Glória Judie Howkins

Após o fim das aulas, Olivia e seus pais dirigiram-se até a casa da avó materna para um almoço em família. Era um convite impossível de recusar, especialmente vindo de Glória Judie Howkins

Glória, apesar de ser uma senhora com hábitos conservadores, tinha uma energia única. Determinada e teimosa, era conhecida em Beacon Hills como a avó mais elegante e jovial da cidade. Mesmo com a idade avançada, a aparência jovem e impecável dela beirava o sobrenatural, o que Olivia achava tão fascinante quanto assustador. 

A grande porta de entrada da mansão se abriu antes mesmo que Otis pudesse tocar a campainha. Glória estava lá, como sempre, impecável: cabelo perfeitamente penteado, maquiagem discreta e unhas feitas como se tivesse acabado de sair do salão. 

— Finalmente vocês chegaram! — exclamou com um sorriso caloroso, os olhos brilhando ao ver a neta. — Oh, minha querida Olivia... venha cá! 

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Olivia foi envolvida por um abraço apertado e protetor, o tipo de abraço que só uma avó coruja podia dar. 

— Oi, vovó. — Olivia sussurrou, retribuindo o abraço com um sorriso verdadeiro. — Senti saudades. 

Glória afastou-se apenas o suficiente para segurar o rosto da neta entre as mãos, examinando-a como se quisesse guardar cada detalhe. 

— Eu também senti, minha flor. — murmurou, enquanto alisava os cabelos da jovem com carinho. — Como você está linda. E olha essas unhas! — Glória ergueu as próprias mãos, exibindo suas unhas impecavelmente feitas. — Ainda vou te ensinar a escolher uma manicure decente, viu? 

Olivia soltou uma risadinha contida. 

— Pode deixar, vovó. 

— Vamos, vamos entrar! — Glória gesticulou para que eles entrassem, com a animação de quem tinha uma lista de perguntas para fazer. — Quero saber tudo sobre a sua viagem! 

Enquanto Olivia adentrava a mansão junto com a avó, ela lançou um breve olhar para os pais, que a seguiam logo atrás, trocando sorrisos cúmplices. A casa era como sempre: grande, luxuosa e perfeitamente decorada, mas o calor da presença de Glória fazia com que não parecesse tão intimidadora quanto deveria. 

Olivia sabia que, apesar de todo o drama e rigidez da avó, havia algo reconfortante em voltar para esses almoços de família. 

O cheiro delicioso de comida caseira preenchia a sala de jantar, deixando o ambiente ainda mais acolhedor. A longa mesa estava impecavelmente arrumada com pratos de porcelana, talheres de prata e taças de cristal, refletindo o perfeccionismo característico de Glória. 

— Sente-se bem aqui, querida. — Glória indicou o lugar à sua direita, como se houvesse um assento especial reservado para Olivia. 

A jovem obedeceu com um sorriso tímido, enquanto os pais dela ocupavam os lugares ao lado. 

— Então, minha flor, me conte... Como foi a França? — Glória começou, inclinando-se levemente para a neta enquanto servia uma generosa porção de salada em seu prato. 

— Foi incrível, vovó. A comida, as paisagens, as pessoas... tudo era tão diferente. — Olivia respondeu, escolhendo bem as palavras. 

Mas Glória não parecia satisfeita com uma resposta genérica. 

— Diferente como? Quero detalhes! O que você comeu? Fez novos amigos? Algum rapaz bonito? — O tom de Glória era inquisitivo, mas carregado de uma curiosidade afetuosa. 

Olivia soltou um riso abafado, já antecipando que seria difícil escapar. 

— Bem, eu comi de tudo, principalmente croissants e macarons. Fiquei viciada. Fiz alguns amigos no curso, e... não, nenhum rapaz bonito. — ela respondeu, desviando o olhar para o prato. 

— Hm... nenhum rapaz bonito? — Glória arqueou uma sobrancelha, claramente duvidando. — Com uma cidade cheia de franceses charmosos? Isso me soa suspeito. 

Justine riu, ajudando-se de um pedaço de pão. 

— Mãe, deixe a Olivia respirar. Ela acabou de voltar. 

Glória ignorou o comentário, concentrando-se totalmente na neta. 

— E o curso de arte? Você realmente sentiu que aprendeu algo, ou acha que poderia ter ficado por aqui? Sabe como eu sou... prefiro investimentos que valham a pena. 

— Sim, aprendi bastante. — Olivia respondeu com sinceridade. — Foi inspirador. Eu consegui explorar meu estilo, experimentar coisas novas. Acho que valeu cada segundo. 

— Eu adoraria ver algumas das suas pinturas depois do almoço. — Glória afirmou, já decidida. 

— Claro, eu mostro para a senhora depois. — Olivia concordou, sabendo que resistir seria inútil. 

— E Stiles? Ele me parece tão crescido. Você o encontrou já? 

A pergunta inesperada fez Olivia parar por um segundo, pegando um pedaço de pão para disfarçar. 

— Sim, encontrei. Ele é a mesma pessoa de sempre. 

