5 - Fragrância
O DIA PASSOU em uma sucessão de depoimentos, perguntas, depoimentos e mais perguntas.
Josiane respondeu tudo o que o delegado quis saber. Contou tudo o que havia contado para Tomás. Foi orientada a permanecer nas redondezas — não obrigada, apenas aconselhada. Prometeu que não iria embora de Belo Horizonte enquanto as investigações não fossem concluídas. Ofereceu ajuda paralela, consultoria. E só foi dispensada do departamento quando o horizonte engoliu o sol e a noite cobriu a cidade.
Afastando-se do corredor sombreado que levava para as salas de interrogatório, Josiane caminhou com passos lentos as luzes frias roçando seu rosto. O movimento havia diminuído; somente os funcionários dos plantões noturnos cumpriam seus horários.
Ela parou diante do mural investigativo, analisando as fotos dos deputados Hélio Milani e Josué Cabral.
O caso fervia na mídia.
Josiane imaginava que logo haveria uma briga por jurisdição e direito na investigação.
Suspirou.
Não queria ficar longe da família enquanto Sueli batalhava contra uma doença traiçoeira.
E, ao mesmo tempo, conhecia as regras de uma investigação.
Principalmente as regras não ditas em voz alta.
Josiane encarou mais uma vez a foto de Hélio Milani.
Faria tudo o que estivesse em seu alcance para desvendar aquela história, aqueles assassinatos, e poder voltar para seus tios e suas primas.
Ela se virou e, enquanto seguia para o elevador, teve a sensação de que os olhos do deputado Milani, congelados na fotografia, queimavam suas costas.
De repente, era como se as sombras da delegacia sussurrassem.
Engoliu em seco e apertou o passo; ao virar no corredor seguinte, colidiu com a pessoa que vinha na direção oposta.
Josiane ofegou; as mãos firmes de Tomás a seguraram, impedindo sua queda, o cheiro tão familiar da colônia dele a enlaçando feito uma corda forte e invisível.
— Te peguei — ele falou; um sussurro de voz que causou um arrepio involuntário nela.
Erguendo a cabeça, ela o fitou; assim que entreabrisse os lábios, sua respiração roçaria no rosto dele.
— Desculpa. Virei rápido e não te vi.
— Sem problemas — Tomás respondeu, e então pareceu se dar conta de que ainda a segurava. As mãos dele se afastaram de seus braços; a pele de Josiane estava mais quente onde ele a tocara.
Ela deu um passo para trás e virou o rosto para o elevador.
— Já está indo? — perguntou. — Ou vai ficar no plantão da noite?
— Hoje o chefe me dispensou. Estou trabalhando no caso sem parar desde ontem de manhã.
Ela assentiu e, lado a lado, seguiram para o elevador em silêncio.
Josiane observou seu ex-parceiro apertar o botão do elevador, de enfiar a mão no bolso da calça, puxar o caderno preto fino que ele sempre levava de um lado para o outro desde que ela se conhecia por gente e começar a ler as anotações que havia rabiscado no papel.
Tomás dissera que Blumenau tinha feito bem para ela. Pois bem, Josiane poderia dizer a mesma coisa. Como sempre, o verão tinha sido gentil com ele, bronzeando sua pele e espalhando reflexos castanhos nos cabelos escuros.
E, definitivamente, agora que o olhava melhor, tinha certeza de que Tomás estava malhando mais do que de costume; as mangas da camisa, apertada em volta dos braços, delineavam o contorno de músculos que Josiane não se lembrava de ter olhado com tanta atenção em algum momento da época em que trabalhavam juntos.
E o cheiro da colônia dele...
Josiane lutou para não apertar os olhos.
Por que não conseguia parar de se concentrar naquela fragrância?
Ela conhecia aquele cheiro. Sentira-o por anos. Tudo bem, ficara um ano longe. Mas agora... Agora era como se ele fosse a única coisa que seus sentidos conseguiam captar.
