A Manipuladora de Mentes

Era uma manhã calma quando abri as portas da escola infantil para crianças da elite de Teran. Mas algo estava deixando meus pelos da nuca arrepiados. Era um pressagio, eu sabia.

Abri todas as janelas como fazia nos últimos cento e cinquenta anos. Aguei às plantas, algumas extintas atualmente, e recitei alguns feitiços para ampliar a aprendizagem e o bom comportamento. Tudo feito soou o sino e as crianças chegaram. Elas se sentaram em seus lugares colocando seus canalizadores mágicos sobre as mesas e me esperaram.

Encarei-os por um longo tempo recitando agouros de boa fortuna e de sucesso, era um desejo real e verdadeiro. Meu olho esquerdo tecnomagico passou pela sala analisando e calculando como seriam os possíveis futuros deles.

Seus rostos estavam cheios de medos e apreensão sobre o futuro. Isso era bom, enquanto se questionassem eu podia invisivelmente manipular suas mentes e fazê-los perderem o sono e a fome, pois todo o futuro deles dependia das minhas avaliações.

Bem, — Comecei. — Futuros membros da elite de Teran, eu espero que estejam pronto para prova oral de hoje. — Sorri em ver os olhares e as reações nervosas deles, era surpresa como todas as minhas provas, pois a vida era cheia de surpresas. — A nota dessa avaliação vai ditar muito para onde seus futuros serão guiados. Vamos começar.

Caminhei pela sala emanando uma aura de julgamento e desdém. Era necessário, pois na vida eles encontrariam julgamento em tudo que fizessem e em tudo que não fizessem. Eles deveriam a aprender lidar com isso.

Futuro senhor Ampiro, de pé. — O menino gorducho se levantou derrubando seu estojo e os cadernos, mas ninguém da sala riu. Ele era filho de um artesão de acrílico que usou uma poção de amor para se casar com a filha de um político, isso era sabido em toda Ligência. — Me responda o que é Teran?

Teran é o centro do universo, um planeta aonde há dois sóis, um vermelho e outro azul, e cinco luas o orbitam. — Ele parou pensando. Eu cerrei os olhos e ele continuou nervoso. — Teran também é o nome do reino que governa todo o planeta, tem um rei, uma rainha e doze magos supremos, que juntos mantém a ordem e paz no mundo.

Certo. — Dei mais alguns passos fazendo o taque do meu salto de madeira ecoar pela sala que estava em um silencio sepulcral. — Futura senhora Nanara, quantos Totens existem e como se consegue um?

Não se consegue um totem, eles surgem no fim da primeira infância, — Respondeu a menina de tranças perfeitas, seus pais eram os melhores curandeiros de Teran, sendo capazes de criar membros e órgãos. — Normalmente entre os dez e treze anos, em um momento crítico. Um fragmento da sua alma se desprende e toma uma forma, sendo variada, mas que se encaixa em um dos doze tipos e mais um de totens.

Excelente. — Circulei a sala tentando achar os que se esforçavam para não serem vistos. — Quais são os tipos de totens que existe futuro senhor Resalitlum?

É... É... — O garoto era o mais tímido de todos, com grande potencial, mas tão covarde quanto um unicórnio. Seu pai era um juiz em uma vila ao norte e sua mãe era a governanta no castelo real. — Há os tipos dragões que geralmente estão ligados há pessoas que podem ser poderosas, loucas ou conquistadoras, são totens poderosos e sábios, além de serem muito raros, há no máximo dois por geração. Os tipos unicórnios são gerados de almas positivas, ingênuas ou distopicas, seus poderes mais comuns são emanar bons sentimentos e curar pequenos ferimentos, não vivem bem em lugares cheios de pessoas ou apertados.

O menino tomou ar, tinha falado tudo de forma automática, ele tinha uma memória incrível para idade.

As fadas são criadas de pessoas sinceras, com senso de justiça ou manipuladores, todas as fadas tem o poder de saber quando as pessoas mentem e adoram ajudar, por mais que a maioria seja bem pequena não passando dos quarenta centímetros, já foi registrado de uma fada de um metro e meio. — O menino parou de falar mexendo os dedos fazendo um feitiço básico de memória. Falar das fadas me fez lembrar a minha Altivas, ela morreu para me libertar. Reprimi a memória. — Os tipos grifos são de pessoas honradas, arrogantes ou leais, são muito velozes e esnobes, dentro do tipo grifo há classes menores como os hipogrifos, gatogrifos e o mais perigoso de todos os serpentigrifos.