— Ah, eu lembro como ele vivia grudado em você. — Glória sorriu, nostálgica. — Quando eram crianças, eu cheguei a pensar que ele ia te pedir em casamento ainda no jardim de infância. 

Otis engasgou levemente com o suco, rindo. 

— Pelo amor de Deus. Eles tinham cinco anos. 

— Sim, mas nunca é cedo demais para começar uma amizade promissora. — Glória retrucou com um brilho divertido nos olhos. 

Olivia revirou os olhos com um sorriso. 

— Ele é só meu amigo, vovó. 

— Claro, claro. — Glória murmurou, mas seu tom entregava que ela não acreditava completamente. — Mas e o outro rapaz? Como é o nome dele mesmo? Isaac? Ele veio te buscar em casa um dia antes de você viajar, não veio? 

Olivia sentiu o coração disparar com a menção de Isaac, ainda não havia encontrado o garoto.

— Sim. Nós também fomos muito amigos quando éramos mais novos. 

— Hum. — Glória inclinou a cabeça, estudando a neta com olhos que pareciam capazes de enxergar qualquer verdade escondida. — Pois espero que continue assim. Bons amigos são difíceis de encontrar. 

Olivia apenas assentiu, esperando que a conversa tomasse outro rumo. 

Glória, no entanto, parecia insaciável. 

— E Beacon Hills? — continuou. — Voltou a se acostumar? Está se adaptando bem? 

— Acho que sim. — Olivia respondeu, hesitante. — Ainda estou me ajustando, mas parece que nada mudou muito desde que saí. 

— Ah, querida, tudo muda. — Glória disse com um sorriso enigmático, cruzando as mãos sobre a mesa. — Só precisamos estar atentos para perceber. 

𐙚

Depois do almoço, Glória pediu a Olivia para subir até o sótão e pegar um presente que havia comprado para ela. A mais velha explicou que o presente estava guardado em uma caixa azul em um dos cantos, longe do alcance do pó que tomava conta do espaço. Olivia, embora ainda um pouco cheia de comida, não recusou o pedido e subiu as escadas com passos firmes, curiosa sobre o que a avó poderia ter comprado para ela.

O sótão estava um pouco empoeirado, mas a morena logo se acostumou com o cheiro de madeira envelhecida e o clima abafado. As vigas de madeira expostas davam um tom acolhedor ao ambiente, e caixas de todos os tamanhos estavam empilhadas, como se guardassem as memórias de gerações passadas. O lugar era silencioso, exceto pelo som de seus passos no chão de madeira, que rangia a cada movimento.

Olivia encontrou a caixa azul rapidamente, como sua avó havia indicado. Quando a abriu, encontrou um vestido de cetim azul escuro, impecavelmente embrulhado, com as costas abertas e um design sofisticado. Ela sorriu ao ver o presente, pensando o quanto sua avó ainda a conhecia bem. Mas antes de fechar a caixa, algo mais chamou sua atenção: um livro antigo, quase escondido entre o vestido e o fundo da caixa.

O livro tinha capa de couro escuro e uma textura brilhante que refletia a luz suave que entrava pela janela do sótão. Ela se aproximou, sentindo uma leve vibração no ar, como se algo estivesse chamando seu nome. Quando tocou na capa do livro, um frio percorreu sua espinha, e então ouviu as vozes.

Pegue o livro, uma voz suave e feminina sussurrou

três.. cinco.. dois.. sete.

A voz parecia vir de todos os lados, mas Olivia não conseguia identificar de onde exatamente. Ela tentou ignorá-la, mas a sensação de urgência a dominou. As vozes ficaram mais altas, mais insistentes.

Você precisa entender... a senha... para abrir o que está por dentro.

Olhando em volta, assustada, Olivia sentiu um arrepio crescente, mas, ao mesmo tempo, uma força inexplicável a fez pegar o livro e guardá-lo rapidamente em sua bolsa. Ela olhou uma última vez para o sótão, tentando entender o que estava acontecendo. Não conseguia deixar de se perguntar se a experiência tinha sido real ou se sua mente estava pregando uma peça.

Desceu as escadas com a respiração acelerada, ainda sentindo os ecos das vozes dentro de sua cabeça. Quando chegou ao térreo, tentou se recompor. Sua avó, que estava na sala com seus pais, a olhou com expectativa.

— O que achou do presente, querida? — perguntou Glória, um sorriso caloroso no rosto.

Olivia, ainda um pouco atordoada, deu um sorriso nervoso e respondeu.

— Adorei, vovó. É um vestido lindo!

Glória sorriu satisfeita e a abraçou novamente. Mas Olivia sabia que havia algo mais em seu bolso. Algo que ela não podia explicar, mas sentia que estava prestes a mudar tudo.

Logo após, com seus pais, ela seguiu para casa. A viagem foi silenciosa, a mente de Olivia cheia de perguntas.

𐙚

Olivia entrou em seu quarto com os olhos fixos na bolsa que carregava, o peso do livro parecia quase insuportável. Ela fechou a porta com cuidado, sentando-se na cama. A casa estava silenciosa, como sempre, e o som dos relógios distantes e os sussurros das folhas que balançavam lá fora eram os únicos barulhos que quebravam o silêncio da noite.

