão.
-- Sou uma súcubo pura. - Ela diz. - Não como esse imundo do Pyrus que tem sangue de anjo ou o Stellaruys que tem sangue daquela coruja macabra, meu sangue é puríssimo!
-- É mesmo, o Pyrus tem sangue angelical... - Eu digo, para mim mesma.
-- Em outras palavras, é uma cadela de pedigree. - Ele diz, zombando se sua irmã.
-- O que você disse, querubim? - Ela fingiu não ter escutado, retrucando Pyrus.
Eu rio do diálogo nada amoroso dos dois, nem parece que estavam se melando há alguns segundos atrás.
-- Mudando de assunto, qual o papel da Claryus no festival? - Eu pergunto para a mesma.
-- Eu sou uma Cunhã-Poranga. Também vou apresentar hoje, como o Pyrus. - Ela diz.
-- Eu meio que não entendo nada do que vocês estão falando, mas eu vou tentar entender na hora. - Eu a respondo, nervosa.
-- É basicamente a história dos dois bois representadas por danças e muuita música. - Claryus diz. - Eu não perco um!
-- Infelizmente eu perdi vários, mas graças a S/N eu voltei. - Ele diz.
Eu fiquei meio sem graça, Pyrus e sua irmã conversavam tão bem um com o outro, mas eu não sabia o que falar quando o assunto vinha para mim.
Percebo que os dois usam vários gestos enquanto conversam, e também imitam diversos sons e onomatopéias para narrar as cenas em que estão falando, por um lado chega a ser até engraçado.
Notei as vestes de Claryus, a garota estava com um short jeans um tanto curto, uma blusa da seleção brasileira presa dentro de seu sutiã como um cropped e chinelos brancos simples, que mostravam suas unhas pintadas nos pés.
Eles usavam várias gírias enquanto falavam de suas vidas.
-- E aí, como você conseguiu esse cacau todo, Py? - Claryus pergunta, se direcionando a seu irmão.
-- Antes de ser petrificado, eu havia enterrado um baú cheio de moedas de ouro da época antes da guerra, então eu só desenterrei. - Ele responde. - Então eu vendi todas, e também peguei um trampo de gogoboy.
-- Caralho, lavou a égua! - Ela diz, surpresa. - Ouvi dizer que gogoboys ganham bem no Canadá, e ainda você tem de sobra todo esse dinheiro!
-- Eu só desenterre um baú, hehe... Eu guardei três, por precaução. - Ele diz.
-- Oh... Com licença, o que você quer dizer com "Lavou a égua"? - Eu pergunto.
-- Dizem que os escravos transportavam sacos ouro utilizando éguas, e alguns escondiam ouro na crina delas para quando forem lavar, pegarem o ouro sem o feitor perceber. - Ela responde. - Resumidamente, significa ganhar dinheiro.
-- Ah, eu entendi agora, obrigada. - Eu digo.
-- Enfim Clary, precisamos ir agora, ainda quero mostrar alguns lugares para a S/N. - Pyrus diz.
-- Tudo bem, nós vamos nos encontrar a noite de qualquer forma. - Ela diz, sorrindo.
Eles se despediram normalmente, então Pyrus passou seu braço por trás de minhas costas, segurando meu ombro enquanto andávamos para fora da arena.
Quando voltamos para a rua, Pyrus parecia mais solto, de alguma forma. Talvez ele precisava apenas reencontrar sua irmã.
-- E aí, o que achou da Clary? - Ele responde.
-- Ela é bem bonita e tem uma personalidade forte. Se parece muito com você. - Eu digo de maneira involuntária, quando paro para pensar, não há como voltar atrás.
Notei as bochechas de Pyrus levemente avermelhadas, é literalmente a primeira vez que o vejo com vergonha, mas pelo visto não é só ele.
-- Que isso, eu não sou tudo isso. - Ele diz, sem jeito. - Só tenho um jeitinho diferente.
-- Você tá querendo é mais elogios, não é? - Eu questiono.
-- Que? Não! E-Eu só tô te contrariando porqu-... - Pyrus é interrompido quando uma idosa se paralisa ao seu lado assim que o vê.
-- É-é ele! O Demônio da riqueza! - A idosa diz, bem baixo devido à algum problema em sua voz.
-- Para com isso, vó! A senhora vai cair! - Uma mulher que orientava os passos da idosa diz, segurando-a para que não desequilibre. - O demônio da riqueza é uma lenda!