Obrigado. — Dei mais um volta pela sala bem iluminada pelos sóis de Teran. — Futura senhora Dopredom. — A menina ficou de pé. Era neta do homem mais rico de Ligência. — Continue, por favor.

Sim. Seguindo tem os tipos harpias, são criados a partir de fragmentos de almas protetoras, agressivas e ou invejosas, são os totens mais protetores se tornando altamente agressivas quando ameaçam seus protegidos ou roubam aquilo que é precioso para elas. Os totens kitsunes são considerados as mais fofas de todas, gostam de roubar coisas e brincar, surgem de pessoas versáteis, trapaceiras e brincalhonas. Além de elas terem o péssimo hábito de defecar cogumelos explosivos invisíveis. — A menina segurou o riso, assim como toda a sala. — Tem os kappas que são os totens mais submissos de todos, não importa qual tarefa você dê, eles fazem sem reclamar e com perfeição, vem de almas de pessoas submissas, prestativas ou preguiçosas. Após vem as fênix, são as minhas favoritas, elas surgem das almas de pessoas inteligentes, determinadas ou obsessivas. Toda fênix pode manipular no máximo três elementos, mas podem criar toda variação possível, depende do magruxeiro, além de que elas podem prolongar a vida do magruxeiro.

Muito bem. — Essa turma era muito boa, não possuía nenhum gênio ou talento raro, mas eram minimamente esforçados. — Futuro senhor Cúria prossiga.

Aonde parou? — Azedei o rosto fazendo-o encolher os ombros. Seus pais eram agricultores simples, mas ele era apadrinhado pelo Alto-Magistrado. — Ah, é, tem os tipos caiporas que surgem de pessoas astutas, sentimentais ou guardiãs, tem em sua maioria a habilidade de acelerar o crescimento das coisas e ajuda as pessoas a equilibrar seus sentimentos. Quando se tem uma caipora você sempre será bem sucedido em alguma coisa. Os tipos Ajubás-Aburés são cuidadores natos e conseguem lembrar-se de qualquer coisa que já viram ou ouviram, nascem de almas zelosas, conselheiras e simples. Eles sempre sabem os caminhos para qualquer lugar e podem falar com os espíritos.

Ele parou de falar olhando para o chão por um tempo, seus dedos se remexiam, ou estava cantarolando mentalmente a canção dos totens para se lembrar ou estava tentado fazer um feitiço de memória.

Os totens tipos golens são gerados de pessoas inflexíveis, rudes e trabalhadoras, são criaturas incansáveis e com força descomunal, muito das grandes construções foram feitas por golens e seus magruxeiros. Tem também os ents que são os que mais têm subtipos e podem mudar de tipos com as estações e ambientes, tem o poder de criar qualquer fruto, eles nascem a partir de pessoas pacificadores, apologéticas e amorosas. E tem o...

Já está bom. — Eles decoraram com perfeição as descrições dos livros, mas isso não significa que aprenderam alguma coisa. — Futura senhora Laguair, qual é o décimo terceiro e amaldiçoado totem?

Ah, bem... — A menina era das mais inteligentes e das mais belas, seus pais eram atores famosos e bem premiados. — Ele é o totem maldito. Não deveria existir um décimo terceiro, só há uma lenda de quê o primeiro Rei de Teran teve um goblim, mas depois disso ninguém nunca viu nenhum durante os doze reinados seguintes, até que um surgiu em Ligência, no filho dos Noar.

Noar. — Sussurrei o nome. Dei instruções para praticamente toda família, mas nenhum deles chegava aos pés da pequena e adorada Avill. — Futuro senhor Brook quem são os Doze?

São os doze magos mais poderosos que já existiram em Teran e que criaram todas as leis e dividiram o mundo. — Garoto me encarou e percebeu que não era essa a resposta que eu queria. Ele era filho de um barão e da diretora da escola de magia e tecnomagia. — Os doze também são os magos mais poderosos vivos e cada um é responsável por um vilarejo.

Futura senhora Jampac cite os seis primeiros dos Doze. — A menina tomou um susto.