As portas do elevador se abriram, e Josiane apertou o passo, querendo sair daquele espaço minúsculo.
Passou pela saída da delegacia, inspirando o ar fresco e noturno, a cabeça trabalhando a mil por hora.
Bom, a tempestade já havia atingido sua vida. Precisava arregaçar as mangas e lidar com a situação. Mesmo não estando oficialmente dentro do caso, buscaria por pistas e informações.
Assim que Josiane se virou, abrindo o aplicativo do Uber, escutou a voz de Tomás pairando às suas costas.
— Onde você está ficando?
— Me hospedei em um hotel.
— Quer uma carona até lá?
— Obrigada, Tomás, mas não precisa. — Josiane soergueu o celular. — Vou chamar um Uber.
— Qual é, está dispensando uma carona gratuita?
A pergunta soou divertida, com um tom brincalhão.
Era a primeira vez, desde seu retorno naquele dia, que Tomás agia de um jeito mais natural e menos defensivo com ela.
Como se eles fossem os mesmos outra vez.
Josiane pegou o próprio coração falseando no peito enquanto desviava os olhos do celular e voltava a fitar Tomás.
Ele estava com um braço apoiado no próprio carro, os olhos âmbar acentuados embaixo das cores da noite.
Josiane mordeu o próprio lábio e fingiu estar pensativa.
— Acho que esse argumento pode me convencer.
— Acho que esse argumento já te convenceu. Venha, entre.
Com um meio sorriso, Josiane abriu a porta e se sentou no banco ao lado do banco do motorista. Assim que fechou a porta, o sorriso se esvaneceu. O interior do veículo estava completamente tomado pelo cheiro da colônia de Tomás; o mesmo aroma forte, marcante, que causou uma aceleração inesperada na pulsação dela.
Esse cheiro vai ficar me perseguindo?!
— Vou só pegar a Lorena no ballet primeiro, porque é no caminho. Hoje é uma das noites em que ela fica comigo.
Josiane limpou a garganta e balançou a cabeça, tentando afastar aquela agitação que a tinha agarrado de forma tão repentina.
— Não sabia que sua filha estava fazendo ballet.
— É recente. — Tomás girou a chave na ignição e acelerou. — Hadassa Antonelli conseguiu uma vaga para ela na Coreodence, com um desconto bem interessante. Foi um pouco depois que resolvemos o caso dela e você foi embora para Blumenau.
Não havia nada de implícito ou acusatório na resposta dele, mas algo em Josiane estremeceu, como se uma parte sua houvesse se descolado e perdido o encaixe correto.
Com apenas a música do rádio quebrando a quietude, eles não trocaram mais nenhuma palavra até Tomás parar em frente ao elegante estúdio de ballet.
Em seus pensamentos, ela agradeceu a ele por não fazer mais nenhuma pergunta. Estava exausta por conta dos depoimentos.
Josiane desceu do carro com Tomás, observando as adolescentes que saíam do estúdio; todas vestiam collant, saia curta, meia calça clara e sapatilhas, mantendo os cabelos presos em um coque alto.
Em meio às garotas, Josiane logo viu a jovem que tinha conhecido quando era uma menininha e que agora havia se transformado em uma adolescente e versão feminina de Tomás.
— Aqui, Lorena.
— Já vou, pai — ela respondeu enquanto digitava algo.
— Lorena, desconecte-se um pouco — Tomás pediu; o tom que usava agora era completamente diferente do porte sério que ele mantinha na delegacia. — Tem uma surpresa aqui para você.
A adolescente de catorze anos, que até então mantinha os olhos grudados na tela do celular, ergueu o rosto.
— Não acredito! — Lorena abriu um sorriso do tamanho do mundo. — Tia Josi!
Josiane alargou o sorriso, abrindo os braços para envolver Lorena em um abraço apertado.
— Que saudades que eu estava de você, Lolo!
— Eu também! Você veio para ficar, tia Josi?