-- Não é! Estamos ricos! - A senhora insiste, logo olhou para o Pyrus. - Não é?
-- Infelizmente não sou eu. - Pyrus a responde. - Mas eu espero que ele venha este ano.
-- Minha mãe te viu quando era criança! Ela me disse que trouxe riqueza dançando no fogo! - Ela diz.
-- Vó, já chega, vamos para casa! - A mulher faz com que a idosa a acompanhe.
Quando a idosa começa a andar. Pyrus assovia para chamar atenção da mesma, a senhora aparentemente centenária olha para trás, quando Pyrus revela seus chifres para ela. A idosa sorriu com seus poucos dentes, e começou a caminhar alegre e energética. Pyrus recolheu seus chifres novamente, eu olhei para ele esperando por uma explicação.
-- O milagre que você diz é esse? - Eu pergunto. - Como assim demônio da riqueza?
-- É que... Bem, quando aqui era bem pequeno, quase sem nenhum habitante e não tinha valor nenhum, comecei a me desafiar enquanto dançava no fogo da queimada de cana-de-açúcar. E com os tempos, turistas começaram a visitar esta cidade, o que trouxe novos moradores e reconhecimento, o que resultou na expansão da cidade que enriqueceu com o número de moradores aumentado. - Pyrus explica.
-- Então... Você é como um Deus por aqui? - Eu questiono.
-- Antigamente eu era visto como um, hoje em dia não mais, eu nunca mais apareci depois que fui aprisionando, portanto pararam de acreditar. - Ele diz. - Com o tempo eu virei só uma lenda. Mas eu acho melhor assim, eu não gosto do tipo de atenção que um Deus recebe.
-- Oh, entendi... Caraca, cada dia você me impressiona ainda mais. - Eu digo.
-- Você não me conheceu bem ainda. - Ele diz.
-- Eu tenho certeza que sim. - Eu respondo, tirando um sorriso do mesmo.
Na mesma hora, passa um vendedor de sorvete. Aonde na placa acima do carrinho havia um menu aonde estara escrito o tal sorvete "Itu" que Pyrus mencionou. Ele olhou para mim de forma maliciosa.
-- N-Nem vem. Não queria me lembrar disso! - Eu digo.
-- Você se lembrou de mim, não foi? - Ele diz, me provocando.
-- Como não lembrar? - Eu digo. - Graças a você eu associo um sorvete como pênis!
-- Ei! Não é qualquer um que pode tocar nele! Se valoriza! - Pyrus diz, divertido.
Por segundos nós esquecemos que não somos as únicas pessoas na rua, e debatemos normalmente sobre a temperatura anormal de certas coisas de Pyrus. Além de falar um pouco da minha experiência.
-- Sabe, eu não acho que eu consiga fazer isso com alguém desconhecido. - Eu digo.
-- Eu também tenho uma certa insegurança, é péssimo ter que depender de alguém, mas de qualquer forma é péssimo não ter ninguém. - Ele diz. - Por incrível que pareça, já fiquei sozinho por quase minha vida inteira, é a pior coisa do mundo!
-- Eu já me acostumei com isso. Até quando morava com meus pais era o mesmo que estar sozinha. - Eu digo. - Eles não se importavam muito para mim, portanto ficar sozinha não é um problema.
-- Oh... Sabe... Eu queria que você não mudasse esse pensamento. Ou... Sei lá. De qualquer forma, daqui há cinco anos você vai voltar a ser sozinha se não conseguir mais alguém além de mim. - Ele diz.
É desconfortável saber que meu tempo ao lado de Pyrus é limitado, e tudo que fizermos será em vão em sua vida, já que voltará para sua casa no fim de tudo, e eu vou voltar a ficar sozinha. Não imaginei que estaria pensando assim, mas... Eu não quero mais ficar sozinha agora que Pyrus me fez uma boa companhia. Não sei se conseguiria me imaginar sem alguém que se preocupasse comigo, não mais.
-- No fim de tudo, eu te prometo que vou dar um jeito de voltar para você, não importa qual seja nossa relação no futuro, okay? - Pyrus diz. - É-É meio clichê, não espero que isso pareça uma declaração, mas eu acho que o fato de nós sermos diferentes nos faz... Compatíveis.
-- Sol e lua, talvez. - Eu digo.
-- Sim, como o sol e a lua! - Ele repete, sorridente.
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