O primeiro atualmente é o de Ligência, e se chama Cristóvão Noar e o seu dragão Shey. A segunda é a mais velha de todos, a Eliz, a magruxeira dos fogos. Seus poderes pirotécnicos são lendários, conseguindo solidificar o fogo e dizem que ela já era uma dos doze antes de Teran existir. Seu totem é uma fênix de fogo negro, o fogo que queima a alma, sendo a única que pode matar uma pessoa sem matar o totem. O terceiro é o Budjsus, o magruxeiro da paz, dizem que onde ele está sempre há paz e saúde, seu totem é um ent em forma de trevo de cinco folhas que vive preso no meio da testa dele. Há os gêmeos Dur e Flir. Dur possui um golem gigante e Flir uma kitsune metamorfa, a única coisa que se sabe sobre eles, é que vivem trocando entre si de vilarejos que são responsáveis para que haja equilíbrio em Teran. A sexta é Abelly, a sacerdotisa das cinco luas. Ela tem um ajubá-aburé prateado e é considerada uma deusa entre todos nós.

Tão bem quanto um kappa bem treinado. — Ela era sobrinha-neta da Alta-Maestra de Teran. Com os feitiços certos eu podia até fazer uma pedra responder essas perguntas, mas para crianças de seis anos até que estavam indo bem na decoreba. — Futura senhora Durcas continue.

— O sétimo é conhecido como o Açougueiro e têm uma harpia rara, ela possui um corpo semelhante ao de uma jovem e dois pares de asas com o dobro do tamanho dela nas costas e um par de asas em cada calcanhar, o Açougueiro é um hemomante, um magruxeiro de sangue. A oitava e a nona são um casal, Naruse e Sasuna, ambas conhecidas como as magruxeiras da verdade e da justiça, elas são responsáveis pela mesma vila, ambas possuem fadas como totens. Depois delas vem Garyel, o nobre. Ele é o magruxeiro mais respeitado de todos e de moral inabalável, possuí um grifo dourado que pode brilhar tanto quanto os sóis de Teran, ele é responsável por cinco vilarejos. Os últimos são os mais chatos de todos, Clif e sua caipora e Borbonita e seu kappa. Clif é alcunhado como magruxeiro da floresta, dizem que não é possível diferenciar ele de um ogro sujo de ponte. E Borbonita é a mais bela de Teran, mas também tão tapada quanto, só que com um dom único de transmutar as coisas.

Seus comentários dizem muito sobre você e sua família. — Filha dos Altos-sacerdotes de Teran, o que explicava seu jeito esnobe. — Quem são os reis e como são escolhidos, futuro senhor Tonniato?

Você nasce rei ou rainha, não importando linhagem genética ou status social. Quando um rei ou rainha morre nasce outro ou outra em algum lugar de Teran. A rainha atualmente é Arthuria, a mais justa e sua fada Merlinda, e o rei é o Guidonmar,o manso e seu kappa Willupampysk.

Esses serão fáceis de manipular. Não pensam por si só e nem disfarçam que estão usando feitiços para recitar exatamente como está nos livros. Eu poderia melhora-los se tivesse mais tempo.

Guardem bem isso que eu vou dizer. Mesmo tendo ligações com a elite de Teran não significa que vocês serão da elite para sempre. Recomendo fortemente que comecem a pensar um pouco fora da caixa, mas creio que não haverá tempo para isso. Podem ir e abracem seus pais.

Eles me olharam sem entender, as aulas iam até o fim do dia, sem contar os treinamentos de concentração e meditação. Ficaram mais um tempo achando que era um teste até que finalmente saíram correndo e gritando.

Suspirei cansada e feliz.

Obrigada por me permitir dar uma última aula. — Desde que tinha chegado à sala já havia ouvido o choramingo baixo. — Então chegou o fim?

Sim. — Respondeu os dois melhores alunos que já tive em toda a minha vida. — Obrigada por tentar.

Posso pedir que seja indolor para as crianças? — Eu havia feito de tudo para que Avill fugisse para as terras ao norte junto com o irmão Shen, mas o senhor Noar me prendeu por doze dias no porão da casa deles, que era um nexus temporal, aonde cada dia valia por um ano, quando consegui sair já era tarde demais. — Eu sei que falhei com você, mas realize essa última vontade de uma pobre velha e obrigada por ser gentil comigo.

Uma névoa envolveu meu corpo e tudo se apagou. E eu tive paz.

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