— Infelizmente, só estou aqui para ajudar em uma investigação.
— Ah, que pena. Nós sentimos muito a falta dela, não é pai? — Lorena riu e cotovelou Tomás.
Tomás limpou a garganta e respondeu algo que Josiane entendeu que era uma confirmação à pergunta da filha.
— Bem que você poderia voltar e ficar por aqui, tia Josi.
Josiane sorriu outra vez. Só naquele momento percebeu o quanto sentia falta de ouvir Lorena chamá-la de "tia Josi". Como havia conhecido a filha de Tomás quando ela ainda era pequena, Lorena passara a chamá-la daquele jeito, e o hábito se mantivera com o passar dos anos.
— Caramba, como você cresceu. Está bem alta para catorze anos.
— Quase quinze — Lorena corrigiu.
Josiane piscou para ela.
— Linda desse jeito, aposto que você vai dar muito trabalho para o seu pai com os meninos, não é?
— Minha arma está sempre carregada — Tomás piscou de volta, batendo a mão no coldre.
Lorena bufou e revirou os olhos, resmungando um "não comece" para Tomás, enquanto dava a volta e se sentava no banco de trás do carro.
Josiane arqueou as sobrancelhas para o antigo parceiro.
"O que foi isso?", seu olhar inquiriu.
Ele ergueu as mãos e deu de ombros.
"Adolescentes".
Josiane comprimiu os olhos.
"Sei, sei. Te conheço, investigador Tomás Mendes".
Antes que pudesse extrair mais alguma resposta, Tomás desviou o olhar e entrou no carro. Com um suspiro inquisitivo, Josiane abriu a porta do passageiro e se sentou no banco, examinando Lorena no banco de trás através dos espelhos retrovisores.
Embora tivesse alguns traços da mãe, Lorena era a cara de Tomás.
Sorte dela.
Josiane era do tipo que acreditava que as mulheres deveriam se unir, se ajudar e apoiar umas às outras.
Mas, em alguns momentos, se sentia tentada a classificar a ex-esposa de Tomás como "víbora megera".
Ela se recordava do inferno que Tomás havia vivido na época da separação, anos atrás; Valéria entrara com um processo para ter a custódia total de Lorena, alegando que ele era um péssimo pai. Só de se lembrar daquilo, o sangue de Josiane fervia. Tomás podia não ser uma pessoa perfeita, mas fazia de tudo por Lorena. Por fim, o juiz decretara a guarda compartilhada.
Josiane se perguntou se o temperamento de Valéria tinha melhorado. Ela nunca fora uma mulher fácil quando detinha o título de esposa e não se esforçava para ser simpática com ninguém; depois que se tornara "ex-esposa", as coisas haviam ficado ainda mais tensas.
— Pai, a tia Josi pode jantar com a gente hoje?
— Nós tivemos um dia cheio. E ela chegou de viagem hoje. Deve estar cansada. — Tomás limpou a garganta e olhou para Josiane rapidamente. — Mas você está convidada, se quiser.
Ela entreabriu os lábios; o coração acelerando de um jeito estranho.
— Vamos pedir pizza! — Lorena decretou.
Tomás fitou a filha através do espelho.
— Pensei que as meninas do ballet não comessem pizza.
— Ah, isso é frescura delas. — Lorena balançou a mão no ar. — Eu vou dançar e vou comer pizza.
Mais uma vez, Josiane se pegou sorrindo, percebendo o quanto sentia falta de tudo aquilo.
— Por que não? Acho pizza uma ótima ideia — respondeu.
Nota de curiosidade: A personagem Hadassa, citada neste capítulo, é a protagonista do meu livro "Paixão Pagã", que atualmente está disponível na Amazon e no Kindle Unlimited ♥
A participação de personagens de outros livros nas minhas histórias é apenas uma brincadeira que costumo fazer.
Nenhuma leitura anterior é necessária para o entendimento do enredo.
Cada livro é independente um do outro ♥
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