Cinco

Louis

Paro meu carro em frente a uma loja. Batuco meu dedo no volante, olhando para um modelo estampado ao lado da porta da loja. Meus olhos percorrem o corpo do homem. 

Músculo. 

Sorriso encantador. 

Rosto afinado, com uma barba bem feita. 

Evidentemente, ele tinha um traje de modelo. De um homem bonito que chamaria atenção de qualquer pessoa. Ele era ideal. Uma pessoa considerada “perfeita” para a sociedade. Independente do que come ou faça. Dos riscos que passa para manter o corpo estável e bonito. Ele era ideal 

Passo minha mão direita na barriga, sentindo o moletom se afundar e meus dedos tocarem minha pele coberta por panos grossos. Volto olhar para frente, esperando o sinal abrir e eu poder sair dali, engolindo um nó em minha garganta. 

Durante o percurso até em minha casa, liguei o som no volume baixo, ainda batucando meu dedão no volante. Ao parar no portão, apertei o botão para abrir, contudo, manteve fechado. Estranho. Apertei novamente e repetidamente se manteve fechado. Suspiro e tiro o cinto em volta do meu corpo e abro a porta do carro. 

Certamente o portão estava com defeito. Saio do veículo e caminho até o canto da parede e aperto a campainha. Eu não levava a chave comigo, restando naquele momento para algum funcionário ou Zara vim me socorrer. 

— Oi, Louis! — Uma voz grave e doce se fez presente naquele momento, fazendo eu tomar um susto. 

Olho para o lado e encontro o garoto que joguei a bola em sua cara. Sorriu sem graça e tímido pelos meus próprios pensamentos e pelo jeito de como ele ainda lembrava meu nome. Fazia três dias desde o pequeno acidente e, desde então, não o vi mais.

E agora ele estava em minha frente me comprimentando com seu mesmo sorriso da noite passada. 

— Oi...Logan! — Digo. Espero não ter errado o nome dele. — Seu nariz está melhor? 

Ele assentiu, colocando a ponta de seus dedos no nariz. De fato, nem ao menos parecia que ele tinha levado uma bolada no rosto, já que não tinha nenhum vestígio de machucado. 

— Como eu falei, alguns gelos já resolveram o problema. — Ele fala descontraído. Sorriu em resposta. 

— Fico mais aliviado com isso. 

Ele corre seu olhar para o meu carro e para o portão, desmanchando levemente seu sorriso. 

— Seu portão está com problema? — Logan aponta para o portão.

Assenti, olhando para o portão e para ele. 

— Praticamente, sim. Fui tentar abrir pelo botão, mas não quis abrir. Agora estou esperando alguém vir abrir para mim. 

Honestamente, eu odiava a forma como eu ficava tímido na presença de alguém. Logan, desde o primeiro dia em que nos conhecemos, ele estava sendo gentil, educado e aparentava que queria ser colegas de vizinhos. Aperto novamente a campainha. 

Aparentemente nenhum funcionário estava ali por perto. 

— A antiga família que morava aí também reclamava sobre o portão...acho que está na hora de mudar esse portão. — Olho para ele. — Vocês compraram essa casa? — Perguntou. 

Nego. 

— Meu pai ainda está vendo se vamos morar temporariamente ou vamos permanecer na cidade. — Digo e ouço a voz da Zara no interfone. Aproximo meus lábios até o pequeno aparelho. — Zara, sou eu, Louis. Tem como você vir aqui abrir o portão com a chave para mim? 

— Sim! Já estou indo aí. — Ela diz. Agradeço sua disposição com um simples “Obrigado”. 

— E vocês moram aí também ou estão temporário? — Digo voltando a olhá-lo. 

— Moramos permanentemente. Moro aqui desde sempre. — Sorriu pela forma como as palavras saíram de seus lábios. 

Olho para o portão e vejo Zara caminhando rapidamente em minha direção. Retorno meu olhar para Logan. 

— Espero que ainda não se enjoou do bairro. — Digo brincalhão, tirando uma risada do garoto. 

— Às vezes me acontece de enjoar, mas aqui foi onde eu nasci, então me sinto mais aconchegante estando aqui. Se você permanecer morando aqui espero que goste, apesar que gostei em ter você como meu vizinho. — Ele dá uma pequena piscadela e aquilo foi o principal motivo para sentir minhas bochechas formigar. 

— Também espero! — Digo com a voz baixinha. 

Zara para no portão com diversas chaves batendo um no outro. Ela intercala seu olhar em mim e Logan, logo desviando seu olhar a procura da chave certa para abrir o portão. Olho para Logan que desvia seu olhar de Zara e sorri minimamente para mim. 

— Espero que possamos nos ver a qualquer dia. — Ele diz dando um passo para trás. 

Sorriu.

— Também espero. 

Ele acena. — Tchau. 

— Tchau. — Aceno de volta. 

Ele vira seu corpo e começa a caminhar para dentro de sua casa. Olho brevemente para Zara que me olha com um pequeno sorriso nos lábios. Reprimo um sorriso para a mesma e começo a caminhar para o carro. 

Adentro com o veículo para dentro e espero Zara fechar o portão. Assim que a mesma fecha e começa a caminhar em direção ao carro, baixei o vidro e inclinei para frente. 

— Quer carona? — Pergunto, formando um sorriso em meus lábios ao vê-la me olhar. 

Zara deu de ombro, abrindo a porta do carro e adentrando. 

— Parece que alguém anda gostando de você. — Ela diz ao fechar a porta e me olhar com um pequeno sorriso nos lábios. Começo a movimentar o carro. 

— Em que sentido de “gostar” você está se referindo? — Brinco com sua pergunta, indagando outra por cima.

— Ainda está em análise! — A olho rindo. 