Ela colocou a bolsa ao lado e ficou alguns segundos olhando para o livro, ainda envolta em uma aura de mistério. Suas mãos tremiam levemente enquanto a retirava da bolsa, como se estivesse prestes a tocar algo proibido. A capa preta parecia absorver a luz da lâmpada, e os símbolos em relevo pareciam estar vivos, pulsando lentamente sob sua visão.

Três... cinco... dois... sete...

Havia palavras sussurradas na sua mente estavam de volta. Era como se o livro ainda estivesse chamando, e Olivia não conseguiu resistir à tentação de abrir a capa mais uma vez. Quando o fez, a primeira coisa que percebeu foi a suavidade do toque das páginas, como se o livro fosse feito de algo mais que papel — algo que ela não conseguia identificar.

Ela folheou as páginas novamente, as palavras surgindo uma a uma, guiando seus dedos ao longo do caminho. A imagem do pássaro se destacou, com a tinta revelando-se como um símbolo importante. Ela não conseguia parar de se perguntar o que significava. "Volare".... Vôo. Liberdade. Mas não fazia sentido, não com os números que estavam ligados a isso.

Três... cinco... dois... sete...

Ela recitou o enigma baixinho, como uma oração, tentando juntar as peças do quebra-cabeça. Mas não fazia sentido. O que significava? Por que o livro estava insistindo nessas cifras?

Olivia levantou da cama, andando de um lado para o outro, o coração batendo mais rápido conforme a confusão aumentava. Ela sabia que não poderia simplesmente ignorar o que havia encontrado. O livro tinha algo a mais, algo que a desafiava a entender. Ela pegou o pedaço de papel amarelado que encontrou na última página e tentou decifrar as palavras escritas. Mas o que chamava sua atenção era a última linha do papel, uma linha que ela havia quase esquecido, mas que agora parecia gritar na sua mente.

A chave para o que você busca está dentro de você...

Olivia franziu a testa, repetindo as palavras em voz baixa. A chave. O que isso queria dizer? Ela olhou para o livro mais uma vez, lendo-o mais páginas.

O assobio da Harpia.

Assobie Olivia..

Por mais que achasse aquilo deveras ridículo, sem saber o que estava acontecendo, porque estava ouvindo aquelas vozes.. Olivia começou a assobiar.

De repente, algo em seu estômago se virou. A resposta estava ali, como se tudo fosse uma grande conexão. Era como se ela estivesse sentindo uma presença invisível, um fio que ligava todas as peças. Ela olhou para o número "três" e lembrou da primeira vez que havia ouvido esse número, a primeira pista dada pelo livro. "Três", ela pensou, sempre foi um número especial para ela — em sua infância, três era o número de vezes que sua mãe lhe dizia para tentar antes de desistir. Três... Os três passos que ela sempre precisava dar para seguir em frente.

Ela fechou os olhos, respirando fundo. O "cinco" fez o coração dela bater mais forte. Cinco. O número de vezes que a fizeram esquecer. As cinco vezes que ela quebrou o vidro de sua janela assobiando. Isso... podia ser só uma alucinação?

Olivia começou a perceber que o livro não estava apenas falando sobre números, mas sobre momentos. Cada número estava ligado a uma parte da sua vida, uma memória, uma experiência. E com isso, ela sentiu que as respostas estavam mais próximas do que imaginava. Talvez o enigma fosse menos sobre o que ela via e mais sobre o que ela sentia.

Dois... sete...

Ela se sentou novamente na cama, a mente acelerada, tentando organizar as peças. O "dois", era o número de vezes que sonhou com harpias. O "sete"... talvez fosse o número de anos que sua avó passara no mesmo lugar, sem nunca se mover de Beacon Hills. Ou talvez fosse algo mais pessoal.

Ela fechou os olhos, respirando profundamente e começando a recitar as palavras sussurradas para si mesma:

Três... cinco... dois... sete...

De repente, algo clicou. O número "sete" se conectava a algo que ela quase não havia notado antes. Seu aniversário. O aniversário de sua avó. Os sete dias de diferença entre eles. Ela se levantou com pressa, procurando em sua mente uma última peça do enigma. Algo relacionado à chave.

Olivia tocou o peito, perto do coração, e a resposta veio como um lampejo de entendimento. Ela tinha que olhar para si mesma para entender o que o livro realmente queria. Ela era a chave. A chave estava dentro dela.

Ela pegou o livro e, com mãos firmes, abriu a capa novamente. Seguindo o que sentiu ser a resposta, ela sussurrou para o livro, em voz baixa, quase como uma oração:

— Volare... três... cinco... dois... sete...

O livro respondeu. As páginas começaram a brilhar, e um som suave, como uma porta se abrindo, ecoou pelo quarto. Olivia observou, maravilhada, enquanto um compartimento secreto dentro do livro se abria, revelando algo ainda mais misterioso e perturbador.

O enigma tinha sido resolvido. Mas ela ainda não havia entendido nada. Precisava ligar para alguém.

Ela ligaria para ele.

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