Nego levemente com a cabeça. 

— Pare de ser boba, ele apenas foi simpático comigo. Há uma grande diferença nessa situação. Eu acertei uma bola no rosto dele. 

Ela me olha espantada com minha última fala. 

— Como você acertou uma bola nele? 

Dei de ombro lembrando da noite anterior. 

— Ele estava jogando no quintal dele e a bola caiu em nosso quintal. Eu fui pegar e sem nem ao menos ver, acidentalmente, joguei a bola no rosto dele. 

Zara colocou sua mão nos lábios, segurando a risada que parecia querer escapar, fazendo um pequeno som abafado. 

Estaciono o carro na garagem, desligando o motor e tirando a chave da ignição. 

— Mas ele pode ter gostado de você, nem que seja como amigo. — Zara diz de repente, fazendo eu olhar para ela antes de sair do carro. 

— Não acredito que ele tenha gostado de mim, está mais para educado. — Digo esticando minha mão para trás, pegando minha bolsa no banco. 

— Bem, não há problema de alguém gostar de você, Louis. — Abro a porta do carro e ela também, saindo junto comigo. 

— Mas não vamos confundir a situação, certo? — Falo assim que ela para ao meu lado. Começamos a caminhar para dentro da casa. 

Zara me olha, como se eu fosse teimoso. Sinceramente? Eu não queria confundir e acabar criando coisas em minha cabeça. Raramente tive algum amigo. Sempre foram poucos e dá para contar nos dedos quem realmente gostou de mim. Totalizando, não chega nem perto do meu dedo inteiro do indicador. Então eu sentia que as chances de alguém estar gostando de mim, nem que seja como amigo, eram mínimas. E, sinceramente, eu ainda me importava, mas fingia que não. 

— Vamos esquecer isso, certo? — Digo parando no meio da sala. 

Zara levanta suas mãos até na altura de seus ombros. 

— Se é assim que você deseja…— Sorriu pela pequena careta que ela fez, logo baixando sua mão. 

— Certo! — Digo. — Você poderia fazer um lanche para mim e levar para o meu quarto? 

Ela assente, antes mesmo que eu concluísse a pergunta. 

— Irei levar. Com licença. — Ela diz com um simples sorriso genuíno em seus lábios. 

Afirmo e sai andando até a escada, subindo e indo para o meu quarto. Coloco a mochila em cima da cama e a chave na mesa, juntamente com meu óculos. Caminho até em meu closet e pego uma roupa para ficar em casa. Vou até o banheiro e tomo um banho mais relaxado. 

Como era sexta-feira, meu pai chegaria mais tarde e provavelmente pararia em qualquer lugar para jantar. Eu sempre tomava as mesmas rotinas: ir para o colégio, chegar, tomar um banho, dormir e jantar com meu pai. Sempre fora assim, e aos finais de semana eu tirava um tempo para passear, comer e às vezes jogar videogame. 

Aos domingos, o dia que meu pai não trabalhava, o mesmo ficava no escritório ou em frente à televisão com uma cerveja na mão e assistindo jogos. E também era o dia que eu mais ficava com meu pai, mesmo que era para sentar em um sofá e assistir aos jogos, pelo menos conversávamos um pouco mais. 

Saio do chuveiro, desligando-o. Pego uma toalha, enxugo meu corpo e coloco minha roupa. Ao sair do banheiro, vejo uma bandeja em cima da mesa, que continha banana, sanduíche e um suco de laranja. Sento e como apenas o sanduíche, tomando alguns gole de suco. Finalizo sem tocar na banana, me sentindo satisfeito. 

Deito na cama e passo algum tempo olhando para o teto, ouvindo o silêncio do cômodo. Viro meu corpo e acabo fechando meus olhos, sentindo o sono tomar meu corpo. 

Acordo com barulho de música tocando ao fundo, mas parecia alto o suficiente para me despertar. Esfrego meus olhos através do escuro do quarto e apalpo o criado-mudo à procura do meu celular. Pego o aparelho em minha mão e vejo que já era meia-noite. Eu dormi por seis horas. 

Jogo meu rosto no travesseiro e solto um pequeno gemido, ainda ouvindo a música estrondoso na casa ao lado. Arrasto meu corpo até a beirada da cama, agora olhando o escuro do meu quarto, com a apenas a porta de vidro da sacada aberta, permitindo que o ar frio entrasse. 

Certamente Zara veio me despertar para jantar, mas eu simplesmente a ignorei, continuando a dormir, restando para que a mesma fizesse um prato para eu poder comer assim que eu acordasse. Ela sempre fazia isso na sexta-feira. 

Levanto e vou até a sacada. Mordo meu lábio inferior ao sentir o ar gelado colidir meu corpo. Coloco minhas mãos na barra e olho para a casa ao lado. 

As pessoas pareciam animadas. Dançando, se divertindo com a música, pulando na piscina, conversando e rindo. A maioria tinha copos pretos na mão, bebendo o líquido que continha, outros com garrafas pequenas, indicando ser cerveja. 

Era na casa de Logan. 

Ele estava dando uma festa. 

Olho mais em volta e vejo pessoas brincando de lutinha enquanto uma pequena plateia de adolescentes assistiam rindo da brincadeira. Assisto o momento que uma garota empurra um garoto na piscina fazendo as pessoas que estava em volta rirem da situação. 

Saio da sacada e vou até a porta do quarto, abrindo e saindo. Caminho até o quarto de meu pai, certificando se o mesmo já chegou. 

— Pai? — Bato levemente na porta. 

Silêncio. 

— Pai? — O chamo novamente. 

Coloco a mão na maçaneta e movo para baixo. A porta estava aberta.

Ele não estava. Bufo, notando que eu estava sozinho em casa